segunda-feira, 6 de abril de 2015

O QUE ME ORGULHA NÃO É O BRASIL, E SIM ALGUNS BRASILEIROS

 Publicado em recortes por Vital Silva, em obvioumagazine,
é apaixonado por artes, história, arqueologia e por pessoas sensatas e sinceras.
Gosta da natureza e tem uma relação conturbada de amor e ódio com este mundo louco, fluído e imprevisível.


Aclamada por muitos como terra do futebol, das mulheres bonitas e do povo hospitaleiro, o Brasil surge como um imenso paradoxo não só para nós tupiniquins. Então lhe indago: Você realmente tem orgulho de ser brasileiro?

Ilustração de Maurício Planel

Ultimamente com a repercussão de constantes escândalos na ordem política e social, a percepção de pequenas e grandes corrupções diárias, andei refletindo se realmente tenho orgulho de ser brasileiro. Nós brasileiros, nascidos na terra de Vera Cruz, nos constituímos um verdadeiro paradoxo, enquanto demonstramos nossa insatisfação com políticos corruptos, vestimos a camisa verde e amarela da CBF e batemos no peito para comemorar o orgulho de não desistir nunca.



Enquanto canalizamos a culpa de todas as mazelas sociais na figura de nossos representantes políticos, esquecemos aquela vez que estacionamos na vaga de deficiente, jogamos papel na rua, xingamos o próximo por motivo fútil, utilizamos produtos piratas, aceitamos o troco errado... e por aí uma infindável lista de pequenos atos que só contribuem para piorar a sociedade em que vivemos.
E ainda por cima, criamos o conceito do “cidadão de bem”, para designar o cidadão que paga seus impostos, acorda às 5 da manhã para trabalhar e colocar comida na boca de um monte de brasileirinhos em casa. Este termo, da mais alta repugnância e cinismo, visa dividir a sociedade em duas, de um lado os bandidos que matam à queima-roupa, assaltam na rua e estupram, do outro o “cidadão de bem”. De um lado os responsáveis por todos os problemas sociais do país, e do outro, os “cidadãos de bem”, privados de culpa.

Jornal Good Citizen (Cidadão de bem) da Klu Klux Klan.

Em uma sociedade cínica e patológica é por vezes impensado declarar o seu amor incondicional ao Brasil, um conceito tão abrangente, que envolve desde o solo, sua representação política e ao seu povo na totalidade. Me desculpem, mas eu não me orgulho da pobreza do meu país, nem de nossas principais cidades figurarem entre as mais violentas do mundo, nem daqueles que não respeitam o espaço do próximo e muito menos do modus operandi da “carteirada” – cada dia mais comum –, ou das indagações de alta conjectura e refino como: “Aeroporto ou rodoviária?”, onde o único intuito é segregar ainda mais.
Depois de um considerável tempo de reflexão descobri que o que me orgulha não é o Brasil, e sim alguns brasileiros. Alguns notórios, outros nem tanto. Certas histórias me enchem de orgulho de seus protagonistas, como a do garoto Thompson Vitor de apenas 15 anos, morador da Comunidade Paço da Pátria em Natal, que estudando através dos livros que sua mãe, catadora de lixo, encontrava descartados, conseguiu ser aprovado em primeiro lugar no Instituto Federal do Rio Grande do Norte.

Thompson Vitor e sua mãe Rosângela.

Ou quem sabe aqui ter sido pátria do maior imunologista do Brasil, o médico Vital Brazil, fundador do Instituto Butantan e inventor do soro antiofídico, que até hoje salva milhares de vidas.

Vital Brazil.

Ou a milionária e filantropa Eufrásia Teixeira Leite, filha de prósperos fazendeiros de café do século XIX. Possuía investimentos nos cinco continentes, preferiu não casar para assim poder administrar sua fortuna, morreu sem deixar herdeiros, legando sua fortuna para a caridade em Paris, que tanto amou, Instituto das Missionárias do Sagrado Coração de Jesus – instituição romana com vários projetos sociais no Brasil – e para os pobres de Vassouras no Rio de Janeiro.

Eufrásia Texeira Leite, cuja figura já focamos neste Blog

Me orgulho também de ser do mesmo estado da cearense Maria da Penha, mulher forte e perseverante que uniu forças para que seu ex-marido e agressor fosse condenado pelas constantes agressões que sofria em casa, e que em uma delas ficou paraplégica. Em 2007 foi sancionada pelo então presidente Lula a Lei Maria da Penha, importante marco para a luta contra a violência doméstica, e que é parte da luta de Maria, que é uma das brasileiras que me traz orgulho, e coincidentemente Maria, igual minha mãe.

Maria da Penha.

Um salve a todos os brasileiros que fazem a diferença em nossa sociedade, tanto aos que viraram notícia, quanto aos anônimos que cruzamos no nosso dia a dia.


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