Por
Consuelo
Pondé de Sena
Há poucos
dias, neste mesmo local, escrevi sobre meus primeiros professores. Texto
despretensioso e simples para fixar nomes de pessoas importantes na minha vida.
Muita gente
se “tocou” com a lembrança, passando a reviver seus mestres do passado.
Não sei
nomeá-los na ordem de precedência. Acho que não teria condições de ordená-los
corretamente. Fazendo um esforço de memória, meio bagunçado, recordo-me, de
imediatamente, de Álvaro Rocha, durão e rigoroso, que todos temiam, e era
apelidado de “Pombo Roxo”.
D. Anfrísia
era uma mulher marcante, de personalidade forte e espírito combativo. Até hoje
é comentada, quando se faz qualquer referência à mulher na Bahia. De origem
humilde, não se intimidou diante das dificuldades. Diplomou-se em professora e
estabeleceu um colégio que, cedo, ganhou notoriedade. Mulher muito inteligente
e sagaz adquiriu pronta respeitabilidade em nosso meio.
Que me
perdoe Concinha, querida colega e amiga, mas essa afirmativa é verdadeira.
Recordo-me de Álvaro Zózimo, boa gente, mas ensinava o que eu mais detestava:
as matemáticas. Vivia em apuros, porque me considerava a mais rude entre as
rudes a que ele dava aulas.
Curioso,
apesar de muito seca e dura, D. Aline Pinho Lins era do meu agrado. Simpática,
magrinha, sempre muito elegante, agradava até pela aparência. Ensinou-me
francês e ajudou-me a amar a “mais bela língua do mundo”. Quando não ia com a
cara da discípula, essa aluna, coitada, tinha que sofrer das suas perseguições.
Alda e Norma Ramos de Freitas sofreram o pão que o diabo amassou.
De
Geografia era D. Maria Soledade, razoável, mas muito grossa e insolente. Todos
os discípulos temiam de medo daquela mulher enérgica e respeitável. Falava
quase aos berros e dava umas boas “cusparadas” nas alunas, quando das suas
barulhentas intervenções. Que dizer do manso, silencioso, competente mestre
Luís de Moura Bastos? Reconhecido como o mais didata dentre todos que ensinam
matemática nas escolas daquele tempo e também na recém fundada Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras, por Isaías Alves de Almeida, atual FFCH da Ufba.
Uma
lembrança inesquecível é o professor Manuel Peixoto. Uma figura! Muito parecido
com Abraham Lincoln, falava fanhoso e estudara nos Estados Unidos. Fora, em
jovem, levado para os States com os missionários protestantes, que andaram
convertendo os católicos para a Igreja Batista.
Era primo
irmão de minha avó materna Climéria Peixoto Montanha da Silva, de quem também
era “primo carnal” e se casou com Maria Dolores Mendes Pondé, irmã de meu pai.
Raul da
Costa e Sá era um professor de português admirável! Além de ter sido sua aluna
na escola, o fui também na Associação Bahiana de imprensa, onde lecionava:
“Redação do Jornalista”, ou coisa que o valha. Recordo-me de José Maria da
Costa Vargens, José Ramos de Queirós, das aulas magistrais de Anfrísia
Santiago. Delson Calheiros, Carlos Meirelles (Geografia), para ficar apenas em
alguns nomes. Ensinavam Educação Física Zhaury Saback e Lígia Costa. Perdi a
conta das “formiguinhas” que labutavam o dia inteiro, D. Arlinda, D. Lili, D.
Rita, irmãs da diretora, a quem chamavam Zizinha.
Tudo isso
se desenrola no Colégio Nossa Senhora Auxiliadora, onde conheci bons
professores, privei do convívio erudito e competente de D. Anfrísia e, posso
dizer, fiz a minha formação moral. Lá se ensinava noções de moral e cívica que,
hoje, não se sabe o que vem a ser.
Até hoje
“as anfrizetes” costumam reunir-se para se recordarem do passado. Muitas não
apreciavam a diretora, mas, mesmo assim, gostam de estar juntas para recordar o
passado e as “lições” ministradas por aquela educadora.
Certo é que
o Colégio marcou um tempo e foi reconhecido como um dos melhores
estabelecimentos de ensino da Bahia. Fui aluna de lá no curso primário e
secundário, deixando-o para fazer o Curso Clássico, no Colégio Nossa Senhora
das Mercês, das Madres Ursulinas. Foi um novo tempo que se abriu para
mim. Aprendi novas coisas e passei a prestar mais atenção nas lições ensinadas
pela Igreja Católica.
Mas, aí é
outra história, que ainda será contada.
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