Publicado em literatura por Alexandre Veloso,
em obviusmagazine
Alexandre
Veloso
Em linhas curtas, com poucas
palavras, em sextas ou quadras, o poeta colocava sua arte ao seu dispor,
transformando a vida nordestina num caso de amor. Com sabedoria e muita astúcia
estórias vão para o folhetim, em versos e rima escritas no papel, impresso uma
xilogravura tá feito o cordel.
Povo
brasileiro de brado retumbante traz às ruas a história da gente nordestina.
Seja lá de Severina, Santana ou Dona Biu, porém contando no folheto em verso e
rima o poeta contava também o que não viu. Estórias inventadas desde o tempo do
além, trazidas intocadas no bizaco do juízo, pra contar na hora certa, fazendo
graça na praça e na festa, podendo ser lido ou proferido sempre com jeito e
molejo, e ás vezes meio sem jeito, mas com maestria, fazendo o público sentir
graça, dó ou agonia.
Dependendo
de como se conta a notícia, o efeito pode ser diferente. Pra muita gente, o tom
é mais importante que a palavra, dependendo da ocasião, a vírgula mal colocada
pode dá confusão e a pausa engolida transforma o elogio em palavrão. Tem ainda
o dialeto nordestês falado pelas bandas de cá, pra muitos precisa de tradução,
para - o cabra - da capital que fala somente português, é tão difícil quanto
falar japonês.
Pra ficar
melhor juntou-se a astúcia do matuto com o que trouxeram de Portugal, deram uma
simplificada pra ficar mais legal e invés de escrever peça de teatro e coisa e
tal, resolveram contar à vida de qualquer um que fizesse algo especial, podia
ser de gente a jumento, no céu ou no inferno, verdade ou de mentirinha, mas de
forma inteligente e organizada, sendo em sextas ou quadras, com umas linhas
pequenas, bem adequadas, combinando umas com as outras, pra no fim dar uma
coisa bem acabada. Acrescentaram ainda umas figuras bacanas, desenhadas no
pedaço de pau, depois esculpidas devagarinho com muita parcimônia. As figuras
eram feitas ao contrário do papel, depois que passasse na prensa com tinta
preta estava feita a capa do cordel.
Desse
jeito, cheio de regalias, história triste fica bonita, o sertanejo mais forte,
o jumento com espírito, o matuto mais sabido e o povo menos pobre. Não importa
o tema, qualquer um fica legal, com o talento do poeta com bastante cabedal,
que traz a cultura da sua gente nas páginas do folhetim, impresso em branco e
preto, o que se tinha para o momento, mas honra sua raça desde o nascimento,
seja no meio da caatinga ou do canavial, ali escrito estava sua herança natal,
contada em verso e prosa mostrando ele quem era o maioral.
Assim o
Brasil real é mostrado. Desse jeito a vida não padece a poesia salva da
angústia que sente o homem sofrido do campo que por ele só tem a Ave Maria. E
assim a arte vence a fome, a ingenuidade do matuto vira esperteza, são modos
diferentes de ver a mesma coisa, por isso à vida contada em cordel vem com um
verniz especial dando brilho a paisagem seca. Reluzindo a luz da inspiração na
criatividade de quem transforma jumento em doutor. Nas páginas dos folhetos de
literatura de cordel, a vida segue um balanço diferente, segue o balanço da
rima do cordel.
© obvious: http://obviousmag.org/alexandre_veloso/2015/04/a-vida-rimada-no-balanco-do-cordel.html#ixzz3YnEtskyP
Follow us: @obvious on Twitter | obviousmagazine on Facebook
Nenhum comentário:
Postar um comentário