sexta-feira, 22 de maio de 2015

ABU-SIMBEL – EGITO

Arquitetura

Um dos complexos arqueológicos mais importantes da humanidade. É intrigante e de beleza surpreendente

 Abul-Simbel (em árabe: أبو سنبل ou أبو سمبل) é um complexo arqueológico constituído por dois grandes templos escavados na rocha, situados no sul do Egipto, no banco ocidental do rio Nilo perto da fronteira com o Sudão, numa região denominada Núbia, a cerca de 300 quilómetros da cidade de Assuão. No entanto, este não é o seu local de construção original; devido à construção da barragem de Assuão, e do consequente aumento do caudal do rio Nilo, o complexo foi trasladado do seu local original durante a década de 1960, com a ajuda da UNESCO, a fim de ser salvo de ficar submerso.
Os templos foram construídos por ordem do faraó Ramsés II em homenagem a si próprio e à sua esposa preferida Nefertari. O Grande templo de Abu Simbel é um dos mais bem conservados de todo o Egito.

Mapa exibindo a localização de Abu Simbel

Ramsés II, Abu Simbel

Os templos foram construídos por ordem do faraó Ramsés II no século XIII a.C. durante a XIX dinastia. A construção começou a cerca de 1284 a.C. e terminou aproximadamente vinte anos mais tarde.



Ramsés II iniciou o seu reinado em 1290 a.C. e reinou durante 66 anos, durante os quais mandou construir numerosos templos não só com o intuito de impressionar as nações vizinhas mostrando a grandiosidade do Egito e o poder do seu faraó, mas também para recuperar o seu prestígio, perdido depois dos distúrbios religiosos e políticos durante o reinado de Aquenáton da XVIII dinastia quando Aquenáton tentou forçar a mudança do culto aos deuses egípcios (politeísmo) para o culto a um deus único Aton (monoteísmo). Seis desses templos foram construídos na região da Núbia, que tinha sido adicionada recentemente ao território egípcio, e tinham como principal propósito estabelecer os direitos do Império sobre aquela região, e reforçar o estatuto da religião egípcia sobre ela. Com o desejo de construir e perpetuar-se na pedra, Ramsés saqueou pirâmides, retirou pavimentos e destruiu belos monumentos para obter material para suas obras.
Quando o templo ficou concluído, Ramsés II levou sua esposa Nefertari para admirá-los mas, para desespero do faraó, ela morreu pouco tempo depois.
Com a passagem do tempo, os templos ficaram cobertos de areia o que provocou o seu esquecimento até que, em 1813, um orientalista suíço, Jean-Louis Burckhardt, descobriu o friso do topo do templo de Ramsés.
Burckhardt falou da sua descoberta ao explorador italiano Giovanni Belzoni que, embora deslocando-se para o Egipto, foi incapaz de descobrir a entrada do templo. Belzoni regressou em 1817, conseguindo desta vez encontrar a entrada e levando com ele todos os tesouros que encontrou no templo que pudessem ser transportados.
Houve uma grande preocupação internacional quando foi decidido construir uma grande barragem o que inundaria o vale no qual se encontravam alguns tesouros da Antiguidade, entre eles os templos de Abu Simbel.


Em 1959 a UNESCO promoveu uma campanha internacional de doações por solicitação das autoridades do Egipto e do Sudão com vista a promover a salvação dos monumentos da Núbia.
Foram feitas cópias e fotografias de todos os monumentos, foi acelerada a pesquisa arqueológica nos locais que iriam desaparecer e alguns monumentos foram trasladados da sua localização original, como foi o caso de ambos os templos de Abu Simbel, que foram desmontados e reconstruídos entre 1963 e 1968.


Quando a barragem do Assuão foi concluída, em 1970, muitas aldeias Núbias ficaram submersas sob as águas do lago de retenção, ao qual foi dado o nome de Lago Nasser. Esta operação teve um custo total de 40 milhões de dólares e consistiu na remoção, pedra por pedra, de cada monumento, transferindo os monumentos para uma montanha artificial 61 metros acima da posição original, e cerca de 200 metros mais longe da margem do Nasser.
Como forma de agradecer pela ajuda prestada, o governo egípcio ofereceu uma parte dos achados e mesmo templos desmontados a alguns museus internacionais. O santuário de Pedesi e Pithor de Dandur foi reconstruído em Nova York (Estados Unidos); a cabeça colossal de Aquenáton, achada em Karnak, está no Museu do Louvre (França); o Templo de Debod foi reconstruído em Madrid (Espanha); duas estelas e rolos de papiros desemparelhados estão no Museu de Berlim e um sarcófaco em madeira encontra-se no Museu Nacional de Belas Artes de Havana.
O complexo de Abu Simbel é constituído por dois templos. Um maior, dedicado ao faraó Ramsés II e aos deuses Rá(Ra-Harakhty), Ptah e Amun, e um menor, dedicado à deusa Hathor, personificada por Nefertari, a mais amada esposa de Ramsés II de entre as mais de 100 que Ramsés possuía.

Templo de Ramsés.

Estátua de Ramsés II no corredor principal do templo.

Decoração num dos quartos do templo de Ramsés.

O grande templo de Abu Simbel é considerado uma das mais grandiosas obras do faraó Ramsés II e, para muitos arqueólogos, é o maior e mais belo dos templos.
O templo, escavado numa rocha lisa de arenito, foi construído com um detalhe admirável, porque qualquer erro grave causaria o afundamento da obra.
A sua fachada tem 33 metros de altura e 38 metros de largura, a sua entrada foi concebida como um pilone. A fachada é constituída por quatro estátuas com vinte metros de altura que representam o faraó Ramsés II sentado ostentando a coroa dupla da unificação entre o alto e o baixo Egipto, a barba postiça, um colar e um peitoral com o nome de coroação. A segunda dessas estátuas foi parcialmente destruída por um terremoto em 27 aC., a cabeça e o tronco de Ramsés encontram-se próximo da entrada. Na porta do templo existe uma inscrição criptográfica do nome do faraó: Ser-Ma'at-Ra e no meio das pernas das grandes estátuas podem ver-se pequenas estátuas de familiares de Ramsés II:
Junto ao colosso I (lado esquerdo) estão as representações da sua principal mulher Nefertari (na perna esquerda), a sua mãe Mut-tuy (na perna direita) e do príncipe Amonhorjepeshef (ao centro).


Junto ao colosso II (lado esquerdo) encontram-se as princesas Bentata, Nebettauy e outra que se pensa ser Senefra.
Junto ao colosso I (lado direito) estão as representações da sua principal mulher "Nefertari" (na perna direita), a princesa Beketmut (na perna esquerda) e do príncipe Riamsese (ao centro).
Junto ao colosso II (lado direito) encontram-se as representações da princesa Nerytamun, da mãe de Ramsés, Mut-tuy e da rainha Nefertari.
Na base das estátuas centrais existe uma representação das divindades do Nilo, que simbolizam a unificação do alto e do baixo Egipto e na parte superior da fachada existe uma fileira de 22 estátuas de babuínos. Existem também outros relevos comemorativos, como um texto de 41 linhas que descreve as circunstâncias do casamento de Ramsés com a filha de Hattusili III, rei dos Hititas, casamento que selou a paz entre estes dois povos.


No lado direito da fachada encontra-se a capela setentrional, dedicada ao culto do Sol, que consiste num pequeno recinto a céu aberto com pedestrais com imagens de deuses e uma representação da barca solar com um sacrifício do faraó a Rá(Rá-Horajti).
No lado esquerdo encontra-se a capela meriodinal que é uma capela escavada na rocha de 7,17 metros de comprimento por 4,40 de largura e 3,92 de altura em honra de Thot.
No interior existe uma câmara principal chamada "A grande sala dos pilares" ou "Grande sala hipóstila" que tem 18 metros de comprimento, 16 metros de largura e nove metros de altura cujo teto é sustentado por oito pilares representando o deus Osíris com algumas características de Ramsés II; as estátuas da esquerda ostentam a coroa do alto Egipto enquanto as da direita ostentam a coroa Pschent (a coroa dupla que simboliza a unificação das duas terras). O teto está decorado com pinturas que representam a deusa Nejbet e as paredes com cenas do cortejo dos príncipes, cenas de batalhas na Síria, Líbia e Núbia, junto a oferendas, da apresentação de prisioneiros a Ra-Harmajis e Ramsés II divinizado, da Batalha de Kadesh entre outras.
A grande sala dos pilares está ligada a algumas outras salas e a um vestíbulo que leva à sala menores do templo que vai até ao santuário.
As salas s pequenas, denominadas câmaras laterais, são no total oito e estão dispostas cinco para a esquerda e três para a direita tendo como ponto de referência a entrada do templo. A sua decoração, variável, é tipicamente simples, tal como na câmara principal, embora algumas dessas câmaras contivessem tesouros.
O vestíbulo ou segunda sala hipóstila tem 11 metros de comprimento e 7,58 metros de largura. Nesta sala existem quatro pilares quadrados e nas suas paredes estão representadas cenas do faraó na companhia dos deuses. Do vestíbulo partem três portas que se dirigem à sala de oferendas que tem 3,30 metros de largura e está decorada com imagens de oferendas e adoração que por sua vez está ligada ao santuário.
O santuário interno prolonga-se por 55 metros de profundidade e era o local mais sagrado do Grande Templo; por essa razão apenas o faraó lá podia entrar. Nessa sala existem quatro estátuas: uma do faraó Ramsés II e as de três deuses: Ra-Harakhte, Ptah e Amon-Rá. Cada um destes deuses tinha as suas capitais, ao longo da história do Egito. Estes três deuses foram venerados como a representação de um único deus grandioso; desta forma, por um lado eram rivais e por outro eram todos o mesmo. O templo foi construído de modo a que, duas vezes por ano, a 21 de Fevereiro (data do nascimento do faraó), e a 22 de Outubro (data da sua coroação), à medida que o sol se levantasse, os seus raios iluminassem as grandes estátuas do santuário e a parede que descreve a alegada vitória dos egípcios sobre o Império Hitita na Batalha de Kadesh. Embora este facto não seja verdadeiro, já que esta batalha terminou com um empate, Ramsés II autoproclamou-se vencedor relatando a sua vitória e exaltando a sua coragem e a intervenção de Amon-Rá em vários templos, incluindo no templo de Luxor.

Templo de Nefertari.

Templo de Nefertari.

Enquanto o Grande templo de Abu Simbel é um templo com estatuária excessiva e de tamanho exorbitante, o templo de Nefertari parece ser baseado no templo funerário da rainha Hatchepsut (1520 aC.). O templo é muito simples e construído em dimensões bastante inferiores às do templo de Ramsés.


O pequeno templo de Abu Simbel, localizado 150 metros a norte do templo maior, foi construído em honra à sua esposa preferida, Nefertari, e é dedicado à deusa do amor e da beleza, Hathor. A fachada do templo representa no total seis estátuas, de dez metros cada uma, todas com a perna esquerda mais à frente da direita em posição de marcha. Duas delas são de Nefertari (uma de cada lado da entrada) e cada uma dessas estátuas está ladeada por duas estátuas de Ramsés. A ordem dos colossos da esquerda para a direita é a seguinte:
Ramsés II com a coroa do Alto Egito e a barba postiça;
Nefertari com características da deusa Hathor, disco solar entre 2 altas plumas e cornos de vaca;
Ramsés II com a coroa branca do Alto Egito e a barba postiça;
Ramsés II com a coroa dupla da união do alto e baixo Egito e barba postiça;
Nefertari com características da deusa Hathor, disco solar entre 2 altas plumas e cornos de vaca;
Ramsés II com o nemes, a coroa atef e a barba postiça,
Na fachada existem também pequenas imagens das crianças reais, representações dos príncipes entre as pernas do faraó, e das princesas entre as pernas da rainha. A porta de acesso ao templo está decorada com inscrições do nome do faraó, e representações do faraó a fazer oferendas às deusas Hathor e Isis.
Quando se entra no templo encontra-se uma sala quadrada com 11 metros de comprimento e 10,8 metros de largura com seis pilares colocados em duas filas, na frente dos quais está representada a cabeça da deusa Hathor e nos outros lados dos pilares tem figuras da casal real e de outros deuses. Sobre a cabeça da deusa Hathor estão escritas histórias do faraó ou da rainha, separadas por fórmulas de adoração às deusas: Mut, Isis, Satis, Hathor, Anukis e Urethekau. Esta sala possui três portas que levam a uma câmara transversal estreita e esta, por sua vez, tem ligação com duas câmaras laterais inacabadas e com o santuário.


As câmaras laterais não têm decoração, pensando-se que deveriam servir como armazém de objetos utilizados em cerimónias religiosas.
O santuário tem uma estátua da deusa Hathor saliente da rocha entre dois pilares de Osíris e nas paredes estão representadas cenas de oferendas.
Abu Simbel foi proposto a adquirir o estatuto de Património Mundial da UNESCO em 1979 em conjunto com outros monumentos da Núbia.
Os critérios para a atribuição do estatuto foram:
Representa uma parte do génio criativo do Homem;
Testemunho único de uma tradição cultural ou de uma civilização existente ou desaparecida;

Está associado com eventos ou tradições, ideias, crenças com trabalhos artísticos ou literários reconhecidos com significado universal.

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