Arquitetura
Um dos complexos arqueológicos mais importantes da humanidade. É
intrigante e de beleza surpreendente
Abul-Simbel (em árabe:
أبو سنبل ou أبو سمبل) é um complexo arqueológico constituído por dois
grandes templos escavados na rocha, situados no sul do Egipto,
no banco ocidental do rio Nilo perto da fronteira com
o Sudão, numa região denominada Núbia, a cerca de 300 quilómetros da
cidade de Assuão. No entanto, este não é o seu local de construção
original; devido à construção da barragem de Assuão, e do consequente
aumento do caudal do rio Nilo, o
complexo foi trasladado do seu local original durante a década de 1960,
com a ajuda da UNESCO, a fim de ser salvo de ficar submerso.
Os templos
foram construídos por ordem do faraó Ramsés II em homenagem a si
próprio e à sua esposa preferida Nefertari. O Grande templo de Abu Simbel é um dos mais
bem conservados de todo o Egito.
Mapa
exibindo a localização de Abu Simbel
Ramsés II,
Abu Simbel
Os templos foram construídos por ordem do
faraó Ramsés II no século XIII a.C. durante a XIX
dinastia. A construção começou a cerca de 1284 a.C. e terminou
aproximadamente vinte anos mais tarde.
Ramsés II iniciou o seu reinado em 1290
a.C. e reinou durante 66 anos, durante os quais mandou construir numerosos
templos não só com o intuito de impressionar as nações vizinhas mostrando a
grandiosidade do Egito e o poder do seu faraó, mas também para
recuperar o seu prestígio, perdido depois dos distúrbios religiosos e políticos
durante o reinado de Aquenáton da XVIII dinastia quando
Aquenáton tentou forçar a mudança do culto aos deuses egípcios (politeísmo)
para o culto a um deus único Aton (monoteísmo). Seis desses templos
foram construídos na região da Núbia, que tinha sido adicionada
recentemente ao território egípcio, e tinham como principal propósito
estabelecer os direitos do Império sobre aquela região, e reforçar o estatuto
da religião egípcia sobre ela. Com o desejo de construir e perpetuar-se na
pedra, Ramsés saqueou pirâmides, retirou pavimentos e destruiu
belos monumentos para obter material para suas obras.
Quando o templo ficou concluído, Ramsés II levou
sua esposa Nefertari para admirá-los mas, para desespero do faraó,
ela morreu pouco tempo depois.
Com a passagem do tempo, os templos ficaram
cobertos de areia o que provocou o seu esquecimento até que, em 1813, um
orientalista suíço, Jean-Louis Burckhardt, descobriu o friso do
topo do templo de Ramsés.
Burckhardt falou da sua descoberta ao
explorador italiano Giovanni Belzoni que, embora deslocando-se
para o Egipto, foi incapaz de descobrir a entrada do templo. Belzoni regressou
em 1817, conseguindo desta vez encontrar a entrada e levando com ele todos
os tesouros que encontrou no templo que pudessem ser transportados.
Houve uma grande preocupação internacional quando
foi decidido construir uma grande barragem o que inundaria o vale no qual se
encontravam alguns tesouros da Antiguidade, entre eles os templos de Abu
Simbel.
Em 1959 a UNESCO promoveu uma
campanha internacional de doações por solicitação das autoridades do Egipto e
do Sudão com vista a promover a salvação dos monumentos da Núbia.
Foram feitas cópias e fotografias de
todos os monumentos, foi acelerada a pesquisa arqueológica nos locais que iriam
desaparecer e alguns monumentos foram trasladados da sua localização original,
como foi o caso de ambos os templos de Abu Simbel, que foram desmontados e
reconstruídos entre 1963 e 1968.
Quando a barragem do Assuão foi
concluída, em 1970, muitas aldeias Núbias ficaram submersas sob as águas
do lago de retenção, ao qual foi dado o nome de Lago Nasser. Esta operação
teve um custo total de 40 milhões de dólares e consistiu na remoção,
pedra por pedra, de cada monumento, transferindo os monumentos para uma
montanha artificial 61 metros acima da posição original, e cerca de 200 metros
mais longe da margem do Nasser.
Como forma
de agradecer pela ajuda prestada, o governo egípcio ofereceu uma parte dos
achados e mesmo templos desmontados a alguns museus internacionais. O santuário
de Pedesi e Pithor de Dandur foi reconstruído em Nova York (Estados
Unidos); a cabeça colossal de Aquenáton, achada em Karnak, está
no Museu do Louvre (França); o Templo de Debod foi reconstruído
em Madrid (Espanha); duas estelas e rolos de papiros desemparelhados
estão no Museu de Berlim e um sarcófaco em madeira encontra-se
no Museu Nacional de Belas Artes de Havana.
O complexo
de Abu Simbel é constituído por dois templos. Um maior, dedicado ao faraó
Ramsés II e aos deuses Rá(Ra-Harakhty), Ptah e Amun, e um
menor, dedicado à deusa Hathor, personificada por Nefertari, a mais amada
esposa de Ramsés II de entre as mais de 100 que Ramsés possuía.
Templo
de Ramsés.
Estátua
de Ramsés II no corredor principal do templo.
Decoração
num dos quartos do templo de Ramsés.
O grande templo de Abu Simbel é considerado uma das
mais grandiosas obras do faraó Ramsés II e, para muitos arqueólogos, é o maior
e mais belo dos templos.
O templo, escavado numa rocha lisa de arenito,
foi construído com um detalhe admirável, porque qualquer erro grave causaria o
afundamento da obra.
A sua fachada tem 33 metros de altura e 38 metros
de largura, a sua entrada foi concebida como um pilone. A fachada é
constituída por quatro estátuas com vinte metros de altura que representam o
faraó Ramsés II sentado ostentando a coroa dupla da unificação entre
o alto e o baixo Egipto, a barba postiça, um colar e
um peitoral com o nome de coroação. A segunda dessas estátuas foi
parcialmente destruída por um terremoto em 27 aC., a cabeça e o
tronco de Ramsés encontram-se próximo da entrada. Na porta do templo existe uma
inscrição criptográfica do nome do faraó: Ser-Ma'at-Ra e no
meio das pernas das grandes estátuas podem ver-se pequenas estátuas de
familiares de Ramsés II:
Junto ao colosso I (lado esquerdo) estão as representações da sua
principal mulher Nefertari (na perna esquerda), a sua mãe Mut-tuy (na perna
direita) e do príncipe Amonhorjepeshef (ao centro).
Junto ao colosso II (lado esquerdo) encontram-se as princesas Bentata,
Nebettauy e outra que se pensa ser Senefra.
Junto ao colosso I (lado direito) estão as representações da sua
principal mulher "Nefertari" (na perna direita), a princesa Beketmut
(na perna esquerda) e do príncipe Riamsese (ao centro).
Junto ao colosso II (lado direito) encontram-se as representações da
princesa Nerytamun, da mãe de Ramsés, Mut-tuy e da rainha Nefertari.
Na base das estátuas centrais existe uma
representação das divindades do Nilo, que simbolizam a unificação do alto
e do baixo Egipto e na parte superior da fachada existe uma fileira de 22
estátuas de babuínos. Existem também outros relevos comemorativos, como um
texto de 41 linhas que descreve as circunstâncias do casamento de Ramsés com a
filha de Hattusili III, rei dos Hititas, casamento que selou a paz
entre estes dois povos.
No lado direito da fachada encontra-se a capela
setentrional, dedicada ao culto do Sol, que consiste num pequeno recinto a céu
aberto com pedestrais com imagens de deuses e uma representação da barca solar
com um sacrifício do faraó a Rá(Rá-Horajti).
No lado esquerdo encontra-se a capela meriodinal
que é uma capela escavada na rocha de 7,17 metros de comprimento por 4,40 de
largura e 3,92 de altura em honra de Thot.
No interior existe uma câmara principal chamada
"A grande sala dos pilares" ou "Grande sala hipóstila" que
tem 18 metros
de comprimento, 16 metros
de largura e nove metros de altura cujo teto é sustentado por oito pilares
representando o deus Osíris com algumas características de Ramsés II;
as estátuas da esquerda ostentam a coroa do alto Egipto enquanto as da direita
ostentam a coroa Pschent (a coroa dupla que simboliza a
unificação das duas terras). O teto está decorado com pinturas que representam
a deusa Nejbet e as paredes com cenas do cortejo dos príncipes, cenas
de batalhas na Síria, Líbia e Núbia, junto a oferendas, da
apresentação de prisioneiros a Ra-Harmajis e Ramsés II divinizado, da Batalha
de Kadesh entre outras.
A grande sala dos pilares está ligada a algumas
outras salas e a um vestíbulo que leva à sala menores do templo que vai até ao
santuário.
As salas s pequenas, denominadas câmaras laterais,
são no total oito e estão dispostas cinco para a esquerda e três para a direita
tendo como ponto de referência a entrada do templo. A sua decoração, variável,
é tipicamente simples, tal como na câmara principal, embora algumas dessas câmaras
contivessem tesouros.
O vestíbulo ou segunda sala hipóstila tem 11 metros
de comprimento e 7,58 metros de largura. Nesta sala existem quatro pilares
quadrados e nas suas paredes estão representadas cenas do faraó na companhia
dos deuses. Do vestíbulo partem três portas que se dirigem à sala de oferendas
que tem 3,30 metros de largura e está decorada com imagens de oferendas e
adoração que por sua vez está ligada ao santuário.
O santuário interno prolonga-se por 55 metros de
profundidade e era o local mais sagrado do Grande Templo; por essa razão apenas
o faraó lá podia entrar. Nessa sala existem quatro estátuas: uma do faraó
Ramsés II e as de três deuses: Ra-Harakhte, Ptah e Amon-Rá.
Cada um destes deuses tinha as suas capitais, ao longo da história do
Egito. Estes três deuses foram venerados como a representação de um único deus
grandioso; desta forma, por um lado eram rivais e por outro eram todos o mesmo.
O templo foi construído de modo a que, duas vezes por ano, a 21 de
Fevereiro (data do nascimento do faraó), e a 22 de Outubro (data
da sua coroação), à medida que o sol se levantasse, os seus raios iluminassem
as grandes estátuas do santuário e a parede que descreve a alegada vitória dos
egípcios sobre o Império Hitita na Batalha de Kadesh. Embora
este facto não seja verdadeiro, já que esta batalha terminou com um empate,
Ramsés II autoproclamou-se vencedor relatando a sua vitória e exaltando a sua
coragem e a intervenção de Amon-Rá em vários templos, incluindo no
templo de Luxor.
Templo
de Nefertari.
Templo de
Nefertari.
Enquanto o Grande templo de Abu Simbel é um templo
com estatuária excessiva e de tamanho exorbitante, o templo de Nefertari parece
ser baseado no templo funerário da rainha Hatchepsut (1520 aC.). O
templo é muito simples e construído em dimensões bastante inferiores às do
templo de Ramsés.
O pequeno templo de Abu Simbel, localizado 150
metros a norte do templo maior, foi construído em honra à sua esposa preferida,
Nefertari, e é dedicado à deusa do amor e da beleza, Hathor. A fachada do
templo representa no total seis estátuas, de dez metros cada uma, todas com a
perna esquerda mais à frente da direita em posição de marcha. Duas delas são de
Nefertari (uma de cada lado da entrada) e cada uma dessas estátuas está ladeada
por duas estátuas de Ramsés. A ordem dos colossos da esquerda para a direita é
a seguinte:
Ramsés II com a coroa do Alto Egito e a barba postiça;
Nefertari com características da deusa Hathor,
disco solar entre 2 altas plumas e cornos de vaca;
Ramsés II com a coroa branca do Alto Egito e a
barba postiça;
Ramsés II com a coroa dupla da união do alto e
baixo Egito e barba postiça;
Nefertari com características da deusa Hathor,
disco solar entre 2 altas plumas e cornos de vaca;
Ramsés II com o nemes, a coroa atef e a
barba postiça,
Na fachada existem também pequenas imagens das crianças
reais, representações dos príncipes entre as pernas do faraó, e das princesas
entre as pernas da rainha. A porta de acesso ao templo está decorada com
inscrições do nome do faraó, e representações do faraó a fazer oferendas às
deusas Hathor e Isis.
Quando se entra no templo encontra-se uma sala
quadrada com 11 metros de comprimento e 10,8 metros de largura com seis pilares
colocados em duas filas, na frente dos quais está representada a cabeça da
deusa Hathor e nos outros lados dos pilares tem figuras da casal real e de
outros deuses. Sobre a cabeça da deusa Hathor estão escritas histórias do faraó
ou da rainha, separadas por fórmulas de adoração às deusas: Mut,
Isis, Satis, Hathor, Anukis e Urethekau. Esta sala possui
três portas que levam a uma câmara transversal estreita e esta, por sua vez,
tem ligação com duas câmaras laterais inacabadas e com o santuário.
As câmaras laterais não têm decoração, pensando-se
que deveriam servir como armazém de objetos utilizados em cerimónias
religiosas.
O santuário tem uma estátua da deusa Hathor
saliente da rocha entre dois pilares de Osíris e nas paredes estão
representadas cenas de oferendas.
Abu Simbel foi proposto a adquirir o estatuto
de Património Mundial da UNESCO em 1979 em
conjunto com outros monumentos da Núbia.
Os critérios para a atribuição do estatuto foram:
Representa uma parte do génio criativo do Homem;
Testemunho único de uma tradição cultural ou de uma civilização
existente ou desaparecida;
Está associado com eventos ou tradições, ideias, crenças com
trabalhos artísticos ou literários reconhecidos com
significado universal.
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