sábado, 30 de maio de 2015

ÍDOLOS MORTOS DE HOLLYWOOD PODERÃO ESTRELAR NOVOS FILMES?

 James RocchiDa BBC Culture


Lançado em abril, Velozes e Furiosos 7 já é o filme com quarto maior faturamento da história em todo o mundo. Mas há quem diga que a produção não é apenas um sucesso extraordinário mas também uma prévia de uma revolução que está prestes a tomar a indústria do cinema.

Quando o ator Paul Walker morreu em um acidente de carro, em novembro de 2013, ele ainda não tinha terminado o filme. Mas com o uso de uma tecnologia de substituição do rosto, ele pode ser incluído nas cenas que ainda teria para rodar: seus irmãos Caleb e Cody fizeram as filmagens e o rosto do ator foi superposto digitalmente ao corpo dos rapazes.
Alguns futuristas de Hollywood preveem que, com a experiência, estamos a apenas um passo de trazer astros e estrelas já mortos de volta às telas, através de efeitos especiais – não apenas em algumas cenas, mas em filmes inteiros.
Imagine uma nova produção "estrelada" por Marilyn Monroe ou Cary Grant.

Futuro distante



Ainda assim, criar uma cópia digital de um ator para protagonizar uma fita ainda é um objetivo distante.
A mecânica de gerar uma performance totalmente por computadores é simplesmente algo que consome tempo demais dos cineastas. "Elaborar criaturas e substituições faciais digitais consome tempo e trabalho de seres humanos de carne e osso", define Andrew Whitehurst, supervisor de efeitos visuais no filme de ficção científica Ex Machina.
"O problema não é que os computadores não sejam rápidos o suficiente. Mas sim que existe um elemento psicológico em um personagem que você precisa entender para poder fazer a atuação – e eu não vejo isso no horizonte", afirma Whitehurst.

Ex Machina combina movimentos humanos com efeitos gerados por computador em uma femme fatale da inteligência artificial chamada Ava. Interpretada por Alicia Vikander, a personagem tem um corpo artificial com partes parcialmente transparentes – um visual impressionante que foi resultado de um trabalho árduo.
"A movimentação de Ava é feita pela atuação de Alicia, mas a mecânica do robô é algo que tivemos que criar do nada", conta o técnico.
Para Whitehurst, o ator totalmente digital, inventado ou baseado em alguma estrela do passado, é uma proposta muito mais difícil do que o hype que ronda a ideia.
Ideia sedutora


Já a crítica de cinema Alison Willmore, do site Buzzfeed, acredita que a ideia é potencialmente sedutora demais para que Hollywood desista dela. "O ator sintético não dá chiliques no meio de seu contrato sintético", brinca. "Ele é o melhor de todos os atores. E, por mais que pareça algo de filmes sombrios e futuristas, não acho loucura que Hollywood e a indústria da música tenham vontade de criar o artista digital, seja ele uma criatura nova ou um ‘fantasma’ do passado."
Nos últimos anos, assistimos a performances, feitas por holografia, de Elvis Presley e Michael Jackson em programas de TV, shows e premiações. A maior parte do público, no entanto, disse preferir a experiência com cantores de carne e osso.
A recepção morna diminuiu o interesse de Hollywood em explorar mais a tecnologia – principalmente se levado em consideração o quanto essas tentativas são caras, tomam tempo e dependem de tecnologia analógica.
Pergunte a Eric Barba, diretor de criação da empresa de efeitos especiais Digital Domain, que recebeu a encomenda de reverter os efeitos do tempo para o filmeTron – O Legado e criar um Jeff Bridges de 32 anos – o ator tinha 60 na época da produção.
O primeiro passo foi fazer um molde de gesso do rosto de Bridges.
"Assistimos a alguns filmes de Bridges mais jovem para encontrar a versão jovem que os produtores queriam", conta Barba. "Foi dali que conseguimos esculpir a imagem dele." Mas era essencial ter um modelo vivo para fazer os movimentos – e o próprio Bridges fez isso.
O passado no futuro


Mas Barba ri da ideia de que um dia poderemos colocar negativos e imagens em um computador para criar um James Dean digital. "Imagens em movimento em geral vêm de uma única perspectiva – e não de várias perspectivas ao mesmo tempo. Fora que elas podem ter sido filmadas com lentes diferentes. Não é possível digitalizar uma imagem para criar outra. Isso é fantasia", decreta.
A variedade de cenas que poderiam ser feitas com atores totalmente digitais também é restrita. "A substituição do rosto funciona bem a sequências de ação. Mas assim que quisermos colocar um pouco de diálogo, fica muito mais difícil", explica Whitehurst.
Para criar uma versão virtual do jovem Laurence Olivier na pele de Ricardo 3º, seria mais fácil colocá-lo em uma cena de duelo do que recitando um monólogo.
"Essa sutileza da atuação humana e do movimento humano torna tudo muito, muito mais difícil de reproduzir", diz o técnico. "Criar um humano digital não é a mesma coisa que tentar simular um oceano, onde você pode encher o computador de dados e tudo sai quase perfeito. O rosto de um ator em ação é uma iniciativa muito mais artística."
Mas a regra que reina em Hollywood é: se algo prometer dar lucro, nada parece impossível. "Não quer dizer que nunca vai acontecer. Mas não será algo para o futuro próximo", arrisca Whitehurst.
Por enquanto, a melhor maneira de criar uma atuação digital é filmando e escaneando atores de carne e osso. E, mesmo quando intérpretes virtuais estiverem no horizonte, Whitehurst acredita que os efeitos visuais não conseguirão recriar a mágica mais viva de Hollywood: a fama e tudo o que vem dela.

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