James RocchiDa BBC Culture
Lançado em abril, Velozes
e Furiosos 7 já é o filme com quarto maior
faturamento da história em todo o mundo. Mas há quem diga que a produção não é
apenas um sucesso extraordinário mas também uma prévia de uma revolução que
está prestes a tomar a indústria do cinema.
Quando o ator Paul Walker morreu em um acidente de
carro, em novembro de 2013, ele ainda não tinha terminado o filme. Mas com o
uso de uma tecnologia de substituição do rosto, ele pode ser incluído nas cenas
que ainda teria para rodar: seus irmãos Caleb e Cody fizeram as filmagens e o
rosto do ator foi superposto digitalmente ao corpo dos rapazes.
Alguns futuristas de Hollywood preveem que, com a
experiência, estamos a apenas um passo de trazer astros e estrelas já mortos de
volta às telas, através de efeitos especiais – não apenas em algumas cenas, mas
em filmes inteiros.
Imagine uma nova produção "estrelada" por
Marilyn Monroe ou Cary Grant.
Futuro distante
Ainda assim, criar uma cópia digital de um ator
para protagonizar uma fita ainda é um objetivo distante.
A mecânica de gerar uma performance
totalmente por computadores é simplesmente algo que consome tempo demais dos
cineastas. "Elaborar criaturas e substituições faciais digitais consome
tempo e trabalho de seres humanos de carne e osso", define Andrew
Whitehurst, supervisor de efeitos visuais no filme de ficção científica Ex Machina.
"O problema não é que os computadores não
sejam rápidos o suficiente. Mas sim que existe um elemento psicológico em um
personagem que você precisa entender para poder fazer a atuação – e eu não vejo
isso no horizonte", afirma Whitehurst.
Ex Machina combina movimentos humanos com efeitos gerados por computador em
uma femme fatale da inteligência artificial chamada Ava. Interpretada por
Alicia Vikander, a personagem tem um corpo artificial com partes parcialmente transparentes
– um visual impressionante que foi resultado de um trabalho árduo.
"A movimentação de Ava é feita pela atuação de
Alicia, mas a mecânica do robô é algo que tivemos que criar do nada",
conta o técnico.
Para Whitehurst, o ator totalmente
digital, inventado ou baseado em alguma estrela do passado, é uma proposta
muito mais difícil do que o hype que ronda
a ideia.
Ideia sedutora
Já a crítica de cinema Alison Willmore, do site Buzzfeed,
acredita que a ideia é potencialmente sedutora demais para que Hollywood
desista dela. "O ator sintético não dá chiliques no meio de seu contrato
sintético", brinca. "Ele é o melhor de todos os atores. E, por mais
que pareça algo de filmes sombrios e futuristas, não acho loucura que Hollywood
e a indústria da música tenham vontade de criar o artista digital, seja ele uma
criatura nova ou um ‘fantasma’ do passado."
Nos últimos anos, assistimos a performances, feitas
por holografia, de Elvis Presley e Michael Jackson em programas de TV, shows e
premiações. A maior parte do público, no entanto, disse preferir a experiência
com cantores de carne e osso.
A recepção morna diminuiu o interesse de Hollywood
em explorar mais a tecnologia – principalmente se levado em consideração o
quanto essas tentativas são caras, tomam tempo e dependem de tecnologia
analógica.
Pergunte a Eric Barba, diretor de
criação da empresa de efeitos especiais Digital Domain, que recebeu a encomenda
de reverter os efeitos do tempo para o filmeTron – O Legado e
criar um Jeff Bridges de 32 anos – o ator tinha 60 na época da produção.
O primeiro passo foi fazer um molde de gesso do
rosto de Bridges.
"Assistimos a alguns filmes de Bridges mais
jovem para encontrar a versão jovem que os produtores queriam", conta
Barba. "Foi dali que conseguimos esculpir a imagem dele." Mas era
essencial ter um modelo vivo para fazer os movimentos – e o próprio Bridges fez
isso.
O passado no futuro
Mas Barba ri da ideia de que um dia poderemos
colocar negativos e imagens em um computador para criar um James Dean digital.
"Imagens em movimento em geral vêm de uma única perspectiva – e não de
várias perspectivas ao mesmo tempo. Fora que elas podem ter sido filmadas com
lentes diferentes. Não é possível digitalizar uma imagem para criar outra. Isso
é fantasia", decreta.
A variedade de cenas que poderiam ser feitas com
atores totalmente digitais também é restrita. "A substituição do rosto
funciona bem a sequências de ação. Mas assim que quisermos colocar um pouco de
diálogo, fica muito mais difícil", explica Whitehurst.
Para criar uma versão virtual do jovem Laurence
Olivier na pele de Ricardo 3º, seria mais fácil colocá-lo em uma cena de duelo
do que recitando um monólogo.
"Essa sutileza da atuação humana e do
movimento humano torna tudo muito, muito mais difícil de reproduzir", diz
o técnico. "Criar um humano digital não é a mesma coisa que tentar simular
um oceano, onde você pode encher o computador de dados e tudo sai quase
perfeito. O rosto de um ator em ação é uma iniciativa muito mais
artística."
Mas a regra que reina em Hollywood é: se algo
prometer dar lucro, nada parece impossível. "Não quer dizer que nunca vai
acontecer. Mas não será algo para o futuro próximo", arrisca Whitehurst.
Por enquanto, a melhor maneira de criar uma atuação
digital é filmando e escaneando atores de carne e osso. E, mesmo quando
intérpretes virtuais estiverem no horizonte, Whitehurst acredita que os efeitos
visuais não conseguirão recriar a mágica mais viva de Hollywood: a fama e tudo
o que vem dela.
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