Literatura
A paródia pode estar relacionada com a
sátira. A paródia imita outra forma de arte, de uma forma exagerada, para criar
um efeito cómico, ridicularizando, geralmente, o tema e estilo da obra
parodiada. Ainda que por vezes as técnicas próprias da sátira e da paródia se
sobreponham, não são sinónimas. A sátira nem sempre é humorística - por vezes
chega a ser trágica. A paródia é, inevitavelmente de carácter cómico. A paródia
é imitativa por definição - a sátira não tem de o ser. O humor satírico tenta,
muitas vezes, obter um efeito cómico pela justaposição da sátira com a
realidade. O principal objetivo da sátira é político, social ou moral - e não
cómico... O humor satírico tende, pois, para a sutileza, ironia e
uso do efeito cómico do deadpan (impassibilidade do humorista,
como se não percebesse o ridículo das situações que apresenta).
Nas sociedades célticas, cria-se que uma
sátira composta por um bardo tinha efeitos físicos, semelhantes a uma
maldição.
Hoje ainda podemos falar de sátiras e paródias
audiovisuais, que nada mais são do que as reproduções da sátira ou da paródia
como as conhecemos através de meios audiovisuais, como a televisão, o cinema e
mais recentemente a internet. A sátira e a paródia aqui ganham elementos novos,
pois passa-se a trabalhar com o jogo de imagens e sons, sendo esses dois os
principais elementos com que se irá criar o efeito cômico ou o efeito
crítica-ironia, e não mais através somente do texto e de sua interpretação. O
leitor da sátira e da paródia passa ao espectador desses estilos que em última
análise podem se manifestar em qualquer linguagem.
Uma das características da sátira antiga é a
apropriação paródica dos mais diversos gêneros literários da Antiguidade,
incluindo uma heterogeneidade estilística em que prosa e verso encontravam-se
misturados no mesmo texto. Mas outra etimologia, ligada à língua grega, associa
a sátira à figura mítica do sátiro, lembrando uma de suas características mais
importantes, já encontrada na comédia antiga e transmitida ao romance: a
irreverência. O que caracteriza a irreverência satírica é o seu caráter
denunciador e moralizador. De fato, o objetivo da sátira é atacar os males da
sociedade, o que deu origem à expressão latina: castigat ridendo moris, que se
pode traduzir livremente como "castigar os costumes pelo riso". Por
seu caráter denunciador, a sátira é essencialmente paródica, pois constrói-se
através do rebaixamento de personalidades (reais ou fictícias), instituições e
temas que, segundo as convenções clássicas, deveriam ser tratados em estilo
elevado. Ou seja: a sátira ri de assuntos e pessoas "sérias", para
denunciar o que há de podre por trás da fachada nobre impingida à sociedade.
Portanto o riso satírico é diametralmente oposto à idealização épica.
Sendo o riso satírico em geral extremamente
sarcástico, o grotesco é um dos procedimentos favoritos do satirista, que
costuma mostrar a deformação grotesca do corpo do personagem satirizado como
uma alegoria dos seus defeitos morais.
Um poeta muito conhecido por suas sátiras
foi Gregório de Matos e Guerra, poeta de estilo barroco.
Diminuição - Reduz o tamanho ou grandeza de algo de forma a tornar a
aparência ridícula ou de forma a fazer sobressair os defeitos criticados. Por
exemplo, quando alguém, num discurso político, decide chamar "bando de
garotos" aos membros de outro partido, usa a diminuição. A primeira parte
de As Viagens de Gulliver, passada na ilha fictícia de Liliput, é
também uma sátira diminutiva.
Inflação - Quando se exagera, aumentando, algum aspecto da coisa
satirizada. Tal como a diminuição, é uma forma de hipérbole (negativa no
primeiro caso, positiva, no segundo). O exagero das dimensões de algo serve
também para acentuar os defeitos daquilo que se pretende satirizar. Como
exemplo desta técnica, podemos considerar a obra de Alexander Pope, The
Rape of the Lock.
Justaposição - Coloca ao mesmo nível coisas de importância desigual, de
forma a rebaixar algumas, supostamente "elevadas" ao nível de outras
consideradas menos nobres. Por exemplo, quando alguém diz que as suas
disciplinas preferidas na escola são Cálculo Diferencial, Física e "micar
as gajas" (expressão usada, no calão, em Portugal, e que significa: olhar
para as garotas), estará a colocar as disciplinas científicas, supostamente
mais elevadas e edificantes, ao mesmo nível de um passatempo que apela a
instintos mais básicos.
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