Cinema
Publicado em cinema por Diego Ribeiro,
em obviusmagazine
Baiano de berço, cidadão do mundo de nascença e
administrador de profissão. Taurino 25 anos, que acumula andanças por alguns
continentes, e uma inquietude pelo novo sempre presente.
Já passou frio no Canadá e calor no Marrocos, e na China dispensou carne de cachorro.
Voltou ao Brasil há algum tempo a fim de praia, e de mergulhar no cinema.
Já passou frio no Canadá e calor no Marrocos, e na China dispensou carne de cachorro.
Voltou ao Brasil há algum tempo a fim de praia, e de mergulhar no cinema.
Entre “Melindas e Melindas” e a taciturna noite de Paris Woody Allen tem
ensinado, através de suas obras, uma nova ótica sobre o “amor”. O tão almejado
sonho de viver a dois de maneira harmoniosa (diga-se de passagem) é construído
nas tramas desse brilhante senhor de maneira variada. Ora Allen enxerga o amor
como um meio para atingir um fim, e ora o trata como um braço que se entende ao
ser apaixonado, a fim de erguê-lo acima dos meros mortais.
Quem nunca
se deixou levar pelo encanto dos filmes de Woody Allen? Quem
não repensou inteiras relações ou meros casos banais, através da semiótica
desse ícone quase octogenário e imortal do cinema norte-americano? Com uma
carreira de mais de 50 anos e 50 filmes dos mais variados, esse mestre dos
magos cinematográficos vem transmitindo através de suas obras conceitos que
perpassam e marcam diversas gerações.
Lembro a
primeira vez que timidamente ingressei no mundo dos filmes “cults” ou
“alternativos”, se é que essa distinção ainda é valida. Tenho essa
característica de querer me aprofundar em tudo, como alguém que cava sem
cessar, buscando a raiz das coisas e o que está por baixo da superfície. Ainda
jovem assisti “A rosa púrpura do Cairo” e me senti magnetizado.
Para quem
não conhece, o filme brinca com a linha tênue entre a ficção das telonas e a
realidade. A sua personagem principal é uma pobre garçonete, que entre as
dificuldades vividas pelo país na época da “Grande Depressão” e pelo seu
casamento busca no cinema um refúgio. A partir daí, a surrealidade de Allen,
que marca diversos filmes do diretor, emana de maneira hipnotizante. O
personagem “herói” do filme passa pra realidade da pobre mulher saindo
literalmente da tela, e a convidando a uma nova vida.
Exemplo
como esse e filmes como “Meia noite em Paris”, “Para Roma com Amor” e
“Vicky Cristina Barcelona” e tantos outros, mostram como Woody está
compromissado com esse que é senão o mais digno dos sentimentos humanos.
Personagens tão distintos como a talentosa pintora Maria Helena de
“Vicky Cristina Barcelona”, e o boêmio-nostálgico vivido por Owen
Wilson em “Meia noite em Paris” mostram como o diretor explora o lado
romântico do humano em diversas facetas em seus filmes. O tal “amor”
para Allen em seus filmes é ao mesmo tempo veneno e cura, ferindo
alguns dos seus mais brilhantes personagens e dando a outros um grande felizes
para sempre.
A ferocidade
como o sentimento é explorado em obras como “Match Point” mostra
até onde o homem (e por homem aqui entenda também por lindas mulheres) podem
chegar à busca pela sua “metade”, pelo seu sonho depositado no outro e por um
preenchimento de um vazio que só parece ter fim na “posse” do ser amado. A cada
filme Woody nos dá uma prova de que, sendo bom ou não, é o
amor que serve como combustível para a vida. É esse algo inodoro, incolor, mas
de bastante sabor que dá um tempero especial a nossa passagem nesse mundo
louco, onde cada vez mais o amor parece durar menos do que um dos filmes do
diretor.
Aprendemos
um pouco mais a cada filme de Allen, e inconscientemente ou
conscientemente repetimos padrões que achávamos exclusivos de personagens de
ficção. Afinal de contas quem nunca fez uma loucura por amor? Ou se sentiu
inebriado por esse sentimento de tal forma que se fez questionar todas suas
convicções, ou largar tudo para embarcar numa aventura? Cada vez mais me
conformo que o ponto máximo que Allen talvez queira mostrar a nós meros mortais
é que o “amor” é uma loteria.
E como todo
jogo de azar não há volta. Uma vez apostando o que se tem, não há garantias de ganho,
ou meras certezas. Amar é arriscar-se, é pular em um bungee jump sem corda
esperando que a aterrissagem seja suave e não tempestuosa, é crê no incrédulo e
fantasiar a realidade protagonizada agora por outro, que vira o centro de sua
vida. Allen me ensinou que ás vezes o amor leva tempo, mas que sempre deixa
saudades e marcas às vezes irreparáveis. Que amar é realmente para os fortes e
para os tontos, mas ainda por cima para aqueles que acreditam que na vida há
mais do que superficialidades e efemeridades às quais nos esbarramos todos os
dias.
Com ele
também aprendi que há amores que podem nos levar a loucura (de maneira
encantadora como em “Blue Jasmine”), à violência como em “Match
Point” ou em “Vicky Cristina Barcelona” ou ao campo perigoso da nostalgia
como em “Para Roma com Amor”, porém o que ainda tento aprender sem
esse mágico senhor de cabelos brancos é como amar sem dor.
Construindo
ou destruindo o que se está ao redor, a maneira que enxergo hoje o “amor”
através de Allen é que toda experiência é válida, e que amamos
várias vezes em nossa vida. Arrisco-me em ser meio clichê, mas com o tempo e
com um coração remendado, hoje percebo a simplicidade do amar. O quanto é
importante estar completo, ao invés de encarar alguém como uma peça de um quebra-cabeça
que muitas vezes estar fincado em suas necessidades e não nas do outro. O
quanto o tempo cura, e felizmente ou infelizmente há um planeta orbitando em
torno do sol quer você esteja amando ou não.
Obrigado
Allen por através dos seus filmes tratarem milhares de corações em doses
homeopáticas, inclusive o meu, e ensinar que muitas vezes estar só é
melhor do que mal apaixonado.
© obvious: http://obviousmag.org/sobre_filmes_lobos/2015/04/woody-allen-e-a-nao-alienacao-do-amor.html#ixzz3YtLHWAUd
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