sábado, 2 de maio de 2015

WOODY ALLEN E À NÃO ALIENAÇÃO DO AMOR

Cinema

Publicado em cinema por Diego Ribeiro,
em obviusmagazine



Baiano de berço, cidadão do mundo de nascença e administrador de profissão. Taurino 25 anos, que acumula andanças por alguns continentes, e uma inquietude pelo novo sempre presente.
Já passou frio no Canadá e calor no Marrocos, e na China dispensou carne de cachorro.
Voltou ao Brasil há algum tempo a fim de praia, e de mergulhar no cinema.
  
Entre “Melindas e Melindas” e a taciturna noite de Paris Woody Allen tem ensinado, através de suas obras, uma nova ótica sobre o “amor”. O tão almejado sonho de viver a dois de maneira harmoniosa (diga-se de passagem) é construído nas tramas desse brilhante senhor de maneira variada. Ora Allen enxerga o amor como um meio para atingir um fim, e ora o trata como um braço que se entende ao ser apaixonado, a fim de erguê-lo acima dos meros mortais.


Quem nunca se deixou levar pelo encanto dos filmes de Woody Allen? Quem não repensou inteiras relações ou meros casos banais, através da semiótica desse ícone quase octogenário e imortal do cinema norte-americano? Com uma carreira de mais de 50 anos e 50 filmes dos mais variados, esse mestre dos magos cinematográficos vem transmitindo através de suas obras conceitos que perpassam e marcam diversas gerações.



Lembro a primeira vez que timidamente ingressei no mundo dos filmes “cults” ou “alternativos”, se é que essa distinção ainda é valida. Tenho essa característica de querer me aprofundar em tudo, como alguém que cava sem cessar, buscando a raiz das coisas e o que está por baixo da superfície. Ainda jovem assisti “A rosa púrpura do Cairo” e me senti magnetizado.


Para quem não conhece, o filme brinca com a linha tênue entre a ficção das telonas e a realidade. A sua personagem principal é uma pobre garçonete, que entre as dificuldades vividas pelo país na época da “Grande Depressão” e pelo seu casamento busca no cinema um refúgio. A partir daí, a surrealidade de Allen, que marca diversos filmes do diretor, emana de maneira hipnotizante. O personagem “herói” do filme passa pra realidade da pobre mulher saindo literalmente da tela, e a convidando a uma nova vida.


Exemplo como esse e filmes como “Meia noite em Paris”, “Para Roma com Amor” e “Vicky Cristina Barcelona” e tantos outros, mostram como Woody está compromissado com esse que é senão o mais digno dos sentimentos humanos. Personagens tão distintos como a talentosa pintora Maria Helena de “Vicky Cristina Barcelona”, e o boêmio-nostálgico vivido por Owen Wilson em “Meia noite em Paris” mostram como o diretor explora o lado romântico do humano em diversas facetas em seus filmes. O tal “amor” para Allen em seus filmes é ao mesmo tempo veneno e cura, ferindo alguns dos seus mais brilhantes personagens e dando a outros um grande felizes para sempre.


A ferocidade como o sentimento é explorado em obras como “Match Point” mostra até onde o homem (e por homem aqui entenda também por lindas mulheres) podem chegar à busca pela sua “metade”, pelo seu sonho depositado no outro e por um preenchimento de um vazio que só parece ter fim na “posse” do ser amado. A cada filme Woody nos dá uma prova de que, sendo bom ou não, é o amor que serve como combustível para a vida. É esse algo inodoro, incolor, mas de bastante sabor que dá um tempero especial a nossa passagem nesse mundo louco, onde cada vez mais o amor parece durar menos do que um dos filmes do diretor.


Aprendemos um pouco mais a cada filme de Allen, e inconscientemente ou conscientemente repetimos padrões que achávamos exclusivos de personagens de ficção. Afinal de contas quem nunca fez uma loucura por amor? Ou se sentiu inebriado por esse sentimento de tal forma que se fez questionar todas suas convicções, ou largar tudo para embarcar numa aventura? Cada vez mais me conformo que o ponto máximo que Allen talvez queira mostrar a nós meros mortais é que o “amor” é uma loteria.


E como todo jogo de azar não há volta. Uma vez apostando o que se tem, não há garantias de ganho, ou meras certezas. Amar é arriscar-se, é pular em um bungee jump sem corda esperando que a aterrissagem seja suave e não tempestuosa, é crê no incrédulo e fantasiar a realidade protagonizada agora por outro, que vira o centro de sua vida. Allen me ensinou que ás vezes o amor leva tempo, mas que sempre deixa saudades e marcas às vezes irreparáveis. Que amar é realmente para os fortes e para os tontos, mas ainda por cima para aqueles que acreditam que na vida há mais do que superficialidades e efemeridades às quais nos esbarramos todos os dias.


Com ele também aprendi que há amores que podem nos levar a loucura (de maneira encantadora como em “Blue Jasmine”), à violência como em “Match Point” ou em “Vicky Cristina Barcelona” ou ao campo perigoso da nostalgia como em “Para Roma com Amor”, porém o que ainda tento aprender sem esse mágico senhor de cabelos brancos é como amar sem dor.


Construindo ou destruindo o que se está ao redor, a maneira que enxergo hoje o “amor” através de Allen é que toda experiência é válida, e que amamos várias vezes em nossa vida. Arrisco-me em ser meio clichê, mas com o tempo e com um coração remendado, hoje percebo a simplicidade do amar. O quanto é importante estar completo, ao invés de encarar alguém como uma peça de um quebra-cabeça que muitas vezes estar fincado em suas necessidades e não nas do outro. O quanto o tempo cura, e felizmente ou infelizmente há um planeta orbitando em torno do sol quer você esteja amando ou não.


Obrigado Allen por através dos seus filmes tratarem milhares de corações em doses homeopáticas, inclusive o meu, e ensinar que muitas vezes estar só é melhor do que mal apaixonado.


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