7 títulos para questionar e desconstruir a velha fórmula (não tão)
mágica de contar histórias sobre Princesas.
Publicado em literatura por Paola Rodrigues,
Em obviusmagazine
Nada, nada,
me incomoda mais que o velho formato das histórias infantis. Apesar de ter
crescido com as produções da Disney, Branca de Neve deixou de me convencer lá
pelos quinze anos, quando percebi que a fórmula criava ideais e ilusões
equivocadas sobre como visualizamos o amor romântico e as interações sociais.
Como uma
das metas dos textos sobre conteúdo literário e audiovisual para crianças é
estabelecer uma crítica ao que está sendo produzido para nossos filhos, não
consegui me isentar de abrir o diálogo sobre os contos de fadas. Pequenas
histórias de Princesas trancadas em castelos, que anseiam encontrar a a
salvação por seu Príncipe. Sempre delicadas, brancas, fofas e indefesas.
Não é de
todo ruim, muitos deles discutem assuntos como bondade, humildade e tolerância,
mas com uma velha fórmula que cria estereótipos perigosos. Mais uma vez vou
repetir a indicação do meu TED preferido até agora, onde a escritora
nigeriana Chimamanda Adichie, fala sobre como pode ser prejudicial a história
única, onde somos apresentados a uma única versão dos fatos, geralmente por um
telespectador que não possuí conhecimento de causa, e termina por gerar
estereótipos perigosos.
Então
declaro a inauguração informal da série de listas que exigem #conteúdodequalidade,
porque nossas crianças merecem mais. Merecem diversidade, exemplos positivos e
uma fonte de entretenimento comprometido com a qualidade, não o silêncio.
Merecem menos abuso da publicidade infantil, menos sorrisos e filosofias que
escondem o interesse de quantificar e vender a infância.
Então a
nova lista vai ser sobre dicas de livros infantis que quebrem esse estereótipo
ou insiram a discussão sobre os velho molde dos contos de fadas, tanto para os
pais, quanto para os filhos.
1. A pior
Princesa do mundo
Esse livro
é o meu amor. Não só porque ele é lindo, tem uma arte incrível e um jeito de
narrar a história de nossa Princesa de forma leve e divertida, mas
principalmente porque Helena ganhou ele de um casal de amigos muito queridos.
Eles não sabiam, mas quem precisava ler essa história era a mãe.
A história
é da fantástica Anna Kemp, que tem mais dois livros publicados, e a arte
pertence a Sara Ogilve, uma ilustradora com um estilo lindo, tendo também sido
a responsável pela arte do livro My mother is a Troll. A narrativa usa de rimas
e conversas inteligentes, sendo um dos poucos livros infantis que li que usa
essa fórmula com muita precisão.
O livo nos
conta a história de Soninha, uma princesa que tem aguardado impacientemente sua
vez nos Contos de Fadas; até que um dia ela finalmente se cansa e decide optar
por uma vida com mais aventura. Vai viver de forma radical, até que encontra
numa das esquinas da vida o superestimado Príncipe Encantado, só para perceber
que ele não passa de um bobão. No fim, Soninha continua suas aventuras, não com
o Príncipe, mas com o Dragão! I.S.B.N.9788577532483
2. Pretinha
de Neve e os sete gigantes
"Tacho
de cobre, tacho de cobre, existe alguma menina mais solitária do que eu?"
Escrito por Rubem Filho, esse é um daqueles livros infantis que não só
desconstrói personagens que estão enraizados na nossa história, como também faz
uma releitura da fórmula antiga dos contos dos fadas, trazendo elementos que
valorizam a cultura africana e a reflexão sobre solidão e coragem. A arte é
muito boa, cheia de elementos originais e cores vivas.
A história
narra as aventuras de Pretinha, que mora no Monte Kilimanjaro, situado no norte
da Tanzânia. Lá faz muito, muito frio, soterrando seus habitantes em neve. Sim!
Neva na África, gente. A mãe de Pretinha se tornou viúva e se casou com um Rei
muito do chato, que só quer saber de doces, deixando a menina completamente
sozinha. Um dia, em meio a solidão, ela pergunta para o Tacho mágico se existe
alguém mais solitária do que ela, e assim começa a aventura. Decidida a não se
sentir mais assim, Pretinha foge do Castelo, onde irá encontrar situações
inusitadas e sete gigantes, não anões. ISBN: 978-85-356-3440-2
3. Uma
Chapeuzinho Vermelho
Imagine a
história assim: Chapeuzinho Vermelho está lá, feliz da vida, andando pela
floresta. Daí ela encontra o Lobo, aquele que apavorou tantas crianças e
ensinou de forma meio atrapalhada que não devemos falar com estranhos; quando
tudo começa. Você pensa: mesma história batida. Mas é aí que nossa Chapeuzinho
dá um olé na vida, no leitor e no Lobo, sendo uma menina curiosa, ousada e
muito esperta.
O livro é
fofo. As ilustrações parecem que foram feitas por uma criança, o que sempre me
deixa feliz, já que acontece aquela sintonia. A construção do enredo é muito
bom, tendo sido escrito pela francesa Marjolaine Leray, autora de vários outros
livros lindos. ISBN: 9788574065281
4. A
Princesa e a Ervilha
Durante dez
anos a autora Rachel Isadora percorreu países africanos para criar está
adaptação do clássico de Hans Christian Andersen, que também ganhou sua versão
da Disney em A Princesa e o Sapo.
E apesar de
a história do dinamarquês me incomodar com a abordagem, a mensagem é realmente
ótima: as pequenas coisas que nos incomodam, tiram o sono, importam e devem ser
combatidas.
Nessa
adaptação, temos nosso Príncipe africano em busca da verdadeira Princesa para
se casar; e um dia, durante suas andanças, acaba por encontrar em sua porta uma
moça que afirma ser uma Princesa, apesar de estar toda molhada da chuva e pouco
apresentável. Para testa-la, é colocada uma ervilha por baixo de 24 colchões.
No outro dia a Princesa é questionada se dormiu bem, e ela admite que na verdade
dormiu mal, havia algo incomodando-a.
Todas as
ilustrações coloridas e muito bem produzidas nos mostram animais, vestimentas e
costumes africanos, quebrando o estereótipo de Princesas loiras, pálidas e com
vestidos que mais parecem glacê de bolo. ISBN: 9788562525599
5. Príncipe
Cinderelo
“O Príncipe
Cinderelo, nem parecia Príncipe! Era baixinho, sardento, magricelo e andava
molambento!”
Nosso
Príncipe, na história da fantástica Babette Cole, tem três irmão peludos,
enormes e que adoram uma boa festa. A fada é bem destrambelhada e com pouco
apreço por higiene, e nas suas tentativas de enviar o Príncipe para a festa,
acaba por transforma-lo num macaco enorme e peludo. E assim acontece a
história, cheia de boas sacadas para a fórmula da Gata Borralheira.
Esse é o
meu segundo livro preferido, porque ele brinca e desestrutura completamente o
conto de fadas, colocando o Príncipe em situações inimagináveis, como ao invés
de esquecer o sapatinho de cristal, esquecer a calça jeans surrada enquanto
fugia da Princesa.
Babette
Cole é uma das minhas escritoras preferidas e recomendo qualquer livro dela.
Aliás, por mim fazia uma lista só dela e comprovava meu amor. ISBN: 8533612923
6. A
Princesa Sabichona
Nossa
Princesa não quer saber de marido, Príncipes, festas ou vestidos, ela só quer
viver suas aventuras, discutir ideias e viver no Castelo com seus animais.
Seria uma realidade justa, se o Rei e a Rainha não acreditassem que sua escolha
fosse um tanto incomum, e desaconselhável; então, decidem apresentar os Príncipes,
na esperança que nossa heroína, quem sabe, goste de algum.
Seria
fácil, se essa Princesa não fosse um tanto mais que esperta e não desse tarefas
impossíveis para a realeza que ousasse tentar desposa-la.
Mais uma
obra incrível da escritora inglesa Babette Cole, que além de ser feminista,
ensinam a todos que casamento é uma escolha, jamais uma imposição. E tudo bem
querer viver com os gatos, jacarés e passarinhos! ISBN: 85-3360-920-5
7. A
Princesa que queria ser Rei
Este é um
livro que acredito, pois pesquisei muito, não ter sido publicado ainda no
Brasil. Li num café na Avenida Paulista enquanto esperava o horário de uma
reunião, então acredito que quem quiser adquiri-lo, seria aconselhável buscar
em sebos ou importar por sites portugueses que entreguem por aqui.
"[...]
Não, não era bem a filha de que os pais estavam à espera, longe disso. Desde
logo, quando nasceu, já era diferente de todas as outras crianças, uma pequena
bola envolta em tanto pelo que até os físicos ficaram espantados.- Rainha -
disseram eles quando o silêncio se tornou demais embaraçoso - a princesa é um
bocadinho peluda. Mas de resto - acrescentaram- é perfeita como uma flor.
[...]"
Essa
história conta a luta de uma princesa enorme, peluda, forte e linda, que sonha
assumir o lugar do pai como Rei. Mas sua família além de não acreditar em seu
potencial, acha que o posto só pode ser assumido por um homem, vendo com horror
o esforço da filha de se tornar mais resistente e capaz.
Eis que a
autora Sara Monteiro, narra a jornada da Princesa que quer provar ser não só
tão capaz quanto um homem, como ainda melhor para assumir o posto de Governo do
reino que tanto ama.
Gente é
lindo, simples assim.
ISBN:
978-972-43-1235
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