Política
nacional
Dirigentes petistas operam para conter críticas de alas da sigla ao
ministro da Fazenda.
Por AFONSO BENITES São Paulo
El
PAÍS – O JORNAL GLOBAL
Rousseff, Temer e Levy em evento na terça-feira. / LULA MARQUES
No
Congresso Nacional, senadores petistas criticam a presidenta Dilma
Rousseff e votam contra algumas das medidas propostas por seu Governo. Nas
ruas, até os movimentos sociais que, em parte, garantiram a reeleição dela
reclamam de seu ajuste fiscal. É essa a tensão que o Partido dos Trabalhadores,
que deveria ser seu principal suporte, vai refletir em seu V Congresso
Nacional, que começa nesta quinta-feira, em Salvador. Na divisão do PT, alguns
cerram filas com a presidenta, mas a maioria está pronta para reclamar de seu ministro
da Fazenda, Joaquim Levy. Para contê-los, foram escalados bombeiros para
tentar evitar que esse embate interno cause mais prejuízos para a imagem de
Rousseff, que mal começou seu segundo mandato e
já tem de lidar com escândalos de corrupção, protestos (nas ruas e no
Legislativo) e uma economia que flerta com a recessão.
Ao que
parece, a operação abafa, costurada pelo presidente da sigla, Rui
Falcão, deve amenizar os efeitos dos ataques internos. As reuniões que
antecederam o evento serviram para diminuir as críticas que há três meses
estavam sendo preparadas por cinco das seis correntes internas do PT. Umas
delas não apresentou suas propostas.
As reclamações subiam o tom contra o ajuste fiscal:
“É problema que a sociedade não tenha sido consultada sobre as medidas e que o
peso do ajuste proposto tenha recaído mais sobre os
trabalhadores do que sobre outros setores das classes dominantes”. O
trecho é um dos pontos debatidos pela principal corrente petista, a Partido que
Muda o Brasil, responsável por 53% dos votos dos filiados.
As alas mais
à esquerda, assim como as mais moderadas, também reclamavam de Levy. Uma delas,
a Mensagem ao Partido (20% dos votos internos), dizia que a legenda, perdeu a
capacidade de unidade política de sua própria base, muito por conta da escolha
para o Ministério da Fazenda e suas primeiras decisões. Outros grupos cobravam
a taxação das fortunas e a manutenção de direitos trabalhistas.
Como as
reclamações causaram um mal-estar antes mesmo do início do Congresso petista,
Falcão atendeu aos pedidos de Rousseff e do ex-presidente Luiz Inácio Lula
da Silva e tentou diminuir a chiadeira interna. A presidenta chegou a
dizer, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo, que Levy não
poderia ser visto como “Judas”. Já o vice-presidente Michel Temer afirmou
que o ministro estava mais para Jesus Cristo do que para Judas.
Depois
dessas falas, na terça-feira, surgiu um rascunho da “Carta de Salvador”. O
documento, que, muito provavelmente, será aprovado pelos participantes do
encontro, tem um discurso bem próximo ao do Governo Rousseff e é bem mais light
do que vinha sendo debatidos. Trata a crise econômica brasileira dentro de um
contexto internacional, defende o aprofundamento com o Mercosul e ressalta os
ganhos sociais dos brasileiros nos últimos anos.
Ainda na
área econômica, a “Carta de Salvador” sugere a recriação da CPMF, o imposto
criado no Governo FHC, em 1997, e extinto em 2007, na gestão Lula. Os recursos
desse tributo, cobrado sobre as movimentações financeiras, eram usados para
financiar a saúde pública e só acabou porque Lula não conseguiu unificar sua
bancada no Senado para aprovar sua continuidade.
Corrupção e financiamento eleitoral
Com 3.863
palavras, a “Carta de Salvador” não trata em nenhum momento do tema corrupção
ou do veto ao financiamento empresarial de campanha, uma modalidade que a
cúpula do partido anunciou que vetaria logo após a prisão do então tesoureiro
da sigla, João Vaccari, no caso Lava Jato.
O mais
próximo que chega do tema corrupção é quando admite falhas, sem citá-las
especificamente. “Cometemos erros, mas é fundamentalmente por nossas virtudes
que as forças conservadoras nos atacam e almejam nossa destruição. Não aceitam
que a classe trabalhadora e seu principal partido estejam no comando do país,
enfrentando o legado de opressão e desigualdade gerado em séculos de dominação,
violência, privilégios e preconceitos”, diz o documento.
Sobre a
ausência do assunto doações eleitorais, dirigentes petistas alegaram que não
era possível tomar uma decisão sobre essa questão antes da votação da reforma
política no Congresso Nacional. Nos últimos dias, a Câmara dos Deputados
rejeitou a doação de empresas para campanhas políticas, mas, após uma manobra
do presidenta da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), os deputados aprovaram
a doação de empresas para partidos, o que na prática deixa tudo como está hoje.
Além de 800
delegados do partido, deverão participar do evento algumas de suas principais
lideranças, como Lula e Dilma. O ex-presidente confirmou sua participação na abertura
do encontro e a presidenta no encerramento. Nos próximos dias ela estará na
Cúpula dos Estados Latinos Americanos e União Europeia, na Bélgica.
O partido que se reúne a partir desta quinta-feira em Salvador é menor
do que há quatro anos, quando fez seu último encontro. Se numericamente tem mais prefeitos e senadores, o PT reduziu sua
capacidade de elaboração de políticas, de influência e de comunicação com sua
base. Aliado a isso, reduziu o número de deputados federais e estaduais. O
diagnóstico foi feito pelas próprias correntes petistas nos documentos que
serão debatidos entre quinta-feira e sábado, na capital baiana.
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