Publicado em literatura por Alexandre Coslei
É jornalista e escritor
A
literatura contemporânea vem propagando novos e interessantes gêneros, como o
exemplo do jornalismo literário. No território do público jovem, fiz a leitura
de "Barba ensopada de sangue" percebendo uma novidade: o folder
literário. O enredo é um passeio minuciosamente descrito pela praia de
Garopaba, no interior de Santa Catarina. Daniel Galera não é a "Vovó
Stella", mas nos conduz a uma viagem mística e encantada pelo litoral
catarinense.
LIVRO:
BARBA ENSOPADA DE SANGUE; AUTOR: DANIEL GALERA; EDITORA: CIA DAS LETRAS / 2012
Visitar a
Livraria Saraiva, seja onde for, é como entrar numa Blockbuster literária. São
livros de autores celebridades como Pedro Bial, Lobão, Fernanda Torres, etc.
Além deles, encontramos uma fartura de edições sobre dragões, ficções com ares
medievais, história de vampiros, diários de psicopatas caricatos, livros de
amor e toda a quinquilharia produzida para um “público jovem”. Os
melhores livros da Saraiva não ficam nos balcões de destaque, mas empilhados no
chão como indigentes das letras.
Obrigo-me a
superar qualquer preconceito intelectual que ainda habite o meu universo e
compro o título de um desses decantados jovens autores alardeados como
finalistas e vencedores dos mais significativos prêmios literários (nem sempre
um marketing sincero, é preciso saber filtrar). Deixo a Saraiva carregando “Barba
ensopada de sangue”, o romance do enaltecido Daniel Galera.
A abertura
nos apresenta a um protagonista sem nome, cujo estopim da história brota no
suicídio anunciado do pai. Ao mesmo tempo que informa a decisão de se matar, o
pai faz o filho prometer que sacrificará a cadela de estimação assim que ele
consumar seu intento. O filho promete, mas não cumpre. Ao contrário, adota a
cadela e parte com ela para Garopaba com o objetivo de desvendar o mistério
ancestral que envolve o assassinato do avô naquele litoral catarinense. Um
elemento interessante acompanha o protagonista, ele sofre de uma doença que o
faz esquecer o rosto das pessoas e impede que as reconheça mesmo depois de
manter contato.
Somados os
ingredientes, talvez pudéssemos descortinar uma bela trama. Infelizmente, não é
o que acontece. Escrito em terceira pessoa, entremeado por diálogos abundantes
e notas de rodapé cansativas que marcam depoimentos e recados, o livro patina
num existencialismo raso que não chega a lugar nenhum. Parece se perder até do
eixo principal, se exaure num recurso bobo, pouco criativo e recheado de aura
mística para a conclusão do enredo. A narrativa ensaia tímidos movimentos de
inovação, mas não se arrisca em grandes evoluções, segue a receita do mais
simples, preferência das oficinas literárias, onde o autor já confessou ter
semeado seus primeiros textos.
Durante o
decorrer do calhamaço de 422 páginas, somos conduzidos pela rotina vazia do
principal personagem, confirmamos o complexo de corno causado por ter perdido
uma namorada para o irmão, testemunhamos a readaptação da cadela ao novo dono e
passeamos pelas praias invernais de Garopaba através de descrições
intermináveis. Um detalhe intrigante nesta nova geração de jovens autores é
que, para alguns, a confecção do romance aparenta ser mais um ato de descrever
do que o de contar.
É um livro
ruim? Não, se for classificado como um morno entretenimento. Segue com louvor
as fórmulas que costumam levar a garotada a querer alcançar a página final.
Ao término
da leitura de “Barba ensopada de Sangue” fica a nítida impressão de que
não lemos um romance, mas corremos os olhos por um folder turístico. Fiquei com
uma vontade danada de conhecer Garopaba, mas só no verão.
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