Design
Publicado em design por Homero Nunes,
em obviusmagazine
A Bauhaus queria mudar o mundo. Moderna, industrial, urbana, a escola de
arte e arquitetura concebida por Walter Gropius, na Alemanha do entre guerras
(1919-1933), tinha a pretensão de criar uma nova estética e produzir o cenário
da modernidade.
Mudando o
design dos objetos, a arquitetura dos prédios, o visual das coisas, mudaria o
ambiente e com ele as pessoas, os gostos, a percepção do mundo. Para tal
empreitada, seriam produzidas coisas funcionais, práticas, sem descartar a
beleza, a concepção estética e, sobretudo, com baixo custo. Se fosse barato, as
pessoas comprariam pelo preço, mobiliariam suas casas, lojas, escritórios e
tudo mais com os objetos da nova estética. Pelo apelo da praticidade e
funcionalidade seriam conquistadas. Acostumar-se-iam com o design e, com o
tempo, perceberiam toda a beleza que aquelas coisas encerram. Uma casa barata,
iluminada, funcional; móveis baratos, leves e versáteis; objetos práticos,
bonitos e baratos. Uma transformação estética na infraestrutura produtiva que
forçaria mudanças na superestrutura social, na cultura e na sociedade como um
todo. A utopia de uma revolução estética, na concepção da gesamtkunstwerk,
da arte total.
Os quadros
da Bauhaus contavam com arquitetos, artesãos, pintores, escultores,
dramaturgos, músicos e artistas de quaisquer artes. Wassily Kandinsky, o pintor
que praticamente criou a arte abstrata, por exemplo, dava aulas sobre
possibilidades cromáticas e geometria aplicada. Paul Klee sobre texturas e
diagramação. Oskar Schlemmer dava aulas de teatro, levando para os palcos as
experimentações estéticas da Bauhaus. Enfim, toda a concepção de ensino era
moderna e inovadora, incentivando a fusão das artes, do artesanato e da
funcionalidade prática das coisas. Os alunos, primeiro passavam pelas oficinas
de marcenaria, serralheria, cerâmica, desenho, costura, tapeçaria etc, para
depois serem iniciados na história da arte e da arquitetura e, por fim,
experimentarem a criação e remodelagem do mundo através de novas propostas
estéticas. Erravam muito, produziam coisas que eram descartadas aos montes, mas
aprendiam com isso, e tinham liberdade criativa para continuar no caminho.
Afinal, Gropius e sua turma da Bauhaus conseguiram mudar um pouco do mundo,
redefinindo a arquitetura e o design, dando novo impulso à arte moderna.
Da
esquerda: Josef Albers, Hinnerk Scheper, Georg Muche, László Moholy-Nagy,
Herbert Bayer, Joost Schmidt, Walter Gropius, Marcel Breuer, Wassily Kandinsky,
Paul Klee, Lyonel Feininger, Gunta Stölzl e Oskar Schlemmer.
Com a
ascensão do nazismo, os esquerdistas da Bauhaus foram perseguidos. Foi fechada
no prédio de origem em Weimar, onde funcionava desde 1919, e transferida para
Dessau, em 1925, instalada num prédio projetado por Gropius, que se tornaria
referência arquitetônica da escola. O novo prédio sintetizava a proposta de
fundir a funcionalidade à modernidade estética e hoje abriga a nova Bauhaus,
talvez a mais importante escola de arquitetura do mundo. Mas mesmo em Dessau,
cidade mais industrializada e menos provinciana, a Bauhaus continuou
desagradando os nazistas. O próprio Gropius deixaria a direção da escola por
suas convicções marxistas. O novo diretor, Hannes Meyer, embora tenha dirigido
a escola mais para o design industrial e evitado o confronto com a estética
nazista, também foi afastado por sua ligação com o partido comunista. O
terceiro e último diretor da Bauhaus, Ludwig Mies van der Rohe, queria levar a
escola às suas origens, reconciliando-a com perspectiva da “arte total”,
tentando ser politicamente mais discreto, mas tropas ocuparam o prédio
projetado por Gropius em 1932. Tentaram ainda instalar uma versão menos
ambiciosa da escola em Berlim, nos galpões de uma antiga fábrica, mas também lá
a Bauhaus seria fechada pela ignorância nazista. Acabou em 1933 e suas mentes
emigraram aos quatro cantos, sobretudo para os EUA, continuando, então
dispersas, a revolucionar a arquitetura mundo afora. Mudando o ambiente, o
visual das coisas, o mundo através da arte.
A Bauhaus
revolucionou também as artes gráficas, com a criação de novas fontes,
eliminando serifas e carregando no movimento das letras, e a proposição de
novos designs, desenhos, abusando das composições geométricas e inovações
gráficas. Algumas das fontes estão disponíveis no link abaixo:
Em 1922,
Oskar Schlemmer, produziu o “Balé Triádico”. Revolucionário, levou as
concepções da Bauhaus para os palcos, dançando design, linhas, cores, volumes,
geometria. Um balé construtivista, desenhado na prancheta, com máscaras e
figurinos burlescos, cenários abstratos e música mecanicamente integrada com a
coreografia. Em três atos – amarelo, rosa e preto –, a gesamtkunstwerk,
arte total, da Bauhaus no teatro das formas dançantes.
No vídeo
abaixo filtrado, a reprodução do Balé Triádico, realizada por Magareth Hastings
nos anos 70:
Como se
acreditava na época, que trabalho com madeira e metal não era coisa de menina,
a Bauhaus desenvolveu também todo um campo de ensino voltado para as estudantes
com coisas "mais femininas"... Elas também revolucionariam as
estampas em tecidos e a tapeçaria. Abaixo a tapeçaria produzida por Anni
Albers:
Bauhaus arquivo e museu em Berlim: http://www.bauhaus.de/en/
©
obvious: http://lounge.obviousmag.org/isso_compensa/2015/06/bauhaus.html#ixzz3ckhFsk00
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