sábado, 27 de junho de 2015

CAOS

 Publicado em sociedade por João Ricardo

Tudo começou praticamente com a ciência clássica, influenciada pela criação do relógio. Seus movimentos são previsíveis e constantes, a não ser que a bateria esteja fraca.

Caos é uma palavra subjetiva. A sala de estar da casa de sua vovó pode estar minuciosamente arrumada, enquanto para outros, sua vovó é obcecada por limpeza e apresenta um quadro de transtorno compulsivo obsessivo. A mesa de seu escritório pode parecer organizada para você mas está uma bagunça para seu colega de trabalho. Caos é dependente, assim como praticamente todo conceito que envolve uma ou mais opinião.
Muitos autores acreditam na ideia de que toda ciência é uma tentativa de colocar ordem na natureza, a primeira corrente científica a colocar o dedo no tema foi a cibernética. Autores como Norbert Wiener, conceituaram caos entropia e seguiram estudando suas características.


 A Teoria do Caos passou a ser a 'ovelha negra' da cibernética e da teoria da informação. Surgiu na década de 50 devido à curiosidade imensurável do metereólogo Edward Lerenz. Sua pesquisa se sacramentou com as elucubrações mentais do matemático Benoit Mandelbrot sobre a economia, mas ganhou destaque no início dos anos 80 (devemos muito a essa década) com um grupo de nerds da Universidade de Santa Helena (EUA) que se autodenominaram 'Coletivo de Sistemas Dinâmicos'. (Os nerds são muito espertos!).

Tudo começou praticamente com a ciência clássica, influenciada pela criação do relógio. Seus movimentos são previsíveis e constantes, a não ser que a bateria esteja fraca. Uma 'importante' invenção humana com o intuito de organizar a vida social. Como medir o 'tempo'? Um segundo representa realisticamente um segundo? A real é: O que significa horas, minutos e segundos? Tenho dificuldade em divagar sobre esta questão, mesmo assim, a sociedade atual depende dos ponteiros do relógio, do seu tique-taque, de seu despertador para funcionar. Para entender seu funcionamento, é necessário desmontá-lo. O mesmo acontece com a natureza. Basta 'desmontá-la', descobrir como funcionam suas partes e tudo se revelaria aos nossos sentidos, metodicamente sincronizada. Esta visão de mundo ganhou um apelido sugestivo: Demônio de Laplace. Ele propôs que, se uma consciência soubesse todos os dados de todas partículas do universo e fosse capaz de fazer os cálculos necessários, teria condições para prever seu funcionamento com perfeição. O Demônio Laplaciano teria diante de si o passado, o presente e o futuro.


Imagine o trânsito de uma cidade qualquer. Pense que o departamento de trânsito saiba todas as informações possíveis: o mapa da cidade, o tempo de todos os semáforos, a média de velocidade de cada carro (inclusive o seu!), a origem e o destino de todos os veículos (inclusive o seu!)o tempo de partida, de chegada, quanto gastou de combustível, seu trajeto. Aterrorizante do meu ponto de vista. Felizmente, esta tese funciona na teoria mas não na prática. Um único motorista que se distrai, fecha os olhos por um instante, pode causar um acidente que não foi previsto, pois este fator não é consistente, não é uma constante, afinal não somos robôs (ainda!).


A maioria dos sistemas não pode ser determinado em decorrência da chamada dependência sensível das condições iniciais, ou “efeito borboleta” ou “trabalho de formiga”. Esta expressão é usada para denominar um fenômeno no qual uma borboleta, batendo suas asas na muralha da China, pode provocar um engarrafamento em São Paulo (não precisa tanto para engarrafar o trânsito paulista!). Fenômenos em que um pequeno fator provoca grandes transformações são mais comuns do que pensamos. A lei do universo é esta. Um chinês levanta as 4am para ir trabalhar 14 horas por dia numa fabrica de cadeiras. O produto então é enviado por navio para a São paulo onde uma mulher grávida se senta na mesma cadeira, em frente de sua casa olhando o engarrafamento do trânsito, tricotando um suéter para seu neto com algodão fabricado e importado do Peru...


Filosoficamente, a Teoria do Caos nos intriga a pensar sobre o destino. Ele existe? Esta questão inquieta pensadores a séculos, desde a origem da humanidade para ser mais exato (como o relógio no seu pulso). Esta onisciente inteligência proposta por Laplace, seria impotente para provocar qualquer modificação no curso dos eventos. Restaria a ela um olhar entediado sobre o porvir, pois nada poderia acontecer se não fosse previsto. O Demônio de Laplace poderia prever o futuro mas não modificá-lo. Ou seja, há uma determinação, até o ponto que o efeito borboleta interfira no sistema. Felizmente o destino pode existir e pode ser nomeado como for, mas temos a capacidade de modificá-lo, através de uma simples e, aparentemente inofensiva escolha.


Enfim, a vida não passa de uma longa estrada repleta de bifurcações. A cada uma delas, a escolha daquele que caminha, muda seu curso, e portanto seu destino. Fenômenos como a vida humana em sociedade, o trânsito, a mesa do seu café da manhã são extremamente caóticos. Seja como for, a Teoria do Caos tem influenciado os mais diversos campos de conhecimento. A medida em que o mundo e os meios de comunicações se tornam cada vez mais complexos, caóticos, nossa mente se expande para acompanhar esse desenvolvimento. Por outro lado, o aumento da capacidade de captar informação faz com que surjam cada vez mais caos.


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