Publicado em sociedade por João Ricardo
Tudo
começou praticamente com a ciência clássica, influenciada pela criação do
relógio. Seus movimentos são previsíveis e constantes, a não ser que a bateria
esteja fraca.
Caos é uma palavra subjetiva. A sala de estar da
casa de sua vovó pode estar minuciosamente arrumada, enquanto para outros, sua
vovó é obcecada por limpeza e apresenta um quadro de transtorno compulsivo
obsessivo. A mesa de seu escritório pode parecer organizada para você mas está
uma bagunça para seu colega de trabalho. Caos é dependente,
assim como praticamente todo conceito que envolve uma ou mais opinião.
Muitos
autores acreditam na ideia de que toda ciência é uma tentativa de colocar ordem
na natureza, a primeira corrente científica a colocar o dedo no tema foi a
cibernética. Autores como Norbert Wiener, conceituaram caos entropia
e seguiram estudando suas características.
A Teoria
do Caos passou a ser a 'ovelha negra' da cibernética e da teoria da
informação. Surgiu na década de 50 devido à curiosidade imensurável do
metereólogo Edward Lerenz. Sua pesquisa se sacramentou com as elucubrações
mentais do matemático Benoit Mandelbrot sobre a economia, mas ganhou
destaque no início dos anos 80 (devemos muito a essa década) com um grupo de
nerds da Universidade de Santa Helena (EUA) que se autodenominaram 'Coletivo de
Sistemas Dinâmicos'. (Os nerds são muito espertos!).
Tudo
começou praticamente com a ciência clássica, influenciada pela criação do
relógio. Seus movimentos são previsíveis e constantes, a não ser que a bateria
esteja fraca. Uma 'importante' invenção humana com o intuito de organizar a
vida social. Como medir o 'tempo'? Um segundo representa realisticamente um
segundo? A real é: O que significa horas, minutos e segundos? Tenho dificuldade
em divagar sobre esta questão, mesmo assim, a sociedade atual depende dos
ponteiros do relógio, do seu tique-taque, de seu despertador para funcionar.
Para entender seu funcionamento, é necessário desmontá-lo. O mesmo acontece com
a natureza. Basta 'desmontá-la', descobrir como funcionam suas partes e tudo se
revelaria aos nossos sentidos, metodicamente sincronizada. Esta visão de mundo
ganhou um apelido sugestivo: Demônio de Laplace. Ele propôs que, se uma
consciência soubesse todos os dados de todas partículas do universo e fosse
capaz de fazer os cálculos necessários, teria condições para prever seu
funcionamento com perfeição. O Demônio Laplaciano teria diante de si o passado,
o presente e o futuro.
Imagine o
trânsito de uma cidade qualquer. Pense que o departamento de trânsito saiba
todas as informações possíveis: o mapa da cidade, o tempo de todos os
semáforos, a média de velocidade de cada carro (inclusive o seu!), a origem e o
destino de todos os veículos (inclusive o seu!)o tempo de partida, de chegada,
quanto gastou de combustível, seu trajeto. Aterrorizante do meu ponto de vista.
Felizmente, esta tese funciona na teoria mas não na prática. Um único motorista
que se distrai, fecha os olhos por um instante, pode causar um acidente que não
foi previsto, pois este fator não é consistente, não é uma constante, afinal
não somos robôs (ainda!).
A maioria
dos sistemas não pode ser determinado em decorrência da chamada dependência
sensível das condições iniciais, ou “efeito borboleta” ou “trabalho
de formiga”. Esta expressão é usada para denominar um fenômeno no qual uma
borboleta, batendo suas asas na muralha da China, pode provocar um
engarrafamento em São Paulo (não precisa tanto para engarrafar o trânsito
paulista!). Fenômenos em que um pequeno fator provoca grandes transformações
são mais comuns do que pensamos. A lei do universo é esta. Um chinês levanta as
4am para ir trabalhar 14 horas por dia numa fabrica de cadeiras. O produto então
é enviado por navio para a São paulo onde uma mulher grávida se senta na mesma
cadeira, em frente de sua casa olhando o engarrafamento do trânsito, tricotando
um suéter para seu neto com algodão fabricado e importado do Peru...
Filosoficamente,
a Teoria do Caos nos intriga a pensar sobre o destino. Ele
existe? Esta questão inquieta pensadores a séculos, desde a origem da
humanidade para ser mais exato (como o relógio no seu pulso). Esta onisciente
inteligência proposta por Laplace, seria impotente para provocar
qualquer modificação no curso dos eventos. Restaria a ela um olhar entediado
sobre o porvir, pois nada poderia acontecer se não fosse previsto. O Demônio
de Laplace poderia prever o futuro mas não modificá-lo. Ou seja, há
uma determinação, até o ponto que o efeito borboleta interfira no sistema.
Felizmente o destino pode existir e pode ser nomeado como for, mas temos a
capacidade de modificá-lo, através de uma simples e, aparentemente inofensiva
escolha.
Enfim, a
vida não passa de uma longa estrada repleta de bifurcações. A cada uma delas, a
escolha daquele que caminha, muda seu curso, e portanto seu destino. Fenômenos
como a vida humana em sociedade, o trânsito, a mesa do seu café da manhã são
extremamente caóticos. Seja como for, a Teoria do Caos tem
influenciado os mais diversos campos de conhecimento. A medida em que o mundo e
os meios de comunicações se tornam cada vez mais complexos, caóticos, nossa
mente se expande para acompanhar esse desenvolvimento. Por outro lado, o
aumento da capacidade de captar informação faz com que surjam cada vez mais
caos.
© obvious: http://lounge.obviousmag.org/moksha/2015/06/caos.html#ixzz3eGDHFI1V
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