Imigração da UE a países da América do Sul supera a de latino-americanos
para a Europa
BELÉN DOMÍNGUEZ CEBRIÁN Bruxelas 5 JUN 2015
Imigrantes
latino-americanos no Terminal 4 do aeroporto Adolfo Suárez-Barajas, antes de
partir para seu país de origem. / BERNÁRDO PÉREZ
Longe
ficaram os dias nos quais centenas de milhares de imigrantes latino-americanos batiam,
a cada ano, nas portas da União Europeia (UE) em busca de uma vida
melhor. Em 2014, e pelo sexto ano consecutivo, o mapa migratório consolidou o
giro de 180 graus que estava acontecendo desde o início da crise econômica em
2008: o fluxo de imigração de cidadãos do Velho Continente que escolhem a
América Latina como destino de vida supera a de latino-americanos que emigram
para a UE, segundo um relatório da Organização Internacional para as
Migrações (OIM) publicado esta sexta-feira, 5 de junho, em Genebra (Suíça)
e ao qual EL PAÍS teve acesso. A Espanha, com 181.166 emigrados para a América
Latina em 2012, encabeça a lista dos Estados que teve mais cidadãos emigrando
em busca de oportunidades nessa região.
Desde o início da crise em 2008, o número de
latino-americanos que decidiu se mudar para a Europa começou a diminuir de
maneira consistente ao mesmo tempo em que aumentava o número de cidadãos que
deixavam o Velho Continente em busca de oportunidades na América Latina,
especialmente da Espanha, país em que a saída de cidadãos quase triplicou entre
2007 e 2008 (de 52.160 a 146.202). Mas sempre havia um matiz: o fluxo de
imigração da América Latina para a UE continuava sendo maior que no sentido
contrário. No período 2009-2010 a corrente mudou completamente. E em 2012 as
pessoas que saíram da Espanha para a América Latina foram 181.166 —contra
119.000 que chegaram à UE—, segundo o documento Dinâmicas Migratórias
na América Latina e Caribe e na UE.
A princípio
eram os “retornados”, segundo o relatório de 231 páginas, mas o chamativo agora
é que cresce, cada vez mais, os nascidos nos Estados membros. “Não se pode mais
falar só de grandes retornos de migrantes latino-americanos”, pode-se ler no
documento. É o que diz Monika Peruffo, responsável da OIM em Bruxelas:
“Destaca-se o aumento dos nascidos na UE”. Peruffo acrescentou que, depois de
um “intenso” debate entre os autores, tinham decidido não separar os dados e
não diferenciar entre latino-americanos que retornaram e europeus que saíram.
Hoje em dia existem mais
migrantes da América Latina e do Caribe morando nessa região que nos 28 países
da União Europeia
Em 2013
moravam na América Latina 8,5 milhões de imigrantes internacionais (1,1 milhão
vinha da UE), meio milhão a mais que em 2010 e dois milhões e meio a mais que
em 2000. A maioria emigrava da Espanha, mas a recente tendência que a OIM
observou é a “diversificação” de outros países da Europa como França e
Alemanha.
Outro fator
chamativo para os cinco autores —Jana Garay, Luisa Feline, Mariana Roberta,
Ricardo Changala e Rodolfo Córdova, que viajará a Bruxelas no próximo dia 22 de
junho para falar sobre o tema— é que o fluxo de imigração de latino-americanos
foi “redirecionado”. Quer dizer, já não cruzam o Oceano Atlântico para chegar à
UE; agora, no geral, preferem sua própria região, especialmente os países
próximos e com os quais dividem fronteira. O país que mais imigrantes
inter-regionais recebeu em 2013 foi a Argentina, com 28% do total. “Hoje em dia
existem mais migrantes da América Latina e do Caribe morando nessa região que
nos 28 países da UE”, afirma o documento.
B. D. C
Nos dias 10 e 11 de junho será realizada em Bruxelas a segunda cúpula
UE-CELAC, dois anos depois da realizada em Santiago do Chile. O objetivo
principal será “restabelecer o relacionamento colaborativo entre as duas
regiões”, segundo explica fontes próximas à organização que asseguram que o
foco principal será o impulso do diálogo político, não o desenvolvimento.
A cúpula terá três eixos principais nos quais a imigração, que será
tratada no segundo dia, segundo a previsão, será um dos centros do debate. O
comércio entre os dois blocos dominará boa parte da atenção durante o primeiro
dia. Segundo fontes do Conselho, será revelado o primeiro plano de cabo
submarino de fibra óptica que comunicará as duas regiões por baixo do
Atlântico, possivelmente entre Portugal e Brasil. A igualdade de gênero e a
mudanças do clima dominarão o diálogo global assim como o debate sobre os
objetivos pós-2015 e a cúpula do clima que acontecerá em Paris em dezembro
deste ano. Os temas que geram mais expectativa, como a situação dos direitos
humanos na Venezuela e a relação com Cuba estarão “sem dúvida” em cima da mesa,
explicam as mesmas fontes.
A expectativa, no entanto, não está tanto no conteúdo, por enquanto, mas
nos participantes. Todos os países terão representação na cúpula, mas há
líderes, como a argentina Cristina Kirchner ou o cubano Raúl Castro, que não
participarão e vão mandar um representante, mais provavelmente seus ministros
de Relações Exteriores.
O líder venezuelano, Nicolás Maduro, ainda não deu nenhuma confirmação
oficial embora fontes tanto do Conselho quanto do Parlamento Europeu afirmam
que sua participação está assegurada.
Dilma Rousseff (Brasil), Michelle Bachelet (Chile), Enrique Peña Nieto (México), Rafael Correa (Equador) —que
será copresidente da cúpula—, Evo
Morales (Bolívia) e quase todos os caribenhos são alguns que participarão da
reunião.
Da parte europeia,
os líderes de Portugal, Espanha, França, Reino Unido e Alemanha, entre outros,
confirmaram que participarão da reunião de dois dias em Bruxelas. Espera-se, no
entanto, que a grande maioria possa assistir.
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