INTERNACIONAL
Veículo que levava senadores foi cercado por chavistas. Itamaraty pedirá
explicações.
Oposição brasileira vai à Venezuela
pedir libertação de presos. (Os venezuelanos, diante da tibieza do governo Dilma e do seu
comprometimento para com o bolivarianismo, peita a presidenta para mandar seu
recado antidemocrático.
Como ficamos? Mais uma vez, neste governo, o Brasil passa por vexame.)
CATALINA LOBO-GUERRERO / TALITA
BEDINELLI Caracas / Brasília
EL
PAÍS – O JORNAL GLOBAL
O senador Aécio e a oposicionista Maria Corina. / FABIOLA FERRERO (EFE)
Uma
comitiva de políticos brasileiros liderada pelo ex-candidato presidencial
Aécio Neves visitou nesta quinta-feira Caracas com a intenção de ir do
aeroporto até o presídio de Ramo Verde, onde permanece preso o
oposicionista Leopoldo López. Os parlamentares tiveram que abortar duas vezes a
missão porque se depararam com uma estrada bloqueada e, segundo
denunciaram nas redes sociais, durante o
caminho sofreram o assédio de manifestantes chavistas que se opunham à expedição.
Horas depois de chegarem, os políticos anunciaram a intenção de regressar ao
Brasil.
Antes do
meio dia, Aécio, líder do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) e
opositor do Governo de Dilma Rousseff, aterrissou no aeroporto internacional de
Maiquetia acompanhado de outros cinco senadores em uma missão que definiram
como política e humanitária. Tão logo desembarcaram os parlamentares
empreenderam a viagem até o presídio em um veículo utilitário, mas tiveram
problemas. Uma testemunha disse que um grupo em torno de 40 pessoas, vestido
com camisetas vermelhas alusivas ao governismo, se aproximou do veículo, bateu
nele com as mãos e gritou slogans em homenagem ao falecido presidente Hugo
Chávez. Segundo os parlamentares, houve ataques com pedras.
A estrada
que une o aeroporto com a penitenciária permaneceu bloqueada por obras de
manutenção, o que a deputada oposicionista María Corina Machado qualificou
como uma desculpa do Governo para impedir que a delegação brasileira pudesse
não só chegar até a prisão, mas também se reunisse com outros políticos da Mesa
da Unidade Nacional, em Caracas, e visitasse o prefeito Antonio Ledezma, que
cumpre prisão domiciliar.
Ao ver a
paralisação na autopista, e temendo por sua segurança, os senadores brasileiros
decidiram regressar ao aeroporto, onde permaneceram enquanto faziam chamadas
telefônicas ao Governo e ao presidente do Senado do Brasil, buscando uma
mediação que lhes permitisse cumprir seu objetivo. Houve uma segunda
tentativa de se movimentar. No Twitter, o senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB)
disse que o túnel pelo qual deveriam passar estava fechado e ironizou: "O
túnel que dá acesso ao presídio está fechado. Motivo? Está sendo lavado. Isso
impediu, de novo, nossa viagem. Voltamos ao aeroporto". Horas depois,
Aécio Neves anunciou a desistência da visita.
Moção de
repudio
O episódio
causou impacto no Brasil. Parte da comitiva acusou a representação brasileira
em Caracas de não ter prestado a devida assistência ao grupo. O Ministério de
Relações Exteriores do Brasil negou a acusação, garantindo que foi a própria
Embaixada em Caracas que proporcionou o transporte para a delegação, que contou
com a escolta de batedores venezuelanos. A pasta lembrou ainda que o embaixador
Ruy Pereira foi receber o grupo no aeroporto, ainda que tenha seguido em
veículo separado.
Em nota divulgada na noite desta quinta-feira, o
Itamaraty disse ainda que "são
inaceitáveis atos hostis de manifestantes contra parlamentares brasileiros".
A mensagem explica que o embaixador brasileiro na Venezuela recebeu os
senadores, mas deixou o aeroporto em outro carro. Segundo a nota, "ambos
os veículos ficaram retidos no caminho devido a um grande congestionamento,
segundo informações ocasionado pela transferência a Caracas, no mesmo momento,
de cidadão venezuelano extraditado pelo Governo colombiano". O Itamaraty
finaliza dizendo que " o Governo brasileiro solicitará ao Governo
venezuelano, pelos canais diplomáticos, os devidos esclarecimentos sobre o
ocorrido".
No plenário
da Câmara dos Deputados no Brasil, quando os parlamentares votavam o último
projeto do ajuste fiscal do Governo, alguns oposicionistas interromperam a
sessão para informar sobre os incidentes de Caracas. “Aécio Neves me ligou e
disse que saiu do aeroporto e teve o carro apedrejado por militantes que não
querem deixar eles entrarem. Agora estão presos no aeroporto”, disse o deputado
Nilson Leitão (PSDB-MT) ao EL PAÍS. A Câmara aprovou uma moção de repúdio
condenando o ocorrido, e agora a oposição exige um protesto formal de Dilma
Rousseff perante o presidente venezuelano, Nicolás Maduro.
A missão
dos parlamentares brasileiros é mais uma entre a série de visitas de políticos
de outras nacionalidades, entre eles o ex-primeiro-ministro espanhol,
Felipe González e o ex-presidente colombiano, Andrés Pastrana. Nenhum
conseguiu ver López. Apesar disso, para a oposição venezuelana é central que
essas personalidades visitem o país e possam influenciar na percepção que
existe no exterior sobre o Governo e o tratamento dos presos políticos. Deste
ponto de vista, a repercussão da fracassada tentativa desta quinta-feira, que
ganhou atenção inclusive em programas de TV populares no Brasil, pode ser
também comemorada pelos opositores de Dilma Rousseff.
A delegação de
senadores viajou em um avião da Força Aérea Brasileira. Ao chegar ao aeroporto
foi recebida pelas esposas dos presos políticos venezuelanos. De acordo com sua
família, Leopoldo López está muito fraco e perdeu 15 quilos. Os parentes exigem
que seja tratado com um médico de sua confiança. “Estamos fazendo o que o
Governo brasileiro deveria ter feito há muito tempo: defender as liberdades, a
democracia, a libertação dos presos políticos e a realização de eleições livres
na Venezuela”, havia dito Aécio antes de partir.
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