sábado, 13 de junho de 2015

MINUTO LUMIÈRE: UMA INICIAÇÃO AO UNIVERSO CINEMATOGRÁFICO

Arte cinematográfica

Publicado em literatura por Ally Collaço

Em 2008, o cineasta francês Alain Bergala escreveu um livro chamado "A hipótese cinema" onde defende que não é possível ensinar cinema, mas iniciar às crianças ao universo cinematográfico, através de um exercício simples chamado "Minuto Lumière". Quer saber mais?! Chegaê!

Alain Bergala é um diretor francês de filmes de ficção e documentários, atua como professor de Cinema na Universidade de Paris III, trabalhou como diretor e editor na revista de cinema Cahiers du Cinema, e foi conselheiro da área de cinema do ministro francês Jack Lang, que em 2000, elaborou um plano de cinco anos para a introdução das artes no ensino fundamental.

Imagem: Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis

Bergala tem uma experiência com cinema, dentro e fora da escola, de mais de 20 anos e formulou sua ‘hipótese-cinema’, considerando o cinema enquanto arte para tentar responder a questão “Como ensinar o cinema no âmbito da escola?”
A hipótese – análise e criação
Para Bergala a questão não é ensinar, mas iniciar os alunos à arte do cinema. Nesta obra, o autor traz propostas precisas sobre o que fazer e não fazer no contexto escolar.
Para o autor, o cinema deve ser utilizado, enquanto arte (criação do novo), para promover o encontro com a alteridade, como uma forma do espectador relacionar sua existência a partir da visão do outro, compreendendo o mundo a partir de um olhar diferenciado, sensibilizado a partir da experiência do contato.
“A arte, para permanecer arte, deve permanecer um fermento de anarquia, de escândalo, de desordem. A arte é por definição um elemento perturbador dentro da instituição. Ela não pode ser concebida pelo aluno sem a experiência do ‘fazer’ e sem contato com o artista, o profissional, entendido como corpo ‘estranho’ à escola, como elemento felizmente perturbador de seu sistema de valores, de comportamentos e de suas normas relacionais.” (BERGALA, 2008: p.30)
Bergala diz que Godard considera a cultura como ‘regra’ e a arte como ‘exceção’, no sentido que de não possa ser ensinada, mas encontrada, experimentada e transmitida de outras formas além do discurso do saber. “A arte deve permanecer na escola como uma experiência a parte.” (Bergala, 2008: p.31)
O autor não sabe ao certo se é na escola o verdadeiro espaço para acolher a arte, mas para muitas crianças, é o único lugar onde isso seria possível.

Imagem: Acervo pessoal

O que ele sugere como abordagem é formar um espectador que vivencie as emoções do criador de um filme. Pensar o filme através do seu autor. Para ele, analisar alguns filmes não é suficiente para promover uma mudança no olhar da criança, pois o trabalho para formação do gosto é longo e demorado. O gosto, diferente da opinião, não pode ser negociado, pois é formado a partir da singularidade de cada pessoa, no íntimo de cada um.
A importância do criar
Além de ir ao encontro do cinema-arte, Bergala considera ainda mais importante que os alunos tenham a experiência da criação. O fazer como aprendizado. Mas ressalta que o professor não deve exigir ou esperar que os filmes sejam narrativos, compreensíveis e bem acabados, pois é complexa a criação de uma história “com imagens e sons, decupagem, encenação, ritmos e significações” e demanda anos de maturação. (Bergala, 2008: p.175)
Ele ressalta a importância da experiência individual de cada aluno, em algum momento, já que na instituição escolar é normal haver divisões e papéis já formados. Esta oportunidade individual pode gerar autoconfiança nos alunos, e revelar habilidades até então desconhecidas, tanto para si, quanto para o grupo.
O Minuto Lumière
No livro, Bergala comenta da experiência que teve nos seus anos de atuação nas escolas com um exercício simples, chamado Minuto Lumière, de desafiar os alunos a filmarem takes de 60 segundos em condições semelhantes aos primeiros filmes do cinema, realizados pelos Irmãos Lumière.
Os primeiros filmes eram curtos, sem histórias, focados em cenas do cotidiano, sem som direto e sem cor e com a câmera fixa. Contexto bem diferente do cinema atual.
E nos últimos 4 anos tive a oportunidade de aplicar o exercício nos mais diferentes contextos, e com algumas variações, dentro e fora da escola em Oficinas de Cinema, onde tenho experiência há 8 anos. Atuei na EJA com jovens, adultos e idosos em processo de alfabetização. Atuei com crianças da educação infantil e adolescentes do ensino fundamental, e ainda com alunas de Pedagogia (UFSC).

Imagem: Acervo pessoal

Imagem: Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis

Em cada contexto foi possível perceber a riqueza do exercício, já que os alunos precisavam se organizar em grupos, decidir o que filmar, onde a câmera iria ficar, se concentrar no tempo da tomada, sendo de 60 ou 5 segundos, produzir objetos, pensar na luz, decidir quem filmaria, resolver a ausência de som e de cor na edição ou na câmera, entre outras habilidades fundamentais na educação e no fazer cinematográfico. É um exercício completo que envolve ampliação de repertório, noções de análise e crítica, relação passado-presente do cinema e produção de imagens com referências do primeiro cinema em mente.
Este livro é uma das maiores referências para aqueles que se dispõem a pesquisar sobre cinema e educação, na perspectiva do fazer cinema-arte. E este exercício que Bergala propõe é uma excelente maneira de iniciação à alfabetização audiovisual/cinematográfica. Simples e extremamente rico!


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