“Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as
margens que o comprimem.”
Bertolt Brecht
Colaboração de Hendrik Aquino*
é jornalista e pós-graduando
em Planejamento Urbano e
Gestão de Cidades
em Planejamento Urbano e
Gestão de Cidades
É fato que a população,
há muito tempo, anda descrente daqueles que deveriam representá-la, defendendo
seus direitos e interesses. No entanto, o conjunto de manifestações de rua,
matérias jornalísticas, denúncias, processos, julgamentos e prisões, parece não
estar sendo suficiente, para que alguns gestores entendam a necessidade de
revisar seus métodos, quanto a transparência e a participação popular.
Em Lauro de Freitas, o
Governo do Estado da Bahia, através da CONDER – Companhia de Desenvolvimento
Urbano do Estado da Bahia avança com obras polêmicas mesmo sabendo dos
questionamentos e descontentamentos da população. A Via Metropolitana, com
orçamento da ordem de R$ 220 milhões e duração da obra estimada em 18 meses,
com execução já iniciada pela Concessionária Bahia Norte, cortará o município
entre a CIA-Aeroporto (BA-526) e a Estrada do Coco (BA-099), passando pelo
Quilombo de Quingoma além dos bairros de Capelão, Parque São Paulo e Catu de
Abrantes. A comunidade Quilombola deixou bem claro o seu recado durante a
Audiência Pública promovida pela Defensoria Pública, no dia 13 de maio: “Em que
momento nós fomos chamados? Depois que já estava tudo resolvido?”.
Enquanto projetos como o
“Cidade Bicicleta”, que deveria ter sido executado para a Copa de 2014, segue
“engavetado” e sem previsão de sair do papel, obras como a reversão da drenagem
da Lagoa da base para o rio Sapato, que corta os bairros de Ipitanga, Vilas do
Atlântico e Buraquinho, são tocados sem estudos sobre probabilidade de
inundações. Mais uma vez, as comunidades afetadas só ficaram sabendo da obra e
dos riscos depois que as obras foram iniciadas. Moradores das margens do rio
Sapato estão em estado de alerta. Não é por menos, afinal o rio Sapato é
conhecido por transbordar em períodos de chuvas, inundando ruas e casas.
A SALVA - Sociedade
Amigos do Loteamento Vilas do Atlântico, realizou duas reuniões sobre o tema,
quando Associações e representantes de bairros vizinhos demonstraram
insatisfação quanto a “pressa” em que as decisões estão sendo tomadas, sem que
se garanta o mínimo de comunicação e tranquilidade aos moradores. Um provável
motivo da “pressa”: Orçada em mais de R$12 milhões, caso a obra não seja
realizada no tempo previsto – 18 meses; mais da metade do valor deverá retornar
ao Governo Federal.
Não custa lembrar que o
município de Lauro de Freitas tem quase 200 mil habitantes e, até hoje, não
possui Sistema de Esgotamento Sanitário. As obras foram anunciadas em 2009, iniciadas
em 2011, porém, após diversas ruas serem cortadas, esburacadas e diversos
transtornos causados a população, foi suspensa e o contrato com o consórcio
responsável rompido. Hoje, estima-se que o Sistema de Esgotamento Sanitário do município
esteja orçado em mais de R$200 milhões.
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