Carlos:
Arquitetura e urbanismo por
formação, estratégia digital por profissão, leituras por diversão...
Publicado em artes e ideias por Carlos Batalha,
em obviusmagazine
Romero Britto é o artista que a internet ama odiar, como se fosse um
ponto fora da curva na maravilhosa arte atual. Mas na verdade ele pode salvar a
arte contemporânea do limbo em que se encontra...
Romero
Britto é o artista que a internet ama odiar. E por qual motivo? Já vi gente
dizendo que é válido como publicidade, marketing, design gráfico, qualquer
coisa mas... arte não é. Outros reclamam da mercantilização da arte, dessa
transformação da arte em produto de consumo. Outros só xingam muito no Twitter
por xingar. E por aí vai o mimimi anti-Romero Britto.
Já escrevi
outros dois textos sobre arte contemporânea que podem ser lidos aqui e aqui.
Ambos partiram do meu desapontamento ao me deparar com algumas obras. Em resumo, o que se chama arte hoje é
qualquer coisa decretada como tal por um artista acolhido pela crítica, que
valida o truque que faz o nada ser alguma coisa. Então, a arte é um decreto da
turminha que comanda a arte. Como me disse um artista, a “obra conceitual
independe de valores materiais, o que importa é o questionamento e a reflexão
que a mesma impõe, o conceito!”. E ainda foi adiante e disse que “o que muda é
o olhar e não a obra, ela muda devido ao grau de sensibilidade e conhecimento
de cada um”. Ou seja, se você não entendeu, caro leitor, é porque não está à
altura da obra. Se achou um lixo, ainda assim a obra cumpriu seu papel de
questionamento e reflexão a partir da transgressão do senso comum da
representatividade do signo e significante da prosopopéia imagética do bla,
bla, bla... Vejamos um dos maiores artistas da atualidade: Jeff Koons. Aclamado
pela crítica e querido dos colecionadores e galeristas, Koons já teve obras
vendidas que o fizeram ser o artista vivo mais caro. E o que ele faz? O velho
golpe que já dura quase 100 anos. Abaixo alguns dos melhores momentos de Koons
(perdão, leitor, confesso que fiquei constrangido e em dúvida sobre a
publicação da primeira foto):
O casal de
senhores está diante de uma obra da série Made in Heaven, onde Koons retrata
sua intimidade com a ex-esposa, a famosa atriz pornô Cicciolina. Essa é uma
foto soft porn. O Hunffinton Post já classificou as estripulias dele com Cicciolina
de “elevar o momento do fazer amor a alturas celestiais”. Quem quiser se elevar
ainda mais, procura no Google com o safe search desativado. As outras obras
fazem parte de duas séries famosas. Ali é um aspirador de pó colocado sobre uma
caixa de acrílico com lâmpadas fluorescentes num clima vitrine da Fast Shop, e
ao lado são boias infláveis presas numa grade. Caso você deseje ter essas
belezinhas em casa, basta juntar qualquer milhão de dólares. Os críticos
adoram, as galerias veneram, os colecionadores amam e o povo... bem, na arte
contemporânea o povo não interessa. O artista não pode se rebaixar e descer do
seu altar divino para se preocupar em emocionar o povo.
Tá, mas e
Romero Britto nisso? Romero Britto criou algo que muitas pessoas comuns querem
ter em casa. Pessoas que nada entendem de arte abrem um sorriso ao ver uma peça
de Romero Britto porque de alguma forma se sentiram bem. Pessoas que
voluntariamente desejam pagar pela obra de Romero Britto, num quadro,
escultura, camiseta, independente da opinião dos galeristas-especialistas.
Mas e a
mercantilização da arte? Bem, pretendo aprofundar isso em outro texto, mas acho
que deve ser ótimo para um artista ter milhões de pessoas querendo pagar pelo
seu trabalho. Muito melhor do que ser escravo do capricho do mecenas que paga
para satisfazer seus caprichos.
Romero Britto pode salvar a arte contemporânea
porque toca as pessoas e as aproxima da arte sem a pretensão de querer
reinventar o sentido da vida. Koons e boa parte
do que se chama arte contemporânea estão preocupados apenas em alimentar seus
próprios egos, rebaixando o público a uma massa de ignorantes que devem apenas
aceitar e venerar suas maravilhas sem questionamentos.
Prefiro
pagar por um All Star de Romero Britto (existe?), do que ir de graça ver as
obras de Koons e companhia. E All Star colorido é arte? E respondo como
Duchamp: e o que não é arte?
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