Moda
(Vítimas da moda)
Fiona MacdonaldDa BBC Culture
Dando um novo significado à expressão
"vítima da moda", recentemente surgiu a notícia de que uma
australiana de 35 anos teve de ser internada por danos nos músculos e nervos
das pernas por usar um par de jeans bem apertados, conhecidos como
"skinny".
Não foi a primeira vez que alguém sucumbiu
fisicamente a uma tendência de estilo perigosa. "Elas sempre estiveram por
aí, desde a Idade da Pedra", afirma a escritora britânica Summer Strevens,
autora do livro Fashionably Fatal, que aborda o
assunto. "É a moda levada ao extremo – o que eu chamo de insanidade da
vaidade."
Aqui estão cinco dos modismos mais danosos da História.
Crinolina
Populares na era vitoriana, armações davam volume
aos vestidos, mas causavam acidentes
A armação estruturada que atingiu o auge de sua popularidade no século
19 fez mais do que simplesmente melhorar a silhueta das mulheres nobres. Ela
também foi a culpada por uma série de mortes.
Em julho de 1861, o poeta americano Henry Wadsworth Longfellow correu
para acudir sua esposa depois que o vestido dela pegou fogo instantaneamente.
Ela morreu no dia seguinte.
Duas meias-irmãs do poeta e escritor irlandês Oscar Wilde também
morreram por queimaduras ao se aproximarem demais de uma fogueira com seus
vestidos de baile.
Um caso em 1858 fez o The New York Times afirmar:
"Uma média de três mortes por semana por causa de crinolinas em chamas
precisa tornar (as mulheres) extremamente cuidadosas com seus movimentos... ou
impedi-las de adotar uma moda tão cheia de perigos".
Colarinho engomado
O colarinho duro foi rapidamente adotado pelos
homens do século 19, mas muitos morreram sufocados
Inventado no século 19, o colarinho fabricado e vendido como acessório à
parte possibilitou aos homens usar a mesma camisa por vários dias sem precisar
passá-la. Mas a peça era engomada a um ponto de rigidez que se mostrou letal.
"O acessório era chamado de 'assassino de pai'
ou Vatermörder, em alemão", afirma Strevens.
"Isso porque ele cortava a circulação do sangue pela carótida. Os homens
da era eduardiana adotaram a moda do colarinho com fervor. Iam se encontrar com
amigos no clube, tomavam algumas doses de vinho do Porto e cochilavam na
poltrona, com a cabeça pendida para a frente. E assim morriam sufocados."
Espartilho
A roupa de baixo que espremia as cinturas bem antes do atual Spanx teve
uma influência na linguagem assim como nos corpos femininos: por causa do
espartilho, surgiu em inglês o termo "strait-laced"
("puritano"), que conferia respeitabilidade à sua usuária – ao
contrário das "loose women", as mulheres sem o acessório e, portanto,
sem uma boa reputação.
Em seu livro, Strevens afirma que os espartilhos "causavam
indigestão, constipação, desmaios frequentes por causa da dificuldade de
respirar e até hemorragias internas".
Além disso, o acessório fazia pressão sobre os pulmões e deslocava
outros órgãos internos, provocando danos.
Em 1874, foi publicada uma lista atribuindo 97 doenças ao uso do
espartilho, incluindo a "histeria" e a "melancolia".
Segundo Strevens, entre 1860 e 1890, a revista
médica The Lancet divulgava quase que anualmente algum
artigo alertando sobre os perigos de se apertar a silhueta com o espartilho
(também chamado de corset). E em 1903,
a autópsia em uma mulher que morreu repentinamente aos 42 anos revelou que ela
tinha dois pedaços de aço de seu espartilho enfiados no coração.
Chapéu
A expressão "louco como um chapeleiro" já
era usada 30 anos antes de Lewis Carroll popularizá-la com Alice no País das Maravilhas.
Nos séculos 18 e 19 não eram raros os chapeleiros que sofriam de
envenenamento por mercúrio, já que este metal pesado era usado na produção do
feltro - o material dos chapéus.
A exposição prolongada ao elemento químico levava a sintomas como
tremores, timidez patológica e irritabilidade, o que levou muitos a acreditarem
que o excêntrico personagem de Carroll devia sofrer do mesmo mal.
Sapatos
Segundo autora, mulheres se submetem a deformações
nos pés em nome da moda
Provavelmente inspirado por uma dançarina do século 10 que enrolava seus
pés em seda para se apresentar para o Imperador, o hábito chinês de restringir
o crescimento dos pés, deformando-os, foi oficialmente proibido em 1912.
Mas muitas mulheres mantiveram a prática, vista como um símbolo de
status.
A fotógrafa britânica Jo Farrell documentou as últimas chinesas que
adotaram os pés-de-lótus. "Muitas pessoas falam de como essa tradição é
barbárica. Mas ela também dava a essas mulheres uma vida melhor", conta.
Deformar os pés não é apenas um hábito da China. Segundo Strevens,
"há muitos séculos, as mulheres de alta classe amputavam seus dedinhos
para que seus pés adquirissem uma forma mais pontiaguda".
Para a autora, as mulheres de hoje também sofrem
com as diferentes modas dos calçados. "Existe uma onda de cirurgias para
redução dos pés e de amputação dos dedos para poderem se acomodar nos stilettos de salto altíssimo que vemos por
aí", afirma.
Ainda há muitas vítimas da moda em pleno século 21. "Apesar de não
termos mais espartilhos ou crinolinas, há pessoas que retiram suas costelas
para afinar a cintura", lembra a escritora.
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