Todos os
dados disponíveis apontam no sentido de que o planeta Terra já está atingindo
seus limites no uso de seus recursos naturais. Um desses dados diz respeito à
pegada ecológica que é uma boa forma de dimensionar o impacto do ser humano no
planeta Terra. Sobre a pegada ecológica, é oportuno observar que é uma
metodologia utilizada para medir as quantidades de terra e água (em termos de
hectares globais - gha) que seriam necessárias para sustentar o consumo da
população. A pegada ecológica é um cálculo do que cada pessoa, cada país e, por
fim, a população mundial consome em recursos naturais. A medição é feita em
hectares, e seis categorias são avaliadas: terras para cultivo, campos de
pastagem, florestas, áreas para pesca, demandas de carbono e terrenos para a
construção de prédios.
Considerando
cinco tipos de superfície (áreas cultivadas, pastagens, florestas, áreas de
pesca e áreas edificadas), o planeta Terra possui aproximadamente 13,4 bilhões
de hectares globais (gha) de terra e água biologicamente produtivas segundo
dados de 2010 da Global Footprint Network e a pegada ecológica da humanidade
atingiu a marca de 2,7 hectares globais (gha) por pessoa, em 2007, para uma
população mundial de 6,7 bilhões de habitantes na mesma data (segundo a ONU)
(Ver o artigo A terra no limite de José Eustáquio Diniz Alves disponível no
website ).
Com a pegada
ecológica da humanidade de 2,7 hectares globais (gha) por pessoa significa
dizer que para sustentar a população atual na Terra de 7 bilhões de habitantes
seriam necessários 18,9 bilhões de gha (2,7 gha x 7 bilhões de habitantes) que
é superior a 13,4 bilhões de hectares globais (gha) de terra e água
biologicamente produtivas da Terra, fato este que indica que já ultrapassamos a
capacidade de regeneração do planeta no nível médio de consumo mundial atual.
Hoje, por conta do atual ritmo de consumo, a demanda por recursos naturais
excede em 41% a capacidade de reposição da Terra. Se a escalada dessa demanda
continuar no ritmo atual, em 2030, com uma população planetária estimada em 10
bilhões de pessoas, serão necessárias duas Terras para satisfazê-la.
Ressalte-se que, a partir de 2050, quando a população mundial poderá
ultrapassar 10 bilhões de habitantes, o planeta Terra poderá não resistir a
tamanha demanda por recursos naturais.
Atualmente,
mais de 80% da população mundial vivem em países que usam mais recursos do que
seus próprios ecossistemas conseguem renovar. Os países capitalistas centrais
(União Europeia, Estados Unidos e Japão), devedores ecológicos, já esgotaram
seus próprios recursos e têm de importá-los. No levantamento da Global
Footprint Network, os japoneses consomem 7,1 vezes mais do que têm e seriam
necessárias quatro Itálias para abastecer os italianos. O padrão de consumo dos
países desenvolvidos desorganiza essa balança. Um fato indiscutível é o de que
a humanidade já consome mais recursos naturais do que o planeta é capaz de
repor.
Os dados
disponíveis sobre as reservas dos recursos minerais apontam também no sentido
de que o planeta Terra já está atingindo seus limites. Estimativa de exaustão
de recursos minerais do planeta Terra é apresentada no artigo Quando os
recursos minerais 2 se esgotarão?, publicado no website , baseado na informação
da US Geological Survey, órgão do governo norte-americano responsável por
pesquisas geológicas que cruzou informações sobre o consumo anual, as reservas
minerais disponíveis no planeta e sua previsível extinção: 1) Platina (uso em
materiais cirúrgicos)- Extinção em 2049; 2) Prata (uso na fabricação de
espelhos e talheres)- Extinção em 2016; 3) Cobre (uso em fios e cabos e dutos
de ar condicionado)- Extinção em 2027; 4) Antimônio (uso em controles remotos e
com outros materiais para aumento da resistência)- Extinção em 2020; 5) Lítio
(uso em baterias de celulares, laptops e videogames)- Extinção em 2053; 6)
Fósforo (uso em fertilizantes agrícolas)- Extinção em 2149; 7) Urânio (uso na
geração de energia elétrica)- Extinção em 2026; 8) Índio (uso em telas de
touchscreen de smartphones e tabletes)-Extinção em 2020; 9) Tântalo (uso em
lentes de câmeras fotográficas)- Extinção em 2027; 10) Níquel (uso em ligas
metálicas de revestimento, de eletrônicos, como os celulares)- Extinção em
2064; 11) Estanho (uso no revestimento de ligas metálicas, como as usadas nas
latinhas de refrigerante)- Extinção em 2024; 12) Chumbo (uso em baterias de
carros e caminhões e em soldas e rolamentos)- Extinção em 2015; 13) Ouro (uso
como joias e em microchips de computadores)- Extinção em 2043; 14) Zinco (uso
para cobrir ligas metálicas, impedindo que a ferrugem destrua objetos como as
moedas)- Extinção em 2041.
Pelo exposto
muitos minérios do planeta estão chegando ao fim, o que poderá interromper o
uso de várias tecnologias utilizadas atualmente. Quanto ao petróleo, terá uma
duração de 40 anos de acordo com dados apresentados no website . O gás natural
dispõe de reservas que podem garantir sua produção até 60 anos de acordo com o
website . O carvão, por sua vez, tem reservas suficientes para durar 250 anos
de acordo com os dados do website . O shale gás em exploração recente nos
Estados Unidos, que poderia suprir a demanda doméstica do país por gás natural
nos níveis atuais de consumo por mais de 100 anos, é extremamente negativo para
o meio ambiente porque gera metade das emissões de carbono produzidas pelo
carvão, além de contaminar os lençóis aquíferos subterrâneos.
Tudo o que acaba de ser descrito sobre a
duração das reservas de combustíveis fósseis indica que, diante da longevidade
do carvão, ele seria a fonte de energia a ser utilizada no futuro quando os
demais combustíveis fósseis se exaurirem, fato este que agravaria ainda mais o
efeito estufa na atmosfera. A humanidade precisa tomar consciência da urgente
necessidade da substituição dos combustíveis fósseis por fontes renováveis de energia
para evitar o cenário catastrófico da utilização do carvão como fonte de
energia, bem como deve substituir o modelo atual de desenvolvimento pelo
desenvolvimento sustentável, que, por meio da logística reversa, com a
reutilização, a recuperação e a reciclagem de materiais, atingindo assim o
chamado ciclo fechado de produção, poderia adiar a exaustão dos recursos
naturais do planeta Terra.
* Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de
Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento
Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor
nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento 3
regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização
(Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem
Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora
Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da
Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,
http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do
Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA,
Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento
Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010),
Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e
Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV,
Curitiba, 2012), entre outros.
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