sexta-feira, 12 de junho de 2015

O PLANETA TERRA E SEUS LIMITES NO USO DOS RECURSOS NATURAIS

 Colaboração de Fernando Alcoforado*
  


Todos os dados disponíveis apontam no sentido de que o planeta Terra já está atingindo seus limites no uso de seus recursos naturais. Um desses dados diz respeito à pegada ecológica que é uma boa forma de dimensionar o impacto do ser humano no planeta Terra. Sobre a pegada ecológica, é oportuno observar que é uma metodologia utilizada para medir as quantidades de terra e água (em termos de hectares globais - gha) que seriam necessárias para sustentar o consumo da população. A pegada ecológica é um cálculo do que cada pessoa, cada país e, por fim, a população mundial consome em recursos naturais. A medição é feita em hectares, e seis categorias são avaliadas: terras para cultivo, campos de pastagem, florestas, áreas para pesca, demandas de carbono e terrenos para a construção de prédios.

Considerando cinco tipos de superfície (áreas cultivadas, pastagens, florestas, áreas de pesca e áreas edificadas), o planeta Terra possui aproximadamente 13,4 bilhões de hectares globais (gha) de terra e água biologicamente produtivas segundo dados de 2010 da Global Footprint Network e a pegada ecológica da humanidade atingiu a marca de 2,7 hectares globais (gha) por pessoa, em 2007, para uma população mundial de 6,7 bilhões de habitantes na mesma data (segundo a ONU) (Ver o artigo A terra no limite de José Eustáquio Diniz Alves disponível no website ).


Com a pegada ecológica da humanidade de 2,7 hectares globais (gha) por pessoa significa dizer que para sustentar a população atual na Terra de 7 bilhões de habitantes seriam necessários 18,9 bilhões de gha (2,7 gha x 7 bilhões de habitantes) que é superior a 13,4 bilhões de hectares globais (gha) de terra e água biologicamente produtivas da Terra, fato este que indica que já ultrapassamos a capacidade de regeneração do planeta no nível médio de consumo mundial atual. Hoje, por conta do atual ritmo de consumo, a demanda por recursos naturais excede em 41% a capacidade de reposição da Terra. Se a escalada dessa demanda continuar no ritmo atual, em 2030, com uma população planetária estimada em 10 bilhões de pessoas, serão necessárias duas Terras para satisfazê-la. Ressalte-se que, a partir de 2050, quando a população mundial poderá ultrapassar 10 bilhões de habitantes, o planeta Terra poderá não resistir a tamanha demanda por recursos naturais.

Atualmente, mais de 80% da população mundial vivem em países que usam mais recursos do que seus próprios ecossistemas conseguem renovar. Os países capitalistas centrais (União Europeia, Estados Unidos e Japão), devedores ecológicos, já esgotaram seus próprios recursos e têm de importá-los. No levantamento da Global Footprint Network, os japoneses consomem 7,1 vezes mais do que têm e seriam necessárias quatro Itálias para abastecer os italianos. O padrão de consumo dos países desenvolvidos desorganiza essa balança. Um fato indiscutível é o de que a humanidade já consome mais recursos naturais do que o planeta é capaz de repor.

Os dados disponíveis sobre as reservas dos recursos minerais apontam também no sentido de que o planeta Terra já está atingindo seus limites. Estimativa de exaustão de recursos minerais do planeta Terra é apresentada no artigo Quando os recursos minerais 2 se esgotarão?, publicado no website , baseado na informação da US Geological Survey, órgão do governo norte-americano responsável por pesquisas geológicas que cruzou informações sobre o consumo anual, as reservas minerais disponíveis no planeta e sua previsível extinção: 1) Platina (uso em materiais cirúrgicos)- Extinção em 2049; 2) Prata (uso na fabricação de espelhos e talheres)- Extinção em 2016; 3) Cobre (uso em fios e cabos e dutos de ar condicionado)- Extinção em 2027; 4) Antimônio (uso em controles remotos e com outros materiais para aumento da resistência)- Extinção em 2020; 5) Lítio (uso em baterias de celulares, laptops e videogames)- Extinção em 2053; 6) Fósforo (uso em fertilizantes agrícolas)- Extinção em 2149; 7) Urânio (uso na geração de energia elétrica)- Extinção em 2026; 8) Índio (uso em telas de touchscreen de smartphones e tabletes)-Extinção em 2020; 9) Tântalo (uso em lentes de câmeras fotográficas)- Extinção em 2027; 10) Níquel (uso em ligas metálicas de revestimento, de eletrônicos, como os celulares)- Extinção em 2064; 11) Estanho (uso no revestimento de ligas metálicas, como as usadas nas latinhas de refrigerante)- Extinção em 2024; 12) Chumbo (uso em baterias de carros e caminhões e em soldas e rolamentos)- Extinção em 2015; 13) Ouro (uso como joias e em microchips de computadores)- Extinção em 2043; 14) Zinco (uso para cobrir ligas metálicas, impedindo que a ferrugem destrua objetos como as moedas)- Extinção em 2041.

Pelo exposto muitos minérios do planeta estão chegando ao fim, o que poderá interromper o uso de várias tecnologias utilizadas atualmente. Quanto ao petróleo, terá uma duração de 40 anos de acordo com dados apresentados no website . O gás natural dispõe de reservas que podem garantir sua produção até 60 anos de acordo com o website . O carvão, por sua vez, tem reservas suficientes para durar 250 anos de acordo com os dados do website . O shale gás em exploração recente nos Estados Unidos, que poderia suprir a demanda doméstica do país por gás natural nos níveis atuais de consumo por mais de 100 anos, é extremamente negativo para o meio ambiente porque gera metade das emissões de carbono produzidas pelo carvão, além de contaminar os lençóis aquíferos subterrâneos.
 Tudo o que acaba de ser descrito sobre a duração das reservas de combustíveis fósseis indica que, diante da longevidade do carvão, ele seria a fonte de energia a ser utilizada no futuro quando os demais combustíveis fósseis se exaurirem, fato este que agravaria ainda mais o efeito estufa na atmosfera. A humanidade precisa tomar consciência da urgente necessidade da substituição dos combustíveis fósseis por fontes renováveis de energia para evitar o cenário catastrófico da utilização do carvão como fonte de energia, bem como deve substituir o modelo atual de desenvolvimento pelo desenvolvimento sustentável, que, por meio da logística reversa, com a reutilização, a recuperação e a reciclagem de materiais, atingindo assim o chamado ciclo fechado de produção, poderia adiar a exaustão dos recursos naturais do planeta Terra.


* Fernando Alcoforado, 75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento 3 regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011) e Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012), entre outros.

Nenhum comentário:

Postar um comentário