Arte
musical
Raulzito foi homenageado dia 28/06, no Teatro Castro Alves/Bahia, data
em que completaria 70 anos
Raul Santos Seixas (Salvador, 28
de junho de 1945 — São Paulo, 21 de
agosto de 1989) foi um cantor e compositor brasileiro,
frequentemente considerado um dos pioneiros do rock brasileiro. Também
foi produtor musical da CBS durante sua estada no Rio de
Janeiro, e por vezes é chamado de "Pai do Rock Brasileiro" e
"Maluco Beleza". Sua obra musical é composta por 17
discos lançados em seus 26 anos de carreira e seu estilo musical é
tradicionalmente classificado como rock e baião, e de fato
conseguiu unir ambos os gêneros em músicas como "Let me Sing,
Let me Sing". Seu álbum de estreia, Raulzito e os Panteras (1968),
foi produzido quando ele integrava o grupo Os Panteras, mas só ganhou
notoriedade crítica e de público com as músicas de Krig-ha, Bandolo! (1973),
como "Ouro de Tolo", "Mosca na Sopa", "Metamorfose
Ambulante". Raul Seixas adquiriu um estilo musical que o creditou de
"contestador e místico", e isso se deve aos ideais que vindicou, como
a Sociedade Alternativa apresentada em Gita (1974),
influenciado por figuras como o ocultista britânico Aleister Crowley.
Raul se interessava por filosofia (principalmente metafísica e ontologia), psicologia, história, literatura e latim e
algumas crenças dessas correntes foram muito aproveitadas em sua obra, que
possuía uma recepção boa ou de curiosidade por conta disso. Ele conseguiu
gozar de uma audiência relativamente alta durante sua vida, e mesmo nos anos
80 continuou produzindo álbuns que venderam bem, como Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum! (1987)
e A Panela do Diabo (1989), esse último em parceria com Marcelo
Nova, e sua obra musical tem aumentado continuamente de tamanho, na medida em
que seus discos (principalmente álbuns póstumos) continuam a ser vendidos,
tornando-o um símbolo do rock do país e um dos artistas mais cultuados e
queridos entre os fãs nos últimos quarenta anos. Em outubro de 2008, a
revista Rolling Stone promoveu a Lista dos Cem Maiores
Artistas da Música Brasileira, cujo resultado colocou Raul Seixas figurando a
posição 19ª, encabeçando nomes como Milton Nascimento, Maria
Bethânia, Heitor Villa-Lobos e outros. No ano anterior, a mesma
revista promoveu a Lista dos Cem Maiores Discos da Música Brasileira, onde dois
de seus álbuns apareceram Krig-ha, Bandolo! de 1973 atingiu
a 12ª posição e Novo Aeon ficou em 53º lugar , demonstrando que o
vigor musical de Raul Seixas continua a ser considerado importante hoje em dia.
"Quando eu
era guri, lá na Bahia, música para mim era uma coisa secundária. O que me
preocupava mesmo eram os problemas da vida e da morte, o problema do homem,
de onde vim, para onde vou (...)"
|
—Raul Seixas
|
Raul Santos Seixas nasceu às 8 horas da manhã
em 28 de Junho de 1945 numa família de classe média baiana
que vivia na Avenida Sete de Setembro, Salvador. Seu pai, Raul Varella
Seixas, era engenheiro da estrada de ferro e sua mãe, Maria Eugênia
Santos Seixas, se dedicava às atividades domésticas. No próximo mês ele
foi registrado no Cartório de Registro Civil de Salvador com o nome do pai e do
avô paterno. Em 16 de setembro do mesmo ano, batizaram-no na Igreja Matriz da
Boa Viagem. Em 4 de dezembro de 1948, Raul Seixas ganhou um
irmão, o único, Plínio Santos Seixas, com quem teria um bom relacionamento
durante sua infância. Os estudos de Raul Seixas começaram em 1952, onde
frequentou o curso primário estudando com a professora Sônia Bahia.10 Concluído
o curso em 1956, fundou o Club dos Cigarros com alguns amigos. O
trágico percurso escolar de Raul Seixas se iniciaria em 1957, quando ele
ingressou no ginásio Colégio São Bento, onde foi reprovado na 2ª série por
três anos. Um dos motivos da reprovação, segundo alguns biógrafos, é que ele,
em vez de ir assistir as aulas, ouvia rock and roll — em seus
primórdios — na loja Cantinho da Música. No mesmo ano, em 13 de
Julho, Raul Seixas fundou o Elvis Rock Club com o amigo Waldir
Serrão. Segundo a jornalista Ana Maria Bahiana, é através de Serrão que
Raul Seixas começou a sair de casa e a manter uma vida social mais
ampla. Segundo Raul, o encontro com Waldir foi fantástico: "me
preparei todo, botei a gola pra cima, botei o topete, engomei o cabelo,
e fiquei esperando ele, mascando chiclete". O Elvis Rock Club
era como uma gangue, que procurava brigas na rua, fazia arruaça,
roubava bugigangas e quebrava vidraças.12 Embora Raul não
gostasse muito disso, "ia na onda, pois o rock (pelo
menos a meu ver) tinha toda uma maneira de ser".
Então, a família resolveu matricular Raul
num colégio de padres, o Colégio Interno Marista, onde ele alcançou a 3ª série
em 1960, mas acabou repetindo o estágio em 1961. Ao que tudo
indica, nessa época Raul Seixas começou a se interessar pela leitura. O
pai de Raul Seixas amava os livros e possuía uma vasta biblioteca em
casa. Tão logo decifrou o mistério das letras, o garoto pôs-se a ler os
volumes que encontrava na biblioteca do pai Raul. Sendo assim, as
histórias que lia na biblioteca fermentavam sua imaginação e, com os cadernos
do colégio, fazia desenhos, criava personagens, enredos, para depois vender ao
irmão quatro anos mais novo, que acabava ficando interessado e comprava os
esboços. Segundo Raul, um dos personagens principais dessas histórias era
um cientista maluco chamado "Mêlo" (algo como "amalucado"),
que viajava para diversos lugares imaginários como o Nada, o Tudo, Vírgula Xis
Ao Cubo, Oceanos de Cores. Segundo Raul, Melô era sua "outra parte, a que
buscava as respostas, o eu fantástico, viajando fora da lógica em uma
maquinazinha em que só cabia um só passageiro... Melô-eu." Plínio
ficava horas ouvindo o irmão contar suas histórias, dentro do quarto dos dois,
e Raul
frequentemente encenava os personagens como um
ator. Ambos os irmãos tinham algo em comum: adoravam literatura, mas
odiavam a escola. Mais tarde, já maduro, Raul Seixas diria: "Eu era
um fracasso na escola. A escola não me dizia nada do que eu queria saber. Tudo
o que aprendia era nos livros, em casa ou na rua. Repeti cinco vezes a segunda
série do ginásio. Nunca aprendi nada na escola. Minto. Aprendi a odiá-la." De
um modo ou de outro, Raul Seixas precisava frequentar a escola vez ou outra. Em
uma determinada ocasião, o pai perguntou a Raul como ele ia na escola e pediu
seu boletim. Raul mostrou um boletim falsificado, com todas as matérias
resultando em um 10. O pai questionava se ele havia estudado, mas Maria
Eugênia interrompia, dizendo algo como "Estudou nada, ficou aí
ouvindo rock o tempo inteiro, essa porcaria desse
béngue-béngue, de élvis préji, de líri ríchi e
gritando essas maluquices."19 Os pais de Raul, como toda a
geração da época, estranhavam o rock e ele não era muito
bem-vindo entre as famílias.
Raulzito e
os Panteras (1968),
o debute de Raul Seixas.
Embora Raul mantivesse um gosto muito sincero pela
música, seu sonho maior era ser escritor como Jorge Amado. Na sua cidade,
escutavam Luiz Gonzaga todos os dias, nas praças, nas casas, em todos
os estabelecimentos. Enquanto isso, Raul junta-se a cena do Rock que se formava
em Salvador. "Em 54/55, ninguém sabia o que era rock. Eu tocava e me
atirava no chão imitando Little Richard." Com o passar do
tempo, a banda que chegou a ter diversos nomes, como Relâmpagos do Rock,
formadas então pelos irmãos Délcio e Thildo Gama, passa por várias
formações e em 1963, passa a se chamar The Panters, banda que agora já se
tornara sensação de Salvador. A fama se espalha, e a banda é rebatizada pelo
nome Os Panteras, tendo em sua formação definitiva além de Raulzito, os
integrantes Mariano Lanat, Eládio Gilbraz e Carleba. Em 1967, Raul
Seixas começa um relacionamento com Edith Wisner, filha de um pastor
protestante americano. O pai de Edith não aceita o namoro da filha. Em seis
meses, completa o segundo grau, faz cursinho pré-vestibular e passa em Direito,
Psicologia e Filosofia. Com isso, casa-se com Edith. Logo em seguida, abandona
os estudos, volta a reunir os Panteras e aceita o convite de Jerry Adriani para
ir para o Rio de Janeiro.
Em 1968, Raulzito e Os Panteras gravam seu primeiro
e único disco, Raulzito e Os Panteras. Assinando contrato com a gravadora EMI-Odeon,
após encontrarem Chico Anysio e Roberto Carlos, que os
reconheceu nos corredores de uma grande gravadora. O disco no entanto não
teria sucesso de critica nem de público. Eládio Gilbraz, um dos panteras,
diria: "De um lado havia a inexperiência de quatro rapazes, recém-chegados
da Bahia, falando em qualidade musical, agnosticismo, mudança de conceitos e
sonhos. Do outro lado, uma multinacional que só falava em "comercial".
Talvez não tenha sido o disco que o grupo imaginara, mas nosso sonho era gravar
um disco. A partir daí, Raulzito e Os Panteras passariam sérias
dificuldades no Rio de Janeiro. Raul morava em Ipanema, e ia a pé até o centro
da cidade para tentar divulgar suas músicas, não obtendo sucesso. Algumas
vezes os Panteras recebiam ajuda de Jerry Adriani, tocando como banda de
apoio, o que, segundo o próprio Raul, lhe deu muita experiência e lhe ajudou a
descobrir como se comunicar, pois suas "músicas eram muito
herméticas". Raulzito passaria então fome no Rio de
Janeiro (como mais tarde escreveria em Ouro de Tolo).
Raul Seixas estava totalmente abalado pelo fracasso
com Os Panteras, e a sua volta a Salvador. Escrevia ele: "Passava o dia
inteiro trancado no quarto lendo filosofia, só com uma luz bem fraquinha, o que
acabou me estragando a vista [...] Eu comprei uma motocicleta e fazia loucuras
pela rua." No entanto a sorte começaria a mudar, um dia,
conhece na Bahia um diretor da CBS Discos. Mais tarde ele convidaria Raul
para ser produtor da gravadora. Sem pensar duas vezes, ele faz as malas, junto
a Edith, e volta para o Rio. Raul volta ao Rio para usar seus
enciclopédicos conhecimentos de música como produtor fonográfico. Nos cadernos
de composições de Raul começaria a ser alimentada uma revolução. Esta
seria a segunda chance de Raul, apostando no talento do amigo, Jerry
Adriani convence o então presidente da CBS, Evandro Ribeiro, a dar a
Raulzito um emprego de produtor. Raulzito trabalhou anonimamente por um bom
tempo.
Raul após ter entrado na CBS, fez grandes aliados e
amigos. Ainda em 1968, a dupla Os Jovens e a banda The Sunshines apostaram em
suas letras. No entanto, Raul faria um grande amigo e parceiro: Leno, da
dupla Leno e Lilian. "Raulzito sempre esteve 20 anos adiante de seu tempo
e Leno o compreendia; na verdade, sempre houve uma grande admiração
mútua". Diria Arlindo Coutinho, da relações públicas da CBS. Em seu
compacto duplo Papel Picado, lançado em 1969, Leno registrou Um Minuto Mais,
versão de Raulzito para I Will (nada a ver com a canção de Paul McCartney).
Também não se pode esquecer de Mauro Motta, outro grande parceiro de Raul nesta
fase. Jerry Adriani decide convocar Raulzito para ser o produtor de seus
discos. No álbum de 1969, aproveitou para gravar uma de suas músicas, Tudo
Que É Bom Dura Pouco. Naquela mesma época, outros ídolos da Jovem
Guarda também apadrinharam Raulzito gravando suas letras como Ed
Wilson, Renato e seus Blue Caps, Jerry Adriani, Odair José. O
ano de 1970 marcou o início de uma fase muito ativa na carreira de
Raulzito, como produtor da CBS. Primeiramente, suas composições passaram a ser
gravadas pelos artistas do cast da gravadora. Passou o ano produzindo discos
para Tony & Frankye, Osvaldo Nunes, Jerry Adriani, Edy Star e Diana, além
de escrever uma quantidade enorme de músicas para os colegas da
gravadora. Algumas de muito sucesso, como Doce doce amor (Jerry
Adriani), Ainda Queima a Esperança (Diana) e Se ainda existe
amor (Balthazar). Raulzito nessa época passa a ter um bom emprego de respeitado
produtor, que conseguira lançar suas composições como Hits na voz de outros
cantores e produzir grandes artistas. Mas, Raulzito não se conformava apenas
com isso, ainda mais quando conheceu o amigo e parceiro Sérgio Sampaio,
passando cada vez mais a realimentar os sonhos de quando ainda morava em
Salvador, que era ser um cantor. Ao lado de Leno, Raulzito participa do
disco Vida e Obra de Johnny McCartney, disco solo de Leno, em que
ambos buscam novos caminhos e experimentações. Juntos assinam letras e
composições em parcerias. Foi o primeiro Lp gravado em oito canais no
Brasil. As letras do disco foram censuradas que acabou não sendo lançado
na época.
Outro projeto mal sucedido seria o LP Sociedade
da Grã-Ordem Kavernista Apresenta Sessão das 10, lançado em 1971, com
a parceria de Sérgio Sampaio, Miriam Batucada e Edy Star,
onde Raul Seixas deu inicio a produção de um projeto de ópera-rock, tendo as
letras mutiladas pela censura do Regime Militar. O Sociedade Grã Ordem
Kavernista era um disco Anárquico, inspirado em Frank Zappa e o então cultuado
Disco Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band dos Beatles misturado
a elementos brasileiros, como samba, chorinho, baião. Quando lançado, o disco
não obteve sucesso de público e nem de crítica. Foi abandonado à própria sorte
até mesmo pela gravadora, cujos executivos tanto no Brasil como na matriz, nos Estados
Unidos não gostaram do resultado final. Com isso, não houve investimento
em divulgação do trabalho nas rádios e programas musicais da época. Muitas
lendas cercam esse disco que traz 11 faixas intercaladas por vinhetas. A
principal delas diz que Raul, Sérgio, Edy e Míriam gravaram as músicas às
escondidas, à noite, sem que ninguém na CBS soubesse e que por esse motivo,
Raul Seixas, então um bem-sucedido produtor da gravadora, teria sido demitido.
No entanto, segundo Edy Star, único sobrevivente dos quatro artistas, o
trabalho foi profissional e feito com o conhecimento da gravadora. E Raul não
foi demitido. Tanto que no ano seguinte, em 1972, produziu o
compacto Diabo no Corpo, de Míriam Batucada, e o LP de estreia da
cantora Diana, na própria CBS. Raul só saiu da gravadora meses depois
desse último trabalho, sendo contratado pela RCA Victor.
Krig-ha,
Bandolo! (1973),
primeiro disco de Raul Seixas com repercussão crítica e de público.
Em 1972, Raul Seixas decide participar
do Festival Internacional da Canção, sendo convencido por Sérgio
Sampaio. O cantor compõe duas músicas, "Let Me Sing, Let Me Sing",
defendida pelo próprio Raul e "Eu Sou Eu e Nicuri é o Diabo",
defendida por Lena Rios & Os Lobos. Ambas chegam a final, obtendo sucesso
de critica e de público. Rapidamente, Raul foi contratado pela gravadora Philips. Na
época, ele também se interessa por um artigo sobre extraterrestres publicado
na revista A Pomba e tem o seu primeiro contato com o
escritor Paulo Coelho, que mais tarde, se tornaria seu parceiro musical.30
No ano de 1973, Raul consegue um grande
sucesso com a música "Ouro de Tolo" no álbum Krig-ha,
Bandolo!. A música possui uma letra quase autobiográfica, mas que também
debocha da Ditadura e do "Milagre Econômico". O mesmo LP,
continha outras músicas que se tornaram grandes sucessos, como:
"Metamorfose Ambulante", "Mosca na Sopa" e "Al
Capone". Raul Seixas finalmente alcança grande repercussão nacional,
graças a divulgação da imagem do cantor como ícone popular. Porém, logo a
imprensa e os fãs da época, foram aos poucos percebendo que Raul não era apenas
um cantor e compositor.
Ainda em 1973, Raul resolve homenagear algumas
músicas clássicas do rock americano e brasileiro no disco Os 24
Maiores Sucessos da Era do Rock. Raul foi, no entanto, proibido pela gravadora
de assinar seu nome no disco de covers, pois ela achou que o álbum poderia
prejudicar as vendas de Krig-ha, Bandolo!. A solução foi creditar o
álbum a uma certa banda chamada Rock Generation, com o nome de Raul
presente apenas na contracapa, como diretor de produção. O álbum não teve
qualquer tipo de divulgação e acabou inicialmente sendo esquecido nas lojas,
porém com os sucessos posteriores de Raul, alcançando grandes vendagens, a gravadora
Philips acabou por divulgar melhor o trabalho.31
No ano de 1974, Raul Seixas e Paulo Coelho
criam a Sociedade Alternativa, uma sociedade baseada nos preceitos do
bruxo inglês Aleister Crowley, praticamente repetindo o chamado Livro da
Lei. O cantor foi levado pelo escritor a conhecer uma ordem filosófica baseada
na Lei de Thelema, desenvolvida por Crowley. A Sociedade Alternativa,
com sede alugada, papel timbrado e relatórios mensais, chegou a anunciar a
aquisição de um terreno em Minas Gerais, para a construção da Cidade
das Estrelas, uma comunidade onde a única lei era: “Faz o que tu queres, há
de ser tudo da lei.” Em todos os seus shows, Raul divulgava a Sociedade
Alternativa com a música de mesmo nome. A obsessão de Raul Seixas e Paulo
Coelho em construir “uma verdadeira civilização thelêmica”, evidentemente,
trouxe problemas com a Censura. A letra da música "Como Vovó já
Dizia" composta pelos dois, teve de ser mudada. Logo no show de
lançamento, a polícia apreendeu o gibi/manifesto "A Fundação de
Krig-Ha" e o queimou como material subversivo. A Ditadura, então, através
do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) prendeu Raul e
Paulo, pensando que a Sociedade Alternativa fosse um movimento armado contra o
governo.
""Veio
uma ordem de prisão do Exército e me detiveram no Aterro do Flamengo. Me
levaram para um lugar que não sei onde era. Imagine a situação: estava nu,
com uma carapuça preta. E veio de lá mil barbaridades. Tudo para eu dizer os
nomes de quem fazia parte da Sociedade Alternativa, que, segundo eles, era um
movimento revolucionário contra o governo. O que não era. Era uma coisa mais
espiritual. Preferiria dizer que tinha pacto com o demônio a dizer que tinha
parte com a revolução. Então foi isso, me escoltaram até o aeroporto."
(...)"
|
—Raul Seixas
sobre o exílio ocorrido em1974, em uma entrevista publicada na revista Bizz,
em março de 1987.
|
Depois de torturados, Raul e Paulo foram exilados
para os Estados Unidos, com suas respectivas esposas, Edith Wisner e
Adalgisa Rios. Muitas histórias são contadas sobre a estadia de Raul Seixas nos
Estados Unidos, como seu encontro com John Lennon, mas ninguém sabe ao
certo se são verdadeiras. No entanto, o LP Gita gravado
poucos meses antes faz tanto sucesso, que forçou a Ditadura a trazê-los de
volta para o Brasil. O álbum Gita rendeu à Raul um disco
de ouro, após vender 600.000 cópias, sendo considerado o LP de maior sucesso de
sua carreira. Ainda neste ano, Raul separa-se de Edith, que vai para os Estados
Unidos com a filha do casal, Simone.
Em 1975, Raul Seixas casa-se com Glória
Vaquer, e grava o LP Novo Aeon, onde compôs junto com Paulo Coelho,
uma de suas músicas mais conhecidas, "Tente Outra Vez", que seria
creditada juntamente com Marcelo Motta, por quem eram discipulados na Astrum
Argentum (AA). O LP, porém, vendeu menos de 60 mil cópias. Ainda em 1975,
Raul lê um manifesto e canta a Sociedade Alternativa no documentário Ritmo
Alucinante, que foi um festival de rock realizado no Rio de Janeiro, gravado no
álbum Hollywood Rock, lançado no mesmo ano. Em1976, Raul supera a
má-vendagem do disco Novo Aeon com o álbum Há Dez Mil Anos
Atrás. Neste mesmo ano, nasce sua segunda filha, Scarlet. Chega então ao
fim, o seu contrato com a gravadora Philips e sua parceria com Paulo
Coelho, embora continuassem amigos (ou inimigos íntimos).
Jay Vaquer,
músico e cunhado de Raul na época, coletou material para fazer um novo
disco, Raul Rock Seixas, que diziam ser um álbum feito de resto de
gravações, mas na verdade a história era outra. Raul escolheu as músicas, e Jay
começou a fazer os arranjos. Porém, antes de Raul Seixas e Jay Vaquer
terminarem de mixá-lo devido à suas ausências por causa dos shows, a Philips lançou
o disco sem avisá-los, sob o selo da Fontana/Phonogram, mixando-o por conta
própria. Segundo Jay Vaquer, isso prejudicou o trabalho que ambos haviam
planejado anteriormente, destruindo o LP, porque finalmente seu nome estava num
LP de Raul como produtor, arranjador, e guitarrista, e seu trabalho foi muito
mal representado.
Em 1977, nasce no Brasil uma nova gravadora,
a WEA, que se interessa em contratar Raul Seixas. Por volta deste período,
intensifica-se a parceria com o amigo Cláudio Roberto, com quem Raul
compôs várias de suas canções mais conhecidas. Juntos, realizaram o LP O
Dia Em Que A Terra Parou. A crítica não gostou. Foi dito que não mantinha o
mesmo nível dos trabalhos anteriores. Mas os fãs se deliciam com “Maluco
Beleza”, “Sapato 36” e a faixa-título.
Naquele final de década as coisas começaram a ficar
ruins para Raul. A partir do ano de 1978, começa a ter problemas de saúde
devido ao alcoolismo lhe causando a perda de 1/3 do pâncreas. Raul passa alguns
meses numa fazenda na Bahia, para se recuperar da pancreatite. 40 Ele
separe-se de Glória, que, assim como Edith, também voltou aos Estados Unidos,
levando a filha Scarlet. Neste ano, conhece Tania Menna Barreto, com quem passa
a viver. Lança o LP Mata Virgem que conta com a volta de Paulo
Coelho, porém, ambos chegam a conclusão, de que essa parceria já não tinha mais
como dar certo. Além disso, a má divugação atrapalhou as vendas do disco e a
crítica também não ajudou.
No ano de 1979, Raul separa-se de Tania.
Começa então, a depressão de Raul Seixas junto com uma internação para tratar
do alcoolismo. Conhece Angela Affonso Costa, a Kika Seixas, sua quarta
companheira. Lança seu último LP com a WEA, Por Quem os Sinos Dobram,
em parceria com o amigo Oscar Rasmussen e logo após, rescinde o contrato com a
gravadora.
Em 1980, assina novamente contrato com a CBS (desta
vez como cantor) lançando mais um álbum, Abre-te Sésamo, que contém
outros sucessos e têm as faixas "Rock das Aranha" e "Aluga-se"
censuradas. Logo depois, o contrato é rescindido. Em 1981, nasce a terceira
filha, Vivian, fruto de seu casamento com Kika. Em 1982, faz um show na praia
do Gonzaga, em Santos, reunindo mais de 150 mil pessoas. No mesmo ano, Raul
apresenta-se bêbado em Caieiras, São Paulo, e é quase linchado pela plateia
que não acredita que Raul é o próprio, mas um impostor. Desde 1980, Raul estava
sem gravadora e agora também sem perspectiva de um novo contrato. Mergulhado na
depressão, Raul afunda-se nas drogas. Porém, em 1983, Raul é convidado
para gravar um disco pelo Estúdio Eldorado. Logo depois, Raul é convidado para
gravar o especial infantil Plunct, Plact, Zuuum da Rede Globo,
onde canta a música "Carimbador Maluco". O álbum Raul Seixas (1983),
que continha a canção, dá à Raul mais um disco de ouro. Em 1984, grava o
LP "Metrô Linha 743" pela gravadora Som Livre, com a maior parte
das composições em parceria com sua companheira Kika Seixas e uma das
faixas, Mas I Love You (Pra Ser Feliz), em parceria com seu
guitarrista Rick Ferreira, que teve participação em todos os discos de
Raul, a partir de Gita. Mas depois, Raul teve as portas fechadas
novamente, devido ao seu consumo excessivo de álcool e constantes
internações para desintoxicação. Também em 1984, a Eldorado lança o disco Ao
Vivo - Único e Exclusivo.
Em 1985, separa-se de Kika Seixas. Faz um show
em 1 de dezembro 1985, no Estádio Lauro Gomes, na cidade
de São Caetano do Sul. Só voltaria a pisar no palco no ano de 1988,
ao lado de Marcelo Nova. Conseguindo um contrato com a gravadora Copacabana,
em 1986 (de propriedade da EMI), grava um disco que foi lançado
somente no ano seguinte, devido ao alcoolismo de Raul. O disco Uah-Bap-Lu-Bap-Lah-Béin-Bum! faz
grande sucesso entre os fãs, chegando a ganhar disco de ouro e estando presente
até em programas de televisão, como o Fantástico. Nesta época,
conhece Lena Coutinho, que se torna sua companheira. A partir desse ano,
estreita relações com Marcelo Nova (fazendo uma participação no disco Duplo
Sentido, da banda Camisa de Vênus). Um ano mais tarde, 1988, já
separado de Lena, faz seu último álbum solo, A Pedra do Gênesis. A
convite de Marcelo Nova faz alguns shows em Salvador, após três anos sem pisar
num palco. No ano de 1989, faz uma turnê com Marcelo Nova, agora
parceiro musical, totalizando 50 apresentações pelo Brasil. Durante os
shows, Raul mostra-se debilitado. Tanto que só participa de metade do show, a
primeira metade é feita somente por Marcelo Nova.
Universo
Alternativo -
fantasia sobre o "Profeta" Raul Seixas.
As 50 apresentações pelo Brasil resultaram naquele
que seria o último disco lançado em vida por Raul Seixas. O disco foi
intitulado de A Panela do Diabo, que foi lançado pela Warner
Music Brasil no dia 22 de agosto de 1989. Na manhã do dia 21 de agosto,
Raul Seixas foi encontrado morto sobre a cama , por volta das oito horas da
manhã em seu apartamento em São Paulo, vítima de uma parada cardíaca:
seu alcoolismo, agravado pelo fato de ser diabético, e por não ter
tomado insulina na noite anterior, causaram-lhe uma pancreatite aguda
fulminante. O LP A Panela do Diabo vendeu 150.000 cópias, rendendo
a Raul um disco de ouro póstumo, entregue à sua família e também
a Marcelo Nova, tornando-se assim um dos discos de maior sucesso de sua
carreira. Raul foi velado pelo resto do dia no Palácio das Convenções do
Anhembi. No dia seguinte seu corpo foi levado por via aérea até Salvador e
sepultado às 17 horas, no Cemitério Jardim da Saudade.
Festival
em Belo Horizonte, realizado em2009 em homenagem a Raul Seixas. Dois
participantes estão caracterizados segundo a fisionomia de Raul.
Depois de sua morte, Raul permaneceu entre as
paradas de sucesso. Foram produzidos vários álbuns póstumos, como O Baú
do Raul (1992), Raul Vivo (1993 - Eldorado), Se
o Rádio não Toca... (1994 - Eldorado) e Documento (1998).
Inúmeras coletâneas também foram lançadas, como Os Grandes Sucessos de
Raul Seixas de (1993), a grande maioria sem novidades, mas algumas com
músicas inéditas como As Profecias (com uma versão ao vivo de
"Rock das Aranhas") de 1991 e Anarkilópolis (com
"Cowboy Fora da Lei Nº2") de 2003. Sua penúltima mulher, Kika, já
produziu um livro do cantor (O Baú do Raul), baseado em escritos dos
diários de Raul Seixas desde os seis anos de idade até a sua morte. Em 2004, o
canal a cabo Multishow promoveu um show especial de tributo a Raul,
intitulado O Baú do Raul: Uma Homenagem a Raul Seixas. O show,
gravado na Fundição Progresso (Rio de Janeiro) e lançado em CD e DVD,
contou com artistas como Toni Garrido, CPM 22, Marcelo D2, Gabriel
o Pensador, Arnaldo Brandão, Raimundos, Nasi, Caetano
Veloso, Pitty e Marcelo Nova (os três últimos baianos, como
Raul). Mesmo depois de sua morte, Raul Seixas continua fazendo sucesso entre
novas gerações. Vinte anos depois de sua morte, o produtor musical Mazzola,
amigo pessoal de Raul, divulgou a canção inédita "Gospel", censurada
na década de 1970. A canção foi incluída na trilha sonora da telenovela Viver
a Vida, da Rede Globo. Em 2013, o cantor americano Bruce
Springsteen cantou "Sociedade Alternativa" na abertura de seu
show no Rock in Rio 2013. Em junho de 2014, a Rede
Record definiu a música "Tente outra vez", como tema de abertura
da novela Vitória.
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