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do Facó: arte pictórica
Paul Cézanne (Aix-en-Provence, 19
de janeiro de 1839 - 22 de outubro de 1906) foi
um pintor pós-impressionista francês, cujo trabalho forneceu as
bases da transição das concepções do fazer artístico do século
XIX para a arte radicalmente inovadora do século XX. Cézanne pode ser considerado como a ponte
entre o impressionismo do final do século XIX e o cubismo do
início do século XX. A frase
atribuída a Matisse e a Picasso, de que Cézanne "é o pai
de todos nós", deve ser levada em conta.
Após uma fase inicial dedicada aos temas dramáticos
e grandiloquentes próprios da escola romântica, Paul Cézanne criou um estilo próprio, influenciado por Delacroix.
Introduziu nas suas obras distorções formais e alterações de perspectiva em
benefício da composição ou para ressaltar o volume e peso dos objetos. Concebeu a cor de um modo sem
precedentes, definindo diferentes volumes que foram essenciais para suas
composições únicas.
Cézanne não se subordinava às leis da perspectiva e
sim, as modificava. A sua concepção da composição era arquitetônica;
segundo as suas próprias palavras, o seu próprio estilo consistia em ver
a natureza segundo as suas formas fundamentais: a esfera,
o cilindro e o cone. Cézanne preocupava-se mais com a captação
destas formas do que com a representação do ambiente atmosférico. Não é difícil
ver nesta atitude uma reação de carácter intelectual contra o gozo puramente
colorido do impressionismo.
Sobre ele, Renoir escreveu, rebatendo o
crítico de arte Castagnary: Eu me enfureço ao pensar que ele [Castagnary] não
entendeu que Uma Moderna Olympia, de Cézanne, era uma obra prima
clássica, mais próxima de Giorgione que de Claude Monet, e que
diante dele estava um pintor já fora do Impressionismo.
Cézanne cultivava sobretudo a paisagem e a
representação de naturezas mortas, mas também pintou figuras humanas em
grupo e retratos. Antes de começar as suas paisagens estudava-as e
analisava os seus valores plásticos, reduzindo-as depois a diferentes volumes e
planos que traçava à base de pinceladas paralelas. Árvores, casas e demais
elementos da paisagem subordinam-se à unidade de composição. As suas paisagens
são sutilmente geométricas. Cézanne pintou sobretudo a sua Provença natal
(O Golfo de Marselha e as célebres versões sucessivas de O
Monte de Sainte-Victoire).
Nas suas numerosas naturezas mortas, tipicamente
compostas por maçãs, levava a cabo uma exploração formal exaustiva que é a
terra fecunda de onde surgirá o cubismo poucos anos mais tarde. Entre
as representações de grupos humanos, são muito apreciadas as suas cinco versões
de Os Jogadores de Cartas. A Mulher com Cafeteira, pela
sua estrutura monumental e serena, marca o grande momento classicista de
Cézanne.
A família Cézanne veio da pequena cidade de Cesana,
no Piemonte, e foi assumido que o seu nome é de origem italiana.
Paul Cézanne nasceu no dia 19 de
janeiro de 1839 em Aix-en-Provence, Provença, no Sul
da França. No dia 22 de fevereiro, Paul foi batizado, tendo sua avó e
seu tio como padrinhos. O pai, Louis-Auguste Cézanne (28 de julho de 1798 – 23
de outubro de 1886), foi o co-fundador de uma firma bancária que
prosperou durante a vida do artista, o que lhe permitiu grande segurança
financeira, que a maioria dos artistas da época não tinha, e lhe deu uma
grande herança. Sua mãe, Anne-Elisabeth Honorine Aubert (24 de
setembro de 1814 – 25 de outubro de 1897), era vívida
e romântica, mas se ofendia facilmente e influenciou decisivamente a visão de
mundo de Paul. Ele também tinha duas irmãs mais jovens, Marie, com quem ele
frequentava a escola primária todos os dias, e Rose.
Aos dez anos, Paul entrou na Escola São José, em
Aix, onde estudou desenho, nas aulas de Joseph Gilbert, um monge
espanhol. Em 1852, Cézanne ingressou no Colégio Bourbon (atual Colégio
Mignet), onde conheceu e se tornou amigo de Émile Zola, que estava em uma
classe menos avançada. Lá permaneceu Cézanne por seis anos. Entre 1859 e 1861,
obedecendo aos desejos do pai, Cézanne ingressou na escola de Direito da Universidade
de Aix, enquanto recebia suas lições de desenho. Apesar das objeções do seu
pai, passou a perseguir o seu desenvolvimento artístico e deixou Aix para ir a
Paris, em 1861, encorajado por Zola, que já vivia na capital nessa época.
Afinal o pai se reconciliou com ele e apoiou a sua escolha de carreira. Mais
tarde, Cézanne receberá 400.000 francos (£218.363,62) de seu pai, o
que lhe livraria de qualquer insegurança financeira.
Em Paris, Cézanne conheceu o impressionista Camille
Pissarro. Inicialmente, a amizade feita em meados dos anos 1860 era a
de um mestre e mentor - Pissarro exercendo uma influência formativa sobre o
jovem artista. Ao longo da década seguinte, as excursões para pintar em Louveciennes e
em Pontoise levaram a um trabalho colaborativo entre iguais.
Nos primeiros trabalhos, Cézanne se preocupava com
a figura na paisagem. Nesse período incluem-se várias pinturas de grupos de
figuras grandes e pesadas na paisagem, pintadas a partir da imaginação. Mais
tarde, ele passa a se interessar mais em trabalhar a partir da observação
direta, e, gradualmente, desenvolveu um estilo de pintura mais leve e arejada,
que iria influenciar imensamente os impressionistas. Não obstante, nos
trabalhos de maturidade de Cézanne, percebe-se o desenvolvimento de um estilo
solidificado, quase arquitetural de pintura.
Durante toda a sua vida, esforçou-se para
desenvolver uma observação autêntica do mundo através do método mais acurado
possível para representá-lo em pintura. Ordenava estruturalmente tudo o que
percebesse em formas e planos de cor simples. A sua afirmação “Eu quero
fazer do impressionismo algo sólido e duradouro, como a arte dos museus”, e
sua declarada intenção de recriar Nicolas Poussin acentuou seu desejo
de unir a observação da natureza à permanência da composição clássica.
Cézanne tinha interesse na simplificação das formas
naturais em seus essenciais geométricos; ele queria “tratar a natureza
pelo cilindro, pela esfera, pelo cone” (um tronco de uma árvore pode ser
considerado um cilindro, e uma cabeça humana como uma esfera, por exemplo).
Além disso, a atenção concentrada com a qual ele registrava suas observações da
natureza resultou em uma profunda exploração da visão binocular, o que resultou
em duas percepções visuais simultâneas ligeiramente diferentes, e nos
providencia uma percepção de profundidade e um conhecimento complexo das
relações espaciais. Nós vemos duas vistas diferentes simultaneamente; Cézanne
empregava este aspecto da percepção visual às suas pinturas em graus variados.
A observação deste fato, junto com o desejo de Cézanne em capturar a verdade de
sua própria percepção, muitas vezes o levou a modelar as linhas básicas das
formas para tentar exibir as vistas distintamente diferentes do seu olho
direito para o olho esquerdo. Assim, a obra de Cézanne aumenta e transforma os
antigos ideais da perspectiva, em particular da perspectiva de ponto único.
As pinturas de Cézanne foram exibidas na primeira
mostra do Salon des Refusés (ou o Salão dos Recusados) em 1863,
exibindo obras que não foram aceitas pelo jurado do oficial Salão de
Paris. O Salão rejeitou as obras de Cézanne por todo o período de 1864 a 1869.
Cézanne continuou a tentar apresentar suas obras ao Salão até 1882.
Naquele ano, por intervenção do seu colega e artista Antoine Guillemet,
Cézanne exibiu o Retrato de Louis-Auguste Cézanne, pai do artista,
lendo ‘L’Evénement’, a sua primeira e última obra aceita no Salão.
Antes de 1895, Cézanne apresentou suas obras duas
vezes com outros impressionistas - na primeira mostra impressionista de 1874 e
na terceira, de 1877. Nos anos seguintes, algumas pinturas suas foram
exibidas em vários locais, até que, em 1895, o marchand parisiense Ambroise
Vollard deu ao artista a sua primeira mostra individual. Mesmo com o
crescente reconhecimento público e o sucesso financeiro, Cézanne optou por
trabalhar em isolamento, usualmente no Sul da França, em sua amada Provença,
bem longe de Paris. Ele se concentrava em alguns temas e era bastante incomum
que artistas do final do século XIX fossem igualmente proficientes em
vários gêneros: naturezas mortas, retratos, paisagens e estudos de banhistas.
Neste último, Cézanne foi obrigado a desenhar a partir de sua imaginação, pois
havia poucos modelos nus disponíveis. Assim como as paisagens, os seus retratos
eram desenhados a partir do que ele tinha familiaridade, e, por isso, não
apenas sua esposa e seu filho, mas também os passantes locais, as crianças e
seu empresário artístico serviam como modelos. As suas pinturas de natureza
morta são decorativas, pintadas com superfícies grossas e planas, mas ainda
lembram as de Courbet.
Embora as imagens religiosas aparecessem
menos frequentemente nas últimas obras de Cézanne, ele permaneceu devoto do
catolicismo romano, e dizia: “Quando eu preciso julgar uma arte, levo minhas
pinturas e as deixo próximas a um objeto feito por Deus, como uma árvore
ou uma flor. Se os dois lados combatem, elas não são arte.”.
Um dia, Cézanne trabalhava em campo aberto quando
foi surpreendido por uma tempestade. Só foi para casa após trabalhar duas horas
na chuva. No caminho caiu, foi socorrido por um motorista que passava e o
ajudou a ir para casa. Cézanne recuperou a consciência após ser tratado. No dia
seguinte, pretendia continuar o seu trabalho, mas estava muito fraco e acabou
por desfalecer. Foi colocado numa cama, de onde nunca mais se levantou. Morreu
alguns dias após o acidente, em 22 de outubro de 1906, de pneumonia. Foi
enterrado num antigo cemitério de sua amada cidade natal, Aix-en-Provence.
Vários períodos foram definidos na vida e na obra
de Cézanne. Cézanne criou centenas de pinturas, algumas das quais alcançaram
altos preços no mercado de arte, nos últimos anos. Em10 de maio de 1999,
o quadro Rideau, Cruchon Et Compotier foi vendido por $60.5
milhões - o quarto maior preço já pago por uma pintura até aquele ano. Em maio
de 2006, o quadro foi considerado como a pintura de natureza morta mais
cara já vendida em leilão.
Após a morte de Cézanne em 1906, as suas pinturas
foram exibidas em Paris em uma retrospectiva de grande porte, em setembro
de 1907, no Salon D’Automne. A
mostra causou um grande impacto na direção da vanguarda parisiense,
tornando-o um dos artistas mais influentes do século XIX e o responsável pelo
advento do cubismo.
As explorações de simplificação geométrica e dos
fenômenos óticos inspiraram Picasso, Braque, Gris e outros,
que passaram a experimentar múltiplas visões, mais complexas, de um mesmo
objeto chegando, finalmente, à fratura da forma. Cézanne, assim, abriu uma das
mais revolucionárias possibilidades de exploração artística no século XX,
influenciando profundamente o desenvolvimento da arte moderna.
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