Política
CPI, tribunais analisando irregularidades e impeachment são os desafios
da presidenta.
AFONSO BENITES São Paulo 10 JUL 2015
El País – O Jornal Global
Uma CPI
investigando o escândalo da Petrobras, dois tribunais analisando denúncias
eleitorais e supostas contas irregulares, além de uma oposição batendo panela
ao insistir na tese do impeachment. Tudo isso, aliado à crise econômica
que só deve começar a passar no ano que vem e a um Congresso Nacional rebelde,
mostra que a presidenta Dilma Rousseff (PT) não terá folga nas próximas
semanas. Por mais que diga que não “vai cair”, ela precisará montar uma boa
estratégia política para ao menos melhorar sua avaliação popular.
Na última
pesquisa de opinião divulgada no início deste mês, Rousseff atingiu o pior
índice de popularidade desde o início de seu primeiro mandato: 68% da
população avaliam sua gestão como ruim ou péssima. A série de notícias
negativas só ampliaram o campo minado que a presidenta tem
adiante. Eis o que a aguarda nos próximos dias:
TSE ouve
delator
Um dos mais
recentes réus confessos a assinar o termo de delação premiada com a Justiça na
Operação Lava Jato, o empreiteiroRicardo Pessoa, da Construtora UTC deverá
depor no Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo no próximo dia 14 de julho no
processo do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) investiga, a pedido do
oposicionista PSDB, se houve abuso do poder político e econômico
da campanha de Rousseff, entre outros aspectos, investiga se seu
caixa eleitoral recebeu recursos ilegais na eleição do ano passado.
Aos
investigadores que apuram o escândalo da Petrobras, Pessoa afirmou
que parte das propinas que pagou para manter contratos com a Petrobras foram
mascaradas em forma de doações eleitorais oficiais. No caso de Rousseff, por
exemplo, o delator diz ter pago 7,5 milhões ao tesoureiro de sua campanha, o
hoje ministro da Comunicação Social, Edinho Silva. Tanto a presidenta como o
ministro negam as irregularidades.
O PT, partido de Rousseff, tentou impedir o
depoimento de Pessoa, mas no último dia 8 o Supremo Tribunal Federal autorizou
que o empreiteiro depusesse neste caso. Outras três pessoas já falaram na
Justiça Eleitoral de São Paulo sobre este caso: os delatores Paulo Roberto
Costa e Alberto Youssef, que afirmaram terem pago propinas, e Herton
Araújo, ex-diretor do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (o
IPEA, que é um órgão público, ligado à Secretaria de Assuntos Estratégicos da
Presidência da República). Araújo afirmou que no ano passado foi obrigado
a adiar a divulgação de dados sobre o aumento da miséria no Brasil para evitar
que eles fossem usados na campanha eleitoral.
Parte do
PSDB está particularmente ansioso
TCU julga
“pedaladas”
Previsto
inicialmente para o próximo dia 21 de julho, o julgamento do Tribunal de Contas
da União sobre as finanças do ano passado do Governo Rousseff deve ser adiado
por algumas semanas. No entanto, o relatório do ministro Augusto
Nardes indica que as contas da Presidência da República deverão ser
completamente rejeitadas, o que é algo incomum. Geralmente, a rejeição é
parcial e pouco interfere no andamento de uma gestão.
A principal
razão para a reprovação seria as “pedaladas fiscais”. A prática consistiu em
atrasos, pelo Tesouro Nacional, de pagamentos de compromissos a bancos públicos
que precisaram utilizar recursos próprios para pagar beneficiários de despesas
do governo, como os programas Bolsa Família, seguro desemprego e abono
salarial. O relatório de Nardes mostra que o levantamento desses recursos
junto aos bancos públicos configura operação de crédito, um ato proibido pela
Lei de Responsabilidade Fiscal.
Independentemente
de quando será julgado, o Governo tem até o dia 21 para apresentar sua defesa.
CPI da
Petrobras
A Comissão
Parlamentar de Inquérito que investiga os bilionários desvios de recursos
da Petrobras descobertos na operação Lava Jato convocou os presidentes das duas
maiores construtoras do Brasil: Marcelo Odebrecht, da Odebrecht, e Otávio
Marques de Azevedo, da Andrade Gutierrez.
Ambos são
investigados por pagar propinas a autoridades para garantir contratos com as
empreiteiras. Odebrecht é considerado um dos empresários mais próximos ao PT e,
se ele resolver mudar sua estratégia de defesa e acusar o partido, pode
complicar a vida da presidenta.
Outro
convocado para depor foi o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo,
homem-forte da gestão Rousseff. No caso dele, o pedido foi porque a Polícia
Federal, que é subordinada ao ministro, supostamente grampeou a cela de um dos
réus confessos e delatores do esquema ilegal, o doleiro Alberto Youssef.
O que tem
sido positivo para Rousseff até o momento é que a CPI, comandada por aliados
dela, pouco acrescentou ao que a operação Lava Jato já apurou. Uma parte dos
depoentes que vão até ela nada falam e os que falam, praticamente só repetem o
que já disseram aos policiais e procuradores federais.
Oposição
batendo panela
Desde o
início deste segundo mandato de Rousseff, as vozes do impeachment ressoam.
Inclusive com meia dúzia de protestos convocados por meio da internet.
Nesta
semana, os pedidos de impeachment voltaram a ganharam força após a convenção do
partido oposicionista PSDB que reelegeu Aécio Neves para a presidência
da legenda. Até o momento, porém, nenhum argumento jurídico ainda foi
apresentado. Os próprios tucanos esperam o andamento dos julgamentos na Justiça
Eleitoral e no Tribunal de Contas da União para dar o próximo passo. Enquanto
isso, tratam de propalar notícias negativas contra a gestão petista e de
dificultar votações no Congresso Nacional, sempre que possível.
“Do ponto
de vista jurídico o impeachment é possível. Se decretado a irregularidade das
contas do Governo, ela [Rousseff] pode ser condenada por crime de
responsabilidade. E isso é passível de perda de mandato”, disse o líder da
minoria na Câmara, o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE).
Para esse
parlamentar, a autoconfiança da presidenta não é capaz de evitar um
impeachment. “Quando ela chama uma entrevista para dizer que não vai cair, ela
chamou o impeachment para sua sala. Para mim, é claro que ela não tem liderança
política para sair sozinha dessa crise”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário