segunda-feira, 6 de julho de 2015

RUA CHILE

Uma história sem prólogo nem epílogo

 Vista parcial da Rua Chile: A PASSARELA DA VAIDADE de SALVADOR
   
A propósito: semana passada postamos matéria sobre os 113 anos da Rua Chile. Neste instante, com o intuito de homenageá-la, falamos da sua influência no seio da sociedade baiana revivendo sua história através do texto da lavra do escritor que nomeia este Blog.

                                     Luiz Carlos Facó
  
Noutros tempos, até meados do século passado, Salvador era pouco conhecida. Raras pessoas se atreviam a dizer: vou à Salvador. Era comum afirmar-se: vou à Bahia, como se ela fosse, de fato e de direito, a Capital do Estado. Esse vício se espargia entre os que nos visitavam pela vez primeira ou não, vindos de outras cidades do Brasil e exterior.



                Exemplo desse descuido é o que sobre a nossa cidade escreveu Pablo Neruda: “...uma cinta de misterioso feitiço envolve a cidade da Bahia.”

                Isso ocorria também entre nossos conterrâneos quando se dirigiam do interior à Capital em busca de lazer, reencontro com familiares, amigos ou ao encontro de negócios, de entretenimento cultural, escasso em seus redutos, do polimento, refinamento e dos modismos que a sociedade local era capaz de transmitir a quantos dela se acercassem.
  
Por correlação, a Rua Chile padecia desse mesmo sestro. Quando os soteropolitanos se encaminhavam ao centro da cidade, sempre se referiam: vou à Rua Chile. Desprezavam dizer, dirijo-me à Praça Castro Alves, à Rua Rui Barbosa, à d’Ajuda, à Praça Municipal ou a da Sé, logradouros avizinhados àquela famosa via pública. Para eles todos aqueles sítios compunham a famosa rua, pois de tão cantada e decantada, em prosa e verso, ela, em seus devaneios, se alargara em limites geográficos através da anexação dos pontos, becos e ruelas que a circundavam, tais quais os nossos sentimentos se isentam de balizas ou fronteiras, voando livres somente carregados pelas asas dos nossos sonhos.



Assim ela reinava plena e absoluta, engolfando todo o centro histórico, indo da Praça Castro Alves ao Terreiro de Jesus.

Na verdade a Rua Chile já nasceu como o principal caminho da cidade. Ela constava das traças de Salvador quando aqui aportou, para construir, a mando de D. João III, a Capital do Atlântico Sul, Tomé de Souza. Deu-lhe forma o mestre-de-obras Luiz Dias, mas não o nome. Este, concedeu-lhe o povo. A princípio, chamaram-na Rua Direita do Palácio, depois Rua dos Mercadores e, após outros onze batismos, ganhou a denominação atual, em homenagem à Marinha Chilena, quando da visita da sua frota de guerra, em 1902, à nossa cidade.

Palace Hotel

Sempre contemplei a querida Rua Chile com o olhar do fascínio. Particularismos ela não os possuía. Eram quatrocentos metros de avenida sem charmes arquitetônicos, urbanísticos, exceção feita ao prédio onde se abrigava o Pálace Hotel, quiçá o Hotel Meridional. Contudo, havia nela um encanto transcendente. Inexplicável. Onde tudo parecia luzir. Quem sabe se isso não se devia por ela concentrar os quatro poderes em seu bojo: o Palácio Rio Branco - fulcro da administração estadual - a Prefeitura e Câmara de Vereadores, a Assembleia Legislativa e o Jornal “A Tarde”, do inesquecível Dr. Ernesto Simões Filho? Ou por  abrigar os melhores consultórios médicos e escritórios de advocacia da Bahia, onde professores como Adriano Pondé, Astor Baleeiro, Nelson Madureira, Aderbal Almeida, Jair Burgos, Maria de Lourdes Burgos, Arnaldo Silveira e um sem número de sumidades ditavam cátedra? Talvez por aglutinar em suas vertentes as lojas comerciais mais luxuosas de Salvador: a Sloper, Clark, Duas Américas, de Armando Almendra, a Rialto, de Joaquim Mattos, pai do general Mário Sérgio Mattos, o único baiano a alcançar o oficialato no seu grau máximo, da Alfaiataria Londres, de Arquelau Pompílio de Abreu, a Casa da Música, a Joalheria Nóvoa, a Nova América, da família Najar, o Adamastor, pertencente ao pai do inesquecível Gláuber Rocha, desejoso em fazer do filho seu sucessor nos negócios? Porventura por acolher a Gruta de Lurdes - o famoso Café de Bernadete - e o Café das Meninas, o primeiro frequentado por políticos, como Antônio Balbino, Tarcilo Vieira de Melo, Nelson Carneiro, Josafá Marinho, Aloísio de Carvalho Filho, José Carlos Facó, Fernando Santana, Aliomar Baleeiro, Orlando Ferreira Spínola, padre Palmeira, Antônio Carlos Magalhães - este, segundo as más-línguas, jamais pagou um cafezinho para quem quer que fosse - jornalistas respeitabilíssimos, como Vasconcelos Maia, Wilson Lins, Adroaldo Ribeiro Costa, Aristóteles Gomes, Berbert de Castro, Geovanni Guimarães, Junot Silveira, Walfrido Morais e grande parte da intelectualidade e artistas locais, representados nas pessoas de Jorge Amado, Adonias Filho, José Calazans, Mário Cabral, Estácio de Lima, Sante Scaldaferri, Mirabeau Sampaio, Carlos Bastos, Mário Cravo Júnior, sendo o outro café preferido pelos cacauicultores, fazendeiros e comerciantes? Quem não me assegura que o magnetismo dela não adviesse por agasalhar os bons restaurantes e fast-foods da terra, a Confeitaria Chile, de Nicolas Deminco, a Cubana, propriedade dos Amoedo Amoedo, senhora dos milk-shakes de chocolate e baunilha, dos bolinhos cobertos com raspas de castanhas de caju, do banana-split, da Pastelaria Triunfo, do Cacique, da Casa de Chá da Loja Duas Américas, onde a partir das dezessete horas se apresentavam os pianistas Carlos Lacerda, meu colega do Colégio Marista, Eduardo Ramos e o impagável humorista Zé Coió? Outra hipótese que avento: teria sua hegemonia se firmado por ali se encontrar o Cantinho da Música, casa que vendia os melhores lançamentos fonográficos da época, as livrarias Civilização Brasileira, Universitária, o alfaiate Spinelli, cunhador do famoso slogan: “Adão não se vestia porque Spinelli não existia”? Será que tal superioridade se devia às casas noturnas que ali pululavam, o Tabaris, o Rumba Dancing, Varandá, os prostíbulos do beco do Curriachito, da Rua Rui Barbosa, da 28 de Setembro, do Buraco Doce, dos inúmeros “castelos”, hoje nominados motéis, onde mulheres, de todas as nacionalidades, idades e etnias ministravam aulas de “minete”, coito anal, “boquete” aos iniciantes das práticas sexuais, até então, reprimidíssimas, pela retrógada sociedade baiana? Menos, digo comprometido com a verdade, na Semana Santa quando as mulheres-damas fechavam seus baús e os homens embainhavam os seus facões.  Quem sabe por agasalhar o Cine Teatro Guarani, no qual representaram as companhias de Dulcina e Odilon, Procópio Ferreira, Jaime Costa e a soprano baiana Alexandrina Ramalho, o Glória, o Liceu, o Art, o Excelsior? Ou por deixar que em sua passarela brilhassem as figuras míticas do folclore baiano, Jacaré, Cuíca de Santo Amaro e a Mulher de Roxo? Enfim, por lá encontrar abrigo uma miríade de jovens talentosos e inquietos como João Ubaldo Ribeiro, Gláuber Rocha, Fernando Perez, Hélio Contreiras, Helena Inês, Calazans Neto, Sonia Coutinho, Hélbio Palmeira, Miriam Fraga, Joaci Góes, João Carlos Teixeira Gomes, Julival Góes todos perseguindo um ideal, em busca de um lugar ao sol?



Ei-la: impávida, colosso
   
Mesmo que todas essas suposições e questionamentos tenham respostas afirmativas, como aduzo que terão, porquanto elas personificavam a Rua Chile, aposto, sem medo de errar, que a aura dela, daquela rua, se debitava muito mais à gente bonita e elegante que por ela transitava. Aos dramas e tragédias, guardados a sete chaves, ali desenrolados, mas que, de quando em quando, eram expostos por uma boca rota e malfalante. Aos amores e paixões lá nascidos. Aos casamentos, considerados estáveis, em seus esconsos, desfeitos, muitas vezes, pela maledicência, perfídia e cupidez dos seus frequentadores, insistentes em desejar a mulher ou o homem do próximo. Ao paroxismo da vaidade e da elegância, que naquela artéria excelia em grau inimaginável, criando um paradigma autóctone, impossível de ser explicado. Além, é claro, das discussões de toda ordem que lá se desembrulhavam. Amistosas, diga-se de passagem, entre os diversos grupos, cotidianamente, ali reunidos. Controvérsias essas pouco substantivas, bizantinas, direi melhor, mas que davam oportunidades aos litigantes de desvendar a pequenez dos seus conhecimentos ou a grandeza das suas erudições. Por isso, sem preocupações maiores, naquele espaço democrático, discutia-se sobre Kant, Karl Max, Lenine, Proust, Malthus, Alceu Amoroso Lima, Keynes, João Mangabeira, sobre a guerra-fria, comunismo e democracia, política brasileira e local, acerca da literatura nacional, da francesa, da inglesa e, invariavelmente e primacialmente, sobre a vida alheia. Esse, um tema comum a todas as rodas. Infelizmente.

Malgrado tal absurdo, todos os dias ocorria na Rua Chile uma epifania profana. Parecia que toda Salvador lá se manifestava, numa ressurreição, ansiosamente aguardada.  Mulheres deslumbrantes, cheirando a Chanel número 5, Fleur de Roccaille, de Caron, usando cópias de vestidos criados por Cristian Dior, Jacques Fath, Denner. Adornadas por joias caras e de bom gosto, visitavam-na. Igualmente o faziam senhores envergando ternos produzidos com linho irlandês, tropical inglês, cobertos por chapéus Panamá ou de feltro, apoiando-se em bengalas encastoadas com marfim e ouro. Os jovens mancebos compareciam com uniformes escolares. Também as mocinhas, hoje designadas de adolescentes, virgens sem dúvida! com saias rodadas, discretos decotes, estes, quando existentes, disfarçados pelo uso de um bolero. Era raro usarem um tomara-que-caia. Só as ousadas se atreviam a desfilá-los, e, quando o faziam, invariavelmente eram estigmatizadas com a chancela de “programistas”. Mas, convenho, mesmo quando comportadas, elas eram portadoras de faceirices ímpares. Sublimes. Hipnotizadoras incomparáveis. À época, chamadas de “brotinhos” em contraponto às mulheres na casa dos trintas anos alcunhadas de “balzaquianas”. Hoje, na certa, preferiríamos as “balzaquianas” aos “brotinhos”, ambas exaltadas em marchinhas carnavalescas: “...ai, ai, brotinho/ não cresça meu brotinho/ nem murche como a flor/ ai, ai, brotinho/ eu sou um galho velho/ mas quero o seu amor...” ou “...não quero broto/ não quero, não quero não/ não sou garoto pra viver de ilusão/ sete dias na semana/ eu preciso ver minha balzaquiana...”.

Rua Chile, agora no ostracismo
       
Por hábito, no limítrofe das dezessete e trinta horas, os novos ricos dirigiam-se à Rua Chile, a fim de observar a movimentação das elegantes mulheres baianas. Desfilando pelas calçadas, num vaivém sem rumo traçado, para se tornarem alvos dos olhares cobiçosos dos homens ávidos por aventuras amorosas. Onde os políticos teciam tricas e futricas, tentando indicar ou derrubar um Secretário de Estado, os “coronéis” envaidecidos, arrotando grandeza, contavam suas últimas conquistas amorosas. Entre outras, como: botei casa para fulana, para sicrana ou beltrana. Alardeando, para que todos ouvissem, o alto preço da arrouba de cacau. Da boa safra temporã. Da excelência do comércio fumageiro em Cruz das Almas e Arapiraca. Do preço alcançado pelo açúcar processado nos engenhos de Santo Amaro, Maracangalha, terra do meu grande amigo Emilton Rosa, que age como um samurai para ressuscitá-la, e Feira de Santana.

Lamentavam também. Fundamentalmente se queixavam da falta de chuva em Jequié, Itapetinga e Conquista, prejudicando os pastos que, por via de consequência, diminuíam os seus lucros, devido ao emagrecimento do rebanho bovino.



Enfim, fofocavam. Exaltavam a nova sensação da Churrascaria Líder, mais conhecida como Ide, a cantora e dançarina Argentina, Dolores Del Plata, que, exigia, para ir para a cama com algum ricaço, um pagamento mínimo de quinhentos mil réis.
- Até se fosse mais, valia a pena. - Arvorava-se em esclarecer um deles, arrematando:
- Para que tanto cacau senão para nos dar prazer. Tantas lutas para plantá-lo e colhê-lo teriam sido vãs se não pudéssemos gastar o dinheiro dele provindo para comer um “xibiu” como o dela, babar no seu seio, duro e arfante, dar uma palmada gostosa naquela bunda de meu Deus.

Outro interrompia o monólogo, uma ode de fatuidade, pois tinha pressa em dar lugar à sua:
- Qual Dolores! Não sei das quantas, qual nada! Mulher “arretada” é a gaúcha Safira, que apareceu lá no Bataclã, em Ilhéus. Não houve coronel que não a disputasse. Também com aquela ”xoxota” chupeta, quem não haveria de lutar para obter dela, favores? Ficou rica, em dois tempos. Mesmo assim, não a trocaria por Inocência. Uma negrinha lá da roça. Até hoje não conheci ninguém que inventasse tanto na hora de “vadear”. Fui levado, diante dessas virtudes a botar casa para ela, em Itabuna. Tornou-se minha única amásia. E ai do “cabra” que se acercar da safada. Arranco-lhe os bagos. Dela, só me livro por decreto da morte.

Dessas futilidades, desses papos que não levam a nada, viviam os frequentadores daquele espaço. Deixavam-se ficar ali, por horas, só para ouvir tais relatos. Mesmo sabedores de que eles se repetiriam nos dias subsequentes. Só se alternariam os contadores, as versões e as personagens.

À noite eles se abrigavam nos salões de jogos de algum cassino clandestino, onde arriscavam enormes quantias no bacará ou na roleta. Quando a sorte os apadrinhava, ali permaneciam. Caso contrário, chispavam em direção ao Cassino Internacional Tabaris, para assistir às apresentações dos balés de Evandro Castro Lima, Tito Jofre, Carlan ou Manoel Monteiro. As performances das dançarinas Carmem Diana, Isabel, Beba, Ajara, Regina Helena, Lurdes. Bebericar e prosear com Mirandão. Aquele mesmo feito personagem por Jorge Amado, em seu romance, Dona Flor e seus Dois Maridos. Sobre quem, Sílvio Valente, professor de português e francês, poeta, jornalista, membro mobília dessa patota, escreveu na coluna de 08.11.48, no jornal A Tarde, sob o pseudônimo de Pepino Longo: “Quem na Bahia não conhece Mirandão? É um dos palestradores mais adoráveis que possuímos, sempre a par da última anedota, sobretudo conhecedor profundo da vida alheia...Gostamos de sua prosa e, ainda outro dia, conversávamos a respeito de certos homens públicos de indiscutível talento, mas honestidade dúbia. Mirandão apresentou uma lista considerável desses aproveitadores da função pública, e, para terminar, soltou essa “bola”:

- No Brasil, meu caro, o homem inteligente que não é descarado é burro”.

Quem diria, digo eu, que essas coisas já aconteciam no país há seis décadas?

Além deles, fazia gosto a todos estar com Dólar, Jeová de Carvalho, Enoque Silva, Antônio e Genésio Ramos, este radialista, Ribeirinho, Francisco Baggi, alcunhado Chiquito Bengala, cuja homossexualidade adorava assumir, como se portasse uma bandeira de luta, mesmo sofrendo perseguição odienta e discriminatória da então tacanha sociedade baiana. Com o inesquecível Nilson Oliva César, apelidado Pixoxó, jornalista e irmão da saudosa Nilda Spencer, primeira dama do teatro baiano.



Assim era a jornada na Rua Chile para os seus “habitués”. Nada produtiva. Perdulária. Néscia.  Finda, quase sempre, numa cama malcheirosa de um castelo situado na Rua Rui Barbosa ou no Terreiro de Jesus, ao lado de uma mulher árdega, bonita, gostosa e sempre mercenária.

Para encerrar conto dois episódios que definem o caráter multifacetado da Rua Chile, acontecidos no século passado, período de 1900, entre as décadas de cinquenta e final da de sessenta:
O jornalista Ernesto Simões Filho, figura excepcional na lhaneza do trato, sóbrio, talentoso, político de posições irremovíveis, dono do jornal A Tarde, apoiava, decididamente, a candidatura para Governador do Estado o nome de Dr. Luiz Régis Pacheco Pereira, e o fazia escrevendo editoriais violentos contra o adversário do seu apaniguado. Um dia, no fulgor da contenda, acompanhado de amigos, o jornalista entra na Gruta de Lurdes para tomar um cafezinho. A notícia daquela visita, inesperada, se espalha como rastilho por todo logradouro. Os partidários do postulante criticado, aproveitando da oportunidade, se postaram em frente à casa comercial e, em coro, começaram a gritar: “homem tem bigode/ quem tem cavanhaque é bode”. Só restou ao vetusto jornalista enfrentar a turba que o acossava. Ao assomar à porta de saída, com acenos, sorriso nos lábios, encara a multidão agressiva que, silencia, ante a sua figura respeitável e, desafiadoramente, emite a seguinte frase: “podem vaiar, mais a Bahia não se vende, nem se entrega”.


Doutra feita o então Governador Juracy Montenegro Magalhães, ao passar em frente ao Pálace Hotel foi apupado. Enraivecido desce do carro oficial que o transportava soca violentamente o seu agressor verbal e, não satisfeito, manda prendê-lo.
Acho, salvo prova em contrário, que esses dois episódios foram decisivos para a biografia de ambos. Enquanto Simões é lembrado como um libertário, um democrata, Juracy é havido como um déspota, embora sua grandeza como homem público jamais haja sido contestada.  
Era assim a Rua Chile, plena de atitudes contraditórias, um palco onde as histórias ali representadas não tinham prólogo ou epílogo, se bem que as suas marcantes personagens, particularíssimas, ficassem bem guardadas na memória do povo, no baú onde conservo reminiscências e no sacrário do meu eu, no qual aprisiono intocadas as minhas saudades.

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