Literatura brasileira
A Bastos Tigre
Conto de Lima Barreto
Afonso Henriques de Lima Barreto, mais
conhecido como Lima Barreto, foi um jornalista, contribuinte para alguns
periódicos anarquistas do início do século XX, e um dos mais importantes
escritores brasileiros. (Por ser negro, sempre experimentou tormentosos preconceitos
raciais. Uma afronta à figura humana).
Em geral, eram as conquistas amorosas o tema da
palestra; mas, às vezes; incidentemente, tratavam dos negócios, do estado da
praça e da cotação das apólices.
Amor e dinheiro, eles juntavam bem e sabiamente.
O comendador era português, tinha seus cinqüenta
anos, e viera para o Rio aos vinte e quatro, tendo estado antes seis no Recife.
O seu amigo, o Coronel Carvalho, também era português, viera, porém, aos sete
para o Brasil, havendo sido no interior, logo ao chegar, caixeiro de venda,
feitor e administrador de fazenda, influência política; e, por fim, por ocasião
da bolsa, especulara com propriedades, ficando daí em diante senhor de uma boa
fortuna e da patente de coronel da Guarda Nacional. Era um plácido burguês,
gordo, ventrudo, cheio de brilhantes, empregando a sua mole atividade na
gerência de uma fábrica de fósforos. Viúvo, sem filhos, levava a vida de moço
rico. Frequentava cocottes; conhecia as escusas casas de rendez-vous,
onde era assíduo c considerado; o outro, o comendador, que era casado,
deixando, porém, a mulher só no vasto casarão do Engenho Velho a se interessar
pelos namoricos das filhas, tinha a mesma vida solta do seu amigo e compadre.
Gostava das mulheres de cor e as procurava com o
afinco e ardor de um amador de raridades.
À noite, pelas praças mal iluminadas, andava
catando-as, joeirando-as com olhos chispantes de lubricidade e, por vezes
mesmo, se atrevia a seguir qualquer mais airosa pelas ruas de baixa
prostituição.
– A mulata, dizia ele, é a canela, é o cravo, é a
pimenta; é, enfim, a especiaria de requeime acre e capitoso que nós, os
portugueses, desde Vasco da Gama, andamos a buscar, a procurar.
O coronel era justamente o contrário: só queria às
estrangeiras; as francesas e italianas, bailarinas, cantoras ou simplesmente
meretrizes, era o seu fraco.
Entretanto havia já quinze dias, que não se
encontravam no 1ugar aprazado e a faltar era o comendador, a quem o coronel
sabia bem por informações do seu guarda-livros.
Ao acabar a segunda semana dessa ausência
imprevista, o coronel, maçado e saudoso, foi procurar o amigo na sua loja à Rua
dos Pescadores. Lá o encontrou amável e de boa saúde. Explicaram-se; e entre
eles ficou assentado que se veriam naquele dia, à tarde, na hora e lugar
habituais.
Como sempre, jantaram fartamente e regiamente
regaram o repasto com bons vinhos portugueses. Jogaram a partida de bilhar e
depois, como encarrilhados, seguiram para o café de costume no Largo da
Carioca.
No princípio, conversaram sobre a questão das minas
de Itaoca, vindo então à baila a inépcia e a desonestidade do governo; mas logo
depois, o Coronel que “tinha a pulga atrás da orelha”, indagou do companheiro o
motivo de tão longa ausência.
– Oh! Não te conto! Foi um “achado”, a cousa, disse
o comendador, depois de chupar fortemente o charuto e soltar uma volumosa baforada;
um petisco que encontrei… Uma mulata deliciosa, Chico ! Só vendo o que é, disse
a rematar, estalando os beiços.
– Como foi isso? inquiriu o coronel pressuroso.
Como foi? Conta lá!
– Assim. A Ultima vez que estivemos juntos, não te
disse que no dia seguinte iria a bordo de um paquete buscar um amigo que
chegava do Norte?
– Disseste-me. E daí?
– Ouve. Espera. Cos diabos isto não vai a matar!
Pois bem, fui a bordo. O amigo não veio… Não era bem meu amigo… Relações
comerciais… Em troca…
Por essa ocasião rolou um carro no calçamento.
Travou em frente ao café e por ele adentro entrou uma gorda mulher, cheia de
plumas e sedas, e para vê-la virou-se o comendador, que estava de costas,
interrompendo a narração. Olhou-a e continuou depois:
– Como te dizia: não veio o homem, mas enquanto
tomava cerveja com o comissário, vi atravessar a sala uma esplêndida mulata; e
tu sabes que eu…
Deixou de fumar e com olhares canalhas sublinhou a
frase magnificamente.
– De indagação em indagação, soube que viera com um
alferes do Exército; e murmuravam a bordo que a Alice (era seu nome, soube
também) aproveitara a companhia, somente para melhor mercar aqui os seus
encantos. Fazer a vida… Propositalmente, me pareceu, eu me achava ali e não
perdia vaza, como tu vais ver.
Dizendo isto, endireitou o corpo, alçou um tanto a
cabeça, e seguiu narrando:
– Saltamos juntos, pois viemos juntos na mesma
lancha – a que eu alugara. Compreendes? E, quando embarcamos num carro, no
Largo do Paço, para a pensão, já éramos conhecimentos velhos; assim pois…
– E o alferes?
– Que alferes?
– O alferes que vinha com a tua diva, filho? Já te
esqueceste ?
– Ah! Sim! Esse saltou na lancha do Ministério da
Guerra e nunca mais o vi.
– Está direito. Continua lá a cousa.
– E… e… Onde é que estava? Hein?
– Ficaste: quando ao saltar, foram para a pensão.
– É isto ! Fomos para a Pensão Baldut, no Catete; e
foi, pois, assim que me apossei de um lindo primor – uma maravilha, filho, que
tem feito os meus encantos nestes quinze dias – com os raros intervalos em que
me aborreço em casa, ou na loja, já se vê bem.
Repousou um pouco e, retomando logo após a palavra,
assim foi dizendo:
– É uma cousa extraordinária! Uma maravilha! Nunca
vi mulata igual. Como esta, filho, nem a que conheci em Pernambuco há uns vinte
e sete anos! Qual! Nem de longe !. Calcula que ela é alta, esguia, de bom
corpo; cabelos negros corridos, bem corridos: olhos pardos. É bem fornida de
carnes, roliça; nariz não muito afilado, mas bom! E que boca, Chico! Uma boca
breve, pequena, com uns lábios roxos, bem quentes… Só vendo mesmo! Só! Não se
descreve.
O comendador falara com um ardor desusado nele;
acalorara-se e se entusiasmara deveras, a ponto de haver na sua fisionomia
estranhas mutações. Por todo ele havia aspecto de um suíno, cheio de lascívia,
inebriado de gozo. Os olhos arredondaram-se e diminuíram; os lábios se haviam
apertado fortemente e impelidos pra diante se juntavam ao jeito de um focinho;
o rosto destilava gordura; e, ajudado isto pelo seu físico, tudo nele era de um
colossal suíno.
– O que pretendes fazer dela? Dize lá.
– É boa… Que pergunta ! Prová-la, enfeitá-la,
enfeitá-la e “lançá-la” E é pouco?
– Não! Acho até que te excedes. Vê lá, tu!
– Hein? Oh! Não! Tenho gasto pouco. Um conto e
pouco… Uma miséria!
Acendeu o charuto e disse subitamente, ao olhar o
relógio:
– Vou buscá-la de carro, porquanto vamos ao
cassino, e tu me esperas lá, pois tenho um camarote. Até já.
Saindo o seu amigo, o coronel considerou um pouco,
mandou vir água Apolináris, bebeu e saiu também.
Eram oito horas da noite.
Defronte ao café, o casarão de uma ordem terceira
ensombrava a praça parcamente iluminada pelos combustores de gás e por um foco
elétrico ao centro. Das ruas que nela terminavam, delgados filetes de gente
saíam e entravam constantemente. A praça era como um tanque a se encher e a se
esvaziar equitativamente. Os bondes da Jardim semeavam pelos lados a branca luz
de seus focos e, de onde em onde, um carro, um tílburi, a atravessava célere.
O coronel esteve algum tempo olhando o largo,
preparou um novo charuto, acendeu-o, foi até à porta, mirou um e outro
transeunte, olhou o céu recamado de estrelas, e, finalmente, devagar, partiu em
direção à Lapa.
Quando entrou no cassino, ainda o espetáculo não
havia começado.
Sentou-se a um banco no jardim, serviu-se de
cerveja e entrou a pensar.
Aos poucos, vinham chegando os espectadores.
Naquele instante entrava um. Via-se pelo acanhamento, que era um estranho às
usanças da casa. Esmerado no vestir, no calçar, não tinha em troca o
desembaraço com que se anuncia o habitué. Moço, moreno, seria
elegante se não fosse a estreiteza de seus movimentos. Era um visitante
ocasional, recém-chegado, talvez, do interior, que procurava ali uma
curiosidade, um prazer da cidade.
Em seguida, entrou um senhor barbado, de maçãs
salientes, rosto redondo, acobreado. Trazia cartola, e pelo ar solene, pelo
olhar desdenhoso que atirava em volta, descobria-se nele um legislador da
Cadeia Velha, deputado, representante de algum Estado do Norte, que, com
certeza, há duas legislaturas influía poderosamente nos destinos do país com o
seu resignado apoiado. E assim, um a um, depois aos magotes, foram entrando os
espectadores. Ao fim, na cauda, retardados, vieram os frequentadores assíduos –
pessoas variegadas de profissão e moral que com frequência blasonavam saber os
nomes das cocottes, a proveniência delas e as suas excentricidades libertinas.
Entre os que entravam naquele momento, entrara também o comendador e o ”
achado” .
A primeira parte do espetáculo correra quase
friamente.
Todos, homens e mulheres, guardavam as maneiras
convencionadas de se estar em público. Era cedo ainda.
Em meio, porém, da segunda, as atitudes mudaram. Na
cena, uma delgadinha senhora (chanteuse à diction – no cartaz) berrava uma
cançoneta francesa. Os espectadores, com batidos das bengalas nas mesas, no
assoalho, e com a voz mais ou menos comprometida, estribilhavam-na doidamente.
O espetáculo ia no auge. Da sala aos camarotes subia um estranho cheiro – um
odor azedo de orgia.
Centenas de charutos e cigarros a fumegar enevoavam
todo ambiente.
Desprendimentos do tabaco, emanações alcoólicas, e,
a mais, uma fortíssima exalação de sensualidade e lubricidade, davam à sala o
aspecto repugnante de uma vasta bodega.
Mais ou menos embriagado, cada um dos espectadores
tinha para com a mulher com quem bebia, gestos livres de alcova. Francesas,
italianas, húngaras, espanholas, essas mulheres, de dentro das rendas, surgiam
espectrais, apagadas, lívidas como moribundas. Entretanto, ou fosse o álcool ou
o prestígio de peregrinas, tinham sobre aqueles homens um misterioso
ascendente. A esquerda, na platéia, o majestoso deputado da entrada coçava
despudoradamente a nuca da Dermalet, uma francesa; em frente o doutor
Castrioto, lente de uma escola superior, babava-se todo a olhar as pernas da
cantora em cena, enquanto em um camarote defronte, o Juiz Siqueira apertava-se
à Mercedes, uma bailarina espanhola, com o fogo de um recém-casado à noiva.
Um sopro de deboche percorria homem a homem.
Dessa forma o espetáculo desenvolvia-se no mais
fervoroso entusiasmo e o coronel, no camarote, de soslaio, pusera-se a observar
a mulata. Era bonita de fato e elegante também. Viera com um vestido creme de
pintas pretas, que lhe assentava magnificamente.
O seu rosto harmonioso, enquadrado num magnífico
chapéu de palha preta, saía firme do pescoço roliço que a blusa decotada
deixava ver. Seus olhos curiosos, inquietos, voavam de um lado a outro e a tez
de bronze novo cintilava à luz dos focos. Através do vestido se lhe adivinhavam
as formas; e, por vezes, ao arfar, ela toda trepidava de volúpia…
O comendador pachorrentamente assistia ao
espetáculo e fora do costume, pouco conversou. O amigo, pudicamente não
insistiu no exame.
Quando saíram de permeio à multidão, acumulada no
corredor da entrada, o coronel teve ocasião de verificar o efeito que fizera a
companheira do amigo. Ficando mais atrás, pôde ir recolhendo os ditos e as
observações que a passagem deles ia sugerindo a cada um.
Um rapazola dissera:
– Que “mulatão”!
Um outro refletiu:
– Esses portugueses são os demônios para descobrir
boas mulatas. É faro. Ao passarem os dois, alguém, a quem ele não viu,
maliciosamente observou:
– Parecem pai e filha.
E essa reflexão de pequeno alcance na boca que a
proferiu, calou fundo no ânimo do coronel.
Os queixos eram iguais, as sobrancelhas, arqueadas,
também; o ar, um não sei quê de ambos assemelhavam-se… Vagas semelhanças,
concluiu o coronel ao sair à rua, quando uma baforada de brisa marinha lhe
acariciou o rosto afogueado.
Já o carro rolava rápido pela rua quieta – quietude
agora perturbada pelas vozes esquentadas dos espectadores saídos e pelas falsas
risadas de suas companheiras – quando o comendador, levantando-se no estrado da
carruagem, ordenou ao cocheiro que parasse no hotel, antes de tocar para a
pensão. A sala sombria e pobre do hotel tinha sempre por aquela hora uma
aparência brilhante. A agitação que ia nela; as sedas roçagantes e os chapéus
vistosos das mulheres; a profusão de luzes, o irisado das plumas, os perfumes
requintados que voavam pelo ambiente; transmudavam-na de sua habitual
fisionomia pacata e remediada. As pequenas mesas, pejadas de pratos e garrafas,
estavam todas elas ocupadas. Em cada, uma ou duas mulheres sentavam-se,
seguidas de um ou dous cavalheiros. Sílabas breves do francês, sons guturais do
espanhol, dulçorosas terminações italianas, chocavam-se, brigavam.
Do português nada se ouvia, parecia que se
escondera de vergonha.
Alice, o comendador e o coronel, sentaram-se a uma
mesa redonda em frente à entrada. A ceia foi lauta e abundante. A sobremesa, os
três convivas repentinamente animados, puseram-se a conversar com calor. A
mulata não gostara do Rio; preferia o Recife. Lá sim ! O céu era outro; as
comidas tinham outro sabor, melhor e mais quente. Quem não se recordaria sempre
de uma frigideira de camarões com maturins ou de um bom feijão com leite de
coco?
Depois, mesmo a cidade era mais bonita; as pontes,
os rios, o teatro, as igrejas.
E os bairros então? A Madalena, Olinda… No Rio, ela
concordava, havia mais povo, mais dinheiro; mas Recife era outra cousa, era
tudo…
– Você tem razão, disse o comendador; Recife é
bonito, e muito mais . .
– O senhor, já esteve lá ?
– Seis anos; filha, seis anos; e levantou a mão
esquerda à altura dos olhos, correu-a pela testa, contornou com ela a cabeça,
descansou-a afinal na perna e acrescentou: comecei lá minha carreira comercial
e tenho muitas saudades. Onde você morava?
– Ultimamente à Rua da Penha, mas nasci na de João
de Barro, perto do Hospital de Santa Águeda…
– Morei lá também, disse ele distraído.
– Criei-me pelas bandas de Olinda, continuou Alice,
e por morte de minha mãe vim para a casa do doutor Hildebrando, colocada pelo
juiz…
Há muito que tua mãe morreu? indagou o coronel.
– Há oito anos quase, respondeu ela.
– Há muito tempo, refletiu o coronel; e logo
perguntou: que idade tens?
– Vinte e seis anos, fez ela. Fiquei órfã aos
dezoito. Durante esses oito anos tenho rolado por esse mundo de Cristo e comido
o pão que o diabo amassou. Passando de mão em mão, ora nesta, ora naquela, a
minha vida tem sido um tormento. Até hoje só tenho conhecido três homens que me
dessem alguma coisa; os outros Deus me livre deles! – só querem meu corpo e o
meu trabalho. Nada me davam, espancavam-me, maltratavam-me. Uma vez, quando
vivia com um sargento do Regimento de Polícia, ele chegou em casa embriagado,
tendo jogado e perdido tudo, queria obrigar-me a lhe dar trinta mil-réis, fosse
como fosse. Quando lhe disse que não tinha e o dinheiro das roupas que eu
lavava, só chegava naquele mês para pagar a casa, ele fez um escarcéu.
Descompôs-me. Ofendeu-me. Por fim, cheio de fúria agarrou-me pelo pescoço,
esbofeteou-me, deitou-me em terra, deixando-me sem fala e a tratar-me no
hospital. Um outro – um malvado em cujas mãos não sei como fui cair – certa
vez, altercamos, e deu-me uma facada do lado esquerdo, da qual ainda tenho
sinal.! Tem sido um tormento… Bem me dizia minha mãe: toma cuidado, minha
filha, toma cuidado. Esses homens só querem nosso corpo por segundos, depois se
vão e nos deixam um filho nos quartos, quando não nos roubam como fez teu pai
comigo…
– Como?… Como foi isso? interrogou admirado o
coronel.
– Não sei bem como foi, retrucou ela. Minha mãe me
contava que ela era honesta; que vivia na cidade do Cabo com seus pais, de cuja
companhia fora seduzida por um caixeiro português que lá aparecera e com quem
veio para o Recife. Nasci deles e dous meses, ou mais depois do meu nascimento,
meu pai foi ao Cabo liquidar a herança (um sítio, uma vaca, um cavalo) que
coubera à minha mãe por morte de seus pais. Vindo de receber a herança, partiu
dias depois para aqui e nunca mais ela soube notícias dele, nem do dinheiro,
que, vendido o herdado, lhe ficara dos meus avós.
– Como se chamava teu pai? indagou o comendador com
estranho entono.
– Não me 1embra bem; era Mota ou Costa… Não sei…
Mas o que é isso? disse ela de repente, olhando o comendador. Que tem o senhor
?
– Nada… Nada… retrucou o comendador experimentando
um sorriso. Você não se 1embra das feições desse homem? interrogou ele.
– Não me 1embra, não. Que interesse! Quem sabe que
o senhor não é meu pai? gracejou ela.
O gracejo caiu de chofre naqueles dous espíritos
tensos, como uma ducha frigidíssima. O coronel olhava o comendador que tinha as
faces em brasa; este, àquele; por fim depois de alguns segundos o coronel
querendo dar uma saída à situação, simulou rir-se e perguntou:
– Você nunca mais soube alguma cousa… qualquer
cousa ? Hein ?
– Nada… Que me 1embre, nada… Ah ! Espere… Foi… É.
Sim! Seis meses antes da morte de minha mãe, ouvi dizer em casa, não sei por
quem, que ele estava no Rio implicado num caso de moeda falsa. É o que me
1embra, disse ela.
– O que? Quando foi isso? indagou pressuroso o
comendador.
A mulata, que ainda não se havia bem apercebido do
estado do comendador, respondeu ingenuamente:- Mamãe morreu em setembro de
1893, por ocasião da revolta… Ouvi contar essa história em fevereiro. É isso.
O comendador não perdera uma sílaba; e, com a boca
meio aberta, parecia querê-las engolir uma e uma; com as faces congestionadas e
os olhos esbugalhados, a sua fisionomia estava horrível.
O coronel e a mulata, extáticos, estuporados,
entreolhavam-se.
Durante um segundo nada se lhes antolhava fazer.
Ficaram como idiotas; em breve, porém, o comendador, num supremo esforço, disse
com voz sumida:
- Meu Deus! É minha filha!
Nenhum comentário:
Postar um comentário