Publicado
em por Rejane Borges
O maior
escritor brasileiro era um entusiasta do universo feminino e por meio dele
expôs seu talento à pena. A sua escrita conferiu valor à mulher por meio de
suas heroínas.
As velhas heroínas do Romantismo,
detentoras de atributos tais como a devoção, sensibilidade à natureza,
superação de obstáculos, o anseio pelo casamento, aspiração materna, entre
outras características, brotavam dos livros de cabeceira. Muito conveniente
àquela época que se pregasse tal discurso a fim de manter ordem na sociedade -
com o homem e a mulher colocados em seus devidos lugares.
É neste contexto que Machado de
Assis rejeita com o Romantismo, influenciando não somente a literatura, mas,
também, toda uma linha de pensamento no Brasil. Segundo alguns críticos do
escritor brasileiro, ele jamais pertenceu, de fato, ao Romantismo. No entanto,
mantinha alguns pontos de contato com a escola literária, mesmo desobrigando-se
de seus cânones.
Atrelando-se ao Realismo, Machado
– extremamente analítico e reflexivo – mantém um diálogo honesto com o leitor,
tratando questões sociais e emocionais de forma objetiva. Claramente, Machado
utiliza-se da sutileza psicológica para emaranhar suas tramas, num contexto
acerca das questões e condições humanas. A loucura, ironia e a crítica são
intrínsecas aos seus escritos.
O fascínio do autor pelas
mulheres levou-o a concentrar suas narrativas em suas heroínas, alterando o
eixo narrativo, criando um estilo inovador para a época. Machado de Assis
evidencia o que nunca fora antes evidenciado, como as ações, emoções e
pensamentos da alma feminina, uma vez que concedeu à mulher, importância
equivalente ao herói. A alta relevância que o autor concede às suas mulheres
faz com que seus outros personagens sejam mais rasos, de uma psicologia menos
complexa.
(Imagem da
minissérie Capitu, de Luiz Fernando Carvalho)
Elas, portanto, tornam-se o ponto
central de toda a narrativa. Em uma oposição às heroínas do Romantismo, são
providas de personalidades marcantes. O autor as capacitava para conduzir a
trama por outro viés, imprimindo em cada uma delas ambição, paixão e razão como
nenhum outro escritor brasileiro.
Talvez por ter começado sua
carreira escrevendo para revistas e, assim sendo, para um público
esmagadoramente feminino, Joaquim Maria Machado de Assis adquiriu notável
destreza ao falar sobre as mulheres, para as mulheres. Ele foi muito fiel às
suas leitoras. Conversava com elas e delas aprendia.
Ler Machado nos envolve em uma
atmosfera passional e racional ao mesmo tempo. E ele retrata, muito
soberbamente, esse paralelo na vida de suas personagens. As mulheres
machadianas são deliciosamente reveladas em uma sensual coragem e desinibição
para lutar pelos próprios ideais.
A maneira apaixonada e meticulosa
com a qual ele descreve toda a forma, todos os traços, todo o movimento e os
olhares destas mulheres, o caracterizam não somente como um observador do
universo feminino, mas, Machado vai além: torna-se cúmplice desse universo.
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