Literatura
Publicado por Profeta do Arauto:
“Ler é a
transformação de homens em cidadãos e cidadãos em nação. Leitura e leitor é a
cultura e o reflexo intelectual de um país.”
Artigo contextualizado, teatralizado e
inspirado no livro: “A Velhice” da filósofa Simone de Beauvoir.
A ilusão fantasiosa é o alimento da alma e
dos olhos, mas na velhice, época em que o nutriente também envelhece e
embolora, a alma esmola por uma migalha, os olhos cegam e sem fantasias para se
iludir, morrem famintos.
“Se não for pedir muito: mais amor, por favor!
Mas, por favor, atenda meu pedido somente se não for atrapalhar os seus
afazeres diários. Não nasci para ser estorvo na vida de ninguém, principalmente
dos meus familiares e dos mais novos”!
Aquele que guarda com apreço e zelo as
tralhas velhas, coisas antigas, rotas, aparentemente inócuas e sem nenhum
valor, em dado momento terá o salvador para aqueles que se dizem atualizados;
sobretudo porque, são badulaques antigos que resolvem os problemas quando o
atarantado (os urbanos são os que mais sofrem) encontra-se em apuros. As boas
máquinas e as tecnologias essencialmente utilitárias são aquelas que resolvem
os problemas de imediato, sem manter os vestígios da desordem oriundas do
problema. Portanto, quem valoriza o Velho, a solução para o novo, terá.
“Deus, meu Deus, que eu não fique nunca, com
a barba por fazer, os cabelos desgrenhados e os músculos lânguidos, consumindo
os restos daquilo que já foi belo; levantando e caindo devido os ossos trôpegos
e debilitados; com esses trajes esfarrapados e fétidos; sentado numa cadeira
ruminando os tempos que não voltam mais e a espera de visitas que não vem”.
Velhice: eis o mistério
daqueles que insistem em viver, e para chegar lá, o felizardo ou infeliz, terá
que passar por muitas etapas contrárias, principalmente numa sociedade em que o
consumo, o imediatismo, o culto ao corpo, aos espelhos e as balanças, são os
estereótipos da hegemonia e conquistas íntimas. No quesito vaidade, talvez
copiando os modelos americanos, o Brasil é o país que mais investe em beleza. Nosso
povo não perde a oportunidade de melhorar as aparências impostas pela
decadência do tempo, com a aplicação do botox, do silicone, das maquiagens e as
mais requisitadas, que são as lipoaspirações e as cirurgias plásticas. Se até
então a vaidade e a transformação do corpo resumia-se em recorrer às fantasias
das fontes da juventude, (invento de Narciso), agora o realce transformador do
feio em belo, está disponibilizado nas academias de ginástica, lojas de
cosméticos e consultórios médicos. Em cada esquina, um brado, um chamamento
para a renovação do visual.
“À procura do cais, caminho / que dizem ser
lá / o local onde aportou o sentimento de carinho”!
Portanto, para a
sociedade Brasileira, é visto por olhos ternos e luzentes, aquela pessoa de
rosto liso e cabelos pretos, cor de graúna. Rugas, “pés de galinha”, cabelos
brancos passam longe dos espelhos da imaginação padronizada e personalizada
socialmente. E entre uma criança e o idoso, esquecendo-se que o idoso possui um
longo histórico de vida, foi (ou é) o sustentáculo da família; instituiu os
legados e ensinamentos no seio social; prevalece o sorriso espontâneo da
criança. Velhos são asquerosos. Rabugentos e as evidências tornam-se mais
nítidas quando eles expõem as rezingas concernentes à imoralidade da juventude;
quando expõem as caras amarradas pelo silêncio dos maus tratos; quando denotam
a infelicidade por idealizar aquilo que não foi posto em prática no decorrer
dos anos; quando esbraveja contra as banalidades e futilidades cotidianas. Por
tudo isto e mais tantas outras, as lições de vida dos anciões não são lidas
pela jovem sociedade Brasileira; pela decente e ordeira juventude Brasileira.
Uma vez que a lei emana
dos descasos, desrespeitos e desprezos, com a finalidade de maquiar e lustrar
as peças desgastadas e ferruginosas ocasionadas pelo uso; instituíram uma
enormidade delas no estatuto do idoso, porém, com pouca eficácia, pois, o Velho
continua sendo peça ultrapassada, que até o museu familiar, por vezes,
dispensa. Pare para ouvi-lo e ouvirás que para o Velho, admiração e respeito
não se fazem com leis e estatutos. Nesta inversão de valores, embora de forma
velada e introspectiva, a sociedade desvaloriza e se sente importunada pelo
envelhecer; no entanto, quem alimentou e permanece alimentando o novo; é o
Velho.
“Nada de desprezo e ingratidão.
Tempere com amor, por favor! Nada de beliscões e dor, enfeite-me com flor! Com
ou sem paciência, aguarde na fila, espere pela sua vez, porque embora seja
pernalta, ela move-se lentamente. Espero por você neste banco de praça ocupado
pelas máquinas emperradas e oxidadas pelo tempo! Se não neste banco, pode ser
na casa de repouso. Asilo. Reformatório. Conservatório. Museu. Leito de
hospital! O nome do local é o que menos importa”.
No livro: “A velhice” de 1970, a filósofa
Simone de Beauvoir ataca a verdade não revelada, dizendo que para muitos o
idoso é um ser inútil, utensílio em desuso, peça literalmente morta e desejam
mais é cuspir-lhe na cara, o seu valor irrisório. Ignóbil! Afirma ainda que na visão
do novo, o Velho é moeda de valor desprezível. Entretanto, para o escritor
deste: um honrado pagador da fatura mensal dos cartões de crédito,
financiamentos, incluindo o vale motel, demais contas feitas pelos novos.
Aquela pessoa que obstinadamente consume o seu tempo buscando da realização
financeira, obviamente que não terá tempo suficiente para usufruir de suas
conquistas; tarefa que será realizada por outros e que na maioria das vezes,
não levará o seu nome. A experiência e o senso comum mostram que humano é
chancelado pelo sentimento da ingratidão.
Lamentavelmente, o tempo
é o ácido corrosivo que destrói qualquer engrenagem. Com o ser humano não é
diferente: não renovou, começa a aparecer a dilaceração da oxidação ferruginosa
nas bordas das peças. O desgaste vai se formando de fora para dentro e se não
houver o devido reparo das partes desgastadas, em pouco tempo transforma-se em
sucata. Entretanto, está não é a definição exata para o natural envelhecer em
meio à sociedade Brasileira.
- Se não é esta a
definição justa e arredondada, qual é?
- Respeito. Isso mesmo:
falta solidariedade, fraternidade, bom senso e respeito com aquele que viveu a
vida, acordando cedo, carregando no embornal a marmita fria, enfrentando chuva
e sol para enfiar-se em bondes, metrôs e ônibus abarrotados deles, pagando
promessas, pagando dívidas e investindo em vidas!
A idade é o espelho da
semelhança do passado. E embora tentem engabelá-los com carregadas maquiagens;
aplicações de botox e silicone; plásticas faciais e lipoaspirações, se a imagem
chegar lá, refletirá a irremediável ocorrência da vida, que é a velhice. E
seguindo inversamente os passos dela, está a minha inteligência; ou seja,
enquanto uma caminha acelerada para um lado, a outra, está em constante inércia
para o outro. Uma para direita, outra para esquerda. Uma aumenta, a outra
diminui e assim segue até onde os passos permitirem. Por fim, quem é o sábio
humano, o cientista revolucionário, o poderoso dos poderosos, que alterará essa
lei premissa, irreversível e universal?
"E você Profeta,
com a sua pena sem pena e impiedosamente cruel, esculhambou-me, destruiu-me,
cuspiu cobras e lagartos em minha cara, contenha-se meu velho, porque
jovialidade você ainda vai ter uma! É o que te desejo!
- Agradeço pela
presteza, mas o elogiei em várias passagens, inclusive ressaltando a utilidade
do Velho, que é alimentar animais domésticos; cuidar de netos, pagar a pensão
alimentícia do filho que buliu na fruta e descartou a colheita; e lógico, pedir
empréstimos para pagar as contas dos filhos e netos.
- Desculpe-me pela
tolice de acusá-lo indevidamente. Devido as cataratas e a miopia profunda, não
li o artigo até o fim. Aiii!! Humm, quê pontada aguda nas costas!
Fotos pertencentes ao
autor do artigo
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