sábado, 21 de novembro de 2015

LEON LEVINSTEIN: A FOTOGRAFIA MINIMALISTA DE GRANDES EXPRESSÕES.

Arte fotográfica




Publicado por Eduarda Amaral.
“A arte nos permite brincar com a realidade.
Por meio das palavras construímos novos universos, aos quais damos as cores que desejamos.”


Se alguns fotógrafos tentaram fazer fotos grandiosas, recorrendo ao uso de artifícios impressionantes para nos sensibilizar, Levinstein fez justamente o contrário: em suas fotos, é o singelo e o individual do ser humano que nos deslumbra, nos desperta o enorme desejo de estar bem ali, no lugar daquela pessoa fotografada.

O foco principal de suas fotos não se direciona à construção estética, per se; mas, sim, à captura de algo de muito maior profundidade: a alma.


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Ao olharmos as fotos de Leon Levinstein, não tem como resistirmos a sermos tragados por um universo paralelo. Um sentimento, ao mesmo tempo, acachapante e acolhedor. Bom de sentir!

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Se as fotos de diversos outros gênios da fotografia nos faz ter vontade de sermos por eles fotografados, para que fiquemos bonitos como seus modelos ou de estarmos nos lugares divinos por eles retratados, as fotos de Levinstein nos faz ansiar vivenciar o sentimento que a foto nos desperta.

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Como se dentro daquele pequeno enquadramento existisse um mundo. Não um mundo com muitas riquezas a oferecer. Mas, sim, a singela e deliciosa sensação que cada uma de suas fotografias transmite.

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Não que todas as suas fotos sejam doces. Pelo contrário, grande parte delas são bastante áridas. Retratam as durezas das ruas da Grande Maçã e da vida de seus moradores. Mas todas são carregadas de expressão. Nos fazem lembrar do que é "ser humano".

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Para entendermos um pouco mais das sutilezas do trabalho deste artista, vale conhecer alguns detalhes de sua trajetória de vida e de sua opção consciente por não perseguir a fama, como muitos de seus colegas.

Logo de início, devemos ter em mente que ele não acreditava em métodos pré-estabelecidos ou na necessidade de intelectualização da Fotografia, dizendo :
Apenas fotografe !

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Após admirarmos várias de suas fotos, contudo, há uma característica técnica que nos chama a atenção: grande parte delas tem como elemento principal de construção o enquadramento do sujeito fotografado na foto. Recursos extraordinários de velocidade ou de abertura do diafragma, por exemplo, quase não são utilizados. Não que Levinstein não dominasse diferentes recursos técnicos fotográficos. Utilizava-os com maestria!

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Nesta foto, por exemplo, Levinstein congela o movimento dos jogadores, fazendo uma composição que nos remete aos clicks que ficaram conhecidos como "Instante Decisivo", de Cartier Bresson.

Mesmo desacreditando em uma metodologia formal para a Fotografia, Levinstein tinha dois princípios dos quais parecia não abrir mão e que guiaram não apenas sua carreira profissional, mas também sua vida pessoal:

Em primeiro lugar, julgava que a fama atrapalharia seu trabalho como fotógrafo. Dizia que uma das vantagens de ser desconhecido era a de que ele podia se imiscuir no meio do povo, fotografar as pessoas sem ser notado. Talvez por este motivo, não tenha se dedicado a divulgação comercial de seu trabalho, permanecendo, mesmo ainda hoje em dia, desconhecido do grande público.

Apesar de suas fotos aparecem em revistas semanais de fotografia, Levinstein nunca aceitou trabalhos sob encomenda, nem nunca fez um livro autoral, ao contrário de seus colegas que viriam a se tornar mundialmente reconhecidos.

Hoje, há publicações póstumas de sua obra .

Levinstein nasceu na Virgínia, Estados Unidos, em 1910. Em 1946, mudou-se para Nova York, após ter participado da Segunda Guerra.

Segundo Levinstein: para fotografar, você tem de estar sozinho e trabalhar sozinho . Para ele, tratava-se de uma ocupação solitária. E foi assim que ele escolheu passar a vida. Nunca se casou. Nem teve filhos. Não tinha muitos amigos.

Levinstein pertencia a uma geração de "fotógrafos de rua " - estilo fotográfico que despontou no início do século passado, ganhando maior peso na década de 1950 -, da qual fazem parte nomes como Diane Airbus, Robert Frank e Richard Avedon. Enquanto estes outros fotógrafos pareciam se interessar mais por situações inusitadas, por movimentos ou fotos posadas, Levinstein direcionava suas lentes para o comum.

Se tivesse que escolher uma única frase para descrever o trabalho deste artista, diria que ele conseguiu captar, como ninguém, a harmonia entre os corpos e as ruas.

Interessava-se pelo ballet que as pessoas faziam nas ruas no dia a dia. Não a coreografia rígida imposta pelo ballet clássico; mas a dança livre preconizada por Isadora Duncan.
O corpo que sente… O corpo que projeta sua forma nas ruas e que as molda, e que é por elas moldado !

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O outro princípio que guiava seu trabalho era a busca pela espontaneidade. Dizia que a fotografia deveria captar o que havia de espontâneo no ser humano. Fotos posadas, eram forçadas, não deixavam transparecer a verdadeira beleza dos indivíduos. Não lhe interessavam.

Assim, tirava fotos de pessoas aleatórias, comuns. Sua gama de sujeitos era bem variada: jovens casais, prostitutas, empresários, mendigos banhistas na praia e uma miríade de personagens do cenário urbano nova-yorkino.

Seu trabalho retratava ora sentimentos individuais, ora o encontro de corpos.

Fez um grande número de fotos sensacionais de partes do corpo: mãos,pernas, faces e etc ... Interessante é que mesmo seus clicks de detalhes corporais são carregados de sentimentos, de expressividade! São mãos, pernas, faces e etc que falam por si próprios - ora balbuciando, ora urrando- , sempre nos contando suas histórias.

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Como descreveu um crítico: ao mesmo tempo que suas fotos são plácidas e harmoniosas, parece que soltam faíscas.

PS. Para alguém que ama fotografias de conteúdo humano e "vida de rua", foi extremamente difícil ter de escolher somente algumas para ilustrar este artigo. Então, caro Leitor, se gostou destas, pesquise por mais, pois há ruas e mais ruas de fotos maravilhosas !

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