quinta-feira, 12 de novembro de 2015

MANTIQUEIRA, A SERRA DAS SERRAS BRASILEIRAS

Paisagens marcantes do Brasil







Publicado por Profeta do Arauto,
semelhante a um lord Inglês, sentado confortavelmente numa cadeira reclinável, desfiando o fumo de rolo para encher o cachimbo e após tocar fogo nele, ter um ataque de inspiração insólita, para o bem ou para o mal e numa baforada anelada e monstruosa, tragar as quatro letras da palavra CAOS. Haja reflorestamento, celulose, folha de papel e tantos parágrafos para definir uma palavra miudinha, pequeninha, mas causadora de epicentros! Abalos sísmicos!

 

As planícies a perder de vista; os vales, fiordes e acentuadas ondulações demarcando as cumeadas dos espigões; exuberantes e longos planaltos; a vegetação rala e retorcida dos campos rupestres, da caatinga e dos serrados; as intransponíveis matas fechadas retratam porque o Brasil é ímpar em relevo e totalmente congruente em biodiversidade. Também puderas, com o gigantismo e a pujança territorial que possui, só podia dar em um Brasil com seus brasileirismos e quem o conhece, além de não esquecer, torna-se orgulhoso de dizer que é Brasileiro. Ratifico: quem o conhece, torna-se orgulhoso de dizer que é BRASILEIRO. E dispensa as bazófias dos pés de chinelo da elite ou não, que de brasileiro possui somente a nacionalidade no Registro Geral.

Com mais de 2700 m de altitude, o pico das Agulhas Negras já foi considerado o ponto mais alto do país.

Exceto a corrupção praticada pelos políticos com a conivência e aptidão da sociedade para coisas iguais e o amontoado de barracos que assolam os morros e várzeas alagadas, descolorindo a paisagem, o Brasil é número um em tudo; em relevo então, o recomendado é dizer não ao sedentarismo, à acomodação e a subalternidade impostas pelas máquinas e com os apetrechos nas costas e os olhos no horizonte, abrir o compasso das pernas para conferir o que o país tem de melhor. Do Oiapoque ao Chuí, da costa oceânica do Espírito Santo ao extremo do Acre, as diferenciações topográficas são os postais de apresentação. Se não é possível verificar in-loco, ao pegá-los nas mãos, as paisagens naturais falam por si. Embora desconhecidas dos Brasileiros, inexplicáveis maravilhas para ingleses, americanos, alemães, canadenses, suíços e nenhum outro, botar defeito.

Quem se desfazia das vaidades pelos maciços do pico das Agulhas Negras, era a princesa Isabel; que estando de papo para o ar, abrind´olhos para a imensidão das águas azuladas e límpidas das praias cariocas, não perdia a oportunidade de galopar o seu alazão marchador pelos patamares e bermas das encostas amorradas dos muitos rincões da serra. E após escalar a pedra do Sino, que faz parte do atual parque da serra Dos Órgãos, rumava em direção a serra da Bocaina, fazendo parada nos atuais municípios de Petrópolis e Teresópolis, pertencentes ao estado do Rio. Compensando a sua bravura de princesa aventureira, Petrópolis foi considerada a capital interiorana do império e habitat dos monarcas. Continuando a travessia, provida de um galope soberano e sem se entregar às palavras desanimadoras dos amigos e aos desalentos do mundo, a expedição desmontava as tralhas no pico das Agulhas Negras e imediações.

Maravilhada com tamanha beleza e deleitosa com o alívio pulmonar de poder respirar os ares do lugar e refrigerar-se com as temperaturas amenas parecidas às da Europa, a princesa impôs à Coroa a desapropriação das terras da região, tornando-as de interesse ambiental. A intimação foi plenamente deferida e com isto, estava criado o parque Nacional de Itatiaia, (que significa pedra pontuda) a primeira unidade de conservação do país. Pode soar estranho, mas a princesa de procedência portuguesa nutria profundo respeito pelas paradisíacas paisagens brasileiras e por vislumbrar horizontes muito além de seu tempo, a fazia mais brasileira, que os próprios nativos brasileiros.

No vasto complexo da Mantiqueira, muitas são as histórias, nada fantásticas que a região guarda. De seus profundos vales, grotões e elevados cumes, ilustres e honrados cidadãos e ternos filhos da Terra, desfraldaram a bandeira do país em territórios distantes. Para relatar os seus feitos, mesmo que superficialmente, seria preciso escrever um livro de crônicas históricas; entretanto, não custa nada citar Santos Dummont como o Brasileiro que deu asas às suas imaginações.

O mentor da aviação conseguiu transportar o bater de asas dos pássaros, em pesadas, ágeis e rápidas aves de prata e através delas, os continentes tornaram-se pequenos, miúdos e curtos. Dummont foi tão altivo, vistoso e elevado, como é a serra da Mantiqueira. Assim feito e uma vez que por lá vários intelectuais fincaram a bandeira da nossa cultura, o complexo serrano é dispêndio de suor para os aventureiros e o visto de entrada para inteirar-se sobre as peculiaridades da história e raízes do país. Ao se falar em história do Brasil, tudo foi principiado ou findado nos vilarejos da Mantiqueira.
  

Paisagem como esta, a Natureza brindou a Mantiqueira com miríades delas.



Humildemente, interessa-me apontar o porquê entendo que a serra Mantiqueira é a Serra, das serras brasileiras. Nascendo na divisa de três estados: Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, ela deixa para trás a serra da Bocaina e tafuia nos cumes e montes adentro até encontrar a serra do Espinhaço, que está aproximadamente 100 km de Belo Horizonte.

Pedindo licença aos deuses das alturas, a caminhada começa ou termina, em Passa Quatro. Reza a lenda que em algum ponto territorial deste município mineiro, os Bandeirantes em caçada aos tesouros, deram quatro voltas num mesmo ponto. Circulavam, circulavam e regressavam no mesmo ponto de origem. Como em tudo há os porquês, isso se deu porque não consultaram o GPS da época, que é uma espécie de cactos, cuja flor pontiaguda indica a posição Norte. Ainda hoje esta é a bússola dos escoteiros que não se perdem nos abismos e pináculos dos cumes.
Na parte alta de Passa Quatro, está o pico dos Três Estados, referência do início ou fim, da serra da Mantiqueira. Porém, para se chegar ao seu topo, o caminheiro terá que vencer muitos quilômetros serra-arriba, como diz o mineiro. A Mantiqueira é uma sequência de sobes e desces tão constantes, que faz esmorecer até o diabo; menos os peregrinos que na romaria do Caminho da fé, cruzam parte de sua extensão. Acima destes estão os pedaleiros que percorrendo a Estrada Real, percurso estimado em 800 km, atravessam toda a serra. É pedal para pedaleiro nenhum pedir carona; mesmo porque, nesses longos percursos, se não pedirem, dar carona é o que jamais ocorrerá: é o par de coxas/pernas para um e Deus para todos. Notei que o leitor ficou ensimesmado, e ao mesmo tempo tentando, com a aventura da Estrada Real. Que nada, não se sinta humilhado ou invejoso, você pode! Consulte a razão, renda favores aos seus algozes (patrão e familiares) de cada dia, confira o pulsar do coração e por fim, o médico cardiologista. E pau, poeira, pedregulho, bancos de praça, riachos; energia, grossas raízes, troncos e sombras de imensas copas de árvores, sorrisos, simplicidades, cachoeiras, carvão, liberdade, miragens, chuva, estalagens, equilíbrio, ação, felicidade, desgaste físico, horizontes, cidadelas, dormir com as galinhas, escassezes, ferrovias, estradas, pó, trinado de pássaros, trilhas, água fresca, fotografias, fome, sorte, luar, humildade, tapas na cara, despertar com o canto dos galos, sol escaldante, amizades incondicionais, mão na graxa, pés nos pedais! Tudo isto, é apenas o início. Vale a pena tentar. Simbora lá?

- Sinto muito, mas fico por aqui! Não vai dar pedal, não!

- Se não vai, eu sigo viagem! Assim como não vim de longe para enganar-me, nem o esvair de minhas forças, me fará ficar pelo meio do caminho. Caminhando ao encontro de meu eu, sinto-me um Jesus Cristo e como ele, adoro sofrer! Estou de bike, mas prometo para os deuses e fariseus que farei este mesmo percurso a pé carregando uma cruz.

A região mais conhecida e badalada da Mantiqueira é onde estão localizadas as quatro estâncias hidrominerais de Minas Gerais: Lambari, cidade homenagem a um dos menores peixes de água doce do país; São Lourenço que é a mais conhecida dentre todas; Caxambu, cidade aconchegante, tranquila e que dispõe de um teleférico para o visitante, sem o menor esforço, chegar ao Cristo e de lá, fazer as selfies contemplativas da vista panorâmica da cidade. E com menos intensidade e expressividade, Cambuquira completa o circuito das estâncias mineiras. Todavia, não é por isto que o andante deixará de encontrar uma boa prosa, hospitalidade e solidariedade para atendê-lo em qualquer paragem; o que os matutos e nativos fazem sorridentes 24 horas por dia.

Não muito longe dali, está São Tomé das Letras, carregando o estigma de cidade mística e ponto de encontro dos exotéricos. São muitas as lendas do lugar e para os aficionados em Ufologia, recomenda-se passar umas noitadas em claro e se tudo correr como o pregado pela crença local, ser abduzido por Extraterrestres. Fato que os residentes da cidade de Varginha, afirmam de pés-juntos e separados, também. Para comprovar aos descrentes a chegada dos Ovinis, em cada entrada da cidade há um ET (de Varginha, como dizem) espiando a cidade e os passos de andarilhos e intrusos; afinal, invadir espaço alheio, basta esses seres interplanetários. E caso desrespeitem esse único e sólido mandamento, sem deixar pistas, os misteriosos intergalácticos somem com o desavisado e indisciplinado caminheiro.



Pico do Papagaio que fica no município de Aiuruoca, que em tupi quer dizer: oca – casa; ajuru – papagaio.

E de parada em parada, estalagem em estalagem, chega-se às cidades históricas, patrimônio cultural da humanidade. Por lá estacionaram reis e rainhas; coronéis e súditos, ouro branco e Ouro Preto, que na era da caça ao tesouro, era chamada de Vila Rica e capital do país. Em Congonhas do Campo estão os 12 apóstolos, obra do mestre artesão-barroco Aleijadinho. Um pouco pra frente, está o rincão de Catas Altas. É lá que está assentada a RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Nacional – denominado parque Natural do Caraça e se não mudaram os costumes, em noites claras de lua cheia, pode-se ver os padres alimentando os lobos guarás. Mais detalhes, leia o artigo, cujo título é: “Artigo inócuo. Nem uma mísera gota de valor para um país perfeito”.

Sem divisa definida, o complexo da Mantiqueira finaliza, ou inicia sua lomba no encontro com a serra do Espinhaço. Para aqueles que primam pelo conhecimento, devido as variações nos nomes das serras em diferentes pontos geográficos ao longo do percurso, considerei como sendo Mantiqueira todo o complexo montanhoso parcialmente descrito. De uma forma ou outra, que me perdoe as demais e àquelas que nela incluí; mas o complexo montanhoso por mim denominado serra da Mantiqueira é extravagantemente belo e abençoado pela indescritível Natureza nos mais de 350 km de percurso!
PS.: a serra da Mantiqueira é tão venerada por quem a conhece, que o nome da banda paulista de jazz e ritmos afins foi inspirada nela, e o resultado só poderia ser décadas e mais décadas na estrada fazendo um potente instrumental/jazzístico. Bela sacada dos precursores da banda, porque viajar pelas ricas e bucólicas paisagens serranas, ouvindo a banda Mantiqueira é inspiração para a alma e sossego para a mente.
Nota: o rincão de Visconde de Mauá, o qual foi retratado em um pequeno artigo, faz parte da serra da Mantiqueira. Se não leu, está disponível para uma boa leitura!

Fotos pertencentes ao autor do artigo



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