Colaboração Fernando
Alcoforado*
Modernamente,
os países democráticos estruturam seus governos com base nos sistemas
presidencialista e parlamentarista. No sistema presidencialista, no regime
republicano, como ocorre no Brasil, o presidente eleito recebe mandato popular
para governar durante um determinado período de tempo enquanto, no sistema
parlamentarista, nos regimes republicano ou monárquico, o partido majoritário
no Parlamento é incumbido de escolher o primeiro-ministro, estruturar a maioria
parlamentar necessária para governar e montar seu gabinete. Se o partido
majoritário não conseguir compor um novo governo, seriam realizadas novas
eleições parlamentares. No sistema presidencialista, pode acontecer o
presidente eleito governar sem possuir a maioria parlamentar necessária, fato este
que se constitui em fator de instabilidade política de difícil superação como
vem ocorrendo no Brasil há muitos anos e, particularmente na conjuntura atual.
Diferentemente
do sistema parlamentarista que possibilita a substituição do governo em
exercício por outro em momentos de crise política, o sistema presidencialista
dificulta este tipo de solução haja vista que o presidente eleito só pode ser
apeado do poder legalmente durante seu mandato em caso de crime de
responsabilidade ou pela força através de golpe de estado. No Brasil, a
presidente da República Dilma Rousseff exerceu seu primeiro mandato sem contar
com a maioria parlamentar para governar. Devido a este fato, Dilma Rousseff
teve que fazer imensas concessões aos partidos aliados de seu partido, o PT, em
termos de cargos comissionados no governo que já ultrapassam 20 mil, bem como
com a constituição de ministérios desnecessários que alcançou 39 em sua gestão.
Dilma
Rousseff foi reeleita sem contar com o apoio da maioria da nação haja vista que
cerca de 60% do eleitorado não votou nela e seu partido, o PT, não obteve a
maioria parlamentar necessária para governar. No momento atual, Dilma Rousseff,
desgastada com o medíocre desempenho de seu governo, só conta com o apoio de 7%
da população brasileira e não reúne liderança política para promover, no
parlamento, a composição de uma maioria com os partidos aliados. Enquanto o
sistema político brasileiro está engessado com um presidencialismo ineficaz
como o atual, incapaz de ordenar a vida da nação brasileira em novas bases, a
crise econômica se agrava a cada dia que se passa cujos resultados estão aí:
crescimento econômico negativo, inflação descontrolada, desequilíbrios
externos, desemprego em massa e, também, quebradeira generalizada das empresas.
Na superação
da crise econômica atual, o obstáculo representado pelo sistema político
presidencialista em vigor soma-se à incompetência política e administrativa de
Dilma Rousseff no exercício da presidência da República. A dificuldade de
assegurar a governabilidade da nação brasileira nos marcos do presidencialismo
faz com que surjam proposições e ações de natureza golpista para apear pela
força os atuais detentores do poder. É evidente que, se existisse o
parlamentarismo no Brasil, seria mais fácil sair do impasse atual com a
substituição de um Congresso Nacional dirigido por corruptos e um governo
corrupto e incompetente como o atual com a convocação de novas eleições
parlamentares. O impasse institucional em que vive a nação brasileira coloca em
xeque o futuro do Brasil cuja solução não virá em curto prazo. A crise
econômica e a crise político-institucional, somadas, estão arruinando grande
parte das famílias, das 2 empresas e o próprio País que poderão levar à
insatisfação de amplos setores sociais e criar uma situação caracterizada pelo
caos econômico e social que só poderia ser solucionada por um governo central
forte, isto é, com a implantação de um sistema ditatorial que precisa ser
evitado a todo custo.
No Brasil,
nos defrontamos com uma flagrante desmoralização de suas instituições
políticas, haja vista termos um presidencialismo de coalizão que passou a
existir a partir da Assembleia Constituinte de 1988 e demonstra ser incapaz de
solucionar a grave crise política em que vive o Brasil. A democracia representativa
no Brasil manifesta sinais claros de esgotamento não apenas pelos escândalos de
corrupção nos poderes da República, mas, sobretudo, ao desestimular a
participação popular, reduzindo a atividade política a processos eleitorais que
se repetem periodicamente em que o povo elege seus representantes os quais, com
poucas exceções, após as eleições passam a defender interesses de grupos
econômicos em contraposição aos interesses daqueles que os elegeram.
O sistema
democrático representativo vigente no Brasil é, na verdade, uma democracia
apenas para os ricos e corruptos como ficou demonstrado nos casos do “mensalão”
e da Operação Lava Jato. Neste sistema, as eleições são uma farsa porque são
controladas pelos detentores do capital que fazem com que vençam
majoritariamente os candidatos a serviço das grandes empresas. Trata-se de um
jogo de cartas marcadas porque os grupos econômicos nacionais e internacionais
impulsionam os grandes partidos financiando suas eleições milionárias. Empresas
e bancos elegem suas “bancadas” nos diversos níveis do poder legislativo que
aprovam leis em favor dos poderosos na base da compra de votos e dos “lobbies”,
e ainda faturam contratos milionários do Estado.
Quando se
analisa o caso do “mensalão” e da Operação Lava Jato, a maioria das pessoas
atribui este fato a desvios de conduta política do ponto de vista ético que
resultam da ambição humana pelo dinheiro e pelo poder que, se forem devidamente
punidos seus responsáveis, tal fato não se repetiria. No entanto, a punição dos
“mensaleiros” pelo Supremo Tribunal Federal não foi suficiente para evitar sua
repetição com a roubalheira ocorrida na Petrobras constatada pela Operação Lava
Jato. Novos “mensalões” poderão ocorrer no futuro porque sua principal causa
diz respeito à necessidade dos detentores do Poder Executivo de constituir a
maioria necessária no Parlamento a fim de obter a governabilidade, isto é,
evitar a paralisia da ação governamental se o poder central não obtém a maioria
parlamentar visando a aprovação dos projetos de seu interesse. Enquanto existir
a atual Constituição, há grande possibilidade de haver novos “mensalões” e
roubalheiras como a da Petrobras.
A corrupção
política faz parte da estrutura do capitalismo brasileiro. Não que a corrupção
tenha surgido e seja exclusividade do capitalismo, mas é um coadjuvante
importante para a sustentação deste. Com certeza, para que o capitalismo possa
se desenvolver plenamente precisa mais da corrupção do que da competição no
denominado "livre mercado". Os ladrões de colarinhos brancos são dos
mais diferentes tipos. Alguns são burgueses ou pequeno-burgueses e outros são
oriundos de camadas sociais mais baixas que veem em suas participações nos
governos um meio de aumentarem seus patrimônios pessoais. Os problemas econômicos
do País e a corrupção endêmica presente em todas as instâncias do governo só
serão superados com a adoção das medidas seguintes: 1) o impeachment de Dilma
Rousseff e Michel Temer por serem ambos responsáveis pelo descalabro político e
administrativo do Brasil; 2) a cassação do mandato dos corruptos presidentes da
Câmara dos Deputados e do Senado Federal; 3)constituição de um governo
provisório composto por pessoas competentes e de moral ilibada que teria a
responsabilidade de convocar uma nova Assembleia Constituinte para promover a
reforma do Estado e da Administração Pública em novas bases; 4) o banimento de
partidos políticos e parlamentares comprometidos com a corrupção; 5) a formação
de novos partidos políticos após a nova Constituinte; e, 6) a convocação de
novas eleições gerais no País.
A Assembléia
Constituinte a ser convocada pelo governo provisório deveria instituir o
parlamentarismo como sistema de governo e criar mecanismos que possibilitem à
população: 1) exercer a democracia direta nas decisões de grande relevância
tomadas pelos Poderes Executivos e Parlamento nos níveis federal, estadual e
municipal aprovando ou rejeitando através de plebiscito ou referendo, e; 2)
exercer o controle dos eleitos para os Poderes Executivo e Legislativo acionando
os mecanismos institucionais necessários à punição daqueles que eventualmente
tenham traído os interesses do eleitorado se pronunciando sobre sua cassação ou
não através de plebiscito, entre outras medidas. A Assembléia Constituinte
deveria decidir, também, pelo fim do Senado Federal com a institucionalização
do sistema unicameral e a redução do número de parlamentares e de suas
mordomias nos parlamentos federal, estadual e municipal, entre outras medidas.
Fernando Alcoforado,
75, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento
Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona,
professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico,
planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas
energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997),
De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São
Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os
condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado.
Universidade de Barcelona, http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003),
Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia-
Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era
Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic
and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento
Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010),
Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os
Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV,
Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no BrasilEnergia e Mudança Climática
Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015).
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