Continente africano
Luanda é a capital e a maior cidade de Angola.
Localizada na costa do Oceano Atlântico, é também o principal porto e centro económico do país. Constitui um município
subdividido em 13 distritos urbanosm e é também a capital da província homónima.
Foi fundada a 25 de janeiro de 1576 pelo fidalgo e explorador português Paulo Dias de Novais, sob o nome de São Paulo da Assunção
de Loanda, conta com uma população de aproximadamente 8.3 milhões de habitantes, o que a torna a terceira mais populosa
cidade lusófona do mundo, atrás apenas de São Paulo e Rio de Janeiro, ambas no Brasil —
e, efetivamente, a mais populosa capital lusófona do mundo, à frente das demais, incluindo Maputo, Brasília e Lisboa.
As indústrias presentes na cidade incluem
as de transformação de produtos agrícolas, produção de bebidas, têxteis, cimento, recentemente fábricas de montagem de carros,
materiais de construção, plásticos, metalurgia, cigarros e sapatos. O petróleo, extraído nas imediações, é refinado na cidade,
embora a refinaria tenha sido várias vezes danificada
durante a guerra civil que assolou o país entre os anos
de 1975 e 2002.
Luanda possui um excelente porto natural, sendo as principais exportações
o café, algodão, açúcar, diamantes, ferro, sal, cobre, ouro, trigo e milho.
Os habitantes de Luanda são, na sua maioria,
membros de grupos étnicos, principalmente o dos ambundu, mas nas últimas décadas cada vez mais também dos bakongo e dos ovimbundu. Existe uma população de origem europeia, constituída principalmente por portugueses estimada em cerca de 400.000 pessoas e uma
importante comunidade chinesa estimada em 67.000. A língua oficial e
a mais falada é o português, sendo também faladas várias línguas
africanas. Luanda foi a principal cidade a acolher os jogos do Campeonato Africano das Nações 2010.
A cidade ganha o nome através da sua ilha (Ilha de Luanda), local onde os primeiros colonos portugueses se
radicaram. O topónimo Luanda provém do étimo lu-ndandu.
O prefixo lu, primitivamente uma das formas do plural nas línguas bantu, é comum nos nomes de zonas do litoral, de bacias
de rios ou de regiões alagadas (exemplos: Luena, Lucala, Lobito) e,
neste caso, refere-se à restinga rodeada pelo mar. Ndandu significa valor ou objeto
de comércio e alude à exploração dos pequenos búzios colhidos
na ilha de Luanda e que constituíam a moeda corrente
no antigo Reino do Kongo e em grande parte da costa ocidental
africana, conhecidos por zimbo ou njimbo.
Como os povos ambundos moldavam a pronúncia da toponímia das várias
regiões ao seu modo de falar, eliminando alguns sons quando estes não alteravam
o significado do vocábulo, de Lu-ndandu passou-se a Lu-andu.
O vocábulo, no processo de aportuguesamento, passou a ser feminino, uma vez que
se referia a uma ilha, e resultou em Luanda.
Outras das versão para a origem do nome referem que
o mesmo deriva de "Axiluandas" (homens do mar), nome dado pelos portugueses aos habitantes da Ilha, porque quando aí
chegaram e os perguntavam o que estavam a fazer, estes responderam
"uwanda", um vocábulo que em kikongo, designava trabalhar com redes de pesca .
Paulo Dias de Novais, o primeiro
capitão-governador de Angola
Quando os portugueses chegaram à região onde hoje
se localiza a cidade de Luanda, esta era parte integrante do reino do Ndongo, vassalo do reino do Kongo, e era especialmente importante por ser uma zona
produtora de zimbo, uma pequena concha com valor fiduciário.
Respondendo a um pedido de envio de missionários
feito aos portugueses pelo rei Ndambi a Ngola do Ndongo em
1557, no dia 22 de dezembro de 1559 zarparam
de Lisboa três
navios com um emissário do rei de Portugal, Paulo Dias de Novais, e dois padres jesuítas, Francisco de Gouveia e Agostinho de Lacerda.
Chegados à barra do Kwanza no dia 3 de Maio de 1560, a missão
portuguesa foi recebida com hostilidade e desconfiança pelo novo rei do
Ndongo, Ngola Kiluanje kia Ndambi, que os encarou como agentes do rei do Kongo,
mandando-os aprisionar. Mais tarde, com a promessa de conseguir apoio
diplomático e militar português, Paulo Dias de Novais teve permissão para
regressar a Portugal.
Nova marginal de Luanda
Na sua segunda viagem a esta região, Paulo Dias de
Novais partiu de Lisboa no dia 23 de setembro de 1574,
acompanhado por mais dois padres da Companhia de Jesus, tendo chegado à Ilha de Luanda em fevereiro de 1575,
aportando com dois galeões, duas caravelas, dois patachos e uma galeota
[10] . Aí estabeleceu o primeiro núcleo de colonos
portugueses: cerca de 700 pessoas, onde se encontravam religiosos, mercadores e
funcionários, bem como 350 homens de armas.
A Ilha de Luanda num
mapa de Gerardo Mercator (ca. 1630).
A Ngola Kiluanje kia Ndambi tinha entretanto
sucedido Njinga Ngola Kilombo kia Kasenda, discípulo do padre Francisco de Gouveia
que, na sua estadia forçada de dezena e meia de anos, tinha aproveitado para
fazer a sua ação evangelizadora entre os angolanos. No dia 29 de junho de1575,
Paulo Dias de Novais recebeu uma comitiva enviada pelo angola para
saudá-lo.
Reconhecendo não ser a ilha de Luanda o lugar mais
adequado, avançou para terra firme e fundou a vila de São Paulo de Loanda
em 25 de janeiro de 1576,
tendo lançado a primeira pedra para a edificação da igreja dedicada a São Sebastião — santo de grande devoção dos
portugueses e patrono onomástico do rei de Portugal[9] —, no lugar onde é hoje o Museu das Forças Armadas.
A escolha do novo local para a vila foi
influenciada sobremaneira pela existência de um magnífico porto natural, situado numa baía protegida
por uma ilha; de uma fonte de água potável, as águas do poço da Maianga na (então) lagoa dos
Elefantes; e das excelentes condições de defesa oferecidas pelo morro de São
Paulo, após a reconquista do lugar aos holandeses designado por morro de São
Miguel, após a dedicação do forte que aí existe a
São Miguel, santo da devoção de Salvador Correia de Sá[12] . A sua população constituída pela comitiva
de Paulo Dias de Novais, composta por sapateiros, alfaiates, pedreiros,
cabouqueiros, taipeiros, um físico e um barbeiro, tiveram dificuldades de
adaptação à inclemência do clima e à carência de condições para a fixação. No
entanto, a vila expandiu-se para a "Cidade Alta", na continuação do
morro de São Paulo, onde se construíram as instalações para a administração
civil e religiosa. Os soldados e os mercadores de escravos viviam na
"Cidade Baixa", na área atual dos Coqueiros.
A História Geral das Guerras Angolanas de
Cadornega, escrito em Luanda em 1680.
Em 1580, chegaram a Luanda dois missionários
jesuítas, em 1584 outros dois e, em 1593, mais quatro. Apesar das naturais
dificuldades encontradas, as primeiras tentativas da evangelização deram resultados apreciáveis, ao ponto
de, em 1590, já se dizer que haver aqui cerca de vinte mil cristãos.
No dia 1 de Agosto de 1594, chegou a Luanda um novo
governador, João Furtado de Mendonça, que vinha substituir D. Francisco de Almeida e
seu irmão D. Jerónimo. Fazia-se acompanhar por doze raparigas
órfãs, educadas em Lisboa no recolhimento sustentado pela Misericórdia. A
maior parte dos autores vê nestas raparigas as primeiras mulheres brancas que
vieram para Luanda. Todas elas casaram com colonos aqui radicados.
Durante este tempo, a economia da cidade assentava
exclusivamente no comércio de escravos, proporcionando avultados lucros e um
elevado nível de vida. Esta abundância reflete-se em muitos aspectos da vida da
cidade, por exemplo, nas festas levadas a efeito em 1620 para comemorar a beatificação de São Francisco Xavier. O custo da comédia pastoril representada e
do fogo-de-artifício que se queimou, atingiu a soma de 3
mil cruzados, uma verba considerada exorbitante na época.
No entanto, nem tudo foram gastos sumptuosos nesta
época. Em 1605, com o aumento da população europeia e do número de edificações,
que se estendiam já de São Miguel ao largo fronteiro do atual Hospital Josina Machel, a vila de São Paulo de Luanda recebeu foral de cidade,
sendo constituída a primeira vereação municipal. Nesta época ergueram-se, na parte alta, as
igrejas da Misericórdia, em 1576; a Sé Episcopal, em 1583, no local onde atualmente
funciona Casa Militar da Presidência da República[; bem como a igreja dos Jesuítas, em 1593; o Convento de São José, em 1604, no
local onde hoje se ergue o hospital; o
palácio do governador, em 1607; e da Casa da Câmara, em 1623, onde, mais tarde,
funcionou o Tribunal da Relação de Luanda.
Luanda tornou-se a partir de 1627 o centro
administrativo da região - que se começou a chamar de Angola, mas cuja dimensão
era muito limitada. Para a defender foi construída a Fortaleza de São Pedro da Barra, em 1618, e
a Fortaleza de São Miguel de Luanda, em 1634.
Isto, no entanto, não evitou a sua conquista pelos holandeses e o domínio da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais, entre 1641 e 1648.
Salvador Correia de Sá e Benevides
A tomada de Luanda pelos holandeses a 25 de Agosto
de 1641 teve como consequência a brusca interrupção do fornecimento de escravos ao
Brasil. A braços com uma longa guerra com a Espanha, a metrópole portuguesa era incapaz de pôr
cobro à situação. Coube, pois, aos próprios governantes locais brasileiros,
apoiados pela coroa portuguesa, a organização de uma expedição a Angola.
Uma primeira tentativa de reconquistar Angola foi
chefiada pelo governador do Rio de Janeiro Francisco de Souto-Maior à frente de uma expedição constituída
por oito navios e 500 soldados, incluindo dezenas de índios. Apesar de a expedição não ter alcançado o
resultado esperado — tendo perecido o próprio Souto-Maior, bem como parte
significativa dos soldados, esquartejados e devorados pelos jagas,
tribo canibal aliada dos holandeses — o facto de
terem logrado trazer para o Rio dois mil escravos, deu novo alento aos donos de engenho, que se entusiasmaram com uma nova
expedição.
Dois anos mais tarde, nova esquadra de 15 navios atravessou
o Atlântico Sul rumo a Luanda. A expedição, capitaneada
pelo novo governador do Rio, Salvador Correia de Sá e Benevides, deixou a Baía de Guanabara no dia 12 de Maio de 1648,
reunindo entre 1400 e 1500 homens, segundo o historiador Charles Ralph Boxer, entre portugueses, brasileiros e angolanos
refugiados. A esquadra aproximou-se da capital angolana no dia 12 de Agosto, tendo encontrado a cidade protegida por apenas
250 holandeses nos Forte do Morro e da Guia, já que o grosso da guarnição,
comandada pelo holandês Symon Pieterszoon, se encontrava em Massangano, combatendo os portugueses com os jagas[14] .
Vista atual da Fortaleza de São Miguel de Luanda.
Apesar de nos recontros de Luanda terem perecido
150 portugueses, contra apenas três mortos e oito feridos do lado holandês, a
expedição logrou infligir um golpe fatal aos holandeses, destruindo as
suas peças de artilharia, vitais para a sustentação da defesa.
Perante isso, o administrador holandês Cornelis Hendrikszoon Ouman pediu a paz.
Nos termos da rendição ficou acordado que deixariam
Luanda e os postos avançados no Kwanza e
em Benguela, mas levando consigo os escravos que eram
propriedade da companhia holandesa. Regressado de Massangano, Pieterszoon
aceitou a rendição, mas não sem antes distribuir amplamente armas entre os
jagas, para que pudessem oferecer resistência aos colonizadores.
Na sequência da vitória, Salvador de Sá assumiu
o governo de Angola,
rebatizando o Forte do Morro de Forte de São Miguel, em homenagem ao patrono da
expedição vinda do Brasil. A cidade de São Paulo de Luanda foi rebatizada para
São Paulo de Nossa Senhora da Assunção, alegadamente por "Luanda"
fazer lembrar "Holanda", sendo por isso mal visto. A escolha da
invocação deveu-se à cidade ter sido conquistada no dia da festa de Nossa Senhora da Assunção . Imediatamente os navios negreiros embarcaram em direção ao Brasil com sete mil
escravos apinhados nos porões. Estava restabelecido assim o tráfico de escravos para o Brasil.
Planta de São Paulo da Assunção de Luanda
(1665).
Quando os holandeses foram expulsos por Salvador
Correia de Sá e Benevides, Luanda encontrava-se, segundo António de Oliveira de Cadornega, praticamente destruída, com igrejas e casas sem tetos
e sem portas, tendo a maioria dos seus antigos habitantes sido dizimada ou se
posto em fuga. Em carta que o Senado da Câmara dirigiu ao rei nos princípios de
1665, informava-se que a população branca de Luanda se resumia a 132
indivíduos.
Para aumentar a população, a Provisão Real de 23 de
Outubro de 1660 isentava os moradores de Luanda de comparticiparem nas guerras
do sertão e, em 4 de Maio de 1675, foi proposta ao Conselho Ultramarino a vinda
de pessoas sob a alçada da lei, com exclusão apenas daquelas sobre as quais
recaíssem penas capitais.[8]
Houve, no entanto, tentativas para reanimar a
cidade. Logo em 1651 foi construída a atual Sé Argui-episcopado e, em 1664,
a Igreja da Nazaré,
começando-se também a delinear a parte baixa da cidade, na zona onde já existia
um mercado, conhecido por Quitanda Pequena, no local mais tarde ocupado pela
Rua de Salvador Correia, hoje Rua da Rainha Ginga. Na parte alta, foi
construído o hospício de Santo António, em 1668 – onde presentemente se
encontra o jardim público, em frente ao Palácio do Governo – e a Igreja do Carmo, em
1661, marcando o início da urbanização da Ingombota.
Mas a cidade e a província permaneceram num estado
de quase letargia por cerca de um século, só se alterando claramente em 1764,
quando ascendeu à suprema magistratura de Angola um dos mais qualificados
representantes da administração pombalina: D. Francisco Inocêncio de Sousa Coutinho.
Vista de Luanda em 1755
Luanda em 1883.
Enquanto apenas um quinto de suas importações eram
originadas de Portugal, os outros quatro quintos eram com o Brasil. O
equilíbrio na balança comercial era mantido com o intenso contrabando de
escravos.
A cidade limitava-se a funções militares,
administrativas e de redistribuição. A indústria era praticamente inexistente e
a instrução pública pouco evoluída[16] .
Em 1847,
incluindo os edifícios públicos, a cidade contava com 144 casas com primeiro
andar, 275 casas térreas e 1058 cubatas (cabanas de indígenas). Cidade de degredados,
com cerca de cinco mil habitantes, possuía perto de cem tabernas, pelo que os
viajantes a qualificavam como de moralidade duvidosa.
Em 1889, o governador Brito Capelo inaugurou um aqueduto que forneceu a cidade de água potável,
anteriormente escassa, abrindo caminho para o grande crescimento de Luanda. Em
1872 Luanda recebeu o etnónimo de "Paris da África".
A partir de 1928, com o regime de exceção em
Portugal, Luanda passa a ser mais utilizada como colónia penal. Nos primeiros
anos do salazarismo, a população europeia da cidade era composta
por condenados de delito comum e outros, utilizando uniformes de sarja azul
escura com a inscrição D.D.A. em branco no peito e nas costas (Depósitos dos
Degredados de Angola era como se chamavam as prisões e fortalezas de
São Miguel e da Barra, onde permaneciam depositados os deportados e presos políticos
em Luanda).
Foi feita Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e
Mérito a 17 de Novembro
de 1938.
Luanda é a maior e a mais densamente habitada
cidade de Angola. Inicialmente projetada para uma população a rondar nos 500
mil habitantes, é hoje uma cidade sobre habitada. Segundo
os últimos estudos, vivem atualmente em Luanda mais de 8 milhões de habitantes.
Panorama da Baía de Luanda em 2008
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