Curiosidade: mistério da natureza
Melissa
HogenboomBBC Earth
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Aves
são criaturas que raramente se afogam, mas a possibilidade existe. Um exemplo
desse risco é quando um filhote pousa em águas profundas e tem suas penas
molhadas.
Nos
últimos cem anos, pesquisadores monitoraram os movimentos de mais de 800 mil
pássaros. O afogamento foi a causa da morte de 2.901 deles – ou seja, menos de
1%.
Porém,
relatos separados de filhotes de estorninhos se afogando em grupos despertaram
o interesse da veterinária Becki Lawson, da Sociedade Zoológica de Londres
(ZSL, na sigla em inglês).
A
partir de descrições feitas por pessoas que testemunharam os ocorridos, Lawson
e seus colegas identificaram 12 afogamentos coletivos de estorninhos na
Inglaterra e no País de Gales ao longo dos últimos 20 anos.
“Em todas as histórias, as pessoas encontravam
os passarinhos mortos em seus jardins, sempre afogados – em lagos, poças,
fontes, piscinas e até em baldes cheios de água”, conta a pesquisadora.
Todos
os relatos indicaram que os pássaros eram filhotes e morreram poucos meses
depois de seu nascimento, nos meses de maio ou junho. Em quase todos os casos,
com exceção de dois, dez ou mais animais foram encontrados afogados juntos.
Hábitos gregários
Quando
muitas aves morrem ao mesmo tempo, a culpa normalmente é da poluição ou de
alguma doença. Mas esses animais afogados claramente eram saudáveis.
Portanto,
alguma outra coisa deveria estar por trás do mistério.
Lawson
quis saber se havia algo específico nos estorninhos que os torna mais
suscetíveis a afogamentos e se concentrou em saber por que tantos pássaros
seguiam um deles no caminho para a morte.
Estorninhos
sempre vivem em bandos e são famosos por suas belas revoadas, quando centenas
de milhares deles se alçam juntos ao céu.
Essa
mentalidade de grupo começa cedo e pode ser um dos motivos principais para essa
morte coletiva por afogamento.
“Os
estorninhos são uma espécie gregária”, explica Lawson. “Eles voam, se alimentam
e se banham juntos. Isso pode explicar, em parte, por que eles se afogam em
grupos.”
Os
mais jovens são claramente menos experientes. Por isso, se um cai na água, os
outros podem segui-lo sem ver para onde estão indo.
'Como adolescentes'
Para
testar a tese, a equipe de Lawson comparou incidentes de afogamento dos
estorninhos com o do melro-preto, de comportamento mais solitário.
“Os
estorninhos parecem se afogar com mais frequência do que o melro-preto”,
explica outro pesquisador do projeto, Rob Robinson, da Sociedade Britânica de
Ornitologia (BTO, na sigla em inglês).
“A
principal diferença é que eles se deslocam em grandes bandos. Os mais jovens,
particularmente, ficam perambulando pelos bosques e campos, um pouco como os
adolescentes.”
Se
um estorninho voa para um lago ou para uma fonte para tentar aplacar sua sede,
eles todos se aglomeram e ficam no caminho uns dos outros. “Achamos que é essa
natureza de andar em bando que os predispõe a esses acidentes”, afirma
Robinson.
Enquanto
o afogamento parece ser acidental, as causas exatas continuam sendo um
mistério.
Apesar
de o estorninho ser um dos passarinhos mais comuns da Grã-Bretanha, sua
população caiu 79% nos últimos 25 anos, segundo a BTO.
A
Sociedade Protetora das Aves britânica incluiu a espécie na lista de
“preservação preocupante”.
Os
misteriosos afogamentos não são frequentes ao ponto de oferecer uma ameaça
adicional às espécies. Mesmo assim, os pesquisadores pedem que o público envie
qualquer novo exemplo de incidente parecido para o site da organização na
Grã-Bretanha.
Leia a versão original desta reportagem em inglês no site BBC Earth.
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