Curiosidade
David
RobsonDa BBC Future
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Basta
dar uma volta na rua para notar o estranho fenômeno da versão canina de seu
dono.
Seja um hispter barbado
acompanhado de uma pequena bola de pelos que parece frequentar o mesmo barbeiro,
ou um fortão carregando um buldogue: por que as pessoas escolhem cães que se
parecem com elas?
Estranhamente,
a resposta para isso parece ter um inesperado paralelo com a maneira como
escolhemos nossos outros parceiros de vida.
O
psicólogo Michael Roy, da Universidade da Califórnia em San Diego, foi um dos
primeiros a testar a ideia. Ele frequentou três parques e fotografou os cães e
seus donos separadamente. Depois pediu para um grupo de voluntários adivinhar
os pares corretos.
Apesar
de não receberem qualquer outra pista, os participantes conseguiram emparelhar
as fotos com bastante precisão. E é importante notar que a semelhança nem
sempre é tão aparente, mas sim sutil.
Relação com o sexo oposto
Roy
admite que os resultados só se mantêm para o caso de cães de pura raça (não
vira-latas), e muitas vezes se baseiam em semelhanças superficiais, como a
forma do corpo. Ainda assim, outras semelhanças surgem em aspectos mais sutis,
como os formatos dos olhos.
Talvez
isso tenha a ver com o apelo da familiaridade: um cachorro pode parecer mais
reconfortante se ele lembrar outras pessoas da família, a quem conhecemos e amamos.
Mas
alguns psicólogos acreditam que pode ser resultado da maneira como evoluímos
para encontramos parceiros do sexo oposto: namorar alguém que se parece conosco
pode garantir que os genes daquela pessoa sejam compatíveis com os nossos.
Por
causa dessa tendência, é possível que estejamos escolhendo animais de estimação
e até pertences materiais que se pareçam conosco.
Mas
nosso narcisismo não é superficial: não escolhemos apenas as pessoas que tenham
uma aparência semelhante à nossa, mas também costumamos gravitar em trono de
indivíduos com personalidades parecidas. Traços em comum costumam predizer a
satisfação de um casal com a sua união.
Há
alguns anos, Borbala Turcsan, da Universidade Eotvos, em Budapeste, na Hungria,
decidiu testar se o mesmo vale para os relacionamentos entre pessoas e suas
almas-gêmeas caninas.
“O
relacionamento com um cão é muito especial. Não se trata apenas de um animal de
estimação, mas sim de um membro da família, um amigo, um acompanhante. Por isso
acredito que exista esse paralelo com outros relacionamentos entre humanos”,
explica a cientista.
Personalidades caninas
A
própria ideia de que os cães têm uma personalidade pode parecer estranha para
algumas pessoas, mas experiências anteriores demonstraram que características
humanas como a extroversão podem corresponder a medições objetivas do
comportamento de um cachorro – como, por exemplo, se ele é agressivo com
estranhos ou se são mais tímidos.
Existe
até uma versão canina do questionário tradicionalmente usado para medir as mais
importantes dimensões da personalidade humana: neuroticismo, extroversão,
consicenciosidade, afabilidade e abertura. Para aplicar isso aos cães, os
especialistas exploram comportamentos, como a “tendência a ser preguiçoso” ou
“tendência a ser desligado”.
Turcsan
descobriu que cães e seus donos tendem a apresentar perfis de personalidade
similares. “A semelhança foi até maior do que vemos entre casais ou amigos”,
destaca.
A
correlação não pode ser explicada pelo tempo de convivência entre cachorros e
seus donos. Portanto, não parece ser o caso de o cão ter aprendido a mimetizar
seu dono.
Parece
ser uma decisão sábia escolher animais compatíveis conosco. Afinal, um cão pode
viver mais do que um casamento, segundo as estatísticas de divórcio.
É
interessante refletir sobre como essas relações surgiram. O homem começou a
domesticar cães há pelo menos 30 mil anos, com o objetivo de usá-los em
caçadas. Mas, aos poucos, fizemos essas criaturas à nossa imagem e semelhança,
permitindo o surgimento de uma forte relação emocional, que muitas vezes
transpassa as fronteiras naturais entre as duas espécies.
Hoje,
muitos cães se parecem conosco, agem como nós e, ao contrário de outros
humanos, sempre oferecem seus sentimentos recíprocos. Em muitos aspectos, eles
são até um reflexo melhor da nossa verdadeira natureza. Não é de se espantar
que esses animais sejam considerados o melhor amigo do homem.
Leia a versão original desta reportagem em inglês no site da BBC Future
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