Operação Lava-Jato
Processo contra presidente da Casa volta a
ser analisado nesta terça no Conselho de Ética
Após caso de senador, deputados dizem querer
mostram que agem contra a corrupção.
El País – O Jornal Global
Cunha
durante coletiva de imprensa nesta segunda-feira. / EVARISTO SA (AFP)
A prisão
do senador Delcídio do Amaral (PT-MS) provocou um efeito inesperado
na Câmara dos Deputados: o de aumentar a pressão para que Eduardo Cunha (PMDB-RJ) se afaste da presidência da Casa.
Duas seriam as motivações dos que querem vê-lo longe da cadeira. Os
oposicionistas entendem que ele não tem mais condições de coordenar a abertura
de um processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff (PT). Já os governistas
avaliam que a manutenção de Cunha no cargo trava qualquer votação de interesse
da gestão petista, ainda mais levando em conta que ele é autodeclarado um
opositor dela. Os dois lados dizem que é preciso mostrar que o Legislativo age
contra a corrupção.
“Se o Senado
resolveu o seu problema em 24 horas e manteve um senador preso, por qual razão
demoramos tanto para resolvermos nosso maior problema, que é o caso do Cunha?”,
afirmou o deputado Júlio Delgado (PSB-MG), um dos sete membros do Conselho de
Ética ouvidos pelo EL PAÍS. Desde meados de junho só aumentam as suspeitas e
evidências contra o presidente da Câmara. Ele é suspeito de receber propina de
membros do cartel que agia na Petrobras, de esconder dinheiro em contas na
Suíça e, agora, de ter recebido 45 milhões de dólares para ajudar o banco BTG Pactual na aprovação de uma emenda parlamentar que
ajudaria a instituição financeira. Ele nega todas as acusações. Sobre a última,
disse que se trata de uma armação.
Na tarde desta terça-feira, o Conselho de Ética voltará a se reunir para
discutir se o processo de cassação contra Cunha avança ou se é engavetado. Ele
foi denunciado por quebra de decoro parlamentar por mentir na CPI da Petrobras ao dizer que não possuía contas bancárias no exterior. A leitura
do relatório favorável à continuidade do processo ocorreu na semana passada e,
antes de ser votado, teve um pedido de vistas (adiamento de prazo),
elaborado pela tropa de choque de Cunha no conselho.
Nas últimas semanas, parte dos 21 membros do colegiado que julgará Cunha passaram
horas fazendo contas. A cada nova notícia citando o nome do peemedebista o
cálculo era refeito. Até terça-feira passada, a estimativa era que houvesse dez
votos a favor do andamento do processo e o mesmo número contra. Caberia ao
presidente do conselho, José Carlos Araújo (PSD-BA), dar o voto de minerva.
Depois da prisão de Delcídio e da acusação de que Cunha teria recebido 45
milhões de reais do banqueiro André Esteves, este implicado na mesma trama que
o senador, a contagem mudou. Alguns dizem que será 12 a 8. Outros, 13 a 7, tudo
a favor da continuidade do processo.
“Se tivermos
um placar desfavorável, vamos recorrer ao plenário”, alertou o deputado Rubens
Bueno (PPS-PR), líder de seu partido que participou das orientações dada aos
oposicionistas no Conselho de Ética.
A única
possibilidade de a temperatura arrefecer contra Cunha será se ele decidir
renunciar à cadeira de presidente da Câmara. Até os seus opositores já dizem
que, se ele “voltar à planície” e se tornar um deputado comum, podem rever os
votos dentro do Conselho de Ética. Se isso ocorrer, os parlamentares mais uma
vez irão contra o que espera a maioria dos brasileiros. Uma pesquisa divulgada pelo instituto
Datafolha e
publicada na edição deste domingo do jornalFolha de S. Paulo mostra
que 81% da população gostaria que Cunha perdesse o seu mandato de deputado.
Apenas 7% são contra a cassação. Os demais se dividem entre indiferentes e os
que não souberam responder.
Rubens Bueno deputado do PPS
Caso o Conselho de Ética dê
andamento ao processo contra Cunha, será aberto o prazo para o deputado
apresentar sua defesa. Antes, seus advogados tentarão colocar parte dos
“juízes” do colegiado sob suspeição. Entre eles, o próprio Delgado, que também
é investigado pela Operação Lava Jato e que concorreu à presidência contra o
peemedebista. Na semana passada os defensores tentaram usar o mesmo artifício
contra o relator do processo, Fausto Pinato (PRB-SP), ao alegar que ele já
teria anunciado o seu voto antes da sessão que apresentaria o relatório. Não
obtiveram êxito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário