sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

EMBOLADA OU REPENTE

Folclore/Música nordestina brasileira

Manezinho Araújo, o rei da embolada


Gênero musical do povo nordestino, além do baião e xote. A embolada faz parte do folclore brasileiro



Embolada, Coco de embolada, Coco-de-improviso ou Coco de repente é uma arte musical surgida no nordeste, onde é especialmente popular. Consiste em uma dupla de "cantadores" que, ao som enérgico e "batucante" do pandeiro, montam versos bastante métricos, rápidos e improvisados onde um tenta denegrir a imagem do que lhe faz dupla com versos ofensivos (ou não), famosos pelos palavrões e insultos utilizados. O ofendido deve improvisar uma resposta rápida e ao mesmo tempo bem bolada. Caso não consiga, seu par é coroado triunfante. Não deve ser confundido com cantoria onde a música e a resposta são lentas, melodiosas e o tema principal é a vida cotidiana.

Trata-se de uma forma poética musical, improvisada ou não, em compasso binário, cuja melodia é declamada em intervalos curtos, e que é usada pelos cantadores como refrão coral ou dialogada.


Castanha e Caju, representantes atuais do gênero

O rei dos emboladores foi, sem dúvida, Manuel Pereira de Araújo, conhecido artisticamente como Manezinho Araújo, o pernambucano que, na época, divulgou em todo Brasil, através das estações de rádio e de televisão, bem como em discos, seu grandes sucessos como "Pra onde vai, valente", "Cuma é o nome dele", "O caminhão do Coroné".

Fonte: "Dicionário de Folclore para Estudantes", Mário Souto Maior e Rúbia Lóssio, Fundação Joaquim Nabuco/Editora Massangana.

Canto, improvisado ou não, comum às praias e sertão do Brasil. A característica, além da sextilha, é o refrão típico. Quando dançada diz-se coco de embolada.

"Mulher casada que duvida do marido
Leva mão no pé do ouvido
Pra deixar de duvidá...
Rapaz solteiro namorou mulher casada
Está com a vida atrapalhada
Na ponta do meu punhá...
Óia os peixe do má! Baliá!
Óia os peixes do má, a sambá! ..."

Fonte: Dicionário do Folclore Brasileiro, Câmara Cascudo, Ediouro.

Emboladas são décimas generalizadamente cantadas em versos de quatro e de cinco sílabas, próprias para as pelejas incruentas, para os lances dos entreveros demolidores. Gênero em desuso pelos violeiros improvisadores, ou repentistas, é comum entre os cantadores de feira, ao chocalhar dos maracás e aos ruídos dos reco-recos, sob a percussão estridulante dos pandeiros, acompanhados pelos ganzás ensurdecedores e, às vezes, por violas e concertinas.

O cantador de emboladas, nas feiras, raramente improvisa, porém é hábil em decorar versos, seus e alheios.

As emboladas, quando cantadas pelos nossos repentistas, ao baião da viola, no ardor dos improvisos, aparecem como ferro em brasa, no repto e no revide.

Começando pela embolada composta em versos de quatro sílabas, apresento duas décimas de violenta competição, ainda corrente na memória do povo. Digladiavam-se os cantadores João Pedra Azul e Manuel da Luz Ventania:

P. A.
- Eu sou judeu
Para o duelo!
Cantar martelo
Queria eu!
O pau bateu
Subiu poeira!
Aqui na feira
Não fica gente!
Queimo a semente
Da bananeira!...

M. V.
- Sou bananeira...
De alagadiço!
Você diz isso
Por brincadeira!
Meto a madeira.
Quebro a viola!
Só me consola
Te ver, um dia,
De vara e guia,
Pedindo esmola!

A palavra bananeira, nas estâncias citadas, é referência ao município das Bananeiras, no Estado da Paraíba, terra de nascimento do inesquecível e famoso repentista Manuel da Luz Ventania.

Agora, passo ao exemplo da embolada em versos de cinco sílabas, com a transcrição de duas décimas de um embate verificado entre os cantadores Manuel Gavião, de Pernambuco, e o paraibano Antônio Machado, de acordo com a tradição oral:

M. G.
- Andei no sertão,
Fui bem acolhido,
Fiquei conhecido
Como um Salomão!
Cantei num salão
Dum homem letrado,
Fui elogiado
Por quem me escutou,
Só porque não sou
Antônio Machado!...

A. M.
- Pedinte, sem nome,
Te lembra, em dois meses,
Três ou quatro vezes,
Matei tua fome!
Se alguém te consome
Vem outro e consola!
Se a crise te assola
Não morras calado!
Procura o Machado
Que dá-te uma esmola!

Vem sendo divulgada pelo nordeste inteiro, há mais de trinta anos, através da memória do povo, a falada peleja do cego Aderaldo Ferreira de Araújo, do Ceará, com o negro piauiense José Pretinho. A agressiva contenda, no excerto da embolada, está repleta de palavras injuriosas, em linguagem comburente. Apreciemos a ferocidade das investidas no entre ‘devoramento’ do martelo:

J. P.
- Vou dar-te uma surra
Com cipó de urtiga,
Furo-te a barriga,
No ferrão tu urra!
Hoje o cego esturra
Pedindo socorro!
Sai dizendo: eu morro,
Meu Deus, que fadiga,
Vou deixar a briga,
Não aguento e corro!

A. F.
- Dando-te uma tapa
Tu perdes a fama,
Porque comes lama
Dizendo que é papa!
Eu rompo-te o mapa,
Te rasgo de espora!
O negro, então, chora,
Com febre e com íngua!
Eu lhe deixo a língua
Um palmo de fora!

J. P.
- No sertão peguei
Um cego danado,
Passei-lhe o machado,
Caiu, eu sangrei!
O couro tirei,
Em regra de escala,
Espichei, na sala,
Pus ao sol, num beco,
Depois dele seco,
Fiz um par de mala!

A. F.
- Negro, és monturo,
Molambo rasgado,
Cachimbo apagado,
Recanto de muro!
Negro sem futuro,
Perna de tição,
Boca de porão,
Beiço de gamela,
Venta de moela,
Moleque ladrão!

A peleja continuou, violenta e injuriosa. O cego venceu, e nada sofreu, porque os antagonistas ganhavam a vida brigando de boca. Se resvalassem para as vias de fato, podiam perdê-la.
Anotei as décimas registadas neste capítulo ouvindo o cego Francisco Bento.

Fonte: Coutinho Filho, F. Violas e repentes; repentes populares, em prosa e verso pesquisas folclóricas no nordeste brasileiro. Recife, 1953, p.39-42

Fonte Wikipédia e o Nodeste.com

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