Publicado por Daniela Monteiro Torres,
Nascida em Angola, é Portuguesa e vive em Barcelona.
Escreve desde sempre, licenciada em literatura, passou pelo teatro e descobriu que o melhor lugar no mundo, é aquele onde ainda não esteve.
Curiosa e inquieta, começa a pensar no próximo destino quando nem acabou uma viagem, pois não há maior prazer do que ter uma mochila às costas e pôr o pé na estrada.
Nasceu para ver o mundo e escreve sobre o que nele vê.
Começo a fazer a minha lista de leitura para 2016 e decido abrir o baú dos livros que ficaram para trás nos últimos anos. Procuro escritores alternativos, autores de livros menos comerciais, um pouco underground; novos ou desconhecidos, que me despertem novas sensações. Escritores que me agarrem a alma, e não me deixem libertar o livro até que acabe a última linha.
Recentemente reencontrei noutro contexto a escritora brasileira, Fernanda Young, e resolvi inclui-la na lista de 2016. Encontrar nas livrarias em Barcelona um livro em português, que não seja Saramago ou Pessoa, é uma tarefa difícil; por isso comecei a pesquisar on-line.
E assim descobri que os seus livros, assim como os de vários outros autores brasileiros desta nova geração de escritores, são vendidos a preço de ouro na Europa. Livros deste século, rotulados como ‘literatura de ficção’, que não são nem científicos, nem têm nenhuma particularidade diferente; como por exemplo uma encadernação especial; têm preços com três dígitos neste lado do Atlântico.
Pergunto-me; quão grande é o poder dos lobbys das editoras, para que lhes seja permitido vender livros a este preço ofensivamente ridículo.
O valor exorbitante a que se vende os livros impede muitas pessoas de terem acesso à literatura básica. Quando grande parte da capacidade de pensamento, do poder de argumentação e da intelectualidade de cada um de nós é desenvolvida através da leitura; não ler torna-se também um problema social.
Nós somos um bocadinho daquilo que lemos, somos também certamente, produto do nível de instrução que temos, além de muitos outros fatores do nosso meio envolvente. Mas os autores que nos acompanham ao longo da nossa vida, fazem também parte de nós, das nossas opiniões e decisões na sociedade.
Se somos privados desta intrínseca necessidade de ler, e por isso não desenvolvemos a nossa percepção do mundo, atrofiando e limitando a perspectiva com que olhamos os outros e a nós mesmos; tornar-nos-emos seres humanos mais tristes, com menos graça. Afetará a nossa solidariedade, a nossa sensibilidade critica e a nossa idoneidade moral.
O facto da cultura; onde incluo a literatura, o cinema, o teatro, e uma série de outras artes; ser vendida a um preço insultuoso, como se de um pequeno luxo se tratasse; é uma forma lamentável de controlar o desenvolvimento das sociedades. Pessoas menos instruídas e com menos cultura, têm menos interesse em temas político-sociais, acabando por se abster nas eleições do seu país ou por votar em partidos demagogos, que os iludem com promessas vãs, e não ajudam a construir uma sociedade mais justa, igualitária e progressista.
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