ARTE FOTOGRÁFICA
Publicado por T
Durante os anos 70 e 80, Mark Story trabalhou como diretor
de comerciais, acostumado a utilizar belos rostos e estereótipos para vender
seus produtos. Ele confessa que as pessoas mais engraçadas e interessantes para
surgirem em um comercial televisivo são idosas. Idosas e que nunca atuaram. Um
breve lampejo para seu futuro e brilhante trabalho.
Eis a arte do tempo, esculpida no rosto humano de forma
lenta, sucinta e perturbadoramente implacável. O projeto Living in Three
Centuries – The Face of Age (Vivendo em três séculos – o rosto do tempo) surgiu
do simples desejo do fotógrafo Mark Story de fotografar pessoas velhas, pessoas
gastas pelo tempo. Porém, não tardou que Mark percebesse que estas pessoas não
eram apenas uma imagem áspera, uma foto reflexivamente impactante, capaz de
causar uma espécie de horror e compaixão. Por trás das fotos, das faces
enrugadas onde o tempo assoprou qualquer existência de jovialidade e talvez
beleza, existem histórias, muitas, e verdadeiramente fantásticas.
Todas as fotos do projeto são sem cores, contando com um
judicioso plano de fundo negro que serve como base para a emersão da face e
toda a grandeza da imagem: o close enfático. Somente o rosto e toda a expressão
de uma vida.
Mark Story realizou o projeto durante os anos de 1987 e
2005, fotografando pessoas de todas as partes e pedaços do mundo. Na maioria
eram centenárias, pessoas que alcançaram a inestimável marca de cem anos de
idade ou mais. Algumas, inclusive, fizeram jus ao nome do projeto e viveram de
facto em 3 séculos diferentes. Entretanto Mark não deixou que a idade “cem
anos” direcionasse seu trabalho como uma regra, fotografando também, por
exemplo, um homem de 46 anos que sofreu pólio e raquitismo, outro de 52 que era
alcoólatra. O trabalho não está realmente direcionado para o contar dos anos e
sim para a marca dos anos na face. Seja pelo tempo, por escolhas, por
fatalidades.
Mas o trabalho completo não se resume apenas às fotografias,
mas também às suas legendas, que tratam de comover e dão uma dimensão mais
profunda ao trabalho de Mark. Uma imagem pode valer mais de mil palavras, mas o
inverso é recíproco. Mark conversava com estas pessoas, escutava atentamente
cada uma de suas histórias e assim inseriu legendas para cada uma das 60
fotografias do projeto.
Cada relato é simplesmente fascinante - desde a mulher com
101 anos cega pela velhice que diz adorar homens lindos e, ao ser indagada
sobre como sabe que eles são lindos, responde: "você simplesmente
sabe". Ou quem sabe o velho italiano que no seu aniversário de 105 anos
tomou duas taças de vinho tinto, dançou com garotas, com seu médico e com a
enfermeira. Ou a portuguesa de 103 anos que aos 80 se veste de preto carregando
fervorosamente o luto pela morte precoce de seu marido. Estas são algumas
histórias, tão incríveis quanto as restantes e absolutamente reais.
As fotografias de Mark são soberbas, evidentemente. Acredito
que todos nós ficamos mais humanos ao vê-las, ao constatar que o tempo passa, as
coisas mudam, não vamos viver para sempre, e envelhecer não é exatamente se
tornar aquele avô simpático nas propagandas de natal cortando uma fatia de
peru. O que é envelhecer? Talvez uma simples fatalidade. De qualquer forma,
todos os modelos fotografados por Mark concordam em uma coisa: nada é ruim o
suficiente para que você desista.
©MarkStoryPhotography.com
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http://obviousmag.org/archives/2011/05/mark_story_ _vivendo_em_tres_seculos.html#ixzz3w6BntKJc
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