Literatura
Colaboração
de Fernando Alcoforado*
O futuro da
Petrobras é incerto porque depende de dois fatores: 1) a solução que seja dada
às crises econômica e político-institucional do Brasil; e, 2) a solução que
seja dada aos gigantescos problemas financeiros e de gestão enfrentados pela
Petrobras. Das crises econômicas e político-institucional que abalam a nação
brasileira no momento podem resultar na permanência dos atuais detentores do
poder político ou sua substituição como resultado dos processos de destituição
da presidente Dilma Rousseff. A permanência de Dilma Rousseff no poder seria
danosa para a Petrobras porque significaria continuar no comando da nação uma
governante incompetente responsável pelo descalabro político e administrativo
que levou à débâcle o Brasil e a própria companhia, além de agravar as soluções
para os problemas futuros da empresa diante da perda de governabilidade e da
falência em que se encontra o governo federal. Por sua vez, a alternativa de
ascensão ao poder de setores políticos que se opõem ao governo Dilma Rousseff
poderia significar o comprometimento do futuro da Petrobras que, altamente
debilitada financeiramente, ficaria à mercê de soluções que poderiam levar à
sua privatização e à penetração no mercado brasileiro de petróleo e gás natural
de empresas estrangeiras.
O futuro da
Petrobras é incerto porque depende, de um lado, dos objetivos políticos do
governo que esteja à frente dos destinos da nação nos próximos anos e, também,
da estratégia que seja implementada pela companhia para fazer frente aos
gigantescos problemas financeiros e de gestão por ela enfrentado no momento. Se
os objetivos do futuro governo do Brasil que venha a substituir o atual forem
progressistas, ao priorizar a adoção de políticas desenvolvimentistas, a
Petrobras seria beneficiada ao contrário do governo que substitua o atual e
venha a adotar políticas neoliberais de abertura do mercado de petróleo e gás
natural ao capital estrangeiro. No primeiro caso, a Petrobras contaria com o
respaldo do governo federal para fortalecê-la ao contrário do caso em que o
governo venha a adotar políticas neoliberais que enfraqueceria a companhia.
Quanto à estratégia que venha a ser adotada pela Petrobras para superar seus
problemas financeiros e alavancar novo ciclo de desenvolvimento, seu sucesso
depende, de um lado, da sustentação que venha a ser dada pelo governo federal
e, de outro, das medidas que a Petrobras venha a adotar para eliminar seus
pontos fracos e ameaças existentes e fortalecer seus pontos fortes e aproveitar
as oportunidades existentes. Se a Petrobras não contar com o decisivo apoio do
governo federal dificilmente terá sucesso na superação de seus gigantescos
problemas financeiros e promover sua expansão futura. Portanto, para salvar a
Petrobras da bancarrota, é preciso que, antes de tudo, o Brasil seja salvo da
débâcle política, econômica e financeira.
A Petrobras
fechou 2015 com prejuízo de R$ 34,836 bilhões. De 2010 a 2014, a Petrobras
deixou de ser a 12ª para se tornar a 416ª maior empresa do mundo, segundo a
revista norte-americana Forbes. Seu valor de mercado que era US$ 270 bilhões
regrediu para os atuais US$ 25 bilhões com uma perda em Dólares superior a 90%.
Sua margem de lucro que era de 16,61% em 2010 regrediu para -8,38% em 2015.
Suas ações, cotadas a R$ 24,43 após a eleição de Dilma Rousseff, regrediram
para atuais R$ 7,83 no Ibovespa. Para agravar a situação, o preço do barril de
petróleo caiu de US$ 98,99 em 2014 para US$ 52,46 em 2015 que contribuiu para
reduzir as receitas da empresa, em especial com a exportação de combustíveis.
Além de problemas operacionais, a Petrobras também foi vítima do maior
escândalo de corrupção da história do país que 2 significou um assalto aos
cofres da companhia que se estima seja da ordem de R$ 44,6 bilhões.
A divulgação
do balanço da Petrobras referente a 2014, devidamente auditado comprova que o
assalto praticado pelo aparelhamento da empresa pelos governos do PT não foi
apenas de R$ 6,2 bilhões contabilizados no balanço como perdas patrimoniais em
função do superfaturamento de contratos firmados entre a companhia e o “clube
de empreiteiras”, fonte que irrigou bolsos de altos funcionários e campanhas do
PT, alguns partidos aliados dos governos petistas e políticos diretamente. A
Petrobras informou que outros R$ 44,6 bilhões de prejuízos resultaram também da
postergação dos projetos do Comperj (polo petroquímico em Itaboraí, RJ) e da
Refinaria Abreu e Lima (PE), causados, entre diversos motivos, por “problemas
na cadeia de fornecedores oriundos das investigações da Operação Lava-Jato”.
(Ver o artigo O verdadeiro custo da corrupção na Petrobras disponível no
website ).
Entre agosto
de 2009 e maio de 2015, houve um excessivo endividamento da Petrobras, que
chegou ao posto de maior detentora de dívida no mundo, com uma marca que não
para de crescer evoluindo de R$ 115 bilhões em 2010 para os R$ 522 bilhões
atuais. Com mais de 70% de sua dívida em moeda estrangeira, a Petrobras está
extremamente vulnerável à variação cambial a ela bastante desfavorável. Com o
aumento da dívida, cresce a alavancagem da empresa, isto é, o tamanho dos
débitos em comparação com o tamanho da companhia. Analistas olham para
indicadores de alavancagem para estimar a capacidade de uma empresa pagar suas
dívidas. Segundo cálculos do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), com a
alta do dólar, um desses indicadores, a relação entre o endividamento líquido e
o patrimônio, chegaria a 58%. A Petrobras define como 35% o patamar aceitável
para esse índice. Isto significa dizer que a Petrobras ultrapassou os limites
de alavancagem. Além de estar extremamente endividada, a Petrobras está sendo
ameaçada pela redução de sua receita com as exportações de óleo bruto e com a
venda de derivados de petróleo como nafta e querosene de aviação devido à queda
no preço do barril de petróleo no mercado internacional. A redução de sua
receita torna ainda mais duvidosa a realização dos investimentos em novos
projetos de exploração e produção da Petrobras.
Para
enfrentar a escalada da dívida, a Petrobras anunciou um plano de venda de
ativos e reduziu em 24,5% o plano de investimentos para o período 2015-2019,
para US$ 98,4 bilhões. A Petrobras anunciou também um plano de desinvestimento
que chega a US$ 15,1 bilhões até 2016. Em 2015, o montante levantado com vendas
de ativos somou US$ 700 milhões. Entre as negociações em andamento, está a
venda de campos terrestres e de parte das ações na Petrobras argentina. Em
janeiro, a empresa anunciou um corte de pelo menos 30% do número de funções
gerenciais em áreas não operacionais. Questiona-se a estratégia adotada pela
diretoria da Petrobras de vender os ativos da companhia, promover
desinvestimentos e reduzir seus investimentos na exploração e produção de
petróleo porque a ênfase da atual diretoria da empresa é o da adoção de uma
política de austeridade que tende a levar ao continuado enfraquecimento e perda
de competitividade da empresa no mercado. Ao invés da política de austeridade,
a Petrobras deveria adotar a estratégia de renegociação de sua dívida de R$ 522
bilhões com seus credores visando seu alongamento no tempo da qual resultaria
em menores encargos anuais com o pagamento da dívida e, consequentemente,
haveria a disponibilidade de maiores recursos para investimento.
A estratégia de renegociação da
dívida da Petrobras somada à adoção de medidas de racionalização da gestão da
empresa possibilitaria incrementar os investimentos na exploração e na produção
de petróleo e gás natural e evitar a venda de ativos e a realização de
desinvestimentos. Outra alternativa para a Petrobras captar recursos para
superar a crise financeira atual e realizar investimentos em sua expansão
dependeria da política do governo federal que contribua para a superação da
crise econômica e financeira nacional. Para superar a crise
econômica e financeira do governo federal é imprescindível o equacionamento das
dívidas pública interna (R$ 3,937 trilhões) e externa (US$ 545,353 bilhões) que
exigiria a realização preliminar de auditoria seguida de renegociação de seu
pagamento com seu alongamento por um prazo maior. O alongamento do pagamento da
dívida interna e externa possibilitaria ao governo brasileiro dispor de
recursos para investimento na infraestrutura econômica (energia, transporte e
comunicações) e social (educação, saúde, habitação e saneamento básico),
inclusive na Petrobras. Estas são, portanto, as estratégias capazes de reerguer
a Petrobras.
*Fernando Alcoforado, 76, Sócio Benemérito da AEPET-
Associação dos Engenheiros da Petrobras, membro da Academia Baiana de Educação,
engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela
Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de
planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e
planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora
Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHCO Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial
(Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São
Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de
doutorado. Universidade de
Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e
Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do
Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA,
Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social
Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller
Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento
Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010),
Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento
global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os
Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV,
Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil- Energia e Mudança Climática
Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015). Possui blog na
Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: falcoforado@uol.com.br
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