Ciência/Tecnologia
Leo
Hornak
BBC News
Um preocupante relatório,
calculando que em 2050 haverá mais plástico do que peixes nos oceanos foi
divulgado recentemente pela Fundação Ellen MacArthur e o Fórum Econômico
Mundial.
Chamado The New Plastics Economy ("A
Nova Economia do Plástico", em tradução livre), o relatório estimou que,
no ritmo atual, os mares terão, em termos de peso, mais plástico do que peixes
na metade deste século.
O
relatório ganhou as manchetes de vários jornais, mas acabou sendo questionado e
levantando a questão: como medir a quantidade de plástico e como contar os
peixes?
O
problema é que o próprio relatório reconhece que é difícil fazer uma medição
precisa nos dois casos.
No
caso dos plásticos, o estudo faz referência a um levantamento publicado em 2015
por Jenna Jambeck, professora da Universidade da Georgia, nos Estados Unidos.
Ela tentou fazer um censo global da poluição por plásticos e estimar o quanto
disso vai parar nos oceanos.
O
estudo de Jambeck analisa estimativas do total de lixo em todos os países que
não são totalmente cercados por terra e, a partir disso, estima o quanto deste
lixo pode ser plástico, o quanto é reciclado e assim por diante.
Mas
para estimar o quanto deste plástico vai parar no mar, o estudo levou em conta
apenas uma área - a Baía de San Francisco (EUA).
"Isso
não representa o resto do planeta, então você pode ver o potencial para grandes
divergências neste cálculo", criticou o professor Callum Roberts, da
Universidade de York, na Grã-Bretanha.
O
que a Fundação Ellen MacArthur fez foi pegar a pesquisa de Jambeck, que faz
previsões apenas até 2025, e projetar essas estimativas até 2050.
Implícito
Sendo
assim, quanto plástico teremos nos oceanos em 2050?
Surpreendentemente,
isso não é especificado no relatório, mas este deixa implícito que haveria um
total de 750 milhões de toneladas de plástico nos oceanos na metade do século.
Quanto
à estimativa dos peixes, o relatório não estima um número de toneladas
esperadas de peixes nos mares em 2050 e não cita pesquisas sobre essas
populações.
No
entanto, um diagrama no relatório prevê uma proporção plástico/peixes de
"maior do que 1:1" em peso em 2050.
Questionada pela BBC a respeito de seus números, a
Fundação Ellen MacArthur enviou um documento chamado Background To Key Statistics e também uma nova
versão do relatório publicada em 29 de janeiro deste ano. Os dois documentos
trazem novos dados (nenhum dos autores estava disponível para entrevistas).
A
Fundação atualizou o número de peixes no mar em 2050 para cerca de 899 milhões
de toneladas.
Mas
também aumentou a estimativa para a quantidade de plástico no oceano em 2050
para entre 850 milhões e 950 milhões de toneladas, ou cerca de 25% a mais do
que originalmente previsto. Então, apesar de haver uma quantidade um pouco
maior de plástico no mar em 2050, segundo estes números, a proporção continua
sendo de um para um.
No
entanto, eis o problema real: contar peixes é algo complicado.
Os
novos cálculos da fundação são baseados em um estudo de 2008 liderado por Simon
Jennings, do Centro para Meio Ambiente, Pesca e Ciência da Aquicultura do Reino
Unido. A equipe dele usou imagens de satélite para medir a extensão de plantas
microscópicas conhecidas como fitoplâncton em todos os oceanos do mundo.
Imagem de
satélite mostrando quatro tipos diferentes de fitoplâncton
Pelo
fato de os fitoplânctons serem tão abundantes, eles alteram a cor da superfície
do oceano em grandes áreas, e essas mudanças podem ser vistas do espaço.
E
como quase toda a cadeia alimentar marinha é dependente do fitoplâncton, este
dado por ser usado para estimar o total de toneladas de peixes vivendo nos
mares. É desse trabalho que vem o número da Fundação Ellen MacArthur, de 899
milhões de toneladas de peixes.
Revisão
No
entanto, em 2015, Simon Jennings reviu seu próprio estudo e chegou a uma
conclusão muito diferente. Ele disse à BBC que agora ele acredita que o
fitoplâncton pode, potencialmente, sustentar quantidades muito maiores de vida
marinha do que ele pensava anteriormente.
O
novo estudo não diferencia entre peixes e outros predadores marinhos, mas
conclui que pode haver entre 2 bilhões de toneladas e 10,4 bilhões de toneladas
de criaturas marinhas nos oceanos.
"No
momento não temos confiança absoluta em nossos métodos para determinar qual a
proporção (desse volume) é formada de peixes. É um número muito incerto para
prever", afirmou o pesquisador.
A
previsão da Fundação Ellen MacArthur das previsões para plásticos também merece
atenção.
Jenna
Jambeck, que liderou o estudo sobre poluição por plásticos citado pela
fundação, disse à BBC que não estava estava confiante com o método da fundação,
de projetar os números de seu trabalho de 2025 para 2050.
Então:
quanto de plástico há nos oceanos e quanto vai haver em 2050? Não se sabe, mas
provavelmente é muito. Quanto de peixe? Também não sabemos, mas com certeza é
muito.
E
quando um vai superar o outro? Definitivamente não se sabe. Mas todas estas
questões trazem à tona um problema muito real: sabemos que o plástico, quando
vai para os oceanos, pode levar séculos para se decompor, e seu volume está em
constante crescimento.
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