segunda-feira, 7 de março de 2016

OS CAMINHOS SECRETOS DA CURIOSIDADE

Literatura: livro

Publicado por Anna Lucchese
“Sou uma pessoa lenta que acredita que a vida precisa de tempo para se revelar.”


Seguindo a linha da vida mais saudável sem perder o tempero, fica a dica: você pode substituir paixão por curiosidade. O livro A ASSINATURA DE TODAS AS COISAS revela o mar de possibilidades que nascem de um sentimento menosprezado.





No livro A ASSINATURA DE TODAS AS COISAS, Elizabeth Gilbert conta a história de Alma, uma personagem de ficção nascida em 1800.

Alma é movida por uma curiosidade: a vontade de estudar a vida dos musgos. Sim, este é basicamente um livro sobre uma mulher cuja existência foi dedicada a pesquisa de uma espécie de planta.

Pois bem, a autora do livro explica que a ideia surgiu quando a própria começou a dedicar-se ao cultivo de flores. Ela tinha acabado de terminar um projeto e não havia nada mais em vista. O universo das plantas, inclusive, nunca tinha sido algo que a motivasse, uma paixão.

E eis que o inesperado surge e ela se depara com uma imensa curiosidade sobre os caminhos secretos da natureza e desse processo surge Alma e sua história.

Em outro livro, BIG MAGIC, Elizabeth Gilbert descreve de forma mais detalhada a importância dessa vontade de conhecer as coisas para seu processo criativo. Mais do que a paixão ou a angústia, o desejo de saber mais sobre o que desconhece a motiva a escrever.

Em A ASSINATURA DE TODAS AS COISAS, a curiosidade pura e simples também é o fator propulsor da vida de Alma. Ela é a semente de um novo mundo que se abre diante da personagem.
A vida é um labirinto de possibilidades que muitas vezes se fecham diante de sentimentos obsessivos. Imagine uma pessoa intensa, por exemplo, um ser humano cheio de paixões, impulsos criativos, angústias, que carrega o que eu costumo chamar de um rio dentro de si. Essa pessoa pode facilmente ir para o lado negro da força. E para que isso não aconteça, ela precisa de alguma forma canalizar esse vulcão interior.

Voltando ao livro, Alma tem um problema, ela não possui a beleza física que poderia lhe garantir a única coisa a qual uma mulher daquela época deveria persuadir: um casamento.

A história causa uma expectativa com relação a isso. Será que ela conseguirá ser bem sucedida em sua vida amorosa? O livro começa a caminhar para esse momento de decisões e conquistas das personagens principais no vigor de sua juventude. Um momento intenso, cheio de acontecimentos inesperados e definitivos que determinam a vida de todos.

Esse poderia ser o auge do livro, o instante do felizes para sempre que termina em casamento para uns e desilusão para outros. Quem pegou, pegou. Quem não pegou que aceite. Afinal, esse período entre os vinte e trinta anos de idade traz um furacão de vivências para a maioria das pessoas. Não para Alma.

De repente, a autora toma uma decisão, ela nos lança desse começo de juventude de nossa heroína para momento em que ela começa a envelhecer. Todos os anos que poderiam trazer os acontecimentos cruciais da vida de uma pessoa são suprimidos pelo livro.

"Enquanto estudava o Tempo do Musgo, Alma tentava não se preocupar com sua vida mortal. Ela estava presa nos limites do Tempo Humano, mas não havia nada que pudesse fazer quanto a isso. Teria que simplesmente aproveitar ao máximo a existência curta, como a da efeméride, que lhe fora concedida. Já estava com quarenta e oito anos. Quarenta e oito anos não era nada para uma colônia de musgo, mas era uma boa quantidade de anos para uma mulher. Já tinha parado de menstruar. O cabelo estava ficando grisalho. Se tivesse sorte, pensou, teria mais vinte ou trinta anos para viver e estudar - mais quarenta anos, na melhor das hipóteses. Era o máximo que poderia desejar, e desejava todos os dias. Tinha tanto a aprender e não tinha tempo suficiente para aprendê-lo."

Assim, aquele rio dentro da Alma (bela escolha de nome, inclusive) ganha leito e é canalizado pela curiosidade. As páginas a seguir mudam completamente o rumo de sua história que segue por um caminho cheio de aventuras e descobertas.

Dessa pequena fagulha, também nascem paixões, desilusões, angústia e outros sentimentos intensos que vão e vêm no decorrer da vida de Alma. Mas a curiosidade é o único sentimento que fica, ela estabelece uma base sólida que jamais abandonará a personagem e a manterá viva durante todo o livro e, acima de tudo, é o fator que abre um caminho de possibilidades para uma existência real e completa.


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