segunda-feira, 4 de abril de 2016

COMO REERGUER O BRASIL PÓS-IMPEACHMENT DE DILMA ROUSSEFF



Bahia: política
 


Colaboração de Fernando Alcoforado*


 Após a devastação econômica, social e político-institucional promovida pelos governos do PT de Lula e Dilma Rousseff, qualquer novo governo efetivamente comprometido com o progresso do Brasil, que venha a exercer o poder após o impeachment de Dilma Rousseff, só terá condições de exercer com efetividade a governabilidade se realizar políticas públicas que atendam os interesses da grande maioria da nação brasileira. É importante destacar que governabilidade expressa a possibilidade do governo de uma nação realizar políticas públicas resultantes da convergência entre as várias instâncias do Estado nacional entre si e deste com a Sociedade Civil. A primeira medida a ser adotada pelo novo governo consistiria em montar um gabinete de crise composto por pessoas da mais alta competência e do mais alto gabarito e respeitabilidade ética e moral para obter o respeito da nação e assegurar a governabilidade. Para obter a confiança da população e exercer a governabilidade, o futuro governo terá que adotar medidas urgentes que contribuam para sustar o colapso do sistema econômico e do sistema político-institucional do Brasil.
As medidas para sustar o colapso do sistema econômico
Para sustar o colapso da economia brasileira, o futuro governante da nação deveria adotar medidas preliminares e urgentes que preparem o terreno ou sirvam de base para a adoção de estratégias complementares visando a retomada do crescimento econômico, a elevação dos níveis de emprego e renda da população e a redução dos níveis de inflação. Estas medidas preliminares e urgentes são as seguintes: 1) redução drástica do gasto público de custeio reduzindo o número de ministérios para 10 ou 15 e a eliminação ou redução ao mínimo necessário dos cargos comissionados que são cerca de 30 mil; 2) realização de auditoria da dívida externa e da dívida interna pública do país para avaliar sua autenticidade; 3) renegociação do pagamento dos juros da dívida externa e da dívida interna pública do país visando elevar a poupança pública para investimento; 4) adoção do câmbio fixo em substituição ao câmbio flutuante para proteger a indústria nacional; 5) controle do fluxo de entrada e saída de capital para impedir excesso de influxos e a fuga de capitais do País; 6) redução acentuada das taxas de juros para incentivar os investimentos nas atividades produtivas; 7) importação seletiva de matérias-primas e produtos essenciais do exterior para reduzir os dispêndios em divisas do País; 8) reintrodução da reserva de mercado em áreas consideradas estratégicas para o desenvolvimento nacional; e, 9) adoção de uma política tributária capaz de assegurar os recursos de que o Estado necessitaria para investir em educação, saúde, previdência social e nos setores de infraestrutura, entre outros e onerar o mínimo possível a população e os setores produtivos.
Após as medidas imediatas, de curto prazo, acima descritas, o futuro governante do Brasil deveria adotar medidas que contribuam para o crescimento econômico da nação a médio e longo prazo. É oportuno observar que o Produto Interno Bruto (PIB) é definido como o valor total da produção de riqueza em um determinado país durante um ano pelos agentes econômicos residentes no território nacional. O PIB pode ser calculado na moeda de um determinado país a partir da soma de todos os seus componentes: PIB = C + I + G + X – M. Nesta fórmula, C corresponde à despesa das famílias em bens de consumo (consumo privado), I à despesa das empresas em investimento, quer em bens de capital (formação bruta de capital fixo), quer em estoques de matérias-primas e 2 produtos (variação de estoques), G à despesa do Estado (governos federal, estaduais e municipais) em bens de consumo (consumo público), X à receita com exportações e M ao gasto com importações.
Baseado nesta fórmula, o crescimento do PIB pode ser obtido com a expansão do consumo privado (C) aumentando a massa salarial e adotando política de crédito que incentive o consumidor a comprar, o aumento do investimento na atividade produtiva (I) que pode resultar da redução da carga tributária e da implementação de uma política de incentivos fiscais e juros atrativos para os empresários, e a elevação da despesa do Estado (G) com ênfase na realização de investimentos em infraestrutura econômica e social. O aumento da receita de exportação (X) e a redução dos gastos com importações (M) contribuiriam também para o crescimento da economia. A estratégia ótima de crescimento econômico é aquela que está apoiada na maximização do investimento (I) nas atividades produtivas que contribuiria para o aumento da renda e do emprego e, consequentemente, do consumo das famílias (C) e para o aumento da arrecadação tributária do governo possibilitando, consequentemente, o aumento da despesa do Estado (G). Além disso, a estratégia ótima de crescimento econômico deveria maximizar a diferença entre a receita com exportações (X) e o gasto com importações (M). Esta foi a estratégia econômica que alavancou o crescimento econômico da China nas últimas décadas.
Nas condições atuais do Brasil, a estratégia ótima de crescimento econômico requereria a maximização do investimento (I) que seria viabilizada com a redução da carga tributária e da implementação de uma política de incentivos fiscais e juros atrativos para os empresários que possibilitaria o incremento do emprego e da renda da população e, consequentemente, do consumo das famílias (C). Para combater a inflação de demanda que poderia resultar do aumento do consumo das famílias (C) e do investimento privado (I), o governo deveria incentivar a expansão da produção agrícola e industrial em setores produtivos onde a oferta seja insuficiente. Por sua vez, para reduzir as taxas de juros praticadas pelo sistema financeiro, o governo brasileiro deveria promover uma queda drástica da taxa Selic (taxa básica da economia) que contribuiria, também, para a redução dos dispêndios governamentais com o pagamento da dívida pública interna e, consequentemente, aumentando a disponibilidade de recursos públicos para destiná-los ao atendimento das necessidades do País.
Para o governo brasileiro maximizar seu gasto (G), é preciso formar poupança pública suficiente. Para aumentar a poupança do setor público, o que o governo precisa fazer é reduzir drasticamente a taxa Selic que hoje corresponde a 14,25%, renegociar o pagamento do serviço da dívida pública interna e fazer com que os gastos correntes do setor público sejam reduzidos ou cresçam menos do que o Produto Interno Bruto (PIB) para dispor de recursos para a realização de investimentos públicos, sobretudo na deficiente infraestrutura econômica (energia, transportes e comunicações) e social (educação, saúde, habitação e saneamento básico). Ressalte-se que é fundamental a renegociação dos termos das dívidas interna e externa. Sem a adoção desta medida o governo brasileiro não terá condições de promover o crescimento econômico do País haja vista que quase metade do orçamento da União é destinada ao pagamento dos encargos com a dívida pública interna. Dessa forma, seriam criadas as condições para que o setor público possa investir e se financiar com recursos próprios, e não por endividamento como ocorre atualmente.
É oportuno observar que, na história econômica do Brasil do pós-guerra até o presente momento, o dilema de como aumentar a taxa de poupança para o País crescer mais rápido sempre foi resolvido pelos diversos governos com o uso de poupança externa com a atração do investimento estrangeiro direto e a obtenção de financiamento internacional, do que resultou em crônicos déficits no balanço de pagamentos em conta corrente e no consequente aumento do endividamento externo. Nunca houve por parte do governo brasileiro uma verdadeira preocupação nem com a formação de poupança pública, nem com a criação de incentivos para elevar a poupança privada interna. No momento, para o Brasil crescer rápido, é imprescindível aumentar a poupança doméstica, em especial a poupança pública, sem a qual o País se endividará continuamente ao ponto de comprometer seu futuro.
Outra medida imprescindível de médio e longo prazo consiste em fazer com que os gastos correntes do governo brasileiro sejam reduzidos ou cresçam menos do que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil. Para tanto, seria imprescindível a realização de uma profunda reforma administrativa que racionalize a gestão pública no País que contribua, também, para a eliminação de desperdícios e a redução de custos do serviço público. Apenas realizando a reforma do Estado e da Administração Pública no Brasil será possível corrigir as distorções atuais no gasto público e reduzir a carga tributária beneficiando empresas e trabalhadores. A implantação de um modelo de gestão eficiente e eficaz para o Estado brasileiro fará com que a sua capacidade de arrecadação de impostos seja ampliada. O novo modelo de gestão baseado na racionalização dos processos de trabalho levará inevitavelmente à redução dos custos de operação do Estado e, consequentemente, da carga tributária sobre os contribuintes. Sem colocar em prática este conjunto de medidas, o Estado brasileiro não adquirirá a capacidade de investir na expansão da economia e de adotar políticas de compensação social no nível necessário para mitigar os desníveis sociais no Brasil.
As medidas para sustar o colapso do sistema político-institucional
Para reverter o colapso em curso do sistema político-institucional do Brasil, urge a adoção das medidas seguintes: 1) Constituição de um governo composto por pessoas competentes e de moral ilibada que teria a responsabilidade de convocar uma nova Assembleia Constituinte Exclusiva para promover a reforma do Estado e da Administração Pública em novas bases; 2) Banimento de partidos políticos e parlamentares comprometidos com a corrupção; 3) Formação de novos partidos políticos após a nova Constituinte; e, 4) Convocação de novas eleições gerais no País.
A Assembleia Constituinte Exclusiva a ser convocada pelo novo governo deveria instituir o parlamentarismo como sistema de governo e criar mecanismos que possibilitem à população: 1) exercer a democracia direta nas decisões de grande relevância tomadas pelos Poderes Executivos e Parlamento nos níveis federal, estadual e municipal aprovando ou rejeitando através de plebiscito ou referendo, e; 2) exercer o controle dos eleitos para os Poderes Executivo e Legislativo acionando os mecanismos institucionais necessários à punição daqueles que eventualmente tenham traído os interesses do eleitorado se pronunciando sobre sua cassação ou não através de plebiscito, entre outras medidas. A Assembleia Constituinte Exclusiva deveria decidir, também, pelo fim do Senado Federal com a institucionalização do sistema unicameral e a redução do número de parlamentares e de suas mordomias nos parlamentos federal, estadual e municipal, entre outras medidas. 
Este conjunto de medidas voltado para sustar o colapso em curso do sistema político institucional do Brasil é absolutamente necessário porque nos defrontamos com uma flagrante desmoralização de suas instituições políticas, haja vista termos um presidencialismo de coalizão movido pela corrupção que passou a existir a partir da Assembleia Constituinte de 1988 e demonstra ser incapaz de solucionar a grave crise política em que vive o Brasil. A democracia representativa no Brasil manifesta sinais claros de esgotamento não apenas pelos escândalos de corrupção nos poderes da República, mas, sobretudo, ao desestimular a participação popular, reduzindo a atividade política a processos eleitorais que se repetem periodicamente em que o povo elege seus representantes os quais, com poucas exceções, após as eleições passam a defender interesses de grupos econômicos em contraposição aos interesses daqueles que os elegeram. Estas são, portanto, as medidas capazes de sustar o colapso econômico e político institucional do Brasil. Sem elas, o Brasil terá seu futuro comprometido. Não basta, portanto, a substituição de Dilma Rousseff pelo vice-presidente Michel Temer como se prevê deverá ocorrer com o impeachment da atual presidente para que os problemas do Brasil sejam resolvidos. É preciso que sejam adotadas as medidas aqui propostas para impedir o colapso dos sistemas econômico e político-institucional do Brasil.

*Fernando Alcoforado, 76, membro da Academia Baiana de Educação, engenheiro e doutor em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Regional pela Universidade de Barcelona, professor universitário e consultor nas áreas de planejamento estratégico, planejamento empresarial, planejamento regional e planejamento de sistemas energéticos, é autor dos livros Globalização (Editora Nobel, São Paulo, 1997), De Collor a FHC- O Brasil e a Nova (Des)ordem Mundial (Editora Nobel, São Paulo, 1998), Um Projeto para o Brasil (Editora Nobel, São Paulo, 2000), Os condicionantes do desenvolvimento do Estado da Bahia (Tese de doutorado. Universidade de Barcelona,http://www.tesisenred.net/handle/10803/1944, 2003), Globalização e Desenvolvimento (Editora Nobel, São Paulo, 2006), Bahia- Desenvolvimento do Século XVI ao Século XX e Objetivos Estratégicos na Era Contemporânea (EGBA, Salvador, 2008), The Necessary Conditions of the Economic and Social Development- The Case of the State of Bahia (VDM Verlag Dr. Müller Aktiengesellschaft & Co. KG, Saarbrücken, Germany, 2010), Aquecimento Global e Catástrofe Planetária (P&A Gráfica e Editora, Salvador, 2010), Amazônia Sustentável- Para o progresso do Brasil e combate ao aquecimento global (Viena- Editora e Gráfica, Santa Cruz do Rio Pardo, São Paulo, 2011), Os Fatores Condicionantes do Desenvolvimento Econômico e Social (Editora CRV, Curitiba, 2012) e Energia no Mundo e no Brasil Energia e Mudança Climática Catastrófica no Século XXI (Editora CRV, Curitiba, 2015). Possui blog na Internet (http://fernando.alcoforado.zip.net). E-mail: falcoforado@uol.com.br

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