Brasil: política
Josias de Souza
Um dos mais celebrados comentarista político da cena nacional
.Em
política, ninguém deve dizer uma mentira que não possa provar. No desespero,
porém, muita gente repete tantas vezes uma mentira para si mesma que acaba se
convencendo de que está diante de uma verdade irrefutável. Tome-se o caso de
Dilma.
Em discurso para uma plateia companheira, a
presidente disse que o processo de impeachment carrega um “pecado original”.
Chama-se Eduardo Cunha. “Vou explicar”, prosseguiu a oradora, em timbre
professoral:
“O
senhor presidente da Câmara queria fazer um jogo escuso com o governo. Votem
para impedir que eu seja julgado no Conselho de Ética, tirem os votos que
o governo tem no Conselho de Ética. Eram três votos. E aí eu não entro com
o processo de impeachment.”
O
relato de Dilma caminhava bem. Súbito, ela se entregou à fábula: “Um governo
que aceita uma negociação dessas é um governo que entra em processo de
apodrecimento. Por isso, nós recusamos essa negociação.''
Dilma esqueceu de mencionar que telefonou para o
pecado, convidou o pecado para visitá-la no Planalto, recebeu o pecado no
gabinete presidencial, Conversou longamente com o pecado. E colocou o prestígio
de sua Presidência a serviço do pecado. A coisa aconteceu em setembro de 2015.
Na época, foi noticiada aqui, sem contestações:
“A
convite de Dilma, Eduardo Cunha esteve no Palácio do Planalto… Depois da
audiência, relatou trechos da conversa a aliados. Um desses trechos soou
inusitado. De acordo com o deputado, a presidente da República ‘insinuou’ que
poderia ajudá-lo no Supremo Tribunal Federal.”
Mais:
“Em privado, Cunha disse ter depreendido que Dilma lhe ofereceu ajuda para
lidar com o processo que corre contra ele no STF. O deputado foi acusado por um
dos delatores da Lava Jato, o consultor Júlio Camargo, de ter cobrado propina
de US$ 5 milhões num contrato de fornecimento de navios-sonda à Petrobras…”
Cunha
duvidou da capacidade de Dilma de controlar votos no STF. Mas enxergou no
Conselho de Ética da Câmara uma oportunidade para testar a disposição da
interlocutora. Exigiu que os três votos do PT se integrassem aos de sua
infantaria, para enterrar o processo que pede sua cabeça. Dilma topou, mas o
PT, na última hora, roeu a corda. Com isso, o petismo transformou Cunha num
feroz adversário.
Quer
dizer: Dilma tem uma relação tormentosa com a verdade. Não é que ela seja
propriamente mentirosa. O problema é que madame tem uma verdade múltipla. No
instante em que aceitou negociar com Eduardo Cunha, já não havia mais nenhum
pecado original. Seu governo já estava em estágio de putrefação.
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