sexta-feira, 1 de abril de 2016

INSENSATEZ E DESESPERO



Coluna de JOACI GÓES: política 


Por Joaci Góes.
É empresário, bacharel em direito, político,
escritor e imortal pela Academia de Letras da Bahia.
 De erro em erro, Lula e Dilma chegaram abraçados ao fundo do poço de onde não têm fôlego para retornar à tona, desenhando, no seu rocambolesco percurso, um cenário político de deixar boquiaberto o mais delirante dos ficcionistas. Nomes a serem invocados pelo PT, ao longo da quarentena a que o Partido terá que se submeter, para recobrar-se do colossal desgaste a que o lançaram seus líderes, Lula e Dilma não dispõem de tempo físico para voltarem a exercer funções públicas. Uma vez concluído o processo em curso acelerado de sua defenestração, os bastidores serão o mundo de sua mobilidade. 

Enquanto no plano individual Collor de Melo é a expressão máxima de ascensão e queda na vida política brasileira, no âmbito partidário a Palma de Ouro da indesejável oscilação cabe ao PT pela arrogância de se haver outorgado o monopólio de todas as virtudes humanas e a representação exclusiva do bem, contra os demais partidos, integrados pelos vendilhões da Pátria, sob a inspiração do mal. As siglas partidárias que se associaram ao PT para pilhar o Erário, nos escândalos dos mensalões, lavagens a jato e tantos outros episódios que empobrecem o Brasil, sairão arranhadas, com muitos dos seus próceres, também presos, mas com a tolerância coletiva observada perante quem não se arvorou a sepulcro caiado - bonitinho por fora, mas podre por dentro-, como se revelou a prática do Partido dos Trabalhadores, que se “lambuzou no mel” do dinheiro público, como tão bem definiu o ex-governador Jaques Wagner. 
A verdade é que o segundo mandato de Dilma, decorridos 15 meses da posse, sequer, de fato, começou, paralisia que retarda, num panorama de desnecessário sofrimento infligido ao povo brasileiro, a marcha ascensional do País ao patamar das nações mais bem sucedidas. E assim será enquanto Dilma se mantiver a frente de um governo sobre o qual perdeu qualquer poder de mando, de tal modo crescente a percepção geral de uma fragilidade que se consolidou a partir do momento em que ela jogou a toalha e pediu ao seu patrono e mentor para assumir o comando e salvar o barco do iminente naufrágio. A emenda saiu pior do que o soneto: a tempestuosa reação popular fez o barco adernar, sem sinais mínimos alentadores de que voltará ao prumo.
É verdade que com tantos ministérios e funções públicas relevantes para aliciar votos, não será difícil ao Governo encontrar entre os mais de duzentos parlamentares que respondem por crimes de improbidade o número que falta para completar o terço impeditivo do Impeachment em curso. O problema é que novo processo será instaurado, já agora de iniciativa da OAB, apoiado em razões diversas do atual. Se este não vingar, mais outro o substituirá, ‘ad infinitum’. Para esse ‘continuum’ razões são o que não falta.
Numa palavra: à frente decorativa do Governo, a função única da Presidente se restringe a lutar contra o seu impedimento e dizer que não renunciará, anúncio que elimina sua única saída honrosa na dantesca conjuntura. A Presidente não percebeu que de suas atitudes recentes resultou a percepção popular de que o eixo da luta saiu dos que são a favor e contra o impeachment para os que são a favor da continuidade das investigações da Operação Lava Jato e os que querem o seu abafamento, patrocinando a impunidade geral. Ao agarrar-se a Lula, como última tábua de salvação, a Presidente trouxe a defesa da momentosa roubalheira para dentro do Palácio Presidencial, comprometendo de modo irremissível sua imagem de probidade e honradez.
A tola ladainha de que são golpistas os que a querem derrubar aumenta, ainda mais, o seu isolamento. Afinal de contas, além dos 70% do povo brasileiro que clamam por sua saída, são golpistas todas as instituições nacionais que consideram legítimo e constitucional o processo de impeachment para afastar a presidente da República, a começar pelos 11 membros do Supremo Tribunal Federal, a maioria dos quais nomeada ao longo dos governos petistas?
Dificilmente, Albert Einstein terá se inspirado em erros tão crassos como os recentemente praticados pelo governo brasileiro para cunhar sua implacável conclusão: “Tudo no universo é relativo, com a única exceção da estupidez humana”.


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