Literatura
(Nelson Falcão Rodrigues foi um jornalista e escritor brasileiro, e tido
como o mais influente dramaturgo do Brasil. Nascido no Recife, Pernambuco,
mudou-se em 1916 para a cidade do Rio de Janeiro.
1912
– 1980)
Publicado por Vanelli Doratioto
“Palavras são mágicas, são como
encantamentos sublimes que nos levam para onde quisermos, seja esse onde um
lugar, um conceito ou uma pessoa”. (Vanelli Doratioto)”
Como mulher Nelson Rodrigues
certa vez afirmou "Você sabe qual é o tremendo erro da maioria das
mulheres? Ei-lo: achar que o fato de amar implica, obrigatoriamente, em
felicidade". E quando sua voz feminina chegou até mim, mal pude acreditar
que Nelson um dia fora Suzana e Myrna, duas aclamadas escritoras e conselheiras
amorosas, que nada mais eram que dois heterônimos seus.
“Você deseja saber
quem é Myrna. E fará a si (as) mesma perguntas como estas: “É loira? Morena?
Nasceu no Cairo? Em Alexandria? Adivinha o futuro? É velha ou moça? Respondo:
Myrna sou eu. Dê seu primeiro nome e o primeiro nome de seu namorado, noivo ou
marido. A data de nascimento de ambos. E conte seu romance. Eu lhe direi a
verdade, só a verdade, presente e futura. E se quiser saber quem é Myrna
responderei: – Apenas uma mulher”.
Em
meados da década de quarenta, (século XX) Nelson, Rodrigues era um dos autores
nacionais mais comentados quando o assunto era teatro. A peça escrita por ele
Vestido de Noiva era um estrondoso sucesso, contudo o escritor tinha sucesso,
mas não dinheiro.
Nessa época muitos jornais passaram a
publicar estórias sentimentais que visavam aumentar as vendas e
consequentemente os lucros. Tornaram-se populares então os ditos folhetins.
Convidado para trabalhar nos Diários
Associados de Assis Chateaubriand, Nelson Rodrigues convenceu o diretor do
jornal que poderia escrever muito bem esse tal folhetim. Para publicar, no
entanto, Nelson escolheu o pseudônimo de Suzana Flag.
Sim, Nelson encarnou uma mulher para escrever
e fez dela famosíssima. Todos amavam ler as estórias de Suzana, a ponto de o
escritor lançar livros como se tivessem sido escritos por ela, inclusive uma
autobiografia de Suzana intitulada "Minha Vida".
Envolta em uma aura de mistério a famosa
escritora fantasma foi amada e idolatrada, contudo Nelson se cansou dela e foi
escrever para o Diários da Noite,
criando nesse jornal outro pseudônimo feminino, o de Myrna, uma conselheira
sentimental.
E foi nesse ponto que conheci Nelson
transvestido de mulher, atualmente, um conhecido, de forma despretensiosa,
citou-me uma das frases largamente difundidas nos conselhos sentimentais de
Myrna: “Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo”.
Nelson escreveu estórias bastante
fantasiosas, sempre prendendo a atenção dos leitores e com a coluna de Myrna
não foi diferente.
Curiosa, fui atrás para saber mais sobre
Myrna e lendo um livro coletânea “dela” que tem como título a frase emblemática
“Não se pode amar e ser feliz ao mesmo tempo”, não me foi difícil perceber que Nelson guardava em seus conselhos um
conservadorismo típico de seu tempo.
Muitos conselhos de Myrna giravam em torno da
importância das mulheres fazerem os maridos felizes, contudo, muito diferente
do que vemos hoje, os conselhos dela eram bastante emblemáticos, quase
pontuais. Tinham uma ousadia latente, conferida, provavelmente, pelo fato dessa
mulher ser um pseudônimo.
Para explicar a afirmação acerca de amor e
felicidade Myrna comenta: “Você sabe qual é o tremendo erro da maioria
absoluta das mulheres? Ei-lo – achar que o fato de amar implica,
obrigatoriamente, a felicidade. Quem ama pensa que vai ser felicíssimo e
estranha qualquer espécie de sofrimento. É exato que os amores têm seus
êxtases, deslumbramentos, momentos perfeitos, musicais etc., etc., mas eu disse
momentos e não 24 horas de cada dia”…
Sobre a dúvida de uma leitora sobre se casar
com um homem sem posses: “Imaginem se todos nós fôssemos, em amor, bastante
lúcidos. Então pensaríamos minuciosamente em tudo, no preço do feijão, do
arroz, no custo de vida cada vez mais elevado, no colégio das crianças”.
Depois lembra-se de uma conhecida que não queria filhos para não pegarem
coqueluche e complementa, “Mas não é com estes raciocínios que se faz a vida,
que se perpetua a espécie humana! Daí porque na hora do amor precisamos ser um
pouco irresponsáveis”.
Respondendo para a mulher que ama o marido na
ausência, mas em sua presença se desencanta: “Se a presença do meu amado não me
empolga, nem nada, apelo para sua ausência. Sob sua presença, eu o vejo como
ele é, na realidade. Na ausência tudo muda. Vejo-o não como ele é, mas como eu
quero!" (…) “Deve ver o menos possível o seu namorado. É a única
solução para o seu caso”.
Sobre as exigências de uma leitora ao marido:
(…) “em amor, ninguém tem direito de exigir nada. O único direito que se tem
é o de aceitar aquilo que a outra pessoa dá de todo coração e com um máximo de
espontaneidade”…
Sobre a leitora que diz gostar de um homem
feio: “Bonito é o homem de quem a gente gosta”.
Para a leitora que teme não gostar mais do
marido: “Acredite, Elvira. O amor é eterno. Só acaba quando não era amor”.
Para a leitora que não se sente amada: “Ah!
Minha filha! Se os homens só namorassem a criatura amada, só namorassem em caso
de amor, haveria no mundo uma meia dúzia de namorados”.
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