sexta-feira, 20 de maio de 2016

QUAIS SÃO AS DEZ MELHORES RUAS DA EUROPA? PARTE 2/2



Mundo: cidades




O mirante de São Pedro de Alcântara, em Lisboa.
À sombra das magnólias
Por Javier Martín

 
Há ruas que são e ruas que levam; ruas do dia e ruas da noite; ruas para crianças e ruas para amantes das compras; para caminhar e para dirigir. Em seus escassos 500 metros, a Dom Pedro V reúne tudo isso. Começa com o melhor mirante da cidade de um lado e o convento de São Pedro da Alcântara do outro, pois nesta rua têm igual atrativo ambas as calçadas, que nascem com exuberantes jacarandás roxos. Satisfeito o espírito, o resto é para os pecados do corpo. Vale a pena desfrutar da confeitaria São Roque e também – o dinheiro não será obstáculo – das empadas de frango da Doce Real um pouco mais à frente; entre uma e outra, o início da rua Rosa, íntima de dia, diabólica de noite; deixem-na para mais tarde, pois não convém desviar-se antes de chegar a uma fileira de boutiques que competem em última moda, para depois, cruzando a pista, retroceder cinco séculos.
Se há monumentos que justificam a visita a uma cidade, em certas ocasiões também ocorre o mesmo com algumas lojas. É o caso da Solar. Lucilia, sua apaixonada atendente, explica em um minuto a história do azulejo do século XVI ao XX com essas obras-primas em nossas mãos. A loja é uma tentação, pois quem não tem 20 euros para adquirir uma antiguidade? Ao contrário de todo mundo, Lucilia se ofende com os turistas que entram e saem em um piscar de olhos: "Mas se não viram nada!", recrimina-os no idioma que convier. O velho e o novo combinam tão bem como o luxo e os almoços econômicos de 5,95 euros (20 reais) por um correto arroz com peixe mais água e café no Tascardoso, já no outro extremo da rua.
Dom Pedro V desemboca nos jardins do Príncipe Real, com seu velho cipreste e suas imensas magnólias ao redor do café da Esplanada. Ao cair da tarde, os dois quiosques da praça se enchem de gente bonita. É o lugar e a hora de passear os poodles e os Porsches, jantar no A Cevicheria e rematar no Pavilhão Chinês, outro lugar ímpar; tudo isso do dia para a noite, do convento para o bar, na Dom Pedro V, a rua das ruas.

A Via dei Coronari, em Roma.

O profano e o sagrado, de mãos dadas
por Pablo Ordaz
Nas luxuosas lojas de antiguidades situadas no início da Via dei Coronari, a dois passos da praça Navona, Silvio Berlusconi costumava comprar os presentes para as jovens convidadas de suas famosas festas. E ao final da rua à esquerda, Jorge Mario Bergoglio rezou diante da Madonna Dell'Archetto sua última oração antes de entrar no conclave de que saiu vestido de branco. Como diz o humorista Maurizio Crozza, Roma é a única cidade do mundo que é capital de dois Estados: "Um deles acredita em Deus e está sempre à espera do grande milagre; o outro é o Vaticano". A rua que, através da beleza, serve para unir esses dois mundos tão contraditórios se chama Via dei Coronari. Reúne, em seu meio quilômetro de estranha retidão – "na Itália, a distância mais curta entre dois pontos é o arabesco", dizia o escritor Ennio Flaiano –, os alicerces sobre os quais range a glória da cidade: o sagrado e o profano, o histórico e o efêmero, a praça com fonte e igreja e o beco – que dizem ser o mais estreito da cidade – que conduz a um palacete que no século XV pertencia a Fiammetta, a mais famosa cortesã da cidade, e que agora abriga a sede de um instituto financeiro.
Na metade da rua, e logo depois do pitoresco beco que abriga a Sorveteria do Teatro, está a igreja de San Salvatore in Lauro, construída no século XVI sobre a velha paróquia do século XI. Ali dentro, para admiração dos descrentes e devoção dos fiéis, são exibidas as relíquias de vários santos, sobretudo do capuchinho padre Pio (1887-1968), famoso pelos estigmas que tinha nas mãos. O percurso em direção à ponte de Sant'Angelo vai deixando registrado semana após semana que o pesadelo denunciado pelos moradores meses atrás já é uma realidade. Os velhos, discretos e belos estabelecimentos comerciais estão sendo substituídos a uma velocidade indemnizada por lojas de quinquilharias e bares de comida rápida. Também sobre os sampietrini – os típicos paralelepípedos romanos – da Via dei Coronari se constata a cada dia que a beleza de Roma é também sua maior ameaça.

Uma cervejaria no bairro de Spittelberg, em Viena.

Uma colina com atmosfera de povoado
Por José Miguel Roncero
Em grandes capitais como Viena, muitas ruas são amplas e majestosas, lembranças de um passado glorioso (este ano se comemora o 150º aniversário da Ringstrasse, a via circular que articula a expansão vienense). E outras ruas são pequenas, acolhedoras e evocam um passado em que a cidade mais parecia um grande povoado. O Spittelberg (o hospital da colina), situado no sétimo distrito vienense (Neubau) e a dois passos do bairro dos museus, é um bom exemplo.
O Spittelberg consiste, na realidade, de três ruas paralelas: Spittelberggasse, Schrankgasse e Gutenberggasse. A sensação, ao chegar ali, é de ter entrado em um pequeno povoado com calçamento de pedras, sem carros, silencioso. O passado rural e camponês dessa colina ainda respira em suas casas, algumas do século XVII. Vários edifícios parecem se erguer sobre a colina para obter a melhor vista. O Spittelberg foi, em outros tempos, uma área bem conhecida pela prostituição, frequentada por tipos suspeitos. O racionalismo burocrático vienense só se impôs no século XIX, quando a zona sucumbiu à simplicidade e elegância impostas pela arquitetura Biedermeier, da qual Spittelberg oferece excelentes amostras.
Daqueles dias de malandragem para cá, as coisas mudaram. Hoje se vai ao Spittelberg para passear, tomar um café ou beber com amigos, ou encontrar algo único para aquela pessoa especial. A colina se orgulha de oferecer gastronomia, diversão e cultura: um teatro, um cinema, cafés e bares tradicionais e contemporâneos, galerias de arte, lojas de design, chocolaterias e restaurantes. E há também muitas atividades de rua. No inverno, um dos mais famosos e alternativos mercados de Natal toma a colina. No verão é a vez das mesas na rua. E no primeiro fim de semana de cada mês há um mercado onde se vendem desde produtos de artesanato até antiguidades tiradas de algum porão próximo. Bem-vindos à colina.

A rua de Utrechtsestraat, em Amsterdã.

Cinco séculos em 600 metros
por Isabel Ferrer
Situada entre duas praças centrais, a Rembrandtplein e a Frederiksplein, a rua de Utrecht (Utrechtestraat) nasceu em 1658 durante a grande ampliação de Amsterdã, uma das urbes mais prósperas da Europa naquela época, em pleno Século de Ouro. Embora seus 600 metros atravessem três dos canais mais importantes da cidade (Herengracht, Keizersgracht e Prinsengracht), não é uma rua que costuma ser lembrada por quem passeia pelo centro histórico. Seus edifícios são tipicamente holandeses, mas sem a embalagem daqueles erguidos pelos comerciantes que enriqueceram especulando com os tulipas. Além disso, é percorrida por uma linha de bonde e é preciso ter cuidado ao atravessar. No entanto, reúne em vários aspectos a essência de Amsterdã.
Sobrevivem apenas alguns imóveis de cinco séculos atrás, mas a sorte da Utrechtestraat está em seu comércio. Há moda, decoração, restaurantes, chocolaterias, joias e ateliês de ourivesaria e bijuteria, flores, retratistas, tatuagens, perfumarias, barbearias, confeitarias, delicatessen e sanduíches, lojas de ferragens, vinhos, revistas, imprensas, livrarias... Os bondes puxados a cavalo chegaram em 1877, e os elétricos, em 1904. Na atualidade, como também acontece progressivamente por toda a cidade, as bicicletas competem com carros e bondes.
Há chocolates artesanais na Van Soest Chocolatier; pães e bolos na Bakker Van Eijk; queijos na Kaashuis Tromp; roupa masculina sob medida na Romeyn Tailors, uma alfaiataria fundada em 1898; roupa e botas coloridas para mulheres na Lien & Giel; presentes inusitados na Jan; discos de vinil, CDs e DVDs, novos e de segunda mão, na Concerto, a maior loja do gênero no país. Aberto em 1967, o Sluizer é um restaurante que mistura clássicos como a sopa de tomate com receitas contemporâneas.
A Utrechtsestraat fica a um passo do museu Ermitage, a franquia holandesa da sala russa aberta em um antigo asilo. O teatro Carré, em um antigo circo, também está muito perto. À margem do rio Amstel, são parte da oferta cultural que coroa uma rua despretensiosa, mas com sabor autêntico.


 A rua de Straedet, em Copenhague.

Encontro no café do Beijo
Por Viveca Tallgren
No coração da parte medieval de Copenhague fica a Strædet, uma das ruas mais encantadoras da capital dinamarquesa. Paralela ao calçadão da Strøget, mas sem a movimentação ruidosa desta. Na Strædet (o beco) pode-se facilmente passar metade do dia entrando nas lojas e admirando seus belos edifícios do século XVIII.
Strædet é a denominação conjunta de três ruas seguidas, Farvergade, Kompagnistræde e Læderstræde, que desembocam na praça Amagertorv, perto do  castelo de Christiansborg, sede do Parlamento.
Na Strædet há lojas de design de todo tipo: cerâmica, joias, roupa e móveis, além de exclusivas livrarias de segunda mão. Vale a pena visitar a loja da ceramista dinamarquesa Ditte Fischer, na Læderstræde 14. Quase em frente se encontra um dos cafés mais populares de Copenhague, o Kafe Kys (Café do Beijo).
Para comprar presentes ou alguma coisa bonita para a casa, a loja da desenhista Mette Grønlykke, na Læderstræde 5, tem grande variedade de almofadas, joias, abajures e cestaria, tudo em vivas cores. Um pouco mais adiante, na Kompagnistræde 8, fica a Kaiku, com sua exclusiva variedade de móveis, floreiras e outros itens domésticos de design moderno escandinavo. Na Frietzsches, com a fachada pintada de verde, são vendidas delicadas obras de cristal feitas à mão.
Na Strædet abundam os pequenos cafés e bares para todos os gostos, muitos com mesas na calçada durante o verão. O que têm em comum é que quase todos são bastante informais. O Hoppes, na Læderstræde 7, é um dos restaurantes mais populares, como também o RizRaz, na Kompagnistræde 20, que serve comida mediterrânea com um grande bufê vegetariano a bom preço.
O Bertels Salon, na Kompagnistræde 5, oferece café com seus famosas cheesecakes ao estilo nova-iorquino, e o Bar Maroc, um pouco mais à frente, serve chá de hortelã ao estilo marroquino com doces orientais. A Strædet tem até uma boa barbearia, a Atmosphair, onde trabalham três talentosas cabeleireiras.


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