Fotografia
Publicado por Vitor Dirami
Parte da primeira linhagem dos "fotógrafos-celebridade", o
norte-americano Bert Stern não foi apenas o último fotógrafo de Marilyn Monroe,
mas foi também o fotógrafo do desejo, do sex-appeal, do prazer, da beleza.
Conheça agora um pouco mais da obra deste artista que faleceu em 2013.
© Bert Stern, "Bloom" Jean Shrimpton.
Filho de imigrantes
judeus, nascido no bairro do Brooklyn, em Nova York, a 3 de outubro de 1929,
Bertram Stern teve seu primeiro emprego no correio da revista Look,
onde fez amizade com um fotógrafo do quadro de funcionários, o jovem Stanley
Kubrick. Quando se tornou diretor de arte na Mayfair, Stern
aprendeu a manipular filmes, pranchas fotográficas e a tirar suas primeiras
fotografias. Seu primeiro trabalho profissional como fotógrafo foi para uma
agência de publicidade nova-iorquina, numa propaganda para a vodka Smirnoff, em
1955 - um sucesso absoluto, que fez com que a Smirnoff vendesse mais vodka do
que jamais imaginou.
Da campanha da
Smirnoff até Hollywood e ao mundo da moda foi um pulo. Aos 25 anos, Stern criou
o conceito do "fotógrafo-celebridade", ao lado de azes da fotografia
da segunda metade do século XX como, por exemplo, Irving Penn e Richard Avedon.
Bert tinha qualidades
invejáveis num fotógrafo. Suas imagens eram, ao mesmo tempo, conceituais e
comunicativas ao extremo, visualmente limpas e graficamente simples, mesmo que
se representassem assuntos sofisticados. Ele concebeu conceitos pioneiros que
seriam - e são até hoje - muito copiados. Além disso, era um homem apaixonado e
obcecado pelo que fazia, pela imagem - as quais transmitem principalmente o
desejo material e sexual, os desejos do próprio fotógrafo.
Ao lado do diretor
Aram Avakian, Bert dirigiu o documentário Jazz on a Summer's Day,
estreado em 1960. O filme era um registro do Festival de Jazz de Newport de
1958. Em 1999 a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos declarou o filme
"culturalmente significante" - selecionando-o para preservação no
National Film Registry.
© Bert Stern para a Vogue, 1960 (Flickr).
Em 1959 Bert se casou
com a bailarina de fama internacional Allegra Kent. Da união que durou
dezesseis anos nasceram três crianças.
Marilyn Monroe não
foi nem de longe a causa do sucesso de Bert Stern. Na realidade, ela seria
apenas mais uma das dezenas de beldades que passariam por sua vida. O fator X
foi Stern ter sido o último a fotografá-la, um mês e meio antes da morte da
atriz. Foi a morte de Marilyn que criou toda a mística em torno da última
sessão de fotos - fonte inesgotável de inspiração para outros tantos
profissionais nos últimos 50 anos. O que gerou, também, cópias grotescas. O
legado do último fotógrafo de Marilyn Monroe é muito maior que as fotos que ele
tirou da sua principal musa, mas, é também a ela que Bert deveu muito de sua
fama. Em entrevista à Vanity Fair francesa, no começo de Junho
de 2013, pouco antes de morrer, Stern comentou seus principais trabalhos - e
obviamente - os dias em que fotografou Marilyn em Junho de 1962.
Marilyn Monroe, A
última sessão de fotos - Los Angeles, junho de 1962
"Durante a
sessão de fotos encomendada pela Vogue - que após a morte de
Marilyn a nomeou de A última Sessão de Fotos (The Last Sitting), eu
tirei mais de 2.500 fotos dela por três dias inteiros. Vestida, nua, com
acessórios. Ela estava mágica e hipnótica...eu nunca a teria fotografado nua se
ela não quisesse. Eu só imaginava a fotografia e é verdade que eu não a
imaginava em roupas, mas vestindo simplesmente joias ou um véu. Para a primeira
sessão, em 23 de Junho de 1962, numa suíte do Hotel Bel-Air, nós tínhamos
marcado o encontro ao meio-dia, mas ela não chegou até às três da tarde. Ela
era mais bela do que eu imaginava. Agradável, também...ela havia retirado a
vesícula biliar seis semanas antes, portanto, apresentava uma cicatriz abaixo
do abdômen. Quando ela viu o véu transparente e as joias preparadas perguntou:
"Então, nós vamos fazer nus? Eu acho que você quer ser criativo". Eu
fiquei surpreso, disse que sim. Ela ainda pediu a opinião do seu cabeleireiro,
que respondeu: "Por que não?". Ela foi se preparar no banheiro, e
quando votou nua sobre a echarpe transparente, lançou: "Nada mal para 36
anos, não?". Ela obviamente queria aproveitar o jogo. Ela tomou o
champanhe que eu tinha encomendado à pedido do seu agente, e notei que seu
maquiador pôs um pouco de vodka no copo. As horas passavam, e ela tornou-se
ainda mais desafiadora. Eu não precisei fazer sugestões, ela inventava suas
próprias poses. Nós continuamos até as duas da manhã, mas a Vogue julgou
esta série muito provocante e encomendou uma segunda, mais formal."
© Bert Stern, "Marylin - Uma Biografia por
Norman Mailer", (Flickr).
© Bert Stern, Marylin Monroe para a Vogue, 1962 (Flickr).
© Bert Stern, Marylin Monroe, "The Last
Sitting", (Flickr).
Marilyn - Segunda
sessão
"Minha primeira
pergunta à Marilyn foi: "Marilyn, como está sua vida amorosa?" E ela
riu, a famosa e bela risada. Mas, ela nunca realmente respondeu. Naquela época,
eu não percebi que ela já estava saudosa. Ela parecia realmente feliz e talvez
contando com estas fotos na Vogue para "reviver" sua
carreira. Claro, em retrospecto, eu acho que há uma certa fragilidade em
algumas imagens, incluindo uma na qual ela esconde o rosto. Esta é uma das
minhas favoritas. Esta foto de Marilyn num vestido Dior corresponde à segunda
sessão que fizemos para a Vogue - que queria mais fotos de moda e não nus -
para o portfólio que eles sonharam. Como na primeira vez, ela chegou duas horas
e meia atrasada. Desta vez, eu encomendei um Château Lafite, ela posou por
horas e horas com os vestidos. Então, no final, pedi à equipe que saísse.
Marilyn estava enrolada, nua, num lençol, e deitada num sofá. Eu fiz uma série
de fotos. Em seguida, ela caiu no sono. Provavelmente um pouco sob o efeito do
álcool, e eu estava fora."
© Bert Stern, Marylin, 1962 (Flickr).
© Bert Stern, Marylin no estudio de Stern para a Vogue, 1962 (Flickr).
Um dos seus melhores
e mais antológicos trabalhos foram as fotos publicitárias do filme Lolita (1962)
de Stanley Kubrick. As fotografias da protagonista Sue Lyon - então com apenas
14 anos - publicadas na revista Look em 1960 tornaram-se
icônicas. Stern criou a imagem inesquecível da ninfeta sexy chupando um
pirulito e vestindo óculos de sol vermelhos em formato de coração.
© Bert Stern, visual de Sue Lyon,
"Lolita", 1960 (Flickr).
© Bert Stern, visual de Sue Lyon,
"Lolita", 1960 (Flickr).
© Bert Stern, visual de Sue Lyon,
"Lolita", 1960 (Flickr).
O sucesso meteórico
de Stern coincide com a era de ouro da publicidade, campo no qual o fotógrafo
foi muitíssimo bem sucedido. Mas foi definitivamente na fotografia de moda que
ele se tornou uma lenda. Stern fotografou as mulheres mais bonitas da nossa era
- estrelas do cinema como Elizabeth Taylor, Marilyn Monroe, Audrey Hepburn -
("Audrey não se levava à sério, e era muito distante da sua imagem de
ícone. Ela era doce e muito atenta ao que eu precisava como fotógrafo"),
Catherine Deneuve, Brigitte Bardot - ("Ela não era fácil como modelo, mas
sua beleza transcendia qualquer coisa que eu já havia visto antes"),
Sophia Loren - ("Ela estava no auge da carreira, e muito preocupada com o
futuro e a sua vida pessoal. Mas ela era muito profissional, bela e selvagem
como um animal, e sabia naturalmente como desenvolver e usar as luzes a seu
favor"), Shirley McLaine, Jayne Mansfield, Romy Schneider, até Drew
Barrymore e Lindsay Lohan; cantoras, incluindo Françoise Hardy, Jane Birkin,
Madonna - (a quem ele chamou de "pretensiosa e barulhenta"); e top
models, desde Veruschka Von Lendhorff, Twiggy - ("muito tímida, quase
ingênua") e Jean Shrimpton, até mais recentemente Kate Moss -
("Provavelmente a melhor top model com quem eu já trabalhei. Tão graciosa
e descontraída").
A vida do fotógrafo
do desejo também foi assunto do documentário Bert Stern: Original
Madman - dirigido por sua esposa, Shannah Laumeister em 2011.
Bert Stern faleceu em
Nova York, no dia 26 de junho de 2013, aos 83 anos de idade.
© Bert Stern, Twiggy (Flickr).
© Bert Stern, Audrey Hepburn, 1963 (Flickr).
© Bert Stern, Audrey Hepburn para a Vogue, 1963
(Flickr).
© Bert Stern, Elizabeth Taylor, 1962 (Flickr).
© Bert Stern, Elizabeth Taylor, 1962 (Flickr).
© Bert Stern, Vogue (Flickr).
© Bert Stern, David Bailey e Veruschka, Vogue, 1961
(Flickr).
© Bert Stern, Ewa Aulin para Vogue, 1968 (Flickr).
© Bert Stern, Kate Moss, Fine Art, 2002 (Flickr).
© Bert Stern, Drew Barrymore,
"Mirabella", 1994 (Flickr).
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