sexta-feira, 23 de setembro de 2016

COMO ASSASSINATO DE JORNALISTA DA BBC COM VENENO EM PONTA DE GUARDA-CHUVA MUDOU VIDA DE MÉDICO QUE TENTOU SALVÁ-LO

Mistério


Dissidente soviético, jornalista búlgaro Georgi Markov disse ter sido vítima de ataque da KGB; incidente aconteceu em 1978
Em setembro de 1978, uma cena digna de um thriller de espionagem aconteceu nas ruas de Londres.



Um dissidente búlgaro foi envenenado com ricina (substância altamente tóxica) enquanto esperava por um ônibus na Ponte de Waterloo, no centro da cidade.
Seu nome era Georgi Markov.
Jornalista e escritor, Markov estava a caminho da BBC, onde trabalhava, quando foi espetado na parte de trás da perna por um guarda-chuva carregado por um homem misterioso.
O agressor fugiu depois do ataque.
Markov ficou gravemente doente e foi hospitalizado, onde contou a funcionários estar convencido de que havia sido vítima de envenenamento pela KGB, o serviço secreto soviético.
O britânico Bernard Riley, o médico que atendeu o jornalista, acreditou nele e tentou salvar sua vida.


Bernard Riley foi o médico que atendeu Markov


Em entrevista ao Witness, programa de rádio da BBC, ele relembrou os momentos que passou com o paciente.
"Entrei no cubículo e Georgi estava sentado na maca. Ele tinha um quadro grave de intoxicação, sua pulsação estava alta e sua temperatura, também".
"A primeira coisa que ele me falou era que tinha sido alertado três meses antes que a KGB queria 'pegá-lo' e que tinha sido envenenado."
"Ele, então, acrescentou: "Vou morrer. E não há nada que você (Bernard) possa fazer".

Markov estava indo trabalhar quando foi vítima de envenenamento
Ataque
Markov estava dirigindo ao trabalho, quando estacionou, como fazia todos os dias, na parte inferior da ponte de Waterloo. Subiu, em seguida, as escadas em direção ao ponto de ônibus. Ao chegar ao local, algo incomum aconteceu.
"De repente, ele sentiu um objeto pontiagudo penetrando sua coxa direita. Ao olhar para trás, imaginou que veria alguém pedindo desculpas por te-lo machucado com o guarda-chuva. Em vez disso, contudo, viu um homem fugindo em um táxi", relata Riley.
Quando voltou para casa, Markov começou a apresentar sintomas estranhos, como febre alta.
"Quando eu o examinei sistematicamente, a única coisa que pude verificar foi na parte de trás de sua coxa. Havia um inchaço na área de cerca de 5 a 6 centímetros. E no centro dele, uma pequena marca", afirmou Riley.
O médico afirma que ligou para uma divisão especial da Scotland Yard, a polícia de Londres, responsável por dissidentes.
"Não poderia ser cianureto pois isso o mataria muito rápido, nem tálio ou arsênio pois do contrário a morte seria lenta demais. Só poderia ser uma toxina. E se fosse uma toxina, deveria haver algum antídoto".

Pequeno objeto metálico foi encontrado em tecido retirado de coxa direita de Markov durante autópsia
Romance policial
Riley diz que voltou para casa, e contou o caso a sua mulher, que se lembrou de um conto de um livro da escritora britânica Agatha Christie ─ consagrada pelos romances policiais.
Segundo o médico, ela havia acabado de ler o conto "A Casa da Morte à Espreita", do livro Sócios no Crime. Na obra, um personagem é envenenado por ricina.
"Não acho que o diagnóstico foi intuitivo por causa do livro que minha mulher havia acabado de ler. Mas a toxina com que o tinham envenenado era realmente ricina".
Riley diz que, após a morte de Markov, foi ao necrotério, onde, durante a autópsia, descobriu algo inesperado.
"O médico que estava fazendo a autópsia retirou uma parte do tecido. Enquanto a analisava, um pequeno objeto metálico se deslocou e saiu rolando pela mesa", conta.
"Eles então o analisaram no microscópio e descobriram se tratar de uma bola de metal de cerca de 2 milímetros de largura contendo buracos. Evidentemente, esses buracos poderiam estar preenchidos com alguma substância".

Capsula usada para matar Markov
Ricina
Eles chegaram à conclusão de que essa substância era mesmo ricina, uma substância altamente tóxica.
"É estranho que você se depare com um paciente no início de sua carreira que muda toda a sua vida. Tudo o que eu queria ser era um médico legista, alguém que examinasse os mortos, analisasse resultados laboratorais e descobrisse a causa de suas mortes", diz Riley.
"Markov, no entanto, era um paciente que eu tentei desesperadamente manter vivo. E eu me dei conta de que, na verdade, eu não queria descobrir por que as pessoas morriam; eu queria mantê-la vivas", acrescenta Riley.


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