Entretenimento/degustação
Por Ivana Ebel,
é jornalista, mestre em Midia Digital
(Universidade de Bremen) e doutoranda em Ciências da Comunicação (Universidade
de Leipzig). Começou sua carreira na redação do Santa, em 1994, e ganhou o
mundo. Vive na Alemanha desde 2008. Direto de Berlim, escreve o Fala, Alemôa!
para dividir impressões, contar experiências pessoais e para mostrar um pouco
mais do país que agora chama de casa. “Alemôa” de Blumenau, tem certeza que
nasceu na região mais germânica do planeta. Vê o Vale do Itajaí, o Brasil e o
mundo de forma crítica mas bem-humorada, e escreve sobre as diferenças e
similaridades entre as duas culturas, da palpites e faz crônicas tocantes sobre
coisas simples da vida.
Berlim virou um dos destinos favoritos dos brasileiros na
Europa e aqui pelo blog recebo várias mensagens de gente pedindo dicas. Então,
hoje, vou dar a dica mais preciosa de todas: um roteiro de cervejas e
cervejarias (todas testadas e aprovadas pessoalmente! que não está nos guias
turísticos. Apesar disso, a cerveja
não seja a bebida mais consumida na
Alemanha! Ah, em tempo, antecipo uma sugestão: depois de provar essas
maravilhas, podem me pagar um chopp ai na Oktoberfest de Blumenau como
gratidão!
Claro
que a Alemanha é sinônimo de cerveja, mas visitar Berlim pode ser a chance de
fazer um mergulho no que o país tem de melhor. Apesar da fama cervejeira ser da
Francônia – região que abrange o Norte da Baviera, o Sul da Turíngia e um
pedacinho de Baden-Württemberg – Berlim tem reunido o melhor fora do eixo
industrial. Por aqui, dezenas de micro cervejarias têm encontrado mercado para
os seus produtos e o número de fãs só cresce.
A dica para uma visita a cidade é fugir das cervejarias mais
tradicionais e de rótulos conhecidos do mercado. Apesar dos preços salgados,
cervejas da Paulaner e Höfbrau, por
exemplo, que tem casas na capital alemã, podem ser encontradas facilmente no
Brasil. E nem de longe estão entre as minhas favoritas, confesso. O melhor é
aproveitar o passeio para dividir a agenda entre a história e um roteiro de
cervejarias artesanais. Vale lembrar que Berlim é uma cidade em ebulição e que
se transforma a cada dia: por isso não espere cenários de castelos ou ruas
calmas de janelas floridas e casinhas enxaimel. Se os passeios de dia se
concentram no Centro, a noite pede rotas mais afastadas (porém seguras!) por
bairros jovens e alternativos.
Heiden Peters é atualmente a minha cervejaria favorita
Uma boa forma de começar a explorar o universo cervejeiro de
Berlim é pela Heiden
Peters,
escondidinha no fim do Markt Halle Neun,
aquele onde levei
a rainha da Oktoberfest, no badalado bairro de Kreuzberg, reduto hipster da cidade.
A cervejaria funciona em um dos mais tradicionais mercados de Berlim e por isso
só abre em alguns dias da semana: é preciso conferir os horários no site. O
melhor dia para curtir é quinta-feira, já que o mercado abre até as 22:00 para
um festival de comidas de rua. Assim, fica fácil encontrar o melhor de Berlim
em um endereço só: cerveja artesanal e comida do mundo inteiro. Comece pela
saborosa amber ale Thirsty Lady, mas use a desculpa de que os copos são
pequenos e prove uma de cada.
Outro mercado similar, mas para quem prefere um pouco mais
de calmaria, é o Arminiusmarkthalle na região do Moabit, um bairro tradicionalmente de
operários, colado no centro, mas que por abrigar muitos prédios do governo tem
ganhado destaque. Nesse mercado procure por uma mesa grande, muito grande:
literalmente, a mãe de todas as mesas, como foi batizada e sente por perto.
Peça o carrossel de degustação, com cinco cervejas locais (100 ml cada) por 5
Euros: uma preciosidade. Não deixe de provar a Berliner Weisse, que é uma
cerveja de trigo levinha, com apenas 3% de álcool e de paladar bem azedo por
conta da levedura de ácido lático e pouco convencional: mas nada de xaropes
coloridos como muita gente gosta de beber. O negócio é saborear a Weisse in
natura. Além disso, tenha certeza de que as saborosas Kreuzberger Tag und Nacht
estejam entre as amostras.
Quem quer conhecer porque Berlim atrai gente do mundo todo e
se tornou a nova capital criativa do mundo, precisa visitar o bairro de
Friedrichsheim a noite e mergulhar no lado que ficava fora do muro, cheio de
reminiscências dos anos de comunismo. Vá direto a Hops
& Barley e
comece pela especial da noite: não tem como errar. A pilsen da casa também é
honesta e bem equilibrada. Chegue cedo para pegar mesa ou vá mais tarde, quando
as ruas já estão apinhadas de gente e beba em pé, do lado de fora, apreciando o
vaivém.
Quem quer provar o sabor da cidade, mas não planeja uma
experiência tão alternativa, não precisa abrir mão da boa cerveja. No Centro, a Cervejaria Lemke oferece
uma tábua de degustação bem interessante. São seis cervejas (100 ml) por 8
Euros. O salgado são as especiais feitas pela própria casa: 12 a 15 Euros, um
preço bem maior que a média da cidade, onde se paga de 3 a 5 Euros por meio
litro. As mais tradicionais custam menos, mas não tem muita personalidade. São
duas unidades da Lemke na cidade: uma junto ao castelo de Charlotemburg, o
Versailes alemão, e outra (a mais charmosa!) sob os trilhos do trem na região
do Hackescher Markt. O local costuma estar lotado de turistas, mas aceita
reservas.
Mas nenhum roteiro de cerveja em Berlim está completo se
deixar de fora a menos alemã de todas as cervejarias. A Vagabund é
o point hipster das cervejas artesanais e se tornou um daqueles lugares
obrigatórios, frequentado por berlinenses do mundo todo. A cervejaria foi
fundada por três americanos cansados da mesmice das marcas comerciais da
cidade. A ideia se tornou realidade por financiamento coletivo (crowdfunding) e
hoje em dia o espaço é pequeno demais para tantos fãs. Por isso, evite os fins
de semana, onde é até difícil chegar perto do balcão. Durante a semana, com
sorte, se acha espaço em uma das cinco mesas da casa. O local é junto da
cozinha onde as cervejas são feitas (pode espiar). Além das ‘taps’ próprias e
de outras cervejarias artesanais da Alemanha, o cardápio de cerveja tem ao
menos uma centena de marcas, todas classificadas por tipo e sabor.
A lista de cervejarias de Berlim vai longe: Südstern, Wanke, Pfefferbräu são
outras opções que não fazem feio. Ao contrário: a Pfefferbräu tem um biergarten
fabuloso! Ja na Eschenbräu, que
tem o logo mais feio do universo, durante o verão, também há um Biergarten. O
divertido é que você pode levar a própria comida, se quiser, e pedir uma das
cervejas da casa, sempre bem encorpadas. A cada mês a cervejaria tem uma
especial e se chegar em Berlim bem na época da Black Mamba, não perca. Aliás,
se não souber ainda quando marcar a visita a cidade, espie o calendário de
eventos de craft bier e
coincida a agenda com algum deles. O festival, Braufest Berlin, com centenas de
cervejas artesanais de toda a Europa, é o principal (e mais saboroso) de todos.
Há ainda na cidade dezenas de bares descolados que não fazem
sua própria cerveja mas tem uma seleção preciosa de marcas na torneira. Para
quem gosta de rock, o Monterey, em
Prenzlauer Berg, é parada obrigatória, incluindo em sua carta uma série de
rótulos temáticos. Quer beber a cerveja do Iron Maiden ouvindo rock? Esse é o
lugar. Só um aviso: o bar é de fumantes, mas dá para escapar da fumaça nas
mesas do lado de fora no verão. Na mesma linha, com menos cigarro e menos rock,
há ainda o Hopfenreich, em Kreuzberg: eles oferecem a melhor coleção de artesanais
no barril da cidade e tem no mínimo uma dúzia de opções diferentes.
Se depois de todo esse roteiro der vontade de levar um pouco
da Alemanha para casa, esqueça os imãs de geladeira e as camisetas sempre
iguais. Vá a um bom Getränkemarkt (mercados especializados em bebidas). Os
supermercados maiores (Edeka, Real, Kaufland, Rewe) costumam ter uma boa oferta de cervejas, mas os mercados
especializados selecionam seus estoques com mais carinho. Pode ser qualquer um:
as estantes são como a Disneylândia dos cervejeiros e com preços bem alemães.
Boas marcas a partir de 65 centavos de Euro a garrafa de meio litro. A rede de
lojas de bebidasHoffmann é
um bom ponto de partida.
Se sobrar espaço na mala, se renda aos rótulos do mundo.
Berlim tem várias lojas especializadas em cerveja e cada um elege sua favorita.
Elas reúnem aquelas preciosidades, cervejas artesanais e mesmo raridades. As
cervejas não custam tanto quanto em um bar, mas os preços começam nos 3 Euros,
geralmente. Uma boa opção é a Berlin Bier Shop que
tem uma carta que não faz feio (apesar do site não fazer jus a loja!). Se tiver
tempo, não deixe de fazer uma visita a Hopfen & Malz no bairro Weeding (que se lê Vêding!), um dos redutos
de imigrantes turcos com mais comidas deliciosas por metro quadrado em Berlim.
Só não perca tempo tentando encontrar um joelho de porco: isso é coisa da
Baviera e em Berlim ninguém usa esse tipo de calças de couro. Da moda às
cervejas, a cidade vive de originalidade.
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