Literatura: Poesia
Publicado por Sílvia Marques
É paulistana,
escritora, idealista em crise, bacharel em Cinema, cinéfila, professora
universitária com alma de aluna, doutora em Comunicação e Semiótica, autodidata
na vida, filósofa de botequim, com a alma tatuada de experiências trágicas,
amante das artes , da boa mesa, dos vinhos, de papos loucos e ideias
inusitadas. Serei uma atleta no dia em que levantamento de xícara de café se
tornar modalidade esportiva. Sim, eu acredito realmente que um filme possa
mudar a sua vida! Autora do blog Garota desbocada. Lancei recentemente em
versão e-book pela Cia do ebook o romance O corpo nu..
A natureza , as artes ,
o amor ao saber , o contato com as outras pessoas deveriam ser os nossos
ícones. E não os shoppings centers que viraram os templos sagrados da nossa sociedade.
Deveríamos gastar menos tempo e dinheiro em barzinhos da moda e fazer mais
encontros em casa. Deveríamos dedicar mais tempo aos amigos de verdade do que
aos contatos sociais. Deveríamos dedicar mais tempo ao prazer , à alegria do
que aos cursos online para estimular uma produtividade, muitas vezes,
mecanizada. Deveríamos criar nossos filhos para serem pessoas inteiras e não
robozinhos que servem aos interesses do status quo.
Em tempos de literatura de autoajuda e frases
prontas pregando um otimismo irreflexivo, falar sobre qualquer tipo de poesia
parece algo anacrônico, sem muito sentido.
Não, não, não! Não estou pregando o
pessimismo. Questionar um otimismo sem embasamento não significa ser
pessimista. Entre os extremos, existem sempre muitas possibilidades.
Normalmente as mais interessantes e intrigantes.
Não creio que devamos ser reclamões e
acomodados. Não creio que devamos cruzar os braços porque a vida é difícil.
Sim, a vida é bem difícil. Não creio que devamos nos acostumar com tudo nem nos
conformar com uma vida apequenada, medíocre.
Por outro lado, não creio que com pensamento
positivo tudo se resolva. Não creio num manual estilo receita de bolo para ser
feliz. Muito pelo contrário. Acho que este tipo de literatura mais atrapalha do
que ajuda. Num primeiro momento parece ajudar pois infla o leitor de esperança.
Mas conforme o tempo vai passando e a pessoa vai percebendo que pensamento
positivo colabora , mas não é tudo, um sentimento de revolta pode surgir. Conta
o Universo. Contra si mesmo. Sim, muita gente quando não consegue concretizar
as promessas dos livros de autoajuda podem voltar-se contra si mesmas , achando
que não tiveram fé suficiente. Achando que não pensaram positivamente o
bastante.
Me parece que esta necessidade de encontrar
uma causa e um efeito para tudo é um bom começo para pirar qualquer pessoa.
Falo por experiência própria. Sim, algumas coisas não fazem muito sentido
mesmo. Se a gente for buscar o porquê de tudo, corre o sério risco de deixar de
viver as coisas mais simples e ao mesmo tempo sublimes da nossa existência. E é
aí que entra a poesia no meu atual post...
Quando uso o termo poesia , não me refiro
apenas ao gênero literário. Me refiro a todas as poesias da vida. Me refiro à
poesia que existe num jogo de luzes e sombras numa fotografia ou num quadro. Me
refiro à poesia de uma música que fala ao coração. À poesia que habita o cheiro
do café recém-coado, o cheiro do bolo assando, a textura da manteiga se
derretendo no pão quente , as gotas de chuva através do vidro da janela, o
risinho de uma criança , o balbuciar de um bebê , o abraço apertado entre
amigos que não se veem há muito tempo. E falo da poesia como gênero literário
também.
Raramente paramos para ler um livro de
poesias ou nos deleitamos diante de um quadro. Raramente nos deixamos levar
pelas luzes de uma fotografia , pelas formas e cores de uma pintura , pelos
silêncios de uma música. Raramente nos deixamos levar pelo calor morno de uma
manhã ensolarada ou pelo frio nostálgico de uma tarde cinzenta. Normalmente
comemos e bebemos apressados , sem sentir as rimas e metáforas que existem numa
simples xícara de café , numa taça de vinho, no sorriso da pessoa amada.
Normalmente andamos apressados , querendo realizar e realizar cada vez mais ,
mergulhados em planos infindáveis. Mas raramente nos deixamos envolver pelas
coisas que já fazem parte do nosso presente , que esperam pacientemente por
apenas um olhar nosso.
Sim, deveríamos ler mais poesia e filosofia.
Não para arrotar conhecimento na cara das pessoas. Mas para transformar a nós
mesmos. Deveríamos carregar mais livros debaixo do braço, dentro da alma.
Deveríamos passear mais em livrarias , passar tardes em cinemas alternativos ,
fazer piqueniques em parques. E entre uma mordida num sanduíche caseiro e um
gole de uma bebida qualquer , degustar pensamentos poéticos , compartilhá-los
com pessoas queridas.
A natureza , as artes , o amor ao saber , o
contato com as outras pessoas deveriam ser os nossos ícones. E não os shoppings
centers que viraram os templos sagrados da nossa sociedade. Deveríamos gastar
menos tempo e dinheiro em barzinhos da moda e fazer mais encontros em casa.
Deveríamos dedicar mais tempo aos amigos de verdade do que aos contatos
sociais. Deveríamos dedicar mais tempo ao prazer , à alegria do que aos cursos
online para estimular uma produtividade, muitas vezes, mecanizada. Deveríamos
criar nossos filhos para serem pessoas inteiras e não robozinhos que servem aos
interesses do status quo.
Deveríamos cultuar mais livros e filmes do
que sapatos e bolsas. As nossas estantes de livros deveriam ocupar mais espaço
em nossas casas e em nossas vidas do que nossas sapateiras. Muita gente ao ler
esta frase , vai pensar ou dizer: "Qual é o problema de preferir sapatos a
livros? Preferir sapatos é uma questão de gosto, ué?" Se alguém não
consegue entender que livros são mais importantes do que colecionar sapatos ,
eu realmente não tenho nada a dizer. Preferir sapatos , ok. Sem problemas. O
triste é não conseguir entender a superficialidade da sua preferência. Sei que
minha frase soa de forma bem pedante e autoritária, mas chega uma hora em que
não dá mais para usar meias palavras. Sim, me parece muito triste viver em uma
sociedade que não consegue enxergar o quanto suas prioridades demonstram uma
devastadora superficialidade emocional e intelectual.
Por outro lado, também é inegável que existem
muitos devoradores de livros que são superficiais e que não conseguem traduzir
para a própria vida aquilo que eles leem. Usar o conhecimento como estratégia
de dominação provavelmente é muito pior do que ser meramente superficial.
Sim, deveríamos buscar a felicidade
existencial e única e não a felicidade pasteurizada que se reverte em mais um
objeto de status. Deveríamos falar e entender mais sobre as variadas poesias...deveríamos
ser nós mesmos mais poesia do que simplesmente pedras de um jogo de xadrez
servindo à regras que não compreendemos e nos deleitando com vitórias que não
são nossas.
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