Literatura: ideias
Publicado por Alexandre Ferreira
As relações profissionais são
perfeitos reflexos das relações humanas, semelhante ao que Marx previa quanto
às relações sociais, com a ressalva do tempo.
Imagem livremente reproduzida
do site http://www.libertarianismo.org.
No princípio havia apenas o homem e o homem.
Ele lutava apenas para si e não, entre si: sua imensa e única batalha era
travada pela sobrevivência – e há que dizer que muito mais árdua até do que nos
dias atuais – consistia na capacidade intuitiva de caçar os animais aliada à
habilidade motora de confeccionar ferramentas para sua subsistência. Há que se
dizer que o homem primitivo não tinha as suas soluções prontas, precisava
criá-las, e nesse sentido, precisava ser inegociavelmente criativo. E por outro
lado, era dono de si, pois não havia classes sociais, quando muito, clãs.
Infelizmente, essa retórica demasiado poética
para os dias de hoje só nos pode ser ponto de partida para qualquer
conhecimento social se nos debruçarmos sobre a lógica tenaz que moldou a
divisão de classes – as mesmas classes que Marx destrinchou tão bem em sua
célebre obra acerca do Socialismo como sendo o estopim para o fim da
humanidade. Eu diria que ele não mentiu, provavelmente, tenha aumentado um
pouco.
De outro modo, tentando unir os pontos dessa
tese, é verdade indubitável que o saber é a fonte concreta da evolução da
humanidade, todavia, para o interesse social, foi o principal fomentador da
formação de Classes, e portanto, é preciso observá-lo sob a égide da elitização
humana: Os mesmos homens que acumularam experiências e transformaram, tanto o meio
em que viveram quanto o meio em que os outros viveram, paradoxalmente
destruíram o conceito de sociedade pelo que julgavam ser a sua salvação – é o
caso exemplificativo dos iluministas, pensadores e filósofos com altíssimo
poder persuasivo, mas que de certa forma, se valeram das mesmas ferramentas
tanto para destituir as classes primitivas das relações medievais quanto para
moldar as modernas classes sociais capitalistas.
Imagem livremente reproduzida
de matéria do Jornal http://www.jornaltornado.pt/antes-da-luta-classes/
Assim, é necessário, em contrapartida,
entender que o saber é um sistema complexo que, na mesma medida em que alimenta
a evolução do homem, o afasta do conceito social de comunidade. O conhecimento
foi responsável por tirar das mãos dos homens o comando e por colocar nas mãos
de um homem esse mesmo comando, ou seja, embora tenha acarretado em inúmeras
descobertas que popularizaram o conforto, também destituiu do produtor do
trabalho o seu resultado, tornando-o um dominado nato. O conhecimento elegeu
dominantes.
Precisamente, no que a luta de classes
haveria de se relacionar com as relações de trabalho modernas? Na verdade, ela
é o ponto de partida para a sociedade moderna e nesta está contida a relação de
trabalho e evolutivamente, a forma com que o trabalhador lida com o seu
trabalho no interesse intuitivo de manter as classes pela relação de
subordinação inalterada.
Hoje, toda a psicologia social das empresas
de grande porte está voltada para o profissional dinâmico, aquele que consegue
agregar os conhecimentos de forma racional e funcional e ambiciona o poder.
Este profissional que não se empenha pela empresa pelo simples propósito de
existir, mas por creditar ao seu rendimento uma ascensão social improvável,
embora possível. Muitas vezes a própria formalidade das relações de poder da
empresa contribui para que esse profissional supere as expectativas do seu
comando, plagiando a lógica da seleção natural de Darwin, só que na esfera
social.
Imagem livremente reproduzida do Post
http://sengeba.org.br/a-luta-de-classes-e-nossa/
Assim, não é difícil compreender que a
exclusão cultural - provocada pelo acúmulo de riquezas tanto quanto agente
passivo da divisão de classes - contribuiu para a questão da empregabilidade de
tal forma a ser um dos agentes apaziguadores do sistema de classes como o
conhecemos, na medida em que permitiu ao subordinado a ambição de liderar, de
ser a elite. Nesse sentido mais amplo, o advento moderno do estado do bem estar
social idealizado nos EUA da década de 1930, acabou se tornando a mais forte
arma ideológica de limitação do senso crítico do trabalhador, por sinalizar
para a clara tentativa forjada da classe dominante de provocar a diminuição das
discrepâncias sociais através do apadrinhamento do mais fraco.
As relações profissionais são perfeitos
reflexos das relações humanas, semelhante ao que Marx previa quanto às relações
sociais, com a ressalva do tempo.
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