Ciência: personalidade
Von Braun em sua mesa de trabalho no Centro de Voos Espaciais Marshall, vendo-se
modelos de foguetes da família Saturno. Foto de maio de 1964.
Wernher Magnus Maximilian von Braun (Wirsitz, 23 de março de 1912 — Alexandria, 16 de junho de 1977) foi
um engenheiro alemão e
uma das principais figuras no desenvolvimento do foguete V-2 na Alemanha Nazista e do foguete Saturno V nos Estados Unidos. Ele foi uma das principais figuras no
desenvolvimento de tecnologias de foguetes para a Alemanha Nazista, na qual foi
membro do Partido Nazista e das SS.
Um pioneiro e visionário das viagens espaciais, ele é mundialmente conhecido por sua liderança do
projeto aerospacial americano durante a Corrida Espacial, tendo trabalhado como projetista chefe do
primeiro foguete de grande porte movido a combustível líquido produzido em
série, o Aggregat 4, e por liderar o desenvolvimento do foguete Saturno V, que levou os astronautas dos EUA à Lua, em julho
de 1969.[4] Sua contraparte e rival, do lado soviético,
foi o engenheiro Sergei Korolev.
Wernher von Braun nasceu em Wirsitz, na província de Posen, hoje chamada Wyrzysk na Polónia e à época parte da Prússia e do Império Alemão. Era o segundo de três irmãos. Ele pertencia
a uma família de aristocratas, que herdaram o título de Freiherr (equivalente
ao título de barão). Seu pai, Magnus Freiherr von Braun
(1878–1972), foi funcionário público de carreira, serviu como ministro da
Agricultura durante a República de Weimar. Sua mãe, Emmy von Quistorp (1886–1959),
tinha ancestrais na realeza medieval europeia. Descendente de Filipe III da França, Valdemar I da Dinamarca, Roberto III da Escócia, Eduardo III da Inglaterra e Miecislau I.
Como presente de batismo na Igreja Luterana, sua
mãe o presenteou com um telescópio, e ele desenvolveu uma paixão por astronomia. Quando a cidade de Wyrzysk foi transferida para a
Polônia, ao final da Primeira Guerra Mundial, von Braun e sua família, como várias
outras, se mudaram para a Alemanha. Eles se fixaram em Berlim, onde
von Braun, então com 12 anos, inspirado pelos records de velocidade de Max Valier e Fritz von Opel, em carros movidos a foguetes, causou um rebuliço
nas ruas ao acionar uma carroça de brinquedo com fogos de artifício, tendo sido recolhido
sob custódia pela polícia local até que seu pai viesse buscá-lo.
Wernher von Braun foi um músico amador competente,
que conseguia tocar Beethoven e Bach de memória. Ele aprendeu a tocar violoncelo e piano muito
cedo, e inicialmente pretendia ser um compositor, chegando a produzir algumas
peças.
No começo de 1925, von Braun começou a estudar num
colégio interno, no castelo de Ettersburg, próximo a Weimar, onde
ele não obteve bons resultados em física e matemática. Lá ele teve contato com
uma cópia do trabalho de Hermann Oberth Die Rakete zu den Planetenräumen (1923),
"Foguete no espaço interplanetário". Em 1928, os seus pais o
transferiram para o Internato Hermann-Lietz, localizado na ilha de Spiekeroog
no Mar do Norte. Viagens espaciais sempre fascinaram von Braun, e daquela época
em diante, ele se aplicou muito em física e matemática, para atingir seus
objetivos na engenharia de foguetes.
Em 1930, ele entrou para o Instituto de Tecnologia
Charlottenburg de Berlim. Lá
ele se juntou ao grupo Verein für Raumschiffahrt (VfR, Sociedade para Viagens
Espaciais), se tornando assistente de Willy Ley e Hermann Oberth, nos seus testes de motores de foguete a
combustível líquido. Na primavera de 1932, ele se graduou com bacharel em
Engenharia Mecânica. Com o grau de bacharel obtido, von Braun foi contratado
por Walter Dornberger como um empregado civil do programa de
mísseis da Heereswaffenamt, agência responsável pelo rearmamento
alemão. Devido ao seu contato prévio com a teoria de foguetes, ele se convenceu
de que aquele título não seria suficiente, o que o fez entrar para a Universidade de Berlin para prosseguir nos estudos de graduação.
Obteve o título de Ph.D. em física, com
a tese "Contribuições teóricas e experimentais para o problema estrutural
nos foguetes a combustível líquido" em 1934.
Essa posição o levou a atuar no campo de pesquisas
do Exército em Kummersdorf, cerca de 30 quilômetros ao sul de Berlim.
Naquele mesmo ano, um dos foguetes concebidos por ele, lançado da ilha de
Borkum no Mar do Norte, atingiu 2.200 metros de altitude. Entre 1935 e 1937,
von Braun e a equipe de Ernst Heinkel desenvolveram um motor foguete destinado
ao uso em aviões, primeiro em Kummersdorf, mais tarde em Neuhardenberg, onde o
motor foguete foi testado num Heinkel He 112.
Peenemünde
Já ao final de 1935, ficava muito claro que as
instalações de Kummersdorf eram insuficientes para acomodar a rápida expansão
do programa de mísseis. Para testar os mísseis muito maiores que estavam sendo
planejados, eles necessitariam de algumas centenas de quilômetros de área de
testes. Com essa necessidade em mente, uma área próxima ao Mar Báltico passou a
ser seriamente considerada. O Exército e a Força Aérea concordaram em usar a
área da ilha de Usedom para esse fim. Entre 1937 e 1945, Wernher von Braun foi
o diretor técnico do recém criado centro de pesquisas do Exército de Peenemünde, onde ele liderou o desenvolvimento do míssil
Aggregat 4 (A4), um grande foguete movido a combustível líquido. A partir de
1943, esse míssil foi posto em produção, e logo depois das suas primeiras
missões sobre Londres, passou a ser conhecido como: Vergeltungswaffe 2 (V-2), ou "Arma de Vingança
2". Esse foi o primeiro míssil terra-terra a combustível líquido
operacional do Mundo, contando com sistemas de controle por giroscópio que
permitiam estabilizar e controlar o voo de forma automática e autônoma.
Desde junho de 1943, foi instalado um campo de
concentração.[12] Além
dele, havia um segundo campo, este de prisioneiros, na área de
Karlshagen-Trassenheide, comportando cerca de 1.400 homens. Além desses havia
mais cerca de 3000 "trabalhadores do leste europeu" (da Polônia e da
União Soviética). Boa parte desse contingente foi usado como mão de obra
na fábrica dos foguetes V-2 em Peenemünde.
Em várias passagens de suas anotações, von Braun
menciona o uso de mão de obra de prisioneiros nas fábricas de Peenemünde,
deixando claro que ele tinha consciência das condições em que isso se dava. Ocorreram
também troca de memorandos com outros diretores, onde as condições precárias
dos prisioneiros são mencionadas. Em 1945, atingindo regularmente 200 km
de altitude, o foguete V-2, passa a ser o primeiro foguete a ultrapassar o
"limite oficial do espaço" (100 km).
Envolvimento
com o regime Nazista
Wernher von Braun teve um relacionamento complexo e
ambivalente com o regime do terceiro Reich. Quando já nos Estados Unidos, ele
sempre negou qualquer envolvimento político com o regime da época, alegando que
a sua filiação ao Partido Nazista teve a intenção apenas de permitir que ele
continuasse no "trabalho de sua vida". A sua filiação ao Partido Nacional Socialista Alemão dos Trabalhadores, foi registrada em 1 de dezembro de 1938,
sob o número 5738692.[17] Em 1 de maio de 1940, ele se tornou membro da Allgemeine SS (SS-Nr. 185068), uma unidade desarmada
daquela força. Von Braun também alegou mais tarde que sua associação a esta
força foi para se proteger de caçadas anticomunistas, dizendo que vestiu aquele
uniforme apenas uma vez, havendo controvérsias quanto a essa afirmação.[17] Na
SS, ele começou com a patente de segundo tenente, tendo sido promovido três
vezes por Himmler, a última delas em 1943 para major. Von Braun argumentou que
essas promoções eram técnicas, recebidas todo ano pelo correio.
Com o desenvolvimento do A-4, ele criou uma arma
sem precedentes em termos de alcance e velocidade, capaz de transportar uma
tonelada de explosivos até o alvo. A precisão em relação ao alvo final, no
entanto, era pequena, fazendo desta uma arma de terror contra a população
civil, o que resultou em mais acusações contra von Braun. Naquela época no entanto,
ele prosseguiu não só trabalhando na arma, como também fazendo campanhas e
visitas as autoridades a favor do potencial dos foguetes. Em 22 de dezembro de
1942, Hitler assinou a aprovação para a produção do A-4. Numa das visitas de
von Braun ao quartel general de Hitler em 7 de julho de 1943, ele exibiu um
filme colorido mostrando a decolagem de um A-4. Hitler ficou tão entusiasmado
que concedeu pessoalmente a von Braun o título de Professor. Na Alemanha da
época, este era um título excepcional para um engenheiro de apenas 31 anos de
idade.
Naquela época, as inteligências britânica e
soviética, já tinham ciência do programa de foguetes e do trabalho da equipe de
Von Braun em Peenemünde. Durante as noites de 17 e 18 de agosto de 1943, a
operação Hydra do comando de bombardeiros da RAF enviou missões de bombardeio
sobre a ilha, constituindo de 596 aviões que despejaram 1.800 toneladas de
explosivos.[19] Por
um conjunto de fatores, boa parte do centro de pesquisa ficou intacto, e a
maior parte da equipe permaneceu à salvo. No entanto, o projetista de motores
Walter Thiel e o engenheiro chefe Walther foram mortos e o programa sofreu
atrasos.
Em março de 1944, von Braun foi pivô de uma
conspiração de Heinrich Himmler para obter o controle de todos os programas
de armamento alemães, inclusive o de foguetes. Com isso, von Braun foi detido em
15 de março de 1944[22], e levado para uma cela da Gestapo na Polônia,
onde ficou detido por duas semanas, até que Dornberger conseguiu a sua
"liberdade condicional". O primeiro A-4 de combate, rebatizado como
V-2 (Vergeltungswaffe 2 "Arma de Vingança 2"), para fins de
propaganda, foi lançado contra a Inglaterra em 7 de setembro de 1944, apenas 21
meses depois de o projeto ter sido aprovado oficialmente. Em 29 de outubro
daquele mesmo ano, Wernher von Braun e Walter Dornberger, foram condecorados
com a Cruz do Cavaleiro de mérito de guerra, pelos resultados das operações com
a V-2.
Trabalho
escravo
Prisioneiros mortos no campo
Mittelbau-Dora em 11 de abril de 1945, após a libertação.
Um dos episódios mais bárbaros da Segunda Guerra
esteve diretamente ligado ao programa de foguetes V-2 e consequentemente a von
Braun, que mais tarde negou veementemente seu envolvimento com qualquer
atividade nesse campo de concentração. No entanto, documentos da época mostram
que em pelo menos uma ocasião ele selecionou pessoalmente os escravos que
trabalhariam no projeto.
Logo depois do bombardeio sofrido pelo Centro de
pesquisa e produção em Peenemünde, o alto comando resolveu transferir a
produção dos mísseis para uma instalação subterrânea. Com essa finalidade, foi
criado um subcampo do campo de Buchenwald, chamado Mittelbau-Dora, lugar este, onde Von Braun negou terminantemente
ter comparecido. Com a expansão do campo Dora e a subsequente produção do
foguete V-2 e outras armas, estimou-se inicialmente que cerca de 12.000
prisioneiros morreram. De acordo com estimativas mais recentes, mais de 20.000
prisioneiros morreram.[12] Devido
ao uso da V-2, estima-se que tenham ocorrido cerca de 8.000 vítimas, fazendo da
V-2 a única arma cuja produção gerou mais vítimas que o seu uso.
Uso da
V-2 e final da guerra
Vítima de queda de uma V-2 na
Antuérpia em 27 de novembro de 1944.
Walter Dornberger , Herbert
Axter, Wernher von Braun (com o braço quebrado) e Hans Lindenberg, em 3 de maio
de 1945, logo depois da rendição.
O uso da V-2 como arma teve início em setembro de
1944, com um lançamento sobre Paris.[25] Pouco
mais de 3.200 V-2 foram lançadas. Os principais alvos foram: Londres (1.358) e
Antuérpia (1.610). Surpreendentemente, a força explosiva de todas essas V-2 em
conjunto, era pouco maior que a capacidade de um bombardeiro médio da época. O
seu trunfo, era psicológico, porque contra essa arma inédita, não havia defesas
nem avisos, mas a sua importância militar estratégica era baixa. Os lançamentos
continuaram até 27 de março de 1945, quando os dois últimos foguetes foram
lançados contra Londres.
Em janeiro de 1945, os principais membros da equipe
de Peenemünde, liderados por von Braun, decidiram por uma retirada para a
região central da Alemanha, de forma a ter mais chances de se render aos
norte-americanos, temendo a conhecida crueldade dos soviéticos para com os
prisioneiros de guerra. Tirando proveito de ordens e documentos conflitantes,
von Braun forjou alguns documentos e com eles, conseguiu evacuar e transportar
cerca de 500 técnicos, engenheiros e cientistas para a região, onde ficava a
fábrica das V-2, conhecida como Mittelwerk, onde eles continuaram trabalhando. Poucas semanas
depois da evacuação, eles souberam que Peenemünde foi capturada pelas tropas
soviéticas. Temendo que os seus importantes documentos fossem destruídos pelo
pessoal da SS, von Braun ordenou que os documentos fossem escondidos numa mina
abandonada nos campos da região de Harz.
Logo que chegaram à fábrica das V-2, o general
Kammler ordenou que von Braun e 500 dos principais cientistas fossem separados
de suas famílias e aprisionados num campo de prisioneiros perto da vila de Oberammergau. Usando seu poder de convencimento e
argumentações, von Braun conseguiu que os cientistas ficassem fora do campo
desde que permanecessem na vila e usando trajes civis.
Em 15 de março de 1945, numa viagem curta entre
Bleicherode e Naumburg, von Braun sofreu um acidente quando o seu motorista
dormiu ao volante. Este acidente rendeu a von Braun fraturas no ombro e no
braço. Apesar de desaconselhado pelos médicos ele insistiu em ser engessado
para que pudesse se locomover e sair do hospital. Por conta disso, um mês
depois ele precisou que ser novamente hospitalizado para que seus ossos fossem
novamente quebrados e realinhados.
Em 11 de abril de 1945, as tropas Norte americanas,
tomaram a cidade de Bleicherode, na região de Kohnstein, onde ficava a fábrica das V-2. De lá cerca de 100
V-2 completas e milhares de partes e equipamentos foram "capturados"
como espólio de guerra e transferidos para os Estados Unidos, onde formaram a
base de estudos práticos do programa de mísseis de defesa.
Em 2 de maio de 1945, o irmão mais novo de von
Braun, Magnus von Braun, teve êxito em encontrar soldados
norte-americanos da 44a divisão de infantaria, e mesmo com um inglês limitado,
conseguiu explicar que havia um grupo de cientistas ligados ao desenvolvimento
da V-2 disposto a se render a eles.[27] O alto comando americano, já tinha ciência da
existência desses cientistas, e o nome de von Braun estava no topo da lista. Em
19 de junho de 1945, apenas dois dias antes de entregar a área da fábrica aos
soviéticos, conforme os acordos vigentes, von Braun e seus principais colegas
foram transferidos para Nordhausen, e em seguida para a pequena cidade de Witzenhausen 64 km distante, na zona de ocupação
americana.
Von Braun foi interrogado no centro de detenção de
"Dustbin" no castelo de Kransberg, onde a elite econômica científica e
tecnológica do terceiro Reich era interrogada por oficiais de inteligência
britânicos e norte-americanos.[29] Inicialmente,
von Braun foi recrutado pelos Estados Unidos, sob um programa chamado
"Operação Overcast", mais tarde designado Operação Paperclip.
No
Exército
A família de von Braun.
Em 20 de junho de 1945, o Secretário de Estado dos Estados Unidos aprovou a transferência de von Braun e seus
especialistas para a América, no entanto, isso não foi tornado público até 1 de
outubro de 1945. Von Braun estava entre os cientistas para os quais a
Joint Intelligence Objectives Agency (JIOA), criou históricos falsos e excluiu
qualquer registro de envolvimento com o Partido Nazista, concedendo a eles
total liberdade para trabalhar nos Estados Unidos.
Os primeiros sete técnicos alemães chegaram aos
Estados Unidos no campo da Força Aérea de New Castle ao Sul de Wilmington, no Delaware em 20 de setembro de 1945. De lá eles voaram
para Boston onde
foram alojados no posto de serviço de inteligência do Exército de Fort Strong na
ilha Long Island. Mais
tarde, com exceção de von Braun, foram transferidos para o campo de provas de Aberdeen
em Maryland, para separar e catalogar os documentos salvos de Peenemünde,
permitindo que os cientistas dessem continuidade aos trabalhos com foguetes.
Depois disso, von Braun e mais de cem membros
remanescentes da sua equipe de Peenemünde, incluindo seu irmão Magnus, foram
transferidos para o seu "novo lar", em Fort Bliss, uma grande instalação do Exército, ao Norte de El Paso, no Texas.
Nesse período, principalmente durante o ano de 1946, ocorreram várias
expressões de descontentamento com as condições de trabalho, das acomodações, da
falta de adaptação às condições locais, e até quanto as restrições de
orçamento.[31]
Durante essa estadia, von Braun e sua equipe,
treinaram pessoal militar, universitário e da indústria privada nas
complexidades relativas aos foguetes e mísseis guiados. Como parte do projeto
Hermes, eles ajudaram na reconstrução, montagem e lançamento de um considerável
número de foguetes V-2 que haviam sido trazidos da Alemanha. Eles também deram
continuidade aos estudos do potencial dos foguetes para aplicações militares e
de pesquisa. Como os alemães não tinham permissão de deixar Fort Bliss sem
escolta militar, eles começaram a se auto intitular "Prisoners of
Peace" (PoPs), "Prisioneiros da Paz". Nesse período, von Braun
enviou uma proposta de casamento à sua prima por parte de mãe, então com 18
anos de idade, Maria Luise von Quistorp (nascida em 10 de junho de 1928). Em 1
de março de 1947, tendo recebido permissão para voltar à Alemanha e de lá
trazer suas esposa, eles se casaram numa igreja Luterana em Landshut. Ele, sua esposa e seus pais, retornaram a Nova Iorque em 26 de março de 1947. Em 9 de dezembro de
1948, a primeira filha de von Braun, Iris Careen, nasceu num hospital do
Exército em Fort Bliss.
Em 1950, no início da Guerra da Coreia, von Braun e sua equipe foram transferidos para Huntsville, no Alabama, seu lar pelos próximos 20 anos. Entre 1950 e
1956, von Braun liderou a equipe de desenvolvimento de foguetes do Exército no Redstone Arsenal, resultando no foguete Redstone, que foi utilizado no primeiro teste real de
míssil balístico nuclear conduzido pelos Estados unidos. Isto levou também, ao
desenvolvimento do primeiro sistema de controle de navegação inercial de alta
precisão, usado nesse foguete.[33] Em
1952, nasce a segunda filha de von Braun, Margrit Cécile.
Como diretor da divisão de operação e
desenvolvimento da Army Ballistic Missile Agency (ABMA), von Braun, liderou a sua equipe
no desenvolvimento do foguete Jupiter-C, um Redstone modificado. O Jupiter-C foi o
foguete utilizado no lançamento do primeiro satélite Norte americano, o Explorer I, em 31 de janeiro de 1958, evento que pode ser
considerado como o nascimento do programa espacial dos Estados Unidos. Apesar
do trabalho bem sucedido no foguete Redstone, os doze anos entre 1945 e 1957
foram provavelmente alguns dos mais frustrantes para von Braun e seus colegas.
Na União Soviética, Sergei Korolev e sua equipe de cientistas e engenheiros,
sempre estiveram a frente, com muitos projetos de foguetes inovadores e o
programa Sputnik, enquanto o governo norte-americano, não demonstrava interesse
no trabalho de von Braun ou o considerava apenas um programa de construção de
foguetes modesto. Ao mesmo tempo, a imprensa insistia em denunciar o passado de
von Braun e o seu envolvimento com o regime nazista, as SS e o trabalho escravo
utilizado na construção da V-2.
Popularizando
o conceito
Walt Disney e von Braun, em 1954 com um modelo de sua espaçonave, trabalharam
em conjunto numa série de três filmes educacionais.
Repetindo o padrão estabelecido no início de sua
carreira, von Braun, enquanto dirigia programas de desenvolvimento de mísseis
no mundo real, continuava envolvido no processo de divulgar seus sonhos de um
futuro onde os foguetes fossem usados para viagens espaciais. Desde 1950,
publicando artigos no "The Huntsville Times", esse esforço resultou
numa onda de publicidade ao redor de voos à Lua, impulsionada por dois filmes
de ficção científica: "Destination Moon" e "Rocketship
X-M". Em 1952, von Braun publicou pela primeira vez o seu conceito de uma
estação espacial tripulada numa série de artigos intitulados "Man Will
Conquer Space Soon!", na revista Collier's Weekly. Esses artigos eram
ilustrados pelo artista Chesley Bonestell ajudando a divulgar suas ideias.
Frequentemente, von Braun trabalhou em conjunto com seu amigo Willy Ley para
publicar seus conceitos, os quais não por acaso, tinham um forte embasamento
científico, antecipando muitos aspectos técnicos que mais tarde se tornaram
realidade. Nesse mesmo período foram publicados trabalhos sobre viagens
tripuladas à Marte, usando a estação espacial como ponto de partida.
Na esperança de que o seu envolvimento pudesse
trazer mais interesse do público para o futuro do programa espacial, von Braun
começou a trabalhar com Walt Disney e os seus estúdios como diretor técnico,
inicialmente para três filmes sobre exploração espacial. A primeira transmissão
dedicada a esse tema, foi "Man in Space" que foi ao ar pela primeira
vez em 9 de março de 1955, atingindo 42 milhões de pessoas. Não oficialmente
classificada como a segunda maior taxa de audiência na história da televisão
Norte americana.
Em 15 de abril de 1955, von Braun se naturalizou
cidadão dos Estados Unidos. Mais tarde, em 1959, publicou um livreto,[35] condensando
e atualizando os episódios do trabalho anteriormente publicado na "This
Week Magazine", apresentando suas ideias sobre um primeiro pouso tripulado
na Lua. O cenário dessa proposta, incluía uma espaçonave relativamente pequena,
um veículo de pouso separado, tripulado por apenas dois pilotos experientes que
já haviam orbitado a Lua numa missão anterior. Tudo muito parecido com o plano
de voo das missões Apollo. Em 1960, nasce o filho de von Braun, Peter
Constantine.
Na
NASA
Werner von Braun durante o
lançamento da Apollo 11
A frente dos modelos de seus
foguetes, von Braun, no escritório central da NASA em 1970.
A tarefa de construir um foguete capaz de colocar
satélites em órbita foi atribuída à Marinha dos Estados Unidos, mas o foguete
Vanguard resultante não se mostrou pronto para a tarefa. Em 1957, com o
lançamento do Sputnik 1, havia um sentimento crescente de que os Estados Unidos
haviam ficado para trás da União Soviética na corrida espacial. Isso fez com
que as autoridades americanas decidissem usar a experiência de von Braun e sua
equipe de alemães para criar um veículo de lançamento com capacidade orbital,
algo que von Braun já havia proposto em 1954, mas foi rejeitado.
A NASA foi formalizada por lei em 29 de julho de
1958. Um dia depois, o 50º foguete Redstone foi lançado com sucesso do Atol
Johnston no Pacífico Sul como parte da operação Hardtack I. Dois anos depois, a
NASA inaugurou o Marshall Space Flight Center no arsenal Redstone em
Huntsville, a equipe de desenvolvimento da ABMA liderada por von Braun foi
transferida para a NASA. Num encontro direto com Herb York no Pentágono, von
Braun deixou claro que ele só iria para a NASA somente se o desenvolvimento do
foguete Saturno continuasse. De julho de 1960 a fevereiro de 1970, von Braun se
tornou o primeiro diretor do Marshall Space Flight Center.
O primeiro grande programa do centro Marshall, foi
o desenvolvimento dos foguetes Saturno para transportar cargas úteis maiores
para além da órbita da Terra. A partir daí, o programa Apollo para voos
tripulados à Lua foi desenvolvido. Wernher von Braun, inicialmente apoiou o uso
de uma técnica chamada "Earth orbit rendezvous" (acoplamento em
órbita terrestre), mas em 1962 ele passou a apoiar a outra alternativa, chamada
"lunar orbit rendezvous" (acoplamento em órbita lunar), que acabou
sendo o utilizado. Durante o projeto Apollo, ele trabalhou diretamente com o
seu antigo colega de Peenemünde, Kurt H. Debus, o primeiro diretor do Kennedy
Space Center. O seu sonho de conduzir a espécie humana a pousar na Lua se
tornou realidade em 16 de julho de 1969, quando um foguete Saturno desenvolvido
no centro Marshall, lançou a tripulação da Apollo 11 na sua missão histórica de
oito dias. Ao longo do programa Apollo, os foguetes Saturno V permitiu que seis
tripulações de astronautas atingissem a superfície da Lua.
No final da década de 60, von Braun foi fundamental
no desenvolvimento do Centro Espacial de de foguetes em Huntsville. A mesa da
qual ele comandou a entrada da América na corrida espacial, permanece em
exibição nesse local.
Num memorando interno datado de 16 de janeiro de
1969, von Braun confirmou aos membros de sua equipe, sua intenção de permanecer
como diretor do centro Marshall em Huntsville para liderar o programa Apollo.
Poucos meses depois por ocasião do primeiro pouso na Lua, ele expressou
publicamente o seu otimismo de que o foguete Saturno V continuasse a ser
desenvolvido para missões à Marte nos anos 80.
No entanto, em março de 1970, von Braun e sua
família foram realocados em Washington, D.C., onde ele foi
"promovido" ao posto de Diretor Associado de Planejamento no
escritório central da NASA. Depois de uma série de conflitos associados à
interrupção do Programa Apollo, e encarando severos cortes de orçamento, von
Braun deixou a NASA em 26 de maio de 1972. Não somente ficou claro na época que
as visões dele e da NASA para o futuro dos projetos espaciais Norte americanos
eram incompatíveis, mas também muito mais frustrante para ele, o fato de o
apoio popular a uma presença contínua do homem no espaço, diminuiu
dramaticamente a partir do momento em que o objetivo de chegar à Lua foi
atingido.
Visitas
ao Brasil
São conhecidas e documentadas, duas visitas de von
Braun ao Brasil: uma informal em fevereiro de 1964 no Rio de Janeiro, e outra
formal entre 12 e 15 de novembro de 1972, quando ele visitou Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro.
O
final
Em 16
de junho de 1977, Wernher von Braun morreu de câncer pancreático em Alexandria, Virgínia, aos 65 anos de
idade, sendo enterrado no
cemitério Ivy Hill.
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